quarta-feira, 25 de maio de 2011

Luiz Julio Bertin - Autobiografia-Parte dois

Meus ANCESTRAIS Maternos e Seus Descendentes.
Retomando á linha de raciocínio, foi no ano de 1888, que os meus avós Romano Fontana e Theresa Geovanna Dalle Rive chegaram ao Brasil, tocando o porto do Rio de Janeiro, em um navio da Cia. Flório Robatino39 e foram em seguida para o Estado do Rio Grande do Sul e daí para Camobi (Silveira Martins) Santa Maria da Boca do Monte, atraídos pelos planos de colonização iniciado em 1875 pelo Governo brasileiro. Eles eram naturais de Forni di Val D´Astico40 e São Pietro di Val D´Astico, ligados à Thiene e à pequena Sarcedo41, província de Vicenza da região central do Vêneto42.
Em Santa Maria, radicaram-se na Estação Colônia hoje conhecida como Camobi e meu avô, Romano, inicialmente, trabalhou na construção de estradas de rodagem e de ferro no trecho Porto Alegre e Santa Maria. Minha avó Thereza, de prendas domésticas, foi cuidar da nova casa.
38 Esses dados sobre a cidade, foram retirados do Site oficial dos Governos Estadual e Municipal de Porto Alegre.
39 Companhia Florio Robatino, na realidade Florio e Rubattino, é o nome de uma companhia de navegação italiana que possuía muitos vapores e navios de grade porte, que se prestavam à navegação ultra marinha.
40 Grafia adotada hodiernamente, pois, era assim grafada: Forni di Val d'Astico.
41 Sarcedo é hoje uma comuna italiana da região do Vêneto, província de Vicenza, com cerca de 1.024 habitantes. Estende-se por uma área de 6 km2, tendo uma densidade populacional de 171 hab/km2. Faz fronteira com Thiene, Fara Vicentino, Lugo di Vicenza, Lusiana, Marostica, Molvena.
42 - Visitei todos esses locais durante a minha viagem Itália em 2008/9.
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Passaram-se mais de dois anos e no ano de 1890, depois de muita luta, meu avô Fontana adquiriu 25 hectares de terra fértil no vale Weimann, que passou a chamar-se Colônia do Arroio Grande, Distrito de Silveira Martins, a 18 quilômetros de Santa Maria e lá sua família passou a residir, juntamente com outras vinte famílias, entre elas, as dos Fuganti e dos Bordin, todos originários das mesmas regiões da Itália, isso é; do interior do Veneto.
Pelo que consegui apurar em minhas pesquisas, todos os filhos dos meus avós maternos nasceram e foram batizados e crismados na Igreja Católica Apostólica Romana de São Pedro de Arroio Grande, enquanto seus registros de nascimentos foram inscritos no Cartório de Registro Civil de Silveira Martins – Ao ler o livro biográfico ―História da Minha Vida‖ do meu tio Attilio Francisco Xavier Fontana, este teve seu assentamento em livro daquele cartório civil com seu nome por extenso de Attilio Francisco Xavier Fontana que nasceu em outubro do ano de 1900.
Minha mãe nasceu em 1909, ano em que a família se mudou para Lageadinho, distrito de São Pedro do Sul, depois que a família adquiriu mais 104 hectares de novas terras, com as condições necessárias para o plantio de alfafa, em razão da utilização da tração animal extremamente necessária e utilizada na época. Quando da mudança para Lageadinho, os meus avós maternos já tinham seus 10 filhos como seguem: Maria, Santina, Domingos, Honório, Dário, Attilio, Vitória, Dosolina, Angelina e Elisena (minha mãe) Fontana.
Essas foram essas as informações que eu consegui por ocasião de uma visita a Concórdia, Santa Catarina. Estava de volta a uma visita aos meus parentes do Rio Grande do Sul, juntamente com meu filho Júlio César. Visita essa que teve o objetivo de pesquisar sobre a família Bertin e, de passagem, aproveitamos e fizemos demorada visita ao Memorial Attilio Fontana que lá existe, adquirindo preciosos dados da família Fontana da minha mãe Elisena.
Meu bisavô Domenico Fontana casou-se com Domenica Munari. Eles tiveram os seguintes filhos: Romano Domenico Fontana e outro que não consegui seu nome.
Romano Domenico Fontana (Domenico) - (meu Nono) - nasceu em 22 agosto 1865 em Forni di Val D´Astico43, Vicenza, Itália. Ele faleceu em seis janeiro 1921 em Ibicui, Santa Maria, RS.
A Igreja da Paróquia Santa Maria Maddalena em Forni di Val D´Astico onde meus avós contraíram matrimonio em janeiro de 1888, cujo casal, dia seguinte, rumaram para o Porto de Genova, onde encontraram o navio da Cia, Florio Robattini que os esperava para que empreendesses sua grande aventura, juntamente com outras 21 famílias com o mesmo propósito: Fazer a América.
43 Val D´Ástico é uma comuna italiana da região do Vêneto, província de Vicenza, com cerca de 1.480 habitantes. Estende-se por uma área de 23 km2, tendo uma densidade populacional de 64 hab/km2. Faz fronteira com Arsiero, Cogollo del Cengio, Lastebasse, Luzerna (TN), Pedemonte, Roana, Rotzo, Tonezza del Cimone.
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Mapa da região Astica e Valposina, local de origem dos Fontana.
Fachada da Igreja Santa Maria Maddalena.
Placa indicando o local de entrada para San Pietro (local onde nasceu meu avô Fontana) em uma das inúmeras existentes na região. O vale é entrecortado por inúmeras estradas que
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levam a dezenas de pequenas vilas e lugarejos no fundo do vale e nas encostar da magníficas montanhas nevadas.
Fragrante do conjunto da Igreja de Santa Maria Madalena.
Esta Cappella Di Santa Croce, dedicada aos emigrantes, à margem da estrada. Localiza-se pouco antes da localidade de Forni di Val D`Astico, foi erguida em memória às 22 famílias emigrantes da região de Forni, para o Brasil em fevereiro de 1888. Meus avós Fontana, estavam entre eles.44
44 Todas essas fotos eu mesmo as tirei. Havia nevado intensamente no dia e na noite anterior à minha chegada, motivo pelo qual, a paisagem que me cercava durante todo o percurso se mostrava enriquecida pela neve imaculada.
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A seguir transcrevo registro feito no Site de Maria Luiza Fuganti45:
―Romano casou-se na Itália com Thereza Geovanna Dalle Rive46 (minha Nona), filha de Pietro Dalle Rive e Santa Caretta, em 31 janeiro 1888. Thereza nasceu em 1865 em Vicenza, Itália. Ela faleceu em 1944 em Bom Retiro, SC, BR.
Eles tiveram os seguintes filhos: Maria Fontana; Cecília Fontana; Domingos Pedro Fontana; Pedro Honório Fontana; Santina Fontana; Victória Fontana; Attilio Francisco Xavier Fontana; Dário Bruno Fontana; Angelina Celeste Fontana; Elisena Fontana e Dosolina Fontana.
Sendo que:
1 - Maria Fontana, casou-se com Domingos Carletto e tiveram os seguintes filhos: João Batista Fontana Carletto; Julieta Fontana Carletto; Elvira Fontana Carletto (Elvira casou-se com Aroldo César); Brígida Fontana Carletto; Ângela Fontana Carletto; Elisena Fontana Carletto (Elisena casou-se com Francisco Flores); Oscar Júlio Carletto; Humberto Fontana Carletto; Amadeu Fontana Carletto; Atílio Fontana Carletto; Romano Fontana Carletto; Mario Fontana Carletto; Tereza Carletto (Tereza casou-se com João Toaldo).
2 - Cecília Fontana – Cecília nasceu em 1890 e casou-se com Ermínio Moro. Desse casamento nasceu Eugênio Moro.
3 - Domingos Pedro Fontana - nasceu em 1890. Ele faleceu em 30 dezembro de 1919. Domingos casou-se com Anita Graccioli. Anita nasceu em 1889. Ela faleceu em 1959. Eles tiveram os seguintes filhos: Romano Anselmo Fontana; Mario Fontana (Mario casou-se com Oneida Shinietzer); Pedro Domingos Fontana47 e Victor Fontana (Victor foi meu padrinho do primeiro casamento) 48.
4 - Pedro Honório Fontana, nasceu em 1894 e faleceu em quatro março 1938. Casou-se com Maria Villanova "Dinda", filha de João Villanova e Catarina Cordenusi. Dinda nasceu em 30 julho 1900 em RS e faleceu em 18 setembro 1963 em Londrina, PR, BR. Eles tiveram os seguintes filhos: Ottoni Romano Fontana; Cecy Dalva Fontana; Ernani Fontana; Pedro Alberto Fontana; Telmo João Fontana; Leonor Catarina Fontana e Odeon Antonio Fontana.
5 - Santina Fontana, casou-se com Erminio Moro. Eles tiveram os seguintes filhos: Elvira Fontana Moro (Elvira casou-se com Beno Claim); Miro Fontana Moro (Miro casou-se com Ilka Wier); Elisena Moro (Elisena casou-se com Guierino Dalcanale); Leni Moro e Neno Moro.
6 - Victória Fontana49, casou-se com João Cureau, filho de ??? Cureau. João nasceu em 11 outubro 1886. Eles tiveram os seguintes filhos: Secundina Cureau; Adelchi Francisco Cureau; Pedro Walmor Cureau; Ana Julietta Cureau; Fernandina Cureau e Ondina Cureau.
7 - Attilio Francisco Xavier Fontana50, nasceu em 7 agosto 1900 em Silveira Martins - Rio Grande do sul -Brasil. Ele faleceu em 15 março 1989 em São Paulo - S. P. - e foi enterrado em 16 março 1989 em São Paulo, S. P.
45 http://pessoal.sercomtel.com.br/tuiza/direita.htm:
46 Esse nome consta do seu registro de nascimento.
47 Domingos, foi o meu primeiro patrão, logo que cheguei a Londrina com a minha família (1948).
48 Na realidade, o convidado especial para o meu casamento foi o então Senador Atillio Francisco Xavier Fontana (tio Atillio, como todos o chamavam), mas, em razão de seus intensos compromissos, ele sugeriu que Victor fosse representá-lo, o que de fato aconteceu.
49 Era sempre ela que me hospedava quando eu ia a Bom Retiro durante as minhas férias. Alem da residência na cidade, tinha uma pequena propriedade rural, onde plantava produtos que supriam suas necessidades familiares e comercializava o restante da safra. Ocasião em que naturalmente, nossa mão de obra era requisitada.
50 Tio Atillio, foi o fundador do Grupo Sadia, aos qual estão agregadas diversas empresas que fazem parte de um dos maiores empreendimentos agroindustriais do País. Aviação, Indústrias de alimentos, de rações, etc.
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Attilio casou-se com Diva Bordin, filha de João Bordin e Ana Comassetto, em 1921. Diva nasceu em 21 fevereiro 1906. Ela faleceu em 18 janeiro 1931 em Luzerna, SC, BR. Eles tiveram os seguintes filhos: Walter Fontana, Lucy Fontana, Omar Fontana e Odylla Fontana.
Attilio também se casou com Carlota Florinda Ringwald "Lotte", filha de Adolfo Ringwald e Maria Emilia (Ringwald), em 10 fevereiro 1934 em Luzerna, Sta. Catarina. Lotte nasceu em 24 dezembro 1914 em Porto Alegre, RS. Ela faleceu em 17 abril 1944 em São Paulo, SP. E tiveram a seguinte filha: Maria Terezinha Fontana51.
Attilio também se casou com Ruth Carvalho Luz em 1962. Ruth nasceu em 10 novembro 1920 em Tijucas, SC. Ela faleceu em 26 abril 2002. Eles tiveram a seguinte filha : Carla Maria Carvalho Fontana.
Attilio também se casou com a viúva Ermida Lucia Sartori e tiveram a filha: Adiles (Odila) Sartori Fontana.
Attilio também se casou com Maria Pereira Martins e teve com ela a filha Vera Lucia Pereira Fontana.
8 - Dário Bruno Fontana, nasceu em 20 julho 1902 em Silveira Martins, Sta. Maria, RS. Ele faleceu em 24 julho 1944 em Luzerna, SC. Dário casou-se com Maria Ângela Piovesan52 em 30 julho 1927. Maria nasceu em 2 janeiro 1907 em Bento Gonçalves, RS. Ela faleceu em 28 julho 1995 em Luzerna, SC. Eles tiveram os seguintes filhos: Emmi Fontana; Ignez Fontana; Diva Lourdes Fontana; Lindonês Maria Fontana; Irene Terezinha Fontana; Honório José Fontana; Cláudio Fontana; Dario Fontana e Maria de Lourdes Fontana.
9 - Angelina Celeste Fontana, casou-se com Antonio João Tonin53 e tiveram os seguintes filhos: Leda Darcy Tonin (Leda ordenou-se Irmã de Caridade e não teve filhos); Leni Teresinha Tonin (natimorta - nasceu em 1929); Rubens Antonio Tonin nasceu em 1931 e faleceu em 1932; Antonio Rubens Tonin (médico), nasceu em 1934; Neylor José Tonin (Neylor ordenou-se padre); Maria Gilda Tonin; Tereza Raquel Tonin e Denise Tonin.
10 - Elisena Fontana (minha mãe), nasceu em 20 julho 190954 em Santa Maria, RS. Ela faleceu em 25 junho 2001 em Londrina, PR. Descansa em paz no Parque das Oliveiras junto ao túmulo do meu pai, Cesar de Oliveira Bertin. Elisena casou-se com César de Oliveira Bertin, filho de Julio Emillio de Bertin e Laurentina Marques de Oliveira, em 30 setembro 1930 em Bom Retiro (Luzerna).‖ 55
51 Terezinha era a minha prima predileta.
52 Todos a tratavam carinhosamente de “Dinda”. Quando eu morava em Joaçaba, visitá-la era o meu maior prazer, pois, na cristaleira, sempre guardava aos seus visitantes, um pote de deliciosos biscoitos de sua confecção.
53 Tio Antoninho só tinha o braço direito, pois perdera o esquerdo num acidente com a enfardadeira de alfafa. Tinha certa tendência inventiva. Sua residência possuía uma usina hidroelétrica que gerava toda a energia que necessitava para o uso domestico. Fora construída no ribeirão que corria nos fundos da propriedade e era controlada a distancia por um sistema de roldanas que acionavam as comportas que controlavam o volume de água regulando o giro da roda d’áqua.
54 Essa data de nascimento, 20 de julho de 1909, consta do n° de registro da Carteira de Identidade expedida pelo Estado do Paraná, mas conflita com a data inserida no seu CPF de n°. 468.786.459-72, que data o seu nascimento no dia 20 de Outubro de 1909.
55 Essas informações foram retiradas do excelente trabalho de Maria Luiza Fuganti, que se encontra na internet, bastando transportar http://pessoal.sercomtel.com.br/tuiza/conjunto.htm à barra de endereços.
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Nesta foto aparecem apenas as irmãs Fontana, juntamente com minha avó Theresa (Nona).
Na parte superior aparece minha mãe, a terceira a contar da esquerda para a direita.
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Minha querida mãe. Elisena Fontana, nasceu em 20 setembro 1909 em Santa Maria da Boca do Monte, RS, BR. Ela faleceu em 25 junho 2001 em Londrina, PR, BR e foi enterrada no Parque das Oliveiras.
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Elisena Fontana Bertin, católica devota, em audiência especial com o Santo Padre, Papa Giovanni Paolo II em 1980.
Meus pais tiveram os seguintes filhos: Irene Terezinha; Luiz Julio (autor desta biografia); Heitor César; Antonio Carlos; Bruno Flavio; Maria Laurentina; Renato Colbert; Lindonez Helena; Jorge Augusto; Regina Dalva; Paulo Oscar e Fátima Maria Elisena Bertin.
11 - Dosolina Fontana56, casou-se com Cândido Panis57 e tiveram os seguintes filhos: Alda Fontana Panis (Alda casou-se com Celeste Bragagnolo); Waldomiro Fontana Panis; Antenor Fontana Panis (casou-se com Teresinha); Iró Fontana Panis e Isaura Fontana Panis.
Eis a irmandade da minha mãe. Ela é a décima entre os onze irmãos e irmãs Fontana, descendentes de Romano Domenico Fontana e de Teresa Jovanna Dalle Rive. Todos nasceram em Silveira Martins, um dos distritos de Santa Maria da Boca do Monte - RS.
Meus irmãos e irmãs:
Por idade decrescente: Irene Terezinha Bertin, Luiz Julio Bertin, Heitor Cezar Bertin, Antonio Carlos Bertin, Bruno Flávio Bertin, Maria Laurentina Bertin, Renato Colbert Bertin, Lindonez Helena Bertin, Jorge Augusto Bertin, Regina Dalva Bertin, Paulo Oscar Fontana Bertin e Fátima Maria Elisena Bertin.
Vou transcrever aqui, logo abaixo, apenas a descendência direta por ordem de idade dos filhos do casal César de Oliveira Bertin e de Elisena Fontana Bertin, para efeito de informações aos meus parentes, pois, se alguém mais quiser informações detalhadas, deverão recorrer a outras fontes ou à internet, que com sua dinâmica, dia a dia, mais informações se disponibilizam aos interessados. Procurem pela ―Tuiza‖ que encontrarão um maravilhoso trabalho de genealogia feito pela minha prima Maria Luiza Fuganti58.
56 Tia Dosolina e tio Candido, após a morte da Nona, assumiram a antiga residência da família, que ficava na rua principal de Bom Retiro, ao lado da casa comercial Armazém Fontana.
57 Tio Cândido, além de criador de cavalos, era a autoridade policial da cidade. Delegado “calça curta” nomeado pelo governo do Estado de SC. Para cumprir sua tarefa, montava seu cavalo à caça dos assassinos e ladrões e quando os prendia, na falta de local apropriado, amarava-os numa árvore à frente da sua residência à espera dos policiais que os transportavam à cadeia de Joaçaba.
58 Aproveito essa oportunidade de agradecer à minha prima Maria Luiza, pelas facilidades que me proporcionou com o seu belíssimo e paciencioso trabalho.
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Com as informações disponíveis obtidas de moto próprio e de parentes interessados, com destaque ao primo Adamastor59 arbertin@hotmail.com, neto do tio Adamastor, irmão do meu pai, que mantém também um trabalho no qual tenta montar a árvore genealógica da família Bertin e à Maria Luiza, da família Fuganti, no seu e-mail: fuganti.fontana@sercontel.com.br (tuiza, para os internautas), coloco aqui o que tenho disponível, ao mesmo tempo em que agradeço penhoradamente os seus esforços em trazer à luz parte importante da saga das duas famílias: Fontana e Bertin além da sua própria, Fuganti.
1 - Irene Terezinha Bertin, nasceu em 14 de abril de 1932 em Joaçaba SC., conforme consta da CI-RG n°. 2.803.714-SP. ―Tere‖ casou-se com Remo Veronesi60. Remo nasceu em 2 dezembro 1930 na Itália e faleceu em 10 dezembro 1999 na Itália. Eles tiveram os seguintes filhos: Valéria Veronesi que nasceu em Londrina em 11 setembro 1954, vindo a falecer prematuramente (câncer) na Itália em 29 dezembro 1979 (mesmo ano do falecimento do meu pai); Rossana Veronesi; Marco Veronesi e Andrea Veronesi.
Irene Terezinha Bertin.
59 Adamastor reside em Santa Maria-RS, na Av. Borges de Medeiros, 1055 - Ap. 02 - CEP.: 97010-081-fones: (55) 217 1593 e (55) 99690506 e seu e-mail é: arbertin@hotmail.com.
60 O cunhado Remo foi o maior incentivador quando a família se reuniu com o objetivo de nos agruparmos e fundar a empresa Decorações Bertin que perdurou por mais de 40 anos.
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Foto do casamento de Remo Veronesi e Irene Terezinha Bertin. À esquerda, o casal Arturo e Cintia Veronesi (pais do Noivo) e á direita minha mãe Elisena e meu pai Cesar de Oliveira Bertin.
Remo Veronesi, Elisena Fontana Bertin, O Papa João 23 e Irene terezinha Bertin.
Como disponho fotos dos filhos que geraram; Valéria, Marco, Rossana e Andréa, coloco-as aqui.
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Elena Mulas Veronesi, Mascos Veronesi e filhas.
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Abaixo, fragrante que tomei durante um almoço em Roma na residência do casal Andrea, Anabella e seu filho Tomas Veronesi.
Anabella, Andrea e Tomas Veronesi.
2 - Luiz Julio Bertin, (Lula61), nasceu em 09-01-1934, em Joaçaba (Cruzeiro do Sul), com RG. N° 314.487 e casei-me com Hiroye (Sônia) Matoba,
61 Interessante que esse apelido – Lula - somente era utilizado pela minha irmã Tere e raramente pelos outros membros da família.
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e tivemos os seguintes filhos: Juliano, Felipe e Daniela Bertin.
Hiroye Matoba, minha primeira esposa.
40
Meu primeiro filho Juliano Bertin.
Sandra – Esposa do Juliano.
41
Minha neta, Isabella Cristina (do casal Juliano e Sandra)
Meu segundo filho Felipe Bertin:
42
Felipe e sua esposaTatiana.
Meus neto Kaio Bertin
43
Minha neta Ketlym Bertin.
e Daniela Bertin, minha terceira filha.
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Meus dois netos Marco e Leandro, filhos de Daniela (filha).
Juliano casou-se com Cristiane Simone Faria Santos e tiveram o seguinte filho: Cássio Daflon Faria Santos Bertin;
Felipe, que se casou com Irene e tiveram a seguinte filha: Daiane Bertin.
;
Daiane, esposo e filho, meu bisneto.
Daniela casou-se com Salomão Folli Filho e tiveram o seguinte filho, Marco Folli
45
Bertin.
Marco, meu neto.
Daniela também se casou com Lauro e tiveram o seguinte filho: Leandro.
46
Leandro, meu neto.
Casei-me também com Maria Lucia Ferreira Gomes
47
e tivemos os seguintes filhos:
48
Mario Cezar com sua filhinha Sofia.
49
Julio César Ferreira Gomes
e Tainã Ferreira Gomes Bertin.
50
Esse sou eu. Luiz Julio Bertin aos 74 anos.
51
Maria Lúcia Ferreira Gomes Bertin. Minha esposa.
Minha família do segundo casamento: Da esquerda para a direita; Mario Cezar, Tainã, Maria Lucia (esposa), eu e Julio Cesar. Do casamento anterior, nasceram: Juliano Bertin, Felipe e Daniela Bertin..
3 – Heitor César Bertin62 (solteiro), nasceu em Joaçaba, SC ;
62 Heitor. Comerciante aposentado. Foi um dos maiores responsáveis pelo sucesso da empresa Bertin.
52
Meu irmão Heitor Cesar Bertin.
53
4 - Antonio Carlos Bertin, ―Kiko‖, nasceu em Joaçaba, SC. com CI-RG n°. 314.762 - casou-se com Maria Angelina Sipoli e tiveram os seguintes filhos: Carlos Sipoli Bertin; André Sipoli Bertin e Rafael Sipoli Bertin.
5 - Bruno Flávio Bertin, ―Pato‖ – nasceu em 06 de outubro de 1938, em Joaçaba, SC., com CI-RG n°. 314.676 - casou-se com Assunta Lores e tiveram os seguintes filhos: Marcelo Lores Bertin; Flávio Lores Bertin; Denise Lores Bertin e Monica Lores Bertin.
54
Bruno Flávio e Maria de Fátima Bertin.
6 - Maria Laurentina Bertin, nasceu em Londrina-PR., com CI-RG n°. 704.694. Casou-se com Otto Ralpho Erico Bendix e tiveram a filha Julia Bendix
Bertin.
Julia.
55
Julia e João.
7 - Lindonez Helena Bertin, - ―Nina‖, nasceu em Londrina-PR., com CI-RG n°. 601.115. Casou-se com José Augusto Correa de Almeida. José nasceu em 4 setembro 1944 em São Paulo, SP. Ele faleceu em 17 setembro 2004 em Londrina, PR. Eles tiveram os seguintes filhos: Ana Carolina Bertin de Almeida; Gabriel Bertin Almeida e Guilherme Bertin Almeida.
Lindonez Helena Bertin.
8 - Jorge Augusto Bertin63, nasceu em Joaçaba (Cruzeiro) em 20 de janeiro de 1947 - ―Joe‖ casou-se com Ibarruri Mendes de Souza "Bui" e tiveram os seguintes filhos: Rodolfo de Souza Bertin e Patrícia de Souza Bertin.
63 Advogado. É Juiz aposentado por Mato Grosso do Sul. Quando da criação desse Estado, prestou concurso, destacando-se entre os primeiros aprovados a ser chamado pelo Judiciário do Estado para compor o primeiro corpo de Juízes nomeados.
56
Jorge Augusto Bertin.
Eis a família do Joi: Ele, esposa Ibarruri e filhos.
57
9 - Regina Dalva Bertin, - ―Dina casou-se com José Antonio Quinta‖ e tiveram os seguintes filhos: Flávia Bertin Quinta e Fernanda Bertin Quinta.
Flavia e Fernanda.
58
10 - Paulo Oscar Bertin64, - ―Paulinho‖, nasceu em 31 de julho de 1951 em Londrina-PR, com CI-RG n°. 755.109, casou-se com Márcia Closs e tiveram os seguintes filhos: Bruna Closs Bertin, Uli Closs Bertin e João Paulo Closs Bertin.
Paulo Oscar Fontana Bertin.
―Paulinho‖ também se casou com Meris.
Eis a família inteirinha do Paulinho.
11 – Renato Colbert Bertin65 nasce em Joaçaba-SC, em 26 de maio de 1942, CI-RG n°. 650802. ―Padre Renato‖ (solteiro) e
64 Paulinho. Comerciante.
65 Renato - Padre Renato - O religioso da família.
59
Renato Colbert Bertin. (Padre Renato).
12 – Fátima Maria (solteira).
60
Maria de Fátima Bertin.
Minha ascendência materna como podem ver logo abaixo, é italiana em toda a sua linha. ―Data vênia‖, permito-me transcrever neste livro parte do excelente trabalho em genealogia das famílias Fontana-Fuganti-Bertin, de autoria da minha prima Maria Luiza Fuganti66. Nele, os leitores terão uma visão mais concentrada da minha linha genealógica Fontana. ―Ipsis Literis‖.
Linha FONTANA- LUIZ JULIO BERTIN.
―Romano Domenico Fontana, filho de Domenico Fontana e Domenica Munari, casou-se em 31 de janeiro de 188867, ainda na Itália, com Thereza Dalle Rive. Sua família nunca tinha trabalhado a terra, mas Romano e Thereza decidiram emigrar para o Brasil para "fazer América" e chegaram aqui ainda no início de 1888 . Foram morar no distrito de Camobi no município de Santa Maria da Boca do Monte. Aqui eles tiveram seus 11 filhos e foram ficando, ficando... seus descendentes se espalharam pelo Sul do Brasil e alguns outros estados e países.
Uma das filhas de Romano e Thereza, Elisena Fontana, casou-se com Cesar de Oliveira Bertin, descendente de franceses.
66 - http://pessoal.sercomtel.com.br/tuiza/ Dê control “C” e coloque na barra de ferramentas acionando a tecla control”V”, para entrar no site da Maria Luiza.
67 - Ver cópia do registro original do matrimônio, noutra parte deste livro.
61
Descendentes de Domenico Fontana
Primeira Geração
Domenico Fontana casou-se com Domenica Munari e tiveram dois filhos: Romano Domenico Fontana e Gerônimo Fontana. Romano Domenico Fontana (Domenico) nasceu em 22 agosto 1865 em Forni di Valdastico, Vicenza, Itália. Ele faleceu em 6 janeiro 1921 em Ibicui, Sta. Maria, RS.
Romano casou-se com Theresa Giovanna Dalle Rive, filha de Pietro Dalle Rive e Santa Caretta, em 31 janeiro 1888 em Vicenza, Itália. Theresa nasceu em 24 março 1865 em Vicenza, Itália. Ela faleceu em 9 novembro 1944 em Bom Retiro, SC, BR.
Eles tiveram os seguintes filhos :
Maria Oliva Fontana
Domingas Cecília Fontana
Domingos Pedro Fontana
Pedro Honório Fontana
Santina (Santa Joanna) Fontana
Victória Guilhermina Fontana
Attilio Francisco Xavier Fontana
Dário Bruno Fontana
Angelina Celeste Fontana
Elisena Fontana
Regina Dozolina Fontana
Elisena Fontana, filha de (Romano Domenico , Domenico) nasceu em 20 setembro 1909 em Santa Maria da Boca do Monte, RS, BR. Ela faleceu em 25 junho 2001 em Londrina, PR, BR e foi enterrada no Parque das Oliveiras.
Elisena casou-se com César de Oliveira Bertin, filho de Julio Emilio Bertin e Laurentina Marques de Oliveira, em 30 setembro 1930, em Bom Retiro, SC, BR. César nasceu em 20 junho 1906 em São Borja, RS, BR. Ele faleceu em 6 junho 1979 em Londrina, PR, BR e foi enterrado no Parque das Oliveiras.
E tiveram os seguintes filhos pela ordem de nascimento.
Irene Terezinha Bertin
Luiz Julio Bertin
Heitor Cezar Bertin
Antonio Carlos Bertin
Bruno Flávio Bertin
Maria Laurentina Bertin
Renato Colbert Bertin
Lindonez Helena Bertin
Jorge Augusto Bertin
62
Regina Dalva Bertin
Paulo Oscar Fontana Bertin
Fátima Maria Elisena Bertin
Luiz Julio Bertin, filho de Elisena Fontana... , casou-se com Hiroye (Sônia) Matoba.
E tiveram os seguintes filhos:
Juliano Bertin
Felipe Bertin
Daniela Bertin
Luiz também se casou com Maria Lucia Ferreira Gomes.
E tiveram os seguintes filhos:
Mario Cezar Ferreira Gomes Bertin
Julio César Ferreira Gomes Bertin
Tainã Ferreira Gomes Bertin
Juliano Bertin, filho de Luiz Julio Bertin , neto de Elisena Fontana, bisneto de Romano Domenico e tataraneto de Domenico,
Casou-se com Cristiane Simone Faria Santos.
Eles tiveram o seguinte filho:
Cássio Daflon Faria Santos Bertin
Casou-se também com Sandra e tiveram a seguinte filha: Isabella Cristina.
Felipe Bertin , filho de Luiz Julio Bertin , neto de Elisena Fontana, bisneto de Romano Domenico e tataraneto de Domenico, casou-se com Irene.
E tiveram a seguinte filha:
Daiane Bertin, que por sua vez teve: dois filhos.
Daniela Bertin, filha de Luiz Julio Bertin , neta de Elisena Fontana, bisneta de Romano Domenico e tataraneta de Domenico.
Casou-se com Salomão Folli Filho. Eles tiveram o seguinte filho:
Marco Alexandre Bertin Folli.
Daniela também se casou com Lauro.
Eles tiveram o seguinte filho:
Leandro Bertin
63
Meus bisavós maternos: Pietro Dalle Rive Fontana e Santa Caretta.
.
Nessa foto, pode-se visualizar meu ―Nono‖ Romano e minha ―Nona‖ Thereza.
Romano Domenico Fontana (Domenico) nasceu em 22 agosto 1865 em Forni di Valdastico, Vicenza, Itália. Ele faleceu em 6 janeiro 1921 em Ibicui, Sta. Maria, RS. Romano casou-se com Theresa Giovanna Dalle Rive, filha de Pietro Dalle Rive e Santa Caretta, em 31 janeiro 1888. Teresa nasceu em 1867 em Vicenza, Itália. Ela faleceu em 1944.
64
Dez foram os seus filhos: Maria; Cecília; Domingos Pedro; Pedro Honório; Santina; Victória; Attilio Francisco Xavier; Dário Bruno; Angelina Celeste; Elisena68 e Dosolina Fontana. Acho que essa era a seqüência de nomes por ordem de nascimento.
Meu avô Romano, não o conheci pessoalmente e sei apenas que chegou ao Brasil, aportando no Rio de Janeiro, e sem saírem do navio, seguiram diretamente para Porto Alegre, destino final da penosa e estafante viagem, juntamente com outros emigrantes amigos e com as primeiras levas de estrangeiros em fins do século 19, já casado com minha avó Theresa.
Como chegaram ao Rio Grande do Sul? Segundo sei, eles embarcaram no porto de Gênova, cumprindo um acordo entre o governo brasileiro e o governo Italiano. Faziam parte daquelas primeiras levas de imigrantes europeus, que atendiam plano do governo brasileiro, que tinha como objetivo colonizar69 o Estado do Rio Grande do Sul70.
Sobre minha avó Theresa Geovanna Dalle Rive, ―nona‖, mãe da minha mãe, posso adiantar que a conheci pessoalmente e me lembro de alguns poucos episódios da sua história em particular que colhia em raros momentos e pude memorizar, pois naqueles anos, criança não tinha nada que saber dos adultos. Embora tenha tido, raros contatos pessoais. Contudo, lembro-me com saudades e muita satisfação de alguns fatos em que participei pessoalmente quando ia passar minhas férias escolares em Bom Retiro (Luzerna) e me hospedava em sua residência.
Sobre a vida deles em particular, na Itália e no Rio Grande do Sul e mesmo em Luzerna, pouco posso esclarecer, a não ser do que foi acima veiculado e ainda, fico na dependência dos nossos parentes que porventura possuam informações consistentes e que possa vir a enriquecer esse relato.
Meus avós maternos ao falecerem foram repousar no campo santo de Bom Retiro (hoje, Luzerna), SC. Muitos anos mais tarde, recebi informações de que meu tio Attilio transladou seus restos mortais a cemitério da capital de São Paulo. Nunca obtive uma explicação desse ato. Deve ter sido por compreensível piedade e dedicação.
Mas, meus avós maternos possuíam um comércio por lá, em Luzerna; de Secos & Molhados. Expressão usada para designar armazéns sortidos de venda a varejo e atacado, onde se vendia de tudo, desde tecidos e perfumes, creolina, querosene, ratoeiras, chapéus de feltro e arreios para animais. Naturalmente, não era ali que todos os negócios da família Fontana se concentravam. Havia outros.
Romano, meu avô viveu por até os 56 anos e faleceu no início da década de 1.920, quatorze anos antes do meu nascimento. Nada sei sobre sua vida. Minha mãe, quando do seu falecimento, tinha pouco mais de dez anos e pouco ou nada sabia. Nunca comentou seu falecimento ou qualquer coisa sobre sua vida. Pelo menos, não para mim.
Da vida de minha avó, Thereza Giovanna Dalle Rive, do que sei, pouco resta na minha memória, mas, dela me recordo das ocasiões em que eu gozava minhas férias escolares, como era costume, quando meus pais me deixavam passá-las em uma das residências das muitas tias que residiam em Luzerna. Época que me recordo com saudades.
Minha avó, após a morte do meu avô, continuou na casa que fora construída para acolher a família numerosa. Era a casa que fora construída e que marcou a resolução da família em se
68 Elisena minha mãe.
69 Para fins de “branqueamento” da população.
70 Não confundir essas imigrações com aquelas em que milhares de italianos que aportaram em Santos em fins do século 19, para suprirem a falta de mão de obra existente em São Paulo, em razão da decretação da Lei Áurea que deu liberdade aos escravos brasileiros.
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consolidar em Bom Retiro. Espaçosa, em alvenaria e se localizava logo na subida, em um amplo terreno à esquerda da Rua 16 de Fevereiro. Ela representava a segurança e o sucesso alcançados pelo grupo familiar, a mesma que havia sido construída por meu avô e que quando faleceu, por consenso da irmandade, meus tios Cândido Paniz e Dosolina Fontana e seus filhos passaram a residir nela, pois foi decidido que minha avó Theresa não poderia continuar só no enorme casarão.
E nas minhas inesquecíveis férias, era nessa casa que, de manhã muito cedo, sempre a encontrava acomodada na ampla cozinha, ante uma enorme mesa de pinho branco, recoberta de toalha de pano de linho alvo e imaculado e tricotado nas bordas, por ela mesma, sobre a qual eram colocadas travessas de louça francesa71, contendo os ingredientes do café da manhã. No seu rústico linguajar misturado pelas duas línguas italiana (com dialeto Veneto) e português, falava com um misto de palavras apenas compreendidas por quem se habituara à sua companhia, dizia: Luiz coma, ma rende anche voi, mas que, não era bem isso que soava, pois tudo o que eu entendia era: -―Anda Luigi, manja que te fá bene72‖, fazendo-me sentar à mesa e passando-me o pão já com a manteiga sobre ele, acompanhado de uma enorme xícara de café com leite, enquanto ela continuava saboreando seu copo de vinho, pão feito naquela manhã e geléia de frutas, salame, presunto e queijos de produção caseira. Era uma típica ―nona‖ italiana, simpática, opulenta e segura.
A casa era muito movimentada, pois era onde todos os seus filhos e netos que se encontravam quando não estavam na escola ou se encontravam de férias. Adultos e crianças se reuniam solidariamente e passavam o dia usufruindo das facilidades encontradas. Era visita obrigatória, principalmente para nós crianças, sempre ávidas nas guloseimas da sua lavra.
Resumo das informações sobre minha origem paterna.
Meu Bisavô – Augusto Otto Luiz de Bertin (Augusto Otto Luiz de Bertin) nascido em Tilques73, Saint Omer, ao norte da França. Era filho de Augusto Justino de Bertin e de D. Cristina de Bertin (meus trisavós), médico, casado com Albertina Jansina (de origem dinamarquesa) emigrou para o Brasil e se estabeleceu na Freguesia de Santo Amaro - Distrito de General Câmara, RS., local onde nasceram os cinco filhos. Mais tarde mudou-se para Porto Alegre, mas, ignora-se em que data se mudou para a capital aonde veio a falecer em 1910.
71 Naquela época, quase tudo era importado. Apenas os mais abastados tinham acesso aos objetos de melhor qualidade, tais como: Prataria (que geralmente eram de procedência alemã), cristais (da França e Boêmia), talheres (da Alemanha e Suíça), roupas de cama, mesa e banho e, tecidos para confecção masculina (de procedência inglesa e irlandesa), perfumaria (certamente francesa e italiana), ferramentas (quase sempre alemãs), etc. À população nativa, cabocla e de descendentes de imigrantes, cabiam os objetos de uso comum que eram fabricados rusticamente no Brasil.
72 Era como soava aos meus ouvidos. Pronunciar corretamente lhe era indiferente, como deveria ser o que deveria ser complicado para ela.
73 - Tilques é uma comuna francesa na região administrativa de Nord-Pas-de-Calais, no departamento de Pas-de-Calais. Estende-se por uma área de 7,29 km², com 947 habitantes, segundo os censos de 1999, com uma densidade de 129 hab/km².
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Albertina Jansina Jorgensen de Bertin. Minha Tataravó
Julio Emilio Bertin - Nasceu em Santo Amaro74 - Atual General Câmara – RS., em 11de Maio de 1873. Mais tarde, em 1891, ingressou no Exército Brasileiro e mudou-se para São Luiz Gonzaga como integrante de um contingente militar comandado por Pinheiro Machado75, no posto de Tenente. Após dar baixa, aos 23 anos, casou-se em 30 Janeiro de 1897, às 20:00 horas, ainda em São Luiz76, com Laurentina Gonçalves de Oliveira, filha de José Gonçalves de Oliveira, proprietário de uma área de terra, e de Alexandrina Vieira Marques77.
74 - A sesmaria doada à Antônio de Brito Leme em 1754 teria sido o núcleo inicial de Santo Amaro, atual município de General Câmara. Povoamento formado por açorianos. Pertence à região metropolitana de Porto Alegre.
75 - José Gomes Pinheiro Machado (Nasceu em Cruz Alta a 8 de maio de 1851 — faleceu no Rio de Janeiro a 8 de setembro de 1915), foi um dos mais influentes políticos brasileiros do início do século XX.
Estudou na Escola Militar e aos quinze anos abandonou o curso para lutar, como voluntário, na Guerra do Paraguai. Deixou o Exército em 1868. Viajou para São Paulo, onde se formaria em 1878 pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Após a sua formatura, casou-se, ainda em São Paulo, com Benedita Brazilina da Silva e voltou para o Rio Grande do Sul, exercendo a advocacia na Cidade de São Luís das Missões, atual São Luís Gonzaga. Foi senador, participando a seguir do Congresso Constituinte (1890/91). Com a eclosão da Revolução Federalista no seu estado natal, em 1893, deixou a sua cadeira no Senado Federal, para combater o movimento armado no comando da Divisão Norte, por ele organizada. Vitorioso, mereceu a patente de general. Retornou ao Senado, onde permaneceu até a sua morte, apunhalado no hotel onde residia.
76 - São Luiz Gonzaga[1] é um município brasileiro do Estado do Rio Grande do Sul. Pertence à Mesorregião Noroeste Rio-Grandense e à Microrregião Santo Ângelo, sendo um dos Sete Povos das Missões.
77 Vejam abaixo a transcrição do Termo de Casamento, tal como se encontra grafado em livro próprio fornecida pelo Cartório de Registro Civil de São Luiz Gonzaga, RS.
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Nesta foto se visualiza meus avós paternos Júlio Emilio Bertin e Laurentina Marques de Oliveira.
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Desse casamento nasceram 11 filhos, sendo que os cinco primeiros nasceram em São Luiz Gonzaga e os outros em São Francisco de Borja (São Borja), onde a família passou a residir, a partir de 1905, e reiniciou sua atividade industrial, onde se estabeleceu como Talabarteiro78 (na realidade especializou-se em tapeçaria). Todos os filhos já falecidos, a última (Maria Júlia) em 10 Julho 1995. Júlio Emílio faleceu em 19 Junho 1953, em Porto Alegre, vítima de câncer na garganta.
Esta foto revela a penúria em que meus avós viviam com seus filhos, por volta de 1914, na cidade de São Borja. Aparecem na foto: O casal Bertin e seis dos seus onze filhos que viria a ter. O meu pai em primeiro plano está usando chapéu.
Alguns anos mais tarde, aquela construção agora rebocada estava assim79.
78 Encontra-se essa rara atividade na Classificação Brasileira de Ocupações – CBO do MTr.
79 Essa foto foi tirada por mim, por ocasião de uma das minhas visitas em 2005 a S. Borja. Repeti essa visita dois anos depois e ela havia sido demolida.
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A residência noutro ângulo.
Foto que tirei da fachada do prédio onde meu avô, meu pai e seus irmãos exerceram suas atividades profissionais nas décadas de 1900/50. O espaço externo que servia de entrada para a oficina e a ferraria foi hoje ocupado pela construção que se nota à direita da foto.
Parte do interior da oficina dos Bertin, perfeitamente conservada. Tal qual como nos idos das décadas 1900/50. Era nesse tanque que os Bertin lavavam as mãos sujas de graxa.
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Vejam com que perfeições eram confeccionados os estofados, quase sempre em couro importado ou damascos de seda. Percebam os detalhes do trabalho em ―capitonet‖ aplicados nos luxuosos carros que eram utilizados pelos ricos fazendeiros da região.
Charretes como essa, era o principal produto produzido pelo meu avô Julio Emilio. Mais tarde, meu pai se juntou aos irmãos mais velhos e auxiliou na produção, até que se transferiu para Santa Maria da Boca do Monte à procura de trabalho e complemento dos seus estudos, o que não lhe foi possível em razão da sua decisão de acompanhar a família Fontana para Luzerna. Como sabemos, foi em Santa Maria que conheceu minha mãe com quem se casou mais tarde.
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Outro exemplo do trabalho que os Bertin realizavam. Uma belíssima Berger confeccionada em couro trabalhado em capitonet.
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Meu pai, Cesar de Oliveira Bertin, filho de Laurentina Gonçalves de Oliveira e de Júlio Emíllio Bertin80.
RESUMO HISTÓRICO DE CESAR DE OLIVEIRA BERTIN81.
Meu pai aos 78 anos
Ao começar este livro, as informações que eu tinha sobre o meu pai eram muito poucas: sobre o seu nascimento, seus primeiros anos de vida, seus estudos, sua atividade profissional, sua vida amorosa, seus amigos e seu casamento, a não ser aquelas de domínio de quase todos os membros da família Bertin. César de Oliveira Bertin, tal como minha mãe, era homem de pouco dialogo com seus filhos. Apesar de tudo, ele era um grande palrador, contador de casos e fazedor de piadas com seus amigos e clientes, menos com seus filhos. Típico machista, auto-suficiente e dominador, mas calmo e comedido. Nunca interferia na nossa educação. Isso, ele deixava por conta da esposa. Havia exceções: Quando as coisas necessitavam da mão forte do homem. Entretanto, embora estivesse em voga82 castigar as crianças severamente, não me recordo que ele tivesse uma atitude que pudesse ser criticada como abusiva ou violenta.
Com as informações já cadastradas e percebendo que elas eram poucas, comecei a me perguntar dessa escassez e qual o motivo. Aos poucos, de conversa em conversa com os parentes mais próximos e com as pessoas que o conheceram, o perfil do meu pai começou a se delinear, principalmente por que encontrei uma fotografia do seu tempo de solteiro, que fala por si.
80 Julio Emillio Bertin, ou Julio de Berthen, conforme assinatura aposta no seu Termo de Casamento – consta esse nome em alguns documentos da época – provavelmente foi por vaidade meu avô quis seu nome com essa grafia. E essa deve ser a origem das pequenas confusões que ocorreram com alguns registros civis da família.
81 Cesar de Oliveira Bertin nasceu em 20/06/1906, na cidade de São Borja, Rio Grande do Sul, sendo filho de Julio Emilio Bertin e de Laurentina de Oliveira Bertin. CI-RG: n° 881585 - CPF: 86.100.
82 Voga - estar em voga é estar em ênfase, em destaque, em evidência. É estar na moda.
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Foto original e um corte da foto, onde meu pai aparece vestido com ―Terno‖ completo, juntamente com seus amigos: Paletó, colete, calça (do mesmo tecido, a casimira), gravata borboleta, chapéu panamá e sapatos pretos. Eventualmente, para os dias frios era utilizada a polaina que sobrestava o sapato. E, para os dias de chuva, obrigatoriamente, eram utilizadas as famosas galochas feitas de borracha vulcanizada que protegiam os sapatos do barro. Como se pode deduzir, essa foto demonstra como a juventude da época, década de vinte/trinta, se apresentava em ocasiões festivas. Meu pai é o da esquerda na foto coletiva. O Rio Icamaquã83, que se vê ao fundo é um dos afluentes do Rio Uruguai. Eles estavam a caminho de Santo Tomé (Argentina) para uma festa e para isso teriam de cruzar de canoa esse rio e o rio Uruguai, travessia que era feita numa balsa.
Uma das perguntas cruciais que sempre me passou pela cabeça era de como, assim que saiu de São Borja, iniciou seus contatos com a família Fontana e assim conhecer a minha mãe?
E‘ voz comum entre os meus parentes do Rio Grande do Sul e principalmente os de São Borja, corroborado pela minha a prima Wilma Bertin Ponsi, que meu pai foi o único membro dos irmãos Bertin que se aventurou noutras plagas84 com o objetivo de continuar seus estudos
83 - Afluente do Rio Uruguai.
84 - 1 Região, país: "...possam eles [meus cantos], ó meus amigos! - efêmeros filhos de minh'alma - levar uma lembrança de mim às vossas plagas!..." (Castro Alves, "Espumas flutuantes") 2 Porção de terreno. [F.: Do lat. plaga - ae.]
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após concluir seu curso fundamental no Colégio Elementar. Na época, único colégio público de São Borja.
Uma vez concluído o ensino fundamental, que englobava o que hoje denominamos ensino fundamental, uma integração que soma hoje o primário e o ginasial (cinco anos mais três). Além do mais, não havia oferta de novos empregos na cidade. Assim, todas as chances que alguém tinha para evoluir educacionalmente e profissionalmente ali se esgotavam e nada mais podia fazer o jovem, homem comum, pois não existia nada além da parca estrutura de ensino que se mostrava insuficiente. Para as mulheres, então, nem se fala. Não havia cursos superiores na cidade de São Borja. Esgotados os recursos que eram oferecidos aos habitantes da cidade, só restavam a eles, procurarem no município um hipotético emprego ou se ocuparem nas atividades que as suas famílias exerciam desde sempre.
Quem aspirava se aprimorar e pretendesse por novas oportunidades, não tinha como; só saindo da cidade à procura de maiores centros, onde teriam oportunidade de continuarem seus estudos ou de conseguirem um bom emprego. Conformar-se com tal situação não era do feitio do meu pai. Ficar na cidade onde nascera e ai permanecer sem que novas oportunidades surgissem, exigia dele um grande sacrifício. Preferiu então, após terem se esgotado suas oportunidades, enfrentar o desconhecido, o que naquela época foi considerado uma loucura pelos seus pais e irmãos.
César de Oliveira Bertin fez as malas e se mandou! Foi para Santa Maria da Boca do Monte, distante 295 quilômetros de São Borja e centro importante do Rio Grande do Sul que fora acrescido recentemente de mais um ramal ferroviário ao já importante entroncamento ferroviário, acrescido da estrada de ferro São Paulo – Rio Grande do Sul. Lá, naturalmente, esperava conquistar um bom emprego e continuar seus estudos.
Meu pai, a exemplo dos seus ancestrais, como já afirmei, era basicamente um citadino, nada o atraia para a lavoura ou qualquer atividade agropastoril e, segundo sei, não possuía tendência às atividades intelectuais. Restava-lhe o Comércio. Em Santa Maria, encontrou-se com amigos da cidade natal e travou relacionamento com membros da família Fontana e Fuganti - com os quais conseguiu emprego. Coincidentemente, os Fontana já tinham percebido que ali, onde se encontravam, as oportunidades de prosperar no comércio e na indústria eram reduzidas. Precisavam eleger novo local onde seus sonhos pudessem se concretizar e novas oportunidades surgissem. E depois de muito discutirem, decidiram-se escolher para onde a família deveria se transportar e se desenvolver social e economicamente.
Assim, já não havendo o risco de se confundirem com os acontecimentos político-sociais gerados pela Guerra do Contestado85, os Fontana depositaram suas esperanças em Attilio Francisco Xavier Fontana para que fosse examinar um local seguro e apropriado que os recebessem e permitissem a prosperidade tanto almejada. Examinado o local, que se localizava no Vale do Rio do Peixe, foi escolhido o pacato, mas próspero lugarejo de Bom Retiro (hoje Luzerna), povoado localizado a pouco mais de uma légua da nova e promissora cidade de Cruzeiro (mais tarde Cruzeiro do Sul e hoje Joaçaba), e para lá todos migraram.
Foi nessa ocasião que meu pai conheceu sua futura esposa Elisena e iniciou seu relacionamento com ela. Com uma donzela, segundo ele, de ―rara beleza‖, qualificativo que repetia invariavelmente em sua correspondência dirigida aos parentes. Ela era uma das componentes da família Fontana. Conseqüentemente, meu pai, ao receber convite para acompanhar a família Fontana nas suas aventuras, aceitou-o incontinente, embarcando em seguida, não tendo tempo sequer de avisar sua família de São Borja. Com a estrada de ferro, a execução do plano migratório foi muito fácil e, totalmente envolvido com os Fontana, somados
85 - Esses riscos se referem aos camponeses que promoveram essa guerra do contestado. Eles eram conhecidos injustamente por “jagunços” que os confundiam como bandidos e assaltantes.
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a um convite irrecusável, simplesmente embarcou. Tomou o trem em Santa Maria e desembarcou em Bom Retiro já com emprego garantido e casamento marcado com a donzela que conhecera a mais bela86 das irmãs Fontana, Elisena87.
Os Fontana não eram totalmente desconhecidos da família e isso devem ter facilitado os primeiros contatos realizados pelo meu pai. Os Bertin já detinham conhecimento com os primeiros membros da família Fuganti que havia chegado ao Brasil em fins do século XIX, juntamente com os Fontana. Entre seus membros, havia um dos irmãos, Jorge Fuganti, que contraíra matrimonio com uma das mulheres descendente dos Bertin. Portanto, não foi uma coincidência essa reunião das famílias Fontana, Fuganti, Bordin e Bertin, pois em Luzerna, tão logo chegaram, constituiriam sociedade entre si. Seus membros, já brasileiros, descendentes de imigrantes italianos, assim como os Fontana, criaram o primeiro vinculo com os Bertin, através da minha tia-avó, irmã do meu avô Julio Emillio Bertin, criando assim vínculo de parentesco Bertin/Fuganti e Fontana, todos estreitamente ligados pela origem imigratória.
Lá chegando, meu pai começou a trabalhar com a família Fontana nas tarefas ligadas ao comércio; inicialmente no ramo de alfafa88 e demais produtos agrícolas. Começou a participar não só da vida comercial, mas, também, da vida social e religiosa da família vinda a fortalecer sua ligação com sua futura esposa Elisena, por quem estava irremediavelmente enamorado. Esse relacionamento foi visto como promissor por todos e assim, foi-lhe facilitado trânsito na sociedade dominantemente italiana que se formara na localidade. E, mesmo porque, uma das irmãs do seu pai, sua tia-avó, como frisei, já estava fazendo parte da família Fuganti, criando vínculo de parentesco e que, ao mesmo tempo eram amigos e sócios comerciais da família Fontana.
César de Oliveira Bertin estava em ―casa‖. Talvez seja por isso que se passaram vários anos e só voltou à sua terra natal, São Borja, muito tempo depois de haver constituído família. Entretanto, meu pai nunca deixou de se comunicar com sua origem. Sua correspondência era fértil. Constantemente escrevia relatando todas as suas experiências, progresso e felicidade. E, quando foi decidido concretizar o matrimônio e tendo a seu lado o incentivo da família Fontana e, principalmente de Atillio ―cabeça da família‖, imediatamente, enviou convite a seus pais Julio Emilio e Laurentina para que esses pudessem presenciar o enlace. Essa visita não se concretizou infelizmente em virtude das dificuldades naturais existentes na época.
86 Como ele se referia nas suas cartas aos seus parentes do Rio Grande do Sul.
87 Segundo minha prima Vilma, numa resposta a uma correspondência, meu pai ao ser perguntado sobre o motivo daquela pressa em se casar disse: “... antes que alguém me tomasse a dianteira, pois Elisena era muito bonita.”
88 A Alfafa era o combustível numa época em que a tração animal era a responsável pela alimentação dos mesmos e do transporte da produção rural.
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Lamentável o extravio dos documentos dos meus pais após seu passamento. Isso me obrigou a realizar diversas viagens à procura de documentos relativos a ele. É o caso deste, onde se constata através da Certidão acima, o registro de casamento a seis de setembro de 1930 em Bom Retiro. Nesse dia, na residência do tio Antoninho Tonin, para atestar a cerimônia, estavam presentes vários membros da família Fontana e nenhum da família Bertin à exceção do nubente. Jorge Bertin Fuganti, que aqui aparece era filho de uma das irmãs do meu avô Julio Emilio Bertin. Deve-se notar que, tanto meu pai, como minha mãe, adotaram nesse ato, nomes com grafias levemente alteradas. Cezar em vez de Cesar e Elysena em vez de Elisena89. Jamais, em suas vidas futuras, utilizaram-se dessas formas gráficas. No que me permito continuar utilizando-me das formas corretas ao nominá-los; Cesar e Elisena.
89 - Entretanto, ao examinar o registro manuscrito original por ocasião da minha visita no dia 23 de setembro de 2009 ao Cartório, notei que meu pai apos sua assinatura na forma correta, isto é: Cesar de Oliveira Bertin, mas, minha mãe não, pois assinou a final utilizando-se da forma Elysena Fontana.
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Foto oficial do casamento de Cesar e da minha mãe Elisena à frente do Hotel Bom Retiro em Luzerna. Note-se na foto a ausência de membros da família do meu pai. Desconheço os detalhes que os decidiram pelo casamento. Mas, pelas fotos, foi um acontecimento onde somente os membros da família Fontana compareceram.
Pode ser excesso de zelo, mas, fotografei o registro original feito no livro oficial do Cartório, onde foi lançado o casamento. Como podem ver, ao pé da página, verifica-se que meu pai realmente assinou seu nome corretamente, enquanto minha mãe assinou seu nome alterado, conforme lançamento do escriba.
Foto oficial do casamento. Seis de setembro de 1930 - Elisena Fontana (22 anos) e Cesar de Oliveira Bertin (24 anos).
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1930 - Cesar e Elisena, logo após o casamento.
Entretanto, antes e depois, nunca se desligou dos seus laços familiares, dos pais, irmãos e parentes do Rio Grande do Sul, pois, nesse dia e durante toda a sua existência, manteve farta correspondência, que era remetida invariavelmente; cartas e todas as fotos que o envolviam. É comum se encontrar nas cartas pessoais e fotografias da nossa família, documentos com todos os nossos parentes pelo Brasil afora, notícias grafadas pelo seu próprio punho, tanto nas cartas, como nos versos das fotos. E, é onde fui encontrar as melhores informações do meu pai e dos seus familiares mais próximos.
Considerando seu local de nascimento (pois a sua família permanecera em S. Borja), e as facilidades que tinha em razão de seus pais e irmãos deterem comércio próprio e próspero, deve ser considerado um ato heróico e arrojado o fato de ter se desligado de todos os seus familiares e enfrentado o desconhecido na longínqua Santa Maria, tendo que percorrer mais ou menos 300 quilômetros sabe-se lá como, e depois Bom Retiro (SC) a mais quilômetros, por via férrea, mesmo com o almejado prêmio conquistado.
Que meu pai tinha espírito aventureiro isso com certeza pode ser confirmado em todos os seus atos. Sua renúncia à segurança e ao conforto do lar paterno e materno, cercado de irmãos, seu sonho realizado ao se mudar para Santa Catarina e ter contraído matrimônio em local tão distante da sua origem e sem a presença dos parentes e amigos da família e mais tarde, seu ato, no pós-guerra; tudo isso pode ser considerado, no mínimo, arrojado ou quase heróico, por isso e pelo fato de enfrentar com todos, esposa e filhos, verdadeira aventura que se repetia, como das outras vezes, em condições inapropriadas e inconfortáveis e, mais tarde, novamente por estrada de ferro, para Cornélio Procópio no Norte do Paraná e ainda para Londrina. Se considerarmos a época em que isso ocorreu, sem as facilidades que hoje dispomos, poder-se-á ter uma vaga idéia do seu arrojo.
O interessante, é que meu pai era um político inveterado, sem nunca ter concorrido a cargo público eletivo algum. Não em São Borja ou em Santa Maria90, mas, podem-se perceber suas incursões políticas em Bom Retiro, não tanto políticas, mas sociais, mais fortemente marcada com aparência de um perfeito político. Após seu casamento e ter fixado residência em Cruzeiro
90 Santa Maria foi onde minha mãe nasceu e onde meu pai a conheceu.
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do Sul (Joaçaba), suas amizades com as pessoas eram nitidamente políticas91. Todos sabiam que a sua origem era a cidade de São Borja92, no Rio Grande do Sul, que, já naquela época, os Vargas despontavam. S. Borja se tornara conhecida como geradora de um grande político, Getúlio Dorneles Vargas, que se tornou um dos maiores estadistas brasileiros de todos os tempos. E era devido a essa circunstancia que seus amigos e correligionários o procuravam no seu estabelecimento comercial ou onde quer que ele esteja para falar-lhe de e sobre política.
Talvez seja por isso que ele tenha abandonado seu emprego e se desligado dos Fontana93 e a antiga profissão de Talabarteiro (comerciante como ele era). Para manter seus contatos sociais e políticos, transferiu-se e acabou montando uma casa comercial em Joaçaba.
Eis o ARMAZEM BERTIN, onde aparece, à direita, meu pai.
ARMAZEM BERTIN – De Secos e Molhados. 1930. Esse foi o primeiro empreendimento comercial do meu pai, logo após o casamento. Eu nasci aqui em 1934, ano e meio depois da minha irmã Irene Terezinha e depois de um incidente em que minha mãe perdeu seu primeiro filho94.
91 Em capítulo a parte, intitulado “Minha vida na Política”, estarei detalhando certos aspectos interessantes.
92 São Borja, “terra dos presidentes”, pois é a única cidade do Brasil que nos deu dois presidentes da republica: Getúlio Vargas e João Goulart, ambos nascidos por lá.
93 Corre outra história dos motivos desse desligamento: Minha mão pediu-lhe para que cumprisse uma promessa que fizera antes do compromisso nupcial. Ela arrancou-lhe a promessa que, tão logo se casassem desligar-se-iam dos Fontana e iniciassem a nova vida independentemente. Deve ser o motivo verdadeiro, pois anos mais tarde, me tio Attilio, autorizou a Domingos Fontana, agente da Sadia em Londrina para que lhe enviasse, todos os meses, produtos frigorificados, como presente de irmão para irmão. Pois bem, sei que não era por orgulho, mas ela sempre recusava tais presentes, devolvendo-os.
94 - Esse fato só me foi revelado recentemente pela minha irmã Tere. O primeiro filho nascera natimorto. Fato que nunca foi comentado entre todos que se relacionavam conosco.
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Aqui, (1933) aparece minha mãe (grávida de mim) e minha irmã Irene Terezinha (Terre).
Nesta foto, minha irmã Tere (quatro anos) e eu (dois anos), junto aos nossos pais. (1936)
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Irene Terezinha e Luiz Julio. 1935.
Irene Terezinha (Tere), Heitor Cesar Bertin (Toto) e Antonio Carlos (Kiko). Note-se mais ao fundo, minha mãe com Bruno Flávio (Pato) colo. A foto é de 1937. Eu era o fotógrafo (Lulo).
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Cercando a gruta de Nossa Senhora, aqui, aparecem da esquerda para a direita: Antônio Carlos, Irene Terezinha, Luiz Julio e Heitor Cesar Bertin. !937. Essas últimas cinco fotos se encaixam no contexto. Pois elas foram feitas na residência anexa ao Armazém Bertin, onde todos nasceram.
Continuando, esse Armazém fora adquirido em sociedade com Celeste Braganhollo, parente nosso, marido de Alda, filha do tio Cândido Panis casado com Tia Dosolina, irmã da minha mãe. Esse prédio já existia e, foi necessária uma pequena reforma, para adequá-lo ao empreendimento comercial.
Era a sua primeira tentativa autônoma na área comercial, tentativa que não foi muito bem e, por isso, tratou de se desfazer do Armazém e logo a seguir adquirir um tipo de estabelecimento que, eventualmente se caracterizou em sua vida como alternativa, enquanto não pudesse realizar seu sonho de emancipação comercial dentro daquilo que planejara. Assim, adquiriu na Avenida XV de Novembro o Café Elite, na espera de novas oportunidades.
Ao lado do Hotel Andretta, à direita, naquele edifício que aparece com a fachada de alvenaria, se localizava o Café Elite e, em cômodos separados, também residência, um dos empreendimentos que meu pai possuiu ao longo da sua trajetória comercial.
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Esta é a fachada do Café Elite, localizado na Avenida XV de Novembro.
Cesar de Oliveira Bertin no interior do Café Elite.
O Café Elite, se localizava na Avenida XV de Novembro bem à frente do atual Paço Municipal. A estrutura dessa construção era composta de um misto de alvenaria e madeira como se pode notar na foto. À primeira vista, vê-se o pavimento ao nível da calçada, mas, na realidade possuía três pavimentos. O pavimento ―térreo‖, ao nível da calçada e mostrava sua frente toda construída em alvenaria, mas, na parte restante, por de traz dessa fachada, tudo era de madeira, assim como os outros dois pavimentos que ficavam abaixo desse pavimento térreo e, que fora construído assim rebaixado em virtude do desnível acentuado do terreno, produto de um grande aterro realizado por ocasião da construção da avenida95.
Meus outros irmãos e irmãs nasceram nesse e em outro local na Rua Getúlio Vargas. Tudo isso se juntou à minha memória devido a um fato que ocorreu comigo e que descrevo logo abaixo, assim como outros fatos que marcaram a minha infância.
95 - Cabe aqui uma explicação: Originalmente, essa parte da cidade continha uma depressão em forma de “V”; parte do Vale que se alongava no sentido oeste/leste até às margens do Rio do Peixe. Esse o motivo do aterro que serviu para corrigiu o acidente, com o seu aterramento, para que a Avenida XV pudesse ser construída nivelada, unindo as bordas norte e sul da depressão. Solucionada engenhosamente, essa correção permitiu que também pudesse evitar as constantes enchentes provocadas pelo Rio do Peixe, cuja corrente fica muito próxima.
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Estamos no ano de 1938. A partir daqui, meu pai consolidou a sociedade com Celeste Braganhollo. Como próspero cidadão, comerciante e habitante da cidade, passou a fazer parte ativa dos diversos órgãos coletivos da cidade. Em 1945, inscreveu-se no PSD (Partido Social Democrático), ingressou no Clube Dez de Maio, passou a fazer parte imprescindível nas recepções sociais e políticas da cidade e era figura obrigatória nas recepções rotineiras que recebiam os políticos quando das visitas dessas autoridades a Joaçaba. Obrigatoriamente, integrava quase todas as caravanas políticas que por lá passavam, mesmo de políticos integrantes do PTB, adversários. Parece-me que ele sempre gostava de participar quando se lhe apresentavam essas oportunidades.
Enquanto pautava sua vida comercial, aguardando o momento de realizar seu grande sonho (...), iniciar o empreendimento que sonhara, prosseguindo como comerciante e com um estabelecimento comercial inédito na cidade que só ele sabia qual seria.
Seu empreendimento no Café Elite não deu certo, mas, deu-lhe certo tempo. Assim, dissolveu a sociedade com Celeste, entregou o prédio que era locado e mudou-se para outro local ao lado da Prefeitura do outro lado da rua, este destinado à residência da família, mas que contava com duas portas que se destinaram à locação, permitindo-lhe um pequeno rendimento. Anteriormente adquirira o terreno e planejara a construção desse imóvel, desenhando a ―planta baixa‖ e acompanhando sua edificação. Ficou pronta a tempo de encerrar suas atividades no Café e se transportou com sua família para a sua nova residência.
Foto da casa da nossa moradia construída pelo meu pai à Av. XV de Novembro.
O prédio de madeira continha, ao nível da Avenida, várias dependências: Além da entrada principal da residência, fora construído um salão com duas portas, destinado a ser locado e proporcionar alguma renda que garantiria de certa forma a manutenção da família. A farmácia ocupava duas portas à direita, enquanto a da esquerda servia de entrada para a nossa moradia, e distribuía ao nível da entrada, internamente, com uma sala e dois dormitórios e no sótão, mais dormitórios. Na parte abaixo do nível da rua, localizavam-se: A cozinha, sala de refeições, dispensa depósito e adega. Esse terreno se prolongava rumo ao Sol nascente, até ser interrompido por uma cerca de balaústre que o separava das águas poluídas do Rio do Tigre. A frente do terreno, como se percebe, era limitada a oeste pela Av. XV de Novembro.
Mas, não era o seu ―ganha pão‖? Bem, não era o suficiente. Do outro lado da Avenida XV, coincidentemente, a maior loja comercial da cidade, Casas Bonatto. E foi ali que ele foi trabalhar provisoriamente. Naquela época a Empresa pertencia à sociedade comercial do Fuganti, Fontana, Bonatto e Cia Ltda. Possuíam uma estrutura comercial de relativo porte. Recebeu o convite de um dos seus sócios, Orestes Bonatto, seu compadre. O parentesco com os demais sócios lhe facilitou um emprego temporário a seu pedido, pois todos sabiam que
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pretendia iniciar novo empreendimento urgentemente. Sua atividade foi a de Caixeiro (Balconista) e, ali, foi levando suas desventuras enquanto não realizasse o seu sonho.
Esse era o aspecto da Avenida XV de Novembro quando habitávamos a terceira residência da família na cidade, desde o meu nascimento. Desta vez de propriedade da família. É o quarto imóvel da esquerda. Aquela construção de madeira que aparece na foto anterior, em cujo pavimento ao nível da rua fora locado e montada uma farmácia e, parte ao nível da rua e abaixo, a residência. Meu pai foi quem idealizou o plano de construção, elaborando a planta do imóvel e dirigindo os trabalhos e mesmo auxiliando os carpinteiros e pedreiros, quando suas folgas o permitiam. Rapidamente, a casa ficou pronta. Isso lhe deu mais segurança, permitindo-lhe permanecer no emprego por mais algum tempo. Lembro-me perfeitamente disso tudo, pois já tinha sete anos de idade.
Corria os anos de 1940/41, época em que fiz minha primeira comunhão e quando surgiu a oportunidade para meu pai voltar à ativa como comerciante autônomo, novamente fazendo sociedade com Celeste Braganhollo. A família se instalou, então, na Rua Getúlio Vargas esquina com a Rua Francisco Lindner, com um novo bar Café, desta vez, com maior espaço e com melhores equipamentos. Meu pai é que ficou encarregado de administrar a sociedade. Assim como nos outros imóveis, aqui também, a parte habitável se incorporava ao novo negócio96.
Após se passarem poucos meses nesse novo local, surgiu a oportunidade de ouro que meu pai ansiosamente esperava. À frente do Café Elite fora construído um pequeno edifício em alvenaria de dois pavimentos: A parte de cima era composta de um cômodo apartamento, bem na medida para a então já numerosa família e na parte de baixo, um amplo salão, com sanitários internos e deposito aos fundos. Mais ao fundo, além da edificação, sobrava espaço para um vasto quintal e que se mostrava perfeito para a instalação do empreendimento e moradia, sonhados por meu pai. Durante a execução da obra, o proprietário do imóvel, temendo a recessão que se agravava devido à segunda guerra, prometeu locar o edifício ao meu pai, mesmo sem contrato. E assim foi.
96 Estarei comentando em à parte, detalhes dessa nova residência.
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Neste edifício de dois pavimentos (somente a parte pintada na cor amarela), preservado na sua originalidade, foi onde funcionou o ―Bazar da Cidade‖. No Apto acima se instalou a família Bertin. Somente através de uma escada externa aos fundos é que era permitido o acesso ao apartamento.
Vendeu sua parte do Café Elite para seu sócio Celeste Braganhollo e com a receita conseguiu a receita necessária para o seu sonhado comércio. A loja que ali foi instalada levou o nome fantasia de Bazar da Cidade. Antes de ficar pronta essa instalação, em cujo salão se misturavam caixotes cheios de mercadorias ainda nas suas embalagens originais, cujas mercadorias estavam sendo depositadas em prateleiras, sobre as mesas e até no chão, aguardavam o grande momento. Mudamo-nos de ―mala e cuia‖ para a nova residência, enquanto meu pai, após algumas viagens a São Paulo que serviram para adquirir o restante das mercadorias que iriam formar o estoque inicial do estabelecimento, inaugurou com pompa o inédito estabelecimento comercial.
Crédito? Isso não foi problema, pois meu pai se apresentava aos fornecedores com carta de apresentação. Esses fornecedores eram na sua maioria, compostos de atacadistas e importadores, que previamente haviam recebido as garantias dos Fuganti, Bonatto e Fontana, à época, grandes e prósperos compradores na Praça de São Paulo. Além do mais, bastava ―o fio do bigode‖, o que dispensava apresentações e outras garantias de crédito. Era assim.
Enquanto isso se desenrolava o ―Grande Conflito‖, a segunda grande guerra mundial, cujo palco se concentrava na Europa. Aparentemente isso pouco preocupava, apesar do que, no Brasil, quase tudo era importado do Velho Continente; inclusive as mercadorias que iriam formar o estoque do Bazar. Mercadorias sofisticadas, sendo a maioria destinada ao consumo feminino, constituída de confecções inéditas, bijuterias e perfumes de origem francesa; tecidos ingleses, tais como casimiras e tecidos de lã; linhos irlandeses; sedas de procedência chinesa; ferramentas e apetrechos de toalete de origem alemãs, que continuavam comercializadas, apesar da origem97.
97 - A segunda grande guerra continuava na Europa e no Pacífico.
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Contrastando com a visão que o interior da loja apresentava, havia uma seção localizada e separada num dos lados do salão, onde se encontravam estocados e arrumados numa pequena prateleira, uma série de objetos em sua maioria constituída de ferramentas alemãs e suíças. Eram instrumentos de corte destinados para os mais diversos fins: instrumentos médicos-cirúrgicos, facas, alicates, martelos, serras, soldas; enfim, ferramentas das marcas famosas, Solinger, Feem e outras. Extraordinariamente, essas mercadorias continuavam a ser comercializadas, apesar do conflito em que a Europa e principalmente a Alemanha estavam envolvidas.
Atraídos por essa variedade de mercadorias, a clientela que se formou era das mais heterogêneas. E, é claro, dominantemente feminina; desde as ―madames‖ mais sofisticadas até as mais modestas ―donas de casa‖, mas, quanto à clientela masculina, quando os homens precisavam de um bom perfume, uma ferramenta ou um bom corte98 de tecido, casimira inglesa ou linho irlandês, para mandar confeccionar suas fatiotas (terno), era ali que iriam adquirir, mesmo porque, não havia outra casa comercial em Joaçaba (Cruzeiro do Sul) e mesmo na região, com aquele variado e sofisticado estoque, que pudesse satisfazê-los.
E, é claro, também freqüentavam o Bazar aqueles que apenas procuravam ouvir as novidades trazidas pelo meu pai, de São Paulo e Rio de Janeiro, centros visitados rigorosamente por exigência dos seus negócios. Quando começavam faltar certos tipos de mercadorias, lá se ia, tomando o trem e só voltava quando cumpria sua finalidade em adquirir as melhores mercadorias para a sua sofisticada clientela99. Dá pra imaginar com que ansiedade esses clientes ouviam as novidades da cidade grande, principalmente de São Paulo, que era e é ainda hoje o centro nevrálgico do Brasil.
Tudo ia de ―vento em popa‖, e, quando ainda não havia transcorrido muito tempo, aconteceu um grande incêndio100 na cidade. Esse incêndio atingiu, primeiramente, uma construção que ficava bem em frente ao Bazar. Sem nenhuma possibilidade de ser controlado, o fogo logo se estendeu a outras edificações à esquerda e à direita, onde encontrava farto material de fácil combustão, pois tudo era feito de madeira ressecada pelo tempo. Estendeu suas labaredas desde a esquina onde se localizava o Café Elite, a um hotel contíguo a ele e outras construções que ficavam à nossa frente, devastando irremediavelmente tudo que ficava à direita e esquerda do prédio em que morávamos e no qual o Bazar da Cidade funcionava.
Foi a ―gota d‘água‖. Meu pai vinha mantendo constantes conversas com um amigo e antigo vizinho seu, Luiz Andretta, proprietário do Hotel Andretta, que se localizava na avenida XV de Novembro ao lado do Café Elite, estabelecimento com o qual meus pais prosseguiam logo após terem negociado o Armazém Bertin adquirido quando da mudança de Luzerna (Bom Retiro) para Joaçaba (Cruzeiro do Sul). Nos seus encontros com esse hoteleiro e compadre, o que ocorria diuturnamente no interior do Café Elite e do Bazar da Cidade, um dos assuntos era a dificuldade que o comercio vinha enfrentando em razão da Grande Guerra que se desenrolava na Europa. Isso vinha repercutindo negativamente na economia brasileira e mais particularmente em Cruzeiro do Sul (Joaçaba), cidade próspera, mas, interiorana e conservadora. As coisas estavam ficando cada vez mais difíceis para a população e principalmente para os empresários. Sempre que meu pai voltava de um desses encontros, os seus comentários com minha mãe deixavam transparecer que as dificuldades iriam ficar piores e que o melhor seria liquidar o negócio o quanto antes e sair da cidade à procura de novas oportunidades.
98 “Corte” Comprimento suficiente para a confecção de um “Terno”, composto de um casaco, calça e colete.
99 Anos mais tarde, época em que comecei a viajar para São Paulo, hospedei-me no Hotel São Sebastião da rua 7 de Abril, onde meu pai costumeiramente se hospedava.
100 Nessa altura eu já tinha doze anos e, lembro-me que se dizia que esse e outros incêndios que estavam ocorrendo na cidade e faziam parte de um plano dos proprietários de conseguirem polpudos rendimentos, indenizados pelas Cias de Seguro, simplesmente ateando fogo em suas propriedades previamente asseguradas.
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Não deu outra. O sinistro foi de grande vulto e por pouco a edificação em que o Bazar da Cidade e a nossa família estava alojada, também pegou fogo. Isso causou enormes preocupações aos meus pais e foi o que os deixou decididos a se mudarem urgentemente.
O sinistro
Lembro-me da noite em que tudo ocorreu: Eu e meus irmãos fomos acordados pela minha mãe, auxiliada pela nossa irmã de criação Diva, que, orientada, preocupada, se encarregou de nos acompanhar para fora da residência. Mas, antes de alcançarmos a escada externa que dava acesso ao térreo e que permitiria nossa fuga, ao passar pela sala de estar que dava frente aos prédios que estavam em chamas do outro lado da rua, presenciei meu pai junto à janela, equilibrado sobre uma cadeira da sala de jantar, desesperado, com vasilhas cheias com água trazidas freneticamente pela minha mãe. Com gestos nervosos banhava com abundante quantidade de água as janelas venezianas de madeira pintadas com esmalte verde, a fim de evitar que o calor por elas recebido as transformasse em chamas. Eram janelas duplas, de madeira: Por fora eram venezianas e por dentro, quadros de madeira com lâminas independentes formavam a outra parte da janela, tais como guilhotinas com vidros. Ele as entreabria o suficiente para que permitissem a passagem da água despejadas de cima, utilizando-se de um balde de folha de flandres. Concomitantemente, ao serem entreabertas, isso me permitiu ver a cor vermelha de intensa luminosidade provocada pela chamas vindas do outro lado da rua.
Todos nós aguardamos ansiosos no fundo do quintal para que a movimentação se reduzisse ao mínimo até o desaparecimento definitivo das chamas e a chegada dos nossos pais, assustados, cansados e suados, mas, aliviados por que tudo para nos terminou sem maiores conseqüências. Voltamos para as nossas camas tarde da noite. No dia seguinte, curioso, acompanhei meu pai numa vistoria feita por ele à frente do edifício que nos acolhia, em cujo térreo se encontrava a loja do meu pai, o Bazar da Cidade. Por felicidade, apenas as portas externas haviam sido atingidas pelas chamas sem que estas tivessem penetrado o interior da loja. Mas, o intenso calor havia penetrado através do vidro duplo da vitrine e todas as mercadorias que se encontravam ali expostas foram atingidas e fatalmente perdidas. Essa vitrine separava as duas portas do estabelecimento.
A decisão do meu pai foi irrevogável, mesmo ante as tentativas dos parentes e amigos para desistisse da idéia e que ficássemos na cidade. Minha mãe, também muito assustada, embora o bom senso lhe ditasse que deveria ficar, acabou concordando em se mudar para o Norte do Paraná.
Luiz Andretta, por outros motivos, já havia se decidido. Procurou meu pai no mesmo dia e lhe propôs sociedade caso ele se decidisse se aventurar juntos, com a mudança das duas famílias, para Cornélio Procópio, Norte do Paraná, cuja fama de ―Éll Dourado‖ alcançara o interior de Santa Catarina. Ambos precisaram de tempo para se desfazer de seus comércios e, passado esse tempo, decididos a empreenderem a aventura, venderam seus estabelecimentos, mesmo com desgaste financeiro, pois, nenhum dos dois alcançou bom preço pelas suas propriedades.
Os preparativos para a grande aventura foram tomados pelo meu pai, enquanto minha mãe providenciava a arrumação das coisas que nos acompanhariam com a mudança. Nossos ―trens‖ 101, assim como a família, foram transportados por ferrovia que, felizmente nos poupou sacrifícios e despesas que de outra forma seria impossível tolerar. Luiz Andretta seguiu noutra oportunidade e com o mesmo transporte, levando sua família e bens e foi se encontrar conosco já em Cornélio Procópio. Foi uma decisão corajosa!
101 “Trens” Termo que significa todos os objetos mínimos necessários que deveriam acompanhar a família na sua aventura.
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Para meus irmãos e eu, viajar de trem foi apenas uma aventura divertida, mas não para minha mãe que se desdobrava para que tudo corresse sem atropelos, pois, além das dificuldades normais, havia mais: o meu irmão Renato era recém nascido e requeria cuidados especiais.
Outra ocorrência chamou nossa atenção e preocupou meus pais, pois meu irmão Bruno sofreu um pequeno acidente durante o percurso. Durante o trajeto, a composição parou para se abastecer com água e lenha para suas caldeiras, em uma das Caixas d‘águas existentes ao longo da ferrovia. Abastecida a composição, esta se movimentou e começou a retomar a velocidade, comandada pelo Guarda-freio que, no lado de fora, girava sua lanterna orientando o maquinista, quando esta tocou de raspão, a testa do meu irmão que, curioso, havia colocado a cabeça através da janela para apreciar aquela movimentação toda. O acidente provocou um pequeno corte na sua testa que foi logo medicado com o imediato socorro da minha mãe, lívida de susto. Não causou maiores preocupações. As acomodações no vagão em viajávamos eram sofríveis, mas estávamos todos juntos e nem sentíamos a falta do conforto a que estávamos acostumados ao nos acomodar nos bancos de madeira do Trem. Providencialmente, minha mãe não se esquecera de trazer algumas almofadas, travesseiros e cobertores, o que nos proporcionava razoável proteção e comodidade. Com isso, nem o frio do inverno nos atingia.
Tivemos que fazer baldeação no entroncamento ferroviário dentro do território paranaense perto da cidade de Ourinhos, SP, na madrugada fria da época, o que ocorreu com as dificuldades esperadas, isto é: Enquanto o vagão que levava nossos ―trens‖ foi desengatado e reengatado na composição que seguiria para Cornélio, desembarcamos todos com os objetos impresendíveis, percorrendo um longo trecho sobre pedregulhos, em meio aos trilhos do pátio ferroviário, e embarcamos na outra composição, desta vez na direção de Cornélio Procópio (rumo ao paraíso) 102, aonde finalmente chegamos à manhã desse dia sem mais nenhuma novidade. Era o inverno de 1947.
Em viagem anterior, meu pai havia locado provisoriamente uma residência para a família, localizada às margens da estrada de ferro. Ficava praticamente no centro da cidade e era por preço convidativo, dada a sua localização e por ser construída toda ela com taboas de peroba103. Logo que chegamos, acomodamo-nos na nova residência onde tentamos nos adaptar e seguir com a vida. Endereço da residência: Avenida Paraíso, esquina com a Rua Paraíso, Cornélio Procópio, Estado do Paraná.
Minha residência em Cornélio Procópio em 1947. Na foto, é possível identificar minha mãe que se destaca a esquerda à sombra além da cerca de madeira e no grupo da direita, eu e meus
102 Alusão ao endereço do nosso destino.
103 Peroba. A rosa e a vermelha, de cerne muito duro mas macio e era a madeira preferida pelos construtores da grande maioria das residências. Essa madeira está praticamente entinta, mas naquela época, ela era a que predominava nas florestas do Norte do Paraná.
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irmãos em número de oito. O mais alto, sou eu, com 13 anos de idade. A criança morena entre as duas da frente é Elena, filha de uma vizinha.
Nessa foto, 1947, tirada por Irene Terezinha (Tere), éramos já em sete irmãos. Identifico o
primeiro da esquerda: Heitor Cesar, Maria Laurentina, tendo em seu colo Renato Colbert,
depois eu e as duas crianças loiras sentadas. Em primeiro plano, Lindonês Helena e Antonio
Carlos. A crianças morena (nissei) era Helena nossa vizinha de Cornélio Procópio.
Luiz Andretta, encarregado da execução do plano do novo empreendimento e de acordo com o meu pai, havia locado na avenida principal, XV de Novembro, subindo à esquerda no início do segundo quarteirão a partir da linha férrea, um salão comercial que alojaria o futuro comercio. Sua finalidade era a instalação de um comercio de ―Secos e Molhados‖, onde seriam colocadas à venda mercadorias que o comercio da cidade pouco conhecia. De um lado, cereais e ferragens, ao centro, alimentos e do outro lado bijuterias, tecidos e roupas feitas, quase tudo constituído de mercadorias importadas.
Ora, o comercio da cidade era dominado pelos imigrantes árabes, experientes comerciantes e terríveis concorrentes. Meu pai estava acostumado com um comercio calmo, sem concorrentes e, principalmente numa cidade onde o barro e a poeira jamais existiram devido às características geológicas da região de Joaçaba.
Em Cornélio era diferente, o barro que era formado nas demoradas temporadas de chuva que transformava a terra em espessas camadas de lama de mais de 10 centímetros de espessura, simplesmente tornava impossível a locomoção das pessoas e, quando este secava, o pó decorrente, ainda mais espesso, se formava da terra abrasada pelo sol, pós chuva, tornando tudo intolerável. Aquele pó danificava a mercadoria exposta de tal forma que a clientela se recusava em adquiri-la. Considerando ainda que a maioria da população formada de migrantes de todos os estados brasileiros, mas, principalmente de interioranos mineiros e paulistas de costumes e gostos simples, não era acostumada a adquirir mercadorias que na época eram consideradas supérfluas, tais como Leite condensado, Leite em Pó, tecidos e ferramentas importadas e coisas do tipo.
O empreendimento durou menos de ano e nessa altura, após o conseqüente inventário que se fez com o levantamento da mercadoria restante, este apontou todo o prejuízo. Andretta negociou e vendeu sua parte ao meu pai e mudou-se com sua família para outras plagas. Nunca mais ouvi falar dele.
Meu pai jamais voltaria derrotado à Joaçaba, não era do seu feitio. Durante nossa estada em Cornélio, ele, que fizera várias visitas a Londrina, já havia percebido, embora tardiamente, que
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havia errado de negócio e de cidade e, logo se convenceu que as oportunidades estariam em Londrina. Os irmãos Fuganti, que já estavam na cidade há algum tempo fizeram o resto. Convenceram-no. Foi o bastante para que lhe voltasse a confiança de que dias melhores haveriam de vir, pois, realmente, Londrina era e é, a cidade em que as oportunidades ainda existem.
Nova mudança, novos negócios, mas, o que permanecia era a dura realidade; precisava urgentemente reiniciar com novos negócios e restaurar seus rendimentos, pois a família não parava de crescer e as necessidades financeiras aumentavam dia a dia. Se isso assustava meu pai, ele não deixava perceber - como eu já disse, ele era um individualista e um autocrata por excelência e jamais deu o braço a torcer para confessar que qualquer vicissitude lhe pudesse derrotar.
Depois de adquirir um novo estabelecimento em que as ―luvas‖ 104 pelo ―ponto‖ pesaram, mas que valia à pena, pois era um negócio aparentemente lucrativo. Tratava-se de um estabelecimento conhecido por Bar Brasserie105 e muito bem localizado e freqüentado. Durante um bom tempo, o negocio prosperou e lhe forneceu rendimentos suficientes que o permitiam
sustentar a família. Trabalhava duro, e sempre conseguiu manter um bom nível de vida para todos nós. Pelo que eu me lembro, nunca faltou com as coisas necessárias para a nossa sobrevivência. Hoje, penso que, seria impossível que alguém pudesse sobreviver com uma família tão numerosa como a nossa em uma época em que as coisas eram difíceis para todos. Ele trabalhava no comercio, minha mãe cuidava da casa e da educação dos filhos, que estudavam.
O Bar Brasserie não durou muito. Daria para continuar com ele, mas, meu pai não estava satisfeito. Esse tipo de comércio já não lhe satisfazia e seu rendimento financeiro era insuficiente para enfrentar as despesas necessárias. Vendeu pelo melhor preço. Restou-lhe então voltar a assumir a antiga atividade que tão bem sabia desenvolver. A profissão do seu pai, da família: Talabarteiro; desta vez dentro de uma da sua especialidade, Decorador e Tapeceiro.
Havia, nos fundos da nossa residência de Londrina, na Rua Pará, uma garagem cujo espaço não era aproveitado, pois meu pai não possuía e nunca chegou a possuir um veiculo automotor. Pois bem, foi ali que ele montou seu novo negócio; uma Tapeçaria, onde começou a fazer reforma de móveis estofados e a fabricar colchões de molas. Essa era uma atividade que não tinha concorrência e por isso, o comercio prosperava na medida em que meu pai dava conta das encomendas. Para atender a clientela que logo se formou, utilizava-se da Charrete106, veículo de duas rodas pneumáticas de tração animal que era dirigido pelo ―Charreteiro‖, à época muito comum no Norte do Paraná. Até então, eu ainda não tinha idade suficiente para trabalhar na Tapeçaria, assim como meus irmãos, mesmo porque, meu pai tinha por princípio que filhos ainda crianças deveriam ir para a escola e não, trabalhar. Mas, eu tinha o costume de observá-lo em seu trabalho, apreendendo o seu ofício, o que mais tarde se revelou muito útil.
104 “Luvas” - é o nome dado ao valor adiantado pago pelo comprador ao vendedor, reservadamente, para assinatura de contrato de compra e venda ou uma espécie de abono ao vendedor. É um costume entre comerciantes. Funciona como uma espécie de garantia de negócio. Geralmente não tem retorno.
105 O nome Brasserie é de origem francesa, significa estabelecimento que é Bar e Restaurante ao mesmo tempo. Literalmente, Bar onde se vende Cerveja.
106 Charrete, Veja na Foto.
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A Charrete, de tração animal era muito comum no Norte do Paraná nas décadas de 1940 a 60.
Foi levando suas tentativas de prosperar com suas atividades, mas, com a família exigindo-lhe cada vez mais seus esforços, sozinho, não conseguia sobra suficiente que lhe proporcionasse alguma economia. Mesmo assim, nessa época, necessitando se alojar em novo espaço, pois como já disse, a família prosperava e os negócios estavam crescendo, o ―Tio César‖ como carinhosamente os nossos tios e parentes o tratavam, adquiriu uma residência na Avenida Rio de Janeiro, no. 777, em ótima localização, a trezentos metros da Catedral de Londrina, com financiamento da Caixa Econômica Federal e que terminou de pagar, por acordo, após muitos anos, sem um único atraso nas suas obrigações financeiras com o Banco. Habitei essa residência por muitos anos, até o meu casamento em 1961.
Mudamo-nos para a nova casa. Ela era de madeira confeccionada em tábuas de peroba pintada com tinta a óleo, elevada metro e meio do nível da rua, ligando através de uma escadaria um terraço e daí para o Haal de entrada, através de uma varanda que tomava toda a largura da casa, permitindo acesso em seguida à uma ampla sala que permitia dois ambientes. No seu interior, além da sala, quatro dormitórios, banheiro completo, e uma copa-cozinha que acomodava com sobra de espaço todos os utensílios colecionados pela minha mãe. Com a entrada lateral que permitia a passagem de veículos, chegava-se a uma espaçosa varanda, nos fundos da casa e que permitia confortável acesso à cozinha e, continuava até a lateral oposta.
Essa varanda foi mobiliada com uma apropriada e ampla mesa e uma dúzia de cadeiras ao centro, circundada por bancos de madeira onde eram acolhidos os habitantes e os eventuais visitantes. Era ali, quando o clima permitia, que fazíamos nossas refeições e passávamos as horas dos dias mais quentes. Afastado de tudo isso, a lavanderia com um tanque e uma máquina Thor107 de lavar roupas que permitia que minha mãe desse conta do serviço estafante da casa. Na seqüência, um espaço que minha mãe assumira e instalara os varais e quaradores para a enorme quantidade de roupas lavadas diariamente. Naturalmente, auxiliada pela nossa irmã de criação, Adversina (Diva).
Vencido esse espaço, quatro ou cinco metros, chegava-se à uma construção que se destinada a uma espaçosa garagem, preexistente, que o proprietário anterior havia construído. Anexo à essa, mais ao fundo foi construído um barracão de madeira que tomava o restante do terreno, espaçoso mesmo para os padrões normais da urbe. Esse imóvel fora construído para acolher família numerosa, bem aos moldes da nossa família. Mas, tudo isso permitiu que se montasse uma oficina bastante espaçosa que deu inicio a um futuro e próspero comércio, e também, permitiu a construção de um cômodo dormitório que acolheu todos os filhos homens mais velhos da família, pois no corpo da nova residência não havia espaço suficiente para além do casal e das minhas irmãs e irmãos menores.
Foi nesse espaço que meu pai montou o equipamento que já possuía na Rua Pará; todos os utensílios próprios de uma Tapeçaria e mais, a garagem foi aproveitada para se instalar uma
107 Marca de um produto que parecia não acabar mais.
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moderna marcenaria, totalmente equipada com as máquinas necessárias. Era ao mesmo tempo uma marcenaria e tapeçaria, que tinha por finalidade a fabricação das estruturas para os estofados que iriam ser construídos, ampliando assim o comercio iniciado e trabalhado por ele e, quando muito, um funcionário. Nesse novo local, em razão do maior e melhor equipamento, foi necessário empregar novas pessoas, mas, como lhe era ainda impossível arcar com despesas maiores, começou por nos admitir permitindo-nos que o ajudássemos.
Nessa altura, eu e alguns dos meus irmãos já tínhamos idade suficiente para ajudá-lo, mesmo porque, eu havia deixado o Colégio Estadual Vicente Rijo. Explico: Deixei de freqüentar a escola, estressado que estava, por não mais tolerar o sistema adotado pelo colégio no tratamento que dispensava aos seus professores e alunos. Lembro-me que em certas ocasiões eu via tudo ―amarelo‖ à minha volta, provocando-me uma espécie de vertigem. Não suportei aquilo por muito tempo. Abandonei meus estudos com essas justificativas. Revelo agora aqui essa ocorrência a todos, pois nem mesmo meus pais e irmãos tomaram conhecimento disso. Psiquiatra? Era coisa de loucos.
Por observação e por ter trabalhado com meu pai naqueles breves períodos, não tive dificuldades em ajudá-lo, mas, sabia que isso não ia durar muito tempo, pois ele, constantemente se irritava com a presença e o nosso trabalho. Deixei-o, não sem antes ajudá-lo na aquisição do equipamento da oficina. Eu mesmo construí uma prensa e uma circular em madeira, seguindo orientação técnica, que nos serviu por anos.
E, aproveitando um convite feito pelo amigo advogado e Delegado da Receita Federal lotado em Londrina, Dr. Afhonso Gomes Magioli108, acompanhei-o a Curitiba, onde fiquei hospedado em sua residência por alguns meses e, ao mesmo tempo, empregando-me numa nova e moderna fábrica de estofados que vinha se utilizando de novas técnicas de construção de estofados e de sofás camas, tão em voga naquela época. Esse aprimoramento me permitiu somar conhecimentos aos que eu já possuía, de como administrar uma empresa semelhante e, ao mesmo tempo, aprimorando meus conhecimentos sobre o moderno meio de ―linhas de produção‖ na fabricação de móveis estofados. O que me foi de muita utilidade mais tarde.
A necessidade do meu amigo Afonso e D. Gloria de se mudarem para o Rio de Janeiro, em virtude da sua promoção, apressou o meu retorno a Londrina. Desta vez, com conhecimentos acumulados e suficientes para auxiliar meu pai. Entretanto, logo que cheguei, notei que ele ainda oferecia certa resistência em permitir que o auxiliasse. Sem opção, fui prestar concurso público federal que visava preencher vagas de Auxiliares Estatísticos existentes no IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no qual acabei por me classificar.
Aqui, abro um espaço que divido por capítulos, onde, oportunamente, melhor explico a seqüência deste ultimo parágrafo e entrando e detalhando determinados acontecimentos, desde que me entendo por gente até os dias atuais. E também, por que a deste livro é a de prestar maiores informações aos meus leitores familiares e descendentes.
Antes, quero lembrar aos leitores que o futuro será daqueles que conhecerem o passado.
Meus Amigos
Os que tive me bastaram. Eram poucos é verdade, mas eram verdadeiros. Entretanto, houve exceções. Penso que aqueles que têm amigos são privilegiados, pois os amigos, a exemplo das pedras preciosas vêm puros ou com defeitos. Eu colecionei vários. E assim, considero-me ―sortudo‖. Alguns vinham com jaça, mas a maioria não. Poucos, nem me atrevo avaliar detalhadamente, pois, de quando em quando, eles me colocavam na dúvida. Entretanto,
108 Sua esposa se chamava Glória e se dizia irmã de Tônia Carrero, atriz de sucesso do teatro e cinema brasileiros. Entretanto, sua semelhança com Tônia não deixava dívidas.
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amizade é assim mesmo, se quer ser amigo de alguém, tem que ser incondicionalmente. Sinto saudades de todos eles, de uns, por motivos relevantes que me deram apenas alegrias e de outros que me ―traíram‖ e de cujas conseqüências não me livrei até hoje. Mas de uma maneira geral, eles eram amigos, desinteressados ou não e, preencheram a minha vida à medida que ela foi se passando.
Da minha infância, recordo-me; eles eram aqueles amigos da escola e dos folguedos. Em especial, meus irmãos eram meus amigos. Tere, Heitor... De outros, era eu que me declarava amigo, mesmo sem retribuição. Mas, de uma maneira geral, alguns eram especiais entre os quais se destacavam: Aldo Poçanho, aquele filho do Joalheiro da cidade, que dividiu comigo o ―ponto‖ onde atendíamos nossa clientela de engraxataria que detalharei em outro local.
Tive ―amigos em grupo‖. Eram as crianças que entravam em ―guerra‖ conosco nos finais de semana, ocasião em que, protegidos pelas macegas e objetos dos terrenos baldios, estilingávamos109 uns aos outros com pelotas de barro, esperando acertar o oponente com elas. Mesmo quando ocorriam algumas baixas, eles continuavam amigos e ansiosos para um novo final de semana, ocasião em que comparecíamos em grupo para nos utilizarmos dos projéteis confeccionados com barro que se desmanchavam ao atingir o ―inimigo‖.110 . O estilingue armado e pronto para atirar. Olhem a cara do moleque.
Também os amigos do Grupo Escolar e os do Colégio Marista. Estes amigos eram os que me acompanhavam no regresso à cidade, que distava três ou quatro quilômetros até a minha casa ou aqueles que me auxiliavam fazer as ―estripulias‖ quando incursionávamos na periferia da cidade, galgando os morros e vasculhando a floresta circunvizinha à procura de caça e frutos silvestres. Não raro, também, para a invasão dos terrenos onde os agricultores plantavam melancia, uvas e ameixas, com as quais nos deliciávamos. Isso em Joaçaba.
Em Bom Retiro, hoje Luzerna, meus amigos em especial, eram meus primos e primas. Destaco entre eles, Antenor Paniz, Nene e Neylor Tonin, Terezinha Fontana e outros da minha idade. Mas, eu adorava minhas Tias Victória, Ina e Dosolina e os Tios Antoninho e Cândido. Estes, naturalmente, adultos.
Mais tarde, em Cornélio Procópio, Pr., ocupado com a tentativa de me iniciar nas lides do comércio e em auxiliar um jornalista, proprietário do jornal semanário ―O KCT‖, considerando o prazo com que morei na cidade, mais amigos não se formaram e, o pouco tempo que me restava era ocupar-me com a minha primeira namorada Carmem e eventualmente com uma garota japonesa, vizinha da minha residência, Helena, com a qual eu tinha uma espacial amizade. Em 2005, visitei Helena que agora estava ocupando uma casa construída em alvenaria, no mesmo terreno onde havia uma casa de madeira. Nessa ocasião, rememoramos o pouco tempo que tivemos em curtir nossa amizade. Muito simpática, ela me serviu um café. Jogamos um pouco de conversa fora e me despedi. Foi muito prazeroso.
Em razão da minha transferência para Cornélio, não tive a oportunidade de concluir meu primeiro ano ginasial no Colégio Marista de Joaçaba. Por isso, por decisão do meu pai – ―para não ficar à toa‖ -, refiz o último ano primário (quinto ano) no Grupo Escolar Professor Lourenço Filho, e recebi do diretor da escola, professor Ângelo Mazzarotto, com a data de 13 de Dezembro de 1947, o diploma escolar que marcou a conclusão do curso. Nessa escola não me recordo significativamente de ter feito novas amizades.
Em Londrina, onde passei a residir desde 1948, ali foi onde mantive um maior número de amigos. Matriculei-me no Colégio Estadual para continuar meus estudos e lá comecei a formar
109 Palavra derivada do estilingue, espécie de bodoque fabricado pelas crianças daquela época,
110 Em outra parte deste livro estou contando com detalhes de como se desenrolava essa “guerra.
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os primeiros amigos. Passei a fazer parte da Fanfarra do estabelecimento, tendo sido seu comandante.
Vejam-me em primeiro plano no comando da fanfarra do Colégio Professor Vicente Rijo.
Meu primeiro contato foi com uma garota que se chamava Cibele e a quem passei a namorar. Depois de Carmem, foi o meu segundo namoro ―sério‖.
Entretanto, minhas atenções se voltaram às pessoas que cultivavam a música clássica e o canto lírico, que eram os meus ―hobbies‖. Assim conheci Nelson Wefort que usava o nome artístico de Nelson Morguetti. Ele detinha a concessão da lanchonete do Colégio Estadual Professor Vicente Rijo, onde eu estudava refazendo o primeiro ano ginasial. Tenor amador, de bela voz e com um bom repertório de musica italiana. Nas horas do ―aperto‖, não era raro ajudá-lo a fazer e fritar pastéis na sua lanchonete. Foi um grande amigo. Fiz outras amizades nesse colégio; não apenas uma, mas várias. Todos nisseis. Mario e Margô Saito, Akemi Nakayama e diversos outros. Akemi foi a minha terceira namorada, da qual falarei com mais detalhes em outra parte.
Mais tarde, após o meu desligamento do IBGE, já em 1958, em razão do inicio das minhas atividades como comerciante e um dos proprietários das Decorações Bertin, privei de outras amizades que me são caras até hoje. Eles eram três: O comerciante atacadista Ayrton Cunha Rego, o engenheiro civil Cláudio Fontana e o engenheiro eletricista Cláudio111... . Viajamos juntos para assistir a inauguração de Brasília e continuei curtir esses amigos, mesmo depois que me mudei para Maringá, pois Ayrton, concomitantemente, transferiu sua empresa ―Tecidos Cunha Rego Ltda.‖ para Maringá e isso me permitiu mantermos contato diariamente até que ele se desfez da sua empresa e mudou-se, de volta à sua terra natal, Recife, onde faleceu. Perdi contato com os demais. Tentei contato com Cláudio Fontana, procurando-o em Londrina, mas ficou apenas nisso.
Entretanto, em Londrina, os meus primeiros amigos foram alguns jornalistas e com eles algumas autoridades da cidade que mantinham ligação estreita ligação em razão de suas atividades profissionais. Apesar da minha juventude, foi nessa área que comecei a procurar de trabalho no setor. Essa era uma atividade que me seduzira já em Cornélio Procópio, ocasião em que, desinteressadamente, ajudava na confecção e distribuição do semanário ―KCT‖.
Nessa ocasião, firmei sólida amizade com Marinósio Trigueiros Filho, extraordinário baiano, jornalista e proprietário do Jornal o ―O Combate‖, nem diário e nem semanário, matutino ou
111 Não me recordo seu segundo nome, mas era um engenheiro formado na faculdade de engenharia de Itajubá, Minas Gerais.
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vespertino, pois era assim que Marinósio o editava: Apenas quando as notícias ocorriam preferencialmente se fossem políticas.
Curti relativa amizade com o jornalista Rafael Lamastra, opulento de físico e gigante na inteligência. Também, Pedro Vergara Correia, Édson Maschio e outros profissionais da imprensa de Londrina, não menos interessantes e ricos em conhecimento.
Paralelamente, cultivei sólida amizade com um casal de jornalistas; Renato Souza Melito e sua esposa Maria Fiuza. Renato era cineasta, cinegrafista e proprietário, junto com sua esposa do jornal ―O Repórter‖ e da Cinematográfica Melito. Com esse casal é que obtive a minha primeira ocupação como trabalhador da imprensa. Salário? Isso não tinha importância.
Simultaneamente, sempre à procura do que fazer, prestei serviços de auxiliar gráfico e mais tarde de ―Foca‖ para a antiga Folha de Londrina112. Nessa oportunidade, conquistei vários amigos, principalmente com o pessoal da gráfica onde se produzia o jornal. Isso foi à época da sua antiga localização na Rua Duque de Caxias. De propriedade de um político e fundado por ele.
Não me recordo muito bem, mas o periódico não levava o nome de Folha de Londrina. E também não tenho na mente informações precisas de que ano João Milanês a adquiriu. Na Wikipédia, a enciclopédia livre, existe uma informação que não corresponde com a história daquele matutino. Alí diz que a ―Folha de Londrina é um jornal de impressão diária que foi fundado na cidade de Londrina em 1948, por João Milanez‖. Quanto ao ano, essa informação não é exatamente correta, apenas se aproxima dela. Esse jornal já existia quando cheguei a Londrina em 1947. Fora fundado por seu proprietário, preenchendo um vácuo que existia na cidade. Mas, com intenções políticas e menos comerciais ou jornalísticas. Não tenho certeza se João Milanez, natural de S.C., já estava na cidade, mas sei que somente adquiriu esse jornal mais tarde. Para os interessados na história de Londrina, voltarei a tratar especificamente deste detalhe no decorrer deste livro.
Logo que cheguei a Londrina, em 1948, como Católico, Apostólico Romano, passei a freqüentar a Catedral, que se localizava bem perto da minha casa. Com o tempo, comecei a fazer amizade com alguns rapazes que faziam ponto, antes e depois da missa, numa esquina, debaixo de uma frondosa árvore que resiste ao tempo até hoje na Avenida Rio de Janeiro. Isso durou muitos anos. Essa relativa amizade aos poucos foi se dissolvendo na medida em que os interesses de cada um exigiam. Eram amigos pontuais, cuja amizade era usufruída apenas aos domingos, enquanto freqüentei a missa da catedral. Eram amigos domingueiros. Após o meu casamento, passei a freqüentar uma nova paróquia, a da Imaculada Conceição, na Rua Belo Horizonte. Na minha lembrança, ficaram apenas resíduos dos bons momentos em que curti essas amizades.
Mas, voltando ao João Milanês, que era meu amigo, ou melhor, ele também era amigo de todos, pois havia adquirido através da sua simpatia, inúmeras amizades na cidade. Ele era amigo de todos, parecia um diplomata. Bonachão, extrovertido, interessante. Era assim que eu o sentia. Para falar francamente, acho que eu era mais amigo dele do que ele de mim. Essa era a minha impressão. Trabalhar para ele era abrir mão do interesse financeiro, pois ele estava sempre ―DURO‖. Introduzi-me na sua equipe desinteressadamente, isto é, sem esperança de ser remunerado pelo meu trabalho. Aos pouco, familiarizei-me com os inúmeros funcionários repórteres, jornalistas e demais profissionais. Certa ocasião e sem nenhum aviso, entregou-me uma máquina fotográfica com lente Zais, daquele tipo sanfona e me pediu que
112 Funcionários da Folha de Londrina em seu inicio. Mineiro, Armando Duarte, Nelsinho Pereira, Bonzo, Reinaldo Grotti, Nenê, Nelson Severino, Isnard Cordeiro e de Estélio Feldman. Não me recordo quais deles acompanharam João Milanez, mas, lembro-me do Arnaldo, Reinaldo...
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ficasse com ela para qualquer eventualidade. Ela já veio equipada com um Flash de coluna e, juntamente, entregou-me algumas lâmpadas ―ovo de pato‖ e outras mais fortes com soquete 22. A maleta, eu mesmo a adquiri, emprestada do Renato Fiúza Melito.
Nessa foto, vemos João Milanês e meu cunhado Remo Veronesi, por ocasião de uma das suas visitas a Roma.
Com alguma prática adquirida em Cornélio Procópio e no jornal que deu origem à Folha de Londrina, coloquei-me a campo. Fotografei Doutor Flávio Ribeiro, notório advogado comunista, cujo partido113 estava proibido de ser reconhecido legalmente por ordem de Getúlio Vargas e, a convite dele, participei de um Congresso Comunista que foi realizado clandestinamente no Cine Camignotto, localizado na Rua Quintino Bocaiúva, fotografando tudo.
Registrei, também, com exclusividade, os acontecimentos que acabaram no assassinato do Juiz de Direito, Teobaldo Ciossi Navolar, por um advogado, desafeto dele. Para melhor cumprir a minha tarefa e com aprovação policial que comandava o atendimento, acompanhei o traslado do corpo da vítima até o necrotério da Santa Casa de Londrina. Geralmente, eu só fotografava quando não havia outro repórter fotográfico por perto, ficando no banco de reserva.
Facilitado por essa amizade, presenciei inúmeros acontecimentos importantes: A necessidade de contratar redatores experientes que permitiram o desenvolvimento vertiginoso da Folha de Londrina foi um deles. Já instalada no Edifício Bosque, eram eles os irmãos Nilson e João Rimoli. Dois excelentes jornalistas profissionais redatores. O primeiro contratado foi Nilson que assumiu a chefia redacional e logo depois, este convenceu João Milanês, que contratasse seu irmão João que, segundo ele, iria preencher um espaço vago e assim completar o quadro de redatores. Algum tempo depois, entre outros contratados, Valmor Macarini, primo do Milanês, que veio dinamizar o setor de jornalismo. A partir daí, aquele vespertino se desenvolveu com características de um jornal moderno e progressista.
Auxiliei de certa forma, a montar uma impressora de idade e tamanho impressionantes, uma Roto-Plana, adquirida por Milanês em uma das suas viagens ao Rio de Janeiro. Os detalhes dessa aquisição me escapam da memória. De repente, chegou um caminhão cheio do que mais parecia um carregamento de ferro velho, tal era o estado do material. Entretanto, tudo foi transportado para o subsolo do Edifício Bosque e aquela montanha de sucata se transformou
113 - PCB – Partido Comunista Brasileiro.
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em uma impressora milagrosamente montada pelo técnico alemão contratado condicionalmente. Pois, por exigência de Milanês, foi fechado o negócio na condição de que a máquina fosse montada com a garantia de funcionamento. Depois de algum tempo, curiosamente, lá estava ela, brilhante, cinzenta e funcionando. Em cerimônia festiva que reuniu apenas os funcionários brindamos a conquista com cerveja e pizza fornecida por um anunciante. Cheguei a presenciar os primeiros movimentos do equipamento e a tiragem teste das primeiras páginas do jornal. Depois de alguns ajustes, a Folha passou a rodar naquela fantástica impressora.
Lembro-me ainda da decisão de João Milanês em se instalar nesse novo local. Incorporando-se com a Construtora Veronesi, cuja empresa era dirigida por seu proprietário Remo Veronesi, meu cunhado e que se propunha construir um novo empreendimento, o Edifício Bosque. Essa construção foi iniciada logo após ter sido concluído um arrojado projeto de construção ao lado, mais abaixo, um conjunto de três edifícios conjugados de apartamentos e de galerias comerciais (Centro Comercial); as primeiras surgidas em Londrina. Rapidamente, o novo Edifício ficou pronto e a Folha reiniciou sua arrancada no mundo das comunicações. Depois disso, desliguei-me de todos os amigos de Londrina, pois fui assumir meu posto na Agência do IBGE, na cidade de Paranavaí, onde continuei colaborando com a Folha, mantendo uma ―coluna‖ sobre ―Estatística‖, aproveitando-me das facilidades permitidas pela minha nova função.
Depois disso, desliguei-me de todos os amigos de Londrina, pois fui assumir meu posto na Agência do IBGE, na cidade de Paranavaí, onde, por mais de um ano, continuei colaborando com a Folha, mantendo uma ―coluna‖ sobre ―Estatística‖, aproveitando-me das facilidades permitidas pela minha nova função.
Afonso Gomes Magioli era um dos meus amigos especiais. Aliás, ele e sua esposa Glória. Funcionário público. Delegado da Receita Federal em Londrina e residia perto da minha, na Avenida Rio de Janeiro, logo à frente, no mesmo quarteirão. Como seu vizinho distante poucos metros, essa amizade começou como tantas outras, com um detalhe: O casal recebeu uma visita de um parente carioca, Aroldo, que adorava construir balões e pandorgas. Naturalmente, isso atraiu as crianças da vizinhança e aos meus irmãos e a mim. Com isso, Aroldo acabou se tornando nosso amigo e, conseqüentemente, do Doutor Afonso G. Magioli. Essas amizades prosperaram por largo tempo. Mas, apesar da diferença de idade, ele e sua esposa D. Glória insistiam em convidar-me para freqüentar sua residência para jogar carta, na modalidade de ―Buraco‖. Eles eram apaixonados pelo jogo e me arrastaram a ele com tanta insistência que acabei gostando também. Assim, quase todas as semanas, uma ou duas vezes, enfrentávamo-nos numa parceria de quatro pessoas. Ele e sua esposa e eu e seu sobrinho Aroldo, também meu amigo.
Graças a Magioli e D. Gloria, meu destino profissional foi transformado de forma radical, pois, diante do convite do casal, mais tarde, acompanhei-os e fui morar em Curitiba onde aproveitei a oportunidade de me relacionar profissionalmente com uma moderna fábrica de móveis estofados, que me ajudou a somar experiência para a futura empresa Decorações Bertin. Também, graças a essa amizade, fui hospedado por seus parentes no Rio de Janeiro, por ocasião da posse de Getúlio Dorneles Vargas (GêGê) em 1951. Em outra parte deste livro, estarei detalhando esses acontecimentos.
Em Paranavaí, na minha rápida estada na cidade, mais ou menos um ano, agora como Agente de Estatística, adquiri novos amigos. Era o ano de 1957. O primeiro amigo, como não podia deixar de ser um jornalista, Euclides Bogonni, proprietário do periódico ―Jornal do O Noroeste de Paranavaí‖. Encontrei-o no restaurante onde fazia minhas refeições. Depois das apresentações do Chefe da Agência de Estatística, convidou-me para trabalhar com ele em
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seu jornal. Assumir o espaço de Cronista Social, vago no momento, no qual desenvolvi por quase um ano intensa atividade, formando rapidamente novas e duradouras amizades.
Paralelamente, necessitava me acomodar em instalações que fossem ao mesmo tempo confortáveis e econômicas, pois ocupava um pequeno quarto aos fundos de uma Panificadora. Não era um local aprazível.
Comecei a freqüentar um bar e lanchonete logo à frente de onde eu morava. Seus freqüentadores eram na sua maioria profissionais médicos, advogados e demais intelectuais da cidade. E foi ali que travei relacionamento com dois irmãos Gripp, um advogado e outro odontólogo, e um médico pediatra, Dr. Renée Zabô, pessoa interessante e agradável de convívio. Ele habitava uma casa em um terreno logo abaixo da praça onde hoje se encontra a Rodoviária da cidade. Mas, era uma casa peculiar. Suas portas e janelas eram excepcionalmente pequenas, daquelas que mais se adaptam às casas de bonecas ou a dos Sete Anões. Motivo; o meu novo amigo Renée era um homem corpulento, mas reduzido, um anão, medindo, talvez, pouco mais de 140 centímetros de altura. Podem imaginar como era o interior desse imóvel com seus cômodos reduzidos na mesma proporção. Quando alguém comentava os diversos aspectos que invariavelmente falavam da sua estatura, ele retrucava alegremente que ―Deus era infalível em Suas criações‖. Assim, exceto o pouco tempo que passei em Paranavaí, foi nessa casa que me acomodei até sair da cidade, voltando para Londrina em 1958.
Com os irmãos Gripp, Antenor e Ismael, cultivei essa amizade dia a dia no mesmo Bar Elite em que todos freqüentavam. Mas, em fins de semana, eram meus parceiros de jogo de Xadrez quando nos reuníamos à noite e fins de semana no Clube dos Advogados.
Outra amizade foi com o ―Jorginho da Boa‖, apelido adotado pelos seus amigos por ele ser agente da Boa Taxis Aéreos. Seu nome era Benedito Pinto Dias e acabou sendo prefeito da cidade e proeminente político regional. Em razão dessa amizade, fui beneficiado com seus conhecimentos com o pessoal do sistema aéreo, pois a partir desse conhecimento, não me foi difícil conseguir espaço de carona para viajar nos inúmeros aviões que faziam linha com as demais cidades da região. Principalmente nos fins de semana, quando procurava me deslocar para Londrina e daí para São Paulo, à procura da minha namorada Akemi, que lá morava.
E foi com sua amizade que conheci um piloto de Taxi Aéreo chamado Rigo. Casado com uma bela mulher, sua esposa Neusa, cuja família era de Rolândia, que era para onde ia, todos os finais de semana, transportada pelo marido piloto. Neusa adorava realizar recepções em sua casa e as organizava constantemente. Nessas recepções, se reuniam boa parte dos componentes Vips, da sociedade Paranavaiense. Era um ―prato cheio‖ para as minhas atividades como Cronista Social.
Foi coincidentemente agradável esse meu relacionamento com Rigo e Neusa, pois, além de grandes amigos, passei a aproveitar suas viagens que terminavam em Londrina e daí me permitindo seguir viagem para São Paulo, onde morava minha namorada. Namoro não é amizade e por isso deixo de falar dele neste espaço.
Encerrada essa fase de Paranavaí, pedi minha exoneração do IBGE, cujo motivo estarei destacando em outra parte deste livro, voltei para Londrina, onde, reunidos meu pai, mãe e irmãos, iniciei nova faze que acabou mudando o rumo da minha vida. Entrei solidamente no comércio, dando início à empresa da família, Decorações Bertin Indústria e Comercio Ltda.
―Decorações Bertin‖.

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