quarta-feira, 25 de maio de 2011

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Luiz Julio Bertin - Autobiografia-Parte tres

Com o entusiasmo e apoio do meu cunhado Remo Veronesi, depois de várias providencias que acabou na consolidação da Empresa, os acontecimentos me levaram a travar amizade com meus novos amigos e reatar os antigos.
Entre eles, primeiramente, conheci Ayrton Cunha Rego, comerciante estabelecido na Rua Duque de Caxias em um amplo salão comercial que ficava exatamente à frente do espaço que a oficina e tapeçaria da minha firma ocupava, dividindo o mesmo terreno. Airton era originário de uma família abastada do Recife, arrogante e sofisticado sem ser pedante114. Minha amizade com ele durou até que, anos mais tarde, já em Maringá, ele vendeu sua empresa aos seus empregados mais chegados e voltou à sua terra natal. Tempos depois recebi notícias da sua morte prematura por cirrose hepática. Ele me fez falta. Foi, talvez, meu maior amigo. Antes de me casar, fomos juntos assistir a inauguração de Brasília, ocasião em que formamos uma caravana com o nosso grupo de amigos, ocupando dois veículos caminhonetes Chevrolet Brasil. Assim, éramos: Airton, Cláudio Fontana, Cláudio ... (o engenheiro) e eu.
Sabemos quem foi o comerciante atacadista Ayrton. Cláudio Fontana era um engenheiro civil formado em Londrina e o outro Cláudio..., era um engenheiro Eletricista formado em Itajubá, Minas Gerais e eu. Saímos ainda noite, na madrugada do dia 19 de abril de 1960 e enfrentamos uma viagem cansativa de 16 horas, onde não faltou um acidente de relativa gravidade, em que uma das nossas caminhonetes Brasil, parte da nossa caravana, que nos precedia, tombou após ter ido de encontro a um grande tronco atravessado na estrada em construção, BR 153, que lá estava a fim de impedir que veículos avançassem pela estrada, pois uma ponte logo à frente ainda não estava concluída. Vencido esse incidente que não passou de um grande susto, chegamos a Goiana.
Ayrton tinha um tio com comercio em Goiana, ―Casa de Tecidos Tita‖. Faltava-lhe a visão ambos os olhos. Entretanto, era um empresário dos maiores atacadistas de tecidos do Estado. Descansamos por algumas horas e, abastecidos de combustível e de alguns cobertores ―corta febre‖ que nos foram oferecidos pelo tio Manoel, retomamos a estrada para alcançarmos Brasília no anoitecer do dia 19. Nem tentamos localizar um local que nos acolhesse com algum conforto. Acampamos no lugar mais alto e descampado que achamos e nos preparamos para passar a noite. À nossa frente, vislumbrava-se Brasília, ainda parcialmente desnuda de edificações, mas que nos permitia localizar as monumentais construções e avenidas planejadas pelos arquitetos e urbanista Oscar Niemeyer e Lucio Costa115. Lembro-me que passei muito frio debaixo daqueles insuficientes cobertores, pois Brasília fica num descampado onde o vento é cortante a noite inteira. Apelidei nossos cobertores de ―tomara que amanheça logo‖, pois eles não nos protegiam adequadamente do frio da madrugada.
No dia seguinte, 21 de abril de 1960116, o dia nos alcançou quando já estávamos na Esplanada dos Ministérios, o mais perto que conseguimos chegar, devido à imensa multidão que aguardava o evento. Acompanhamos os diversos atos cerimoniais e ouvimos o discurso do Presidente Juscelino Kubichek de Oliveira. Os acontecimentos se desenrolaram até a noite, encerrados com fogos de artifícios. Quase mortos de fome, procuramos qualquer restaurante para saciar nossa imensa sede e fome. E o que escolhemos estava tão lotado que tivemos de que esperar horas para sermos servidos.
114 Coisa de rico.
115 Oscar Niemeyer era Arquiteto e Lúcio Costa era Urbanista.
116 Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.
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21 de Abril de 1960. No dia da inauguração de Brasília, Claudio de Itajubá, Ayrton Cunha Rego, Cláudio Fontana e eu em primeiro plano. Aos fundos, os edifícios dos futuros Ministérios em construção.
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21 de Abril de 1960 em Brasília. Ayrton Cunha Rego, Luiz Julio Bertin e Cláudio de Itajubá. Fotógrafo, Cláudio Fontana. Nessa mesma noite seguimos para Goiana, onde pudemos nos recuperar do cansaço que estávamos sentindo. Fim da aventura. Tiramos muitas fotos, que, infelizmente pecam pela qualidade.
Todos os três amigos participaram da recepção oferecida aos convidados no meu casamento, que ocorreu neste mesmo ano. Ayrton, Cláudio e Cláudio... , em especial, brindaram-me com suas presenças e com uma lembrança que não me
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esqueço até hoje; uma bela taça para conhaque de cristal da BOHEMIA da qual me utilizei por muitos anos. Foram meus amigos queridos.
―AMIGOS‖
―Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos‖.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta
necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que
tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus
amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ....
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro,
noto que eles não tem noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
porque eles fazem parte do mundo que eu,
tremulamente,construí e se tornaram alicerces
do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
3cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda
furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado,
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morando comigo, andando comigo, falando comigo,
vivendo comigo, todos os meus amigos, e,
principalmente os que só desconfiam ou talvez
nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.‖
(Vinícius de Moraes).
Durante a minha atividade como comerciante, fui brindado por funcionários que se tornaram meus grandes amigos. Foram inúmeros, que irei citando na medida em que vou extraindo da memória, com o risco de deixar alguns de fora deste livro, aos quais, antecipadamente peço vênia pelo esquecimento involuntário.
Foi grande o número de funcionários e trabalhadores autônomos da Decorações Bertin, aos quais incluo outros, que trabalharam comigo em outros empreendimentos. Creio que posso afirmar que o número ultrapassou a disponibilidade da minha memória em um dado momento. No decorrer da minha vida comercial muitas pessoas formaram o rol de meus funcionários. Isso é informação fornecida pelos livros de registro de empregados da empresa.
Creio ter sido um bom empregador. Além de contratá-los pelas suas qualidades e possibilidades técnicas, o fiz também pelas suas características pessoais. Julgo possuir uma espécie de sexto sentido; um julgador de caráter, que seria o de avaliar as pessoas pelas suas características de comportamento. Enganei-me muito pouco, E, pelo que me vem à memória, em momento algum me arrependi de ter feito o que fiz. Não me lembro de ter sido obrigado em repreendê-los ou puni-los, mesmo por que, meu relacionamento com eles sempre foi de encará-los como meus iguais. Nos demais empreendimentos comerciais que exerci como empresário, jamais fui obrigado a punir quem quer que fosse. O mesmo ocorreu no exercício das presidências da ACIM117 e SIVAMAR118. Muitos dentre eles foram meus verdadeiros amigos que, ao mencioná-los logo adiante, à falta de uns e outros não venha prejudicar meu relacionamento com eles, assim espero.
Mas, o meu primeiro funcionário, já em Londrina, foi Boris Stafief, do qual me refiro várias vezes neste livro, não só por ter sido um funcionário exemplar da minha empresa, mas, também, por poder contar com ele como um verdadeiro amigo. Por isso, comentarei especialmente minha amizade com ele em outra parte deste livro. Outros também se seguiram
A primeira funcionária costureira que contratei em Maringá foi Dalva de Oliveira Brito, que começou a trabalhar comigo em primeiro de fevereiro de 1968 quando ainda minha empresa funcionava na Rua Piratininga, esquina com a Rua Santos Dumont. Muito competente e dedicada, era fácil manter diálogo com ela. Recordo-me dela com saudades.
117 - Associação Comercial e Empresarial de Maringá, onde fui seu presidente nos anos de 1974/75.
118 - Sindicato dos Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios, de Maquinismos, Ferragens e Tintas de Maringá, onde fui seu presidente desde a sua fundação que ocorreu em 1974 até 1997.
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Outro, que marcou minha vida de forma surpreendente e merece capítulo à parte, ―Divo Paranaguá‖ 119. Registrei-o como meu funcionário balconista em primeiro de Dezembro de 1969. Juntamente com Boris e outros, veio reforçar minha equipe de trabalho. Como meu funcionário só tenho elogios, mas como amigo confesso que ele conseguiu me surpreender, pois, depois de uma dedicação exemplar por mais de vinte anos, ao se desligar da minha empresa, habilmente conseguiu o meu aval para diversas operações bancárias, que lhe possibilitaram adquirir dois caminhões trucados, compromisso que não foram saldados por ele. E olhe que, nas negociações do encerramento do contrato de trabalho, presenteei-lhe com um imóvel de grande valor, localizado na zona dois de Maringá, ao lado da atual sede da OAB, na Avenida Nildo Ribeiro da Rocha. Tão logo se concluíram as transações, Divo se mandou.
Esporadicamente, recebia notícias dele através do Banco financiador, pois, mesmo bloqueado judicialmente, Divo continuou por muito tempo, pelo Brasil afora, em se utilizar do meu nome para realizar compras de equipamentos que os veículos financiados necessitavam. Consegui, depois de muito tempo e grande prejuízo, com a ajuda de um dos antigos proprietários dos veículos, recuperar apenas um dos veículos, o que ajudou amenizar os meus débitos junto aos credores. Mas, esse não foi exceção, pois mais tarde, não tendo apreendido a lição, ocorreu nova frustração por ter confiado em amizade.
Outro destaque especial na minha vida como comerciante foi privar da amizade de Clineu Wolff Junior, amizade essa que perdura até os dias de hoje. No inicio da Decorações Bertin em Maringá ele não pretendia trabalhar comigo como empregado, pois teimava em exercer sua profissão de vendedor autônomo, mas registrei-o a primeiro de novembro de 1972 e continuou comigo. Nossa amizade continua no dia a dia.
João Gimenez e Nelson José Benatti. Foram meus funcionários, que de forma autônoma, trabalharam comigo por mais de 20 anos. Profissionais altamente competentes e amigos incondicionais.
119 - Nome fictício com a finalidade de proteger seus descendentes da sua vergonhosa atitude.
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João Gimenez e Nelson José Benatti.
Pedro Silveira.
Pedro Silveira, uma pessoa extraordinária que prestou seus serviços às Decorações Bertin, por muitos anos. Depois de trabalhar comigo por mais de vinte anos, se viu envolvido com a Justiça, sem nunca ter
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participado de nenhum ato ilícito, sendo preso e condenado à revelia. Amigo de um grupo de garotos que se envolveram em um assalto, foi condenado por engano, denunciado que fora, por testemunha erroneamente influenciada, pois, não se encontrava no local do evento e sim em outro, distante centenas de quilômetros de distância. Sabedor da notícia preocupante, procurei o Magistrado responsável e me ofereci como responsável por ele. Liberado, transportei-o para Maringá, onde continuou, como meu funcionário e amigo, até quando dissolvi minha sociedade com meus Irmãos. Continuo privando da sua amizade. De quando em quando, Pedrinho me presenteia com frutas produzidas na sua chácara, onde mora.
No Sivamar, Sindicato do Comércio Varejista de Maringá, privei da especial amizade de Marília Matos, que me secretariou por muitos anos. Tínhamos especial ligação; notadamente por sua extrema e eficiente dedicação profissional. Foi ela que encaminhou o meu pedido de aposentadoria junto ao INSS.
Ainda no Sivamar, encontrei pessoas de grande integridade moral e profissional. A começar com Sônia Ferreira. Pessoa extraordinária e totalmente dedicada ao trabalho que executava com grande interesse.
O quadro de advogados do Sivamar sempre contou com profissionais totalmente dedicados aos interesses dos representados.
ADVOGADOS DO SINCOMM
- Cláudia Ruriko Ishida. OAB/PR 16567;
- Faustino Francisco de Souza. OAB.PR 6986;
- Hélvio Bruno de Lemos. OAB.PR 8660;.
- Juliane Vargas. OAB.PR 20556;
- Liana Dourado de Lima Sturmer Klokner. OAB.PR 13040;
- Lisley Maria Messias da Silva. OAB.PR 18090;
- Priscila Kutne. OAB.PR 20625;
- Paulo Roberto de Souza. OAB.PR 13015;
Destaco a figura de Paulo Roberto de Souza, pois me permitiu que cultivasse sua amizade, como profissional e como amigo. O Sivamar foi muito beneficiado com a sua presença, durante todo o tempo em que lá prestou seus competentes serviços profissionais.
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Dr. Paulo Roberto de Souza.
Dra. Priscila, advogada, somava esforços, juntamente com DR. Hélio Bruno de Lemos e demais profissionais.
Dra. Priscila
Dr. Hérvio Bruno de Lemos.
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Dra. Cláudia.
Sônia Ferreira
Paulinho, profissional em contabilidade, foi outra pessoa dedicada.
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Celso.
Dra. Liana Dourado de Lima Sturmer Klokner. OAB.PR 13040
Dra. Eliana era um mente brilhante, perscrutadora e dedicada. Podia-se contar com ela na elaboração dos documentos que se destinavam aos sindicatos operários e principalmente nas relações e conversações com os sindicatos operários e por ocasião dos Róis de Convenções do Trabalho. Era imprescindível como advogada na composição das Comissões de Estudo formadas pelos comerciantes indicados pelas nossas assembléias. Funcionava como consultora nos assuntos do Direito do Trabalho e das Convenções Individuais e Coletivas, liderando os demais advogados do Sivamar que se uniam com diversos outros advogados, representantes enviados pelas empresas representadas.
Mas, Lisley Maria Messias da Silva, OAB.PR 18090, posso afirmar sem medo de incorrer a erro, foi a melhor amiga que tive nessa
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ocasião. Fui um privilegiado. Auxiliou-me, como secretária e conselheira financeira, nos piores e nos melhores momentos da minha demorada presidência no Sivamar. Cursou comigo a Faculdade de Direito da UEM e o concluímos juntos no ano de 1990 e aguardamos o Certificado que saiu a vinte e quatro de agosto de 1991. Para justificar sua dedicação, somente uma amizade sincera que era e é ainda recíproco.
Oséias foi o meu primeiro funcionário especialmente contratado para o Sivamar, com a finalidade específica de ser treinado para o desenvolvimento e manutenção da Central de Computação do sindicato. Numa época em que, computador era ainda coisa complicada, admiti-o com a idade de 13 para 14 anos e depositei nele minhas esperanças. Não me enganei, fui recompensado. Continua trabalhando no Sivamar cada vez mais eficiente e dedicado. Foi um honra privar da sua amizade.
Em diversas passagens desta minha biografia, volto a mencionar com detalhes outros eventos que contam das minhas amizades que não foram mencionadas neste capítulo. Estarei falando dos inúmeros amigos que cultivei no decorrer desta minha existência.
Falei das minhas relações com amigos da infância, da juventude, das minhas relações profissionais, estudantis, amorosas, e, também das minhas relações com meus funcionários e suas conseqüências positivas e negativas. Aqui foram incluídos os falsos amigos que conseguiram me iludir e suas conseqüências funestas; repercussão e danos que sofri em virtude da minha boa fé que sempre fez parte do meu caráter. Cheguei a cultivar amizades que me surpreenderam e de outras que é da natureza do ser humano ou outras ainda, originárias de um sistema corrompido e materialista, aqueles que conseguem mostrar uma cara sincera e honesta e no fim, golpeiam sem nenhuma consideração, mostram a verdadeira realidade. No próximo título, detalharei três casos típicos em que fui envolvido.
Independente dos meus funcionários, durante as atividades empresariais, políticas e sociais, fui adquirindo novos e grandes amigos, dentre eles, em especial:
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Divanir Braz Palma. Eu o conheci por ocasião da encomenda de uma placa indicativa que foi colocada na fachada do prédio da Av. Brasil da Decorações Bertin em Maringá. Contratei os seus serviços por ocasião de sua visita ao meu estabelecimento comercial. Assinei o pedido por insistência dele e na entrega do serviço, acompanhei-o quando estava colocando a placa na fachada da Loja. Ele mesmo, suportado por uma frágil escada de madeira a colocou. A partir daí, tornamo-nos amigos. Ele também foi um dos empresários que integrou a chapa vencedora na ACIM em que fui eleito em 1973. Foi e ainda é uma amizade que perdura até hoje.
Na Associação Comercial, assumi a presidência que mudou substancialmente o rumo da minha vida, pois ali adquiri preciosas amizades. Ali encontrei Herbert Maya, secretariou a fundação do órgão, economista alemão e secretário da ACIM e durante a minha gestão de 1974/75 dois ótimos amigos, os advogados Antonio Sérgio Gabriel, hoje diretor da COAMO (Cooperativa dos Agricultores de Campo Mourão) e Nassif Algure Neto, Juiz da Justiça do Trabalho e Desembargador do Tribunal Regional do Trabalho em Curitiba.
Quando procurei a ACIM para associar minha empresa Decorações Bertin, iniciei uma série de amizades pessoais. Entre elas, por primeiro, Antônio de Paula Souza Bárbara, comerciante e industrial.
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Antonio de Paula Souza Bárbara.
Nos já nos conhecíamos anteriormente, desde os idos de 1967, ocasião em que o encontrei com sua pasta de mostruários, no interior dos ônibus que faziam ligação com as cidades do norte - noroeste do Paraná e com o vizinho país Paraguai. Eu, procedendo minha visitas aos clientes da Decorações Bertin e ele, nos seus contatos comerciais à procura de clientes da próspera Barbirene, empresa de sua propriedade, especializada em equipamentos de escritórios.
Compôs a chapa de oposição comigo e depois na segunda tentativa, em chapa única, em que concorri à presidência da Associação Comercial e Empresarial de Maringá. Mesmo depois de concluir comigo a gestão, continuamos amigos. Quando se aventurou na vida pública, antes de candidatar-se e mesmo registrar-se a partido político, procurou-me na minha casa e nos sentamos junto ao meio fio da calçada à frente à minha residência e, ali discutimos a conveniência e a estratégia da sua possível participação na vida pública. Nessa época, havia um empecilho para que se candidatasse a nível federal, e por isso, lançou-se e foi eleito Deputado Estadual. Logo depois, quando a legislação eleitoral, mais democrática, o permitiu120, candidatou-se a Deputado Federal, foi eleito com larga margem de votos. Hoje, depois de longos anos na política, voltou a dedicar-se aos seus afazeres empresariais e continua meu amigo dileto.
120 - Bárbara nasceu em Portugal e naturalizou-se brasileiro ainda na infância.
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Jornalista José Antonio Moscardi e sua esposa Shirley.
Capítulo à parte. Meu amigo e compadre Moscardi, profissional competentíssimo, passou a fazer parte do Sivamar desde o início. Assessorou-me diuturnamente e foi o responsável pela divulgação e consolidação da entidade sindical, ainda recente na cidade. Criou com sua inteligência um perfeito elo entre a entidade e a sociedade maringaense, utilizando-se dos órgãos da imprensa de forma magistral. Desde o início, a população tomou conhecimento do trabalho que executávamos em favor do comércio e da comunidade regional. Além do mais, muito criativo, encarregou-se de criar um vínculo com os profissionais da imprensa regional, que jamais se desfez. Ficaram famosas as reuniões festivas121 que o Sivamar realizava todos os fins de ano, ocasião em que todos os profissionais da imprensa eram homenageados.
Oséias foi o meu primeiro funcionário especialmente contratado, com a finalidade específica de ser treinado para o desenvolvimento e manutenção da Central de Computação do sindicato. Numa época em que computador era ainda coisa complicada. Admiti-o com a idade de 13 para 14 anos e depositei nele minhas esperanças. Não me enganei, fui recompensado. Continua trabalhando no Sivamar cada vez mais eficiente e dedicado. Foi uma honra privar da sua amizade.
A advogada Sabah, trabalhou comigo no sindicato. Ele era filha de um grande amigo meu, o comerciante Kassen. Entretanto, pela sua dedicação, ela conquistou não só a minha amizade, mas também a de todos que a conheceram.
Harry Moura Soares conhecia-o mesmo antes do início da criação do Sivamar, nos bons tempos do Rotary Clube Maringá Leste, onde éramos Companheiros, Isso remonta aos anos de 1969, ano da fundação. Mais tarde, quando, em dezembro de 1973 quando reunimos uma porção de comerciantes para
121 - Conhecidas como “boca livre”, pois além dos comes e bebes eram distribuídos brindes oferecidos pelo comércio maringaense a todos os participantes do evento. Praticamente, reuniam-se todos os profissionais da cidade.
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discutirmos a necessidade de se criar uma associação sindical patronal, ele estava entre os primeiros por mim convocados. Depois disso, sempre pude contar com ele, nos melhores e piores momentos da minha vida pública122. Compôs comigo, entre outros comerciantes abnegados, a primeira diretoria da Associação e continuou no Sivamar até quando fui ―derrotado‖ pela chapa concorrente em 1997.
Ele não era somente mais um comerciante componente da diretoria. Era meu amigo e, verdadeiramente interessado no sucesso da entidade que ajudara a criar. Por ocasião da aquisição da sede própria do sindicato, ocasião em que os recursos financeiros não eram ainda suficientes para garantir tal aquisição foi necessário um avalista. Ele era, na ocasião, tesoureiro do Sivamar e se ofereceu entusiasmado, avalizando no Banco um vultoso empréstimo, cujo valor garantiu a aquisição do espaço necessário localizado no imponente edifício Palácio do Comércio, situado na Rua Deputado Néo Alves Martins. Nas fotos que se seguem: Harry em 1976 e com a idade de 92 anos, em 04/12/2009.
Harry Moura Soares
122 - Sindicato naquela época era órgão público, previsto pela legislação brasileira (CLT).
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Harry Moura Soares e o autor. Foto de 04/12/2009.
Um fato que não posso deixar de veicular nesse livro: Tão logo me formei advogado, necessitei me instalar para exercer a atividade. Foi ele que me ofereceu espaço para o meu primeiro escritório profissional no edifício que construíra. Além de comerciante na área de tintas, mercadoria que fornecia para a construção civil, aventurou-se em erigir o seu edifício, que se situa na Rua Santos Dumont. Nesse arranha-céu, cedeu-me espaço contiguo ao seu escritório, onde ele raramente freqüentava, a não ser quando recebia da sua secretária as informações sobre suas operações bancárias e financeiras.
Certo dia, em que somente ele e sua secretária se encontravam trabalhando nesse escritório, introduziram-se na sala, duas pessoas, homens armados, que deram voz de assalto, exigindo que o cofre fosse aberto. Harry não se intimidou e como bom mineiro, resistiu, atracando-se com os meliantes, recusando-se a ceder qualquer valor. Levando a melhor, apesar de franzino, os homens recuaram, mas não sem antes deflagrarem um tiro na sua direção, mas que, pela Providência Divina, atingiu a sua perna sem feri-lo, apenas atravessando o tecido da sua calça, cujo projétil encerrou sua trajetória ao encontrar a perna da mesa que eu utilizava no dia a dia.
Shiniti Ueta é o que se pode chamar de ―amigos para todas as horas‖. Presente nos melhores e piores momentos. Era com ele que eu podia contar e procurar apoio quando procurava adotar medidas de maior responsabilidade.
No começo do Sivamar, determinados assuntos, sócio-político-administrativos e de responsabilidade, tais como, a participação pessoal em que a Diretoria era requisitada, ele era um dos poucos que se disponibilizava apontando soluções. Mesmo na aquisição de materiais de alto custo, ele era um dos principais diretores que eu costumava consultar. Na aquisição do então polêmico computador, ele se dispôs a oferecer seus conselhos profissionais, com o que serviu para adquirirmos o nosso primeiro sistema computacional, quando compramos uma máquina Dismac; um computador com dois monitores e dois teclados, coisa muito arrojada para a época. Sempre bem disposto em colaborar, também se colocava a disposição para orientar a parte social da entidade e, ainda, como bom músico que é, fazia a parte artística, apresentando-se como executor Organista e montando as apresentações artísticas com revelações locais. Sua presença garantia o sucesso das reuniões cívicas, políticas e sociais do Sivamar.
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Shiniti Ueta. 15-04-1987.
Curti uma especial admiração por Antônio Carlos Kagueyama. Um dos primeiros comerciantes a participar das lides sindicais, pacato e cordial, sempre se podia contar com ele com a sua presença nas assembléias e reuniões sindicais. Meu relacionamento com ele era dia a dia. Nas várias eleições que nos reconduziu ao cargo, ele sempre ocupava o cargo de Secretário e assinava comigo os documentos do dia a dia. Assim, acostumei-me com a sua discreta presença e me tornei seu amigo, cultivando sua amizade até quando sua presença nos faltou definitivamente.
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Antonio Carlos Kagueyama
Adquire-se amigos em todas as partes. Alguns, excepcionais. Desta feita, estando em Florianópolis para visitar minha filha Tainã que lá se encontrava a fim de cumprir um contrato com um time profissional de Basket e estudar, na portaria do hotel que me abrigara, relacionei-me com um hóspede que excursionava o sul do pais, para examinar as possibilidades de instalar um restaurante. Informou-me ser Chef de cozinha internacional123, cozinheiro profissional e, pelo sotaque, facilmente denunciava sua origem francesa. Assunto puxa outro, disse-lhe que minha ascendência paterna era de origem francesa, o que bastou para que a conversa se prolongasse, identificando-se o interesse comum, motivo pelo qual, se formou uma amizade prolongada. Casado com uma professora universitária que exercia seu magistério na Universidade Federal de Teresina, acabou desistindo da sua tentativa de se instalar profissionalmente no sul do Brasil, escolhendo João Pessoa, onde montou um moderno restaurante ―Paris Delice‖. Mesmo à distância, nossa amizade continua, com as facilidades da comunicação via internet. Diariamente, trocamos idéias, ocasião em que trocamos informações das mais diversas.
123 - Chef de Cozinha é o profissional responsável pelo manejo da brigada de cozinha de um restaurante.
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Meu amigo Yussef Tidafi (Joe) pai francês e mãe marroquina.
Em diversas passagens desta minha biografia, volto a citar com detalhes outros eventos que contam das minhas amizades que não foram mencionadas neste capítulo. Estarei falando dos inúmeros amigos que cultivei no decorrer desta minha existência. Já falei das minhas relações com amigos da infância, da juventude, das minhas relações profissionais, estudantis, amorosas, e, também das minhas relações com meus funcionários e suas conseqüências positivas e negativas.
Aqui, também, foram incluídos os falsos amigos que conseguiram me iludir e suas conseqüências funestas; repercussão e danos que sofri em virtude da minha boa fé que sempre fez parte do meu caráter. Cheguei a cultivar amizades que me surpreenderam e de outras que é da natureza do ser humano ou outras ainda, originárias de um sistema corrompido e materialista, aqueles que conseguem mostrar uma cara sincera e honesta e no fim, golpeiam sem nenhuma consideração, ocasião em que mostram sua verdadeira natureza. No próximo título, detalharei três casos típicos em que fui envolvido.
Amigo de todos, José Cláudio é o que se pode de todas as horas. Esse era ―Zé‖ Cláudio, que, em memorável campanha, foi eleito Prefeito de Maringá, assumindo o cargo em 1º de janeiro de 2000. Interessante é que a soma dos números que o elegeu, 107.302 votos, resultava no número 13, o número do seu partido, PT. Eu o tinha como um verdadeiro amigo sereno e compreensivo. Não terminou seu mandato, pois foi vítima de insidiosa doença. Câncer, que lhe consumiu a vida em pouco tempo, não sem grandes sofrimentos para si e para os seus amigos.
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José Cláudio Pereira Neto.
Maria Lucia Ferreira Gomes. Foto de 1978.
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Maria Clara Pires da Silva Matias.
Reservei este último espaço ao grande advogado Dr. Ivan Ruiz, que, juntamente com Dr. Paulo Roberto de Souza, marcaram minha vida profissional como advogado. Não fossem eles, jamais teria podido cumprir com minha obrigações como trabalhador do Direito. A eles, o meu eterno reconhecimento. Graças a eles, jamais pude alcançá-los, como apregoava o grande mestre da pintura da Renascença, Leonardo da Vince, quando dizia que o aluno só poderia considerar-se vitorioso quando superasse seus mestres.
MINHA VIDA NO COMÉRCIO.
Se puder ser considerado como atividade COMERCIAL, comecei a ter interesse no trabalho aos sete anos de idade, quando fabriquei minha primeira caixa de engraxate. Nesse início da década de 40, todos os recursos financeiros do meu pai eram aplicados nas necessidades da família. Dava pra ver que não possuíam recursos suficientes para suprir alguns dos desejos dos seus filhos. Por isso, precisava ganhar o meu próprio dinheiro. Por algum tempo, pensei no assunto e de como eu poderia resolver o problema. Durante algum tempo, o selo de correio resolveu minha preocupação. Já tinha observado que poderia me utilizar dos selos para fazer pequenas despesas, pois todos os comerciantes o aceitavam como moeda corrente. Mas também notava que na copiosa correspondência que meu pai recebia, muitos selos não recebiam o carimbo tradicional que os inutilizava. Assim, eu retirava esses selos com muito cuidado, aproveitando-os como moeda e assim suprir minha carência. Isso acabou, pois fui alertado que essa prática não era lícita.
Pois bem, após ter observado atentamente as atividades de um ―piá‖ 124, filho do ourives Poçanho, Aldo, resolvi entrar no ramo de engraxataria, pois dava pra perceber que ele sempre andava com dinheiro no bolso. Na loja do Bonatto, adquiri algumas taboas de um caixote de pinho importado que servira para embalar
124 Menino, garoto, moleque, etc..
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bacalhau norueguês e construí minha própria caixa de engraxate e pus mãos à obra. Sob os olhares atentos da minha mãe e depois de ter mantido uma conversa com o gerente do cinema, escolhi meu ―ponto‖ próximo e ao lado do outro ―profissional‖. Na mesma calçada, em frente ao cinema ―Cine Cartegianni‖ que se localizava à esquerda à frente, logo acima da minha casa, subindo a Rua Getúlio Vargas. Fui lá dividindo o ponto comercial que há tempos era somente ocupado pelo outro garoto, filho do Ourives da cidade.
Com as minhas tarefas caseiras e com obrigações escolares em dia, certa tarde de sábado, encaminhei-me ao local anteriormente planejado, e me instalei. Não houve conflito, nem foi colocado nenhum obstáculo à minha pretensão. Aldo, assim como era conhecido, garoto mais velho do que eu, aceitou-me sem nenhuma reação e em pouco tempo, já estávamos disputando, um em cada lado da entrada principal do cinema, quem era o melhor e mais rápido profissional da cidade. Clientes, nunca faltaram, isto é; quando havia seção cinematográfica nas noites das quintas-feiras e nos sábados e domingos, sempre à noite. No momento em que ele ganhava em qualidade, eu ganhava em quantidade de sapatos engraxados. Meus clientes não se limitavam apenas aos que freqüentavam o cinema e sim também aos que freqüentavam os hotéis e hospedarias da cidade. Regularmente, visitava-os após ter combinado com os encarregados das portarias, que, por sua vez, alertava os hóspedes interessados em engraxar seus sapatos, que os deixassem na soleira das suas portas para que eu os engraxasse. Isso aconteceu enquanto o ―Grande Conflito‖, a 2ª Guerra Mundial (1939/45) se desenrolava na Europa.
A partir dessa iniciativa, nunca mais tive problemas de recursos financeiros, pois eles sempre me bastaram, mesmo quando mudei de ramo comercial. Em não raras ocasiões, instado por minha mãe, utilizava-me desses recursos para adquirir roupas, guloseimas e ingressos de cinemas para mim e os meus irmãos mais novos.
Paralelamente, durante a Guerra, com idéias absolvidas nas inúmeras campanhas promovidas pelo governo Vargas125, que tinham como objetivo recolher materiais nobres para serem reciclados pelos norte-americanos, descobri que alguns outros produtos, alem desses, poderiam também ser reciclados e que eram muito apreciados pelas Fundições existentes na cidade, as quais pagavam bons preços. Assim era com o Estanho que eu obtinha das baterias e acumuladores de energia, utilizadas em veículos e máquinas dotados de geradores que necessitavam delas; o metal Cobre que era utilizado não só na fiação elétrica, mas, também nas diversas peças em que eram constituídos grande parte de condutores de gases, freios e peças diversas de equipamentos especiais importados; a borracha ou látex, material que naquela época era utilizada para a fabricação de pneus dos mais diversos; o Alumínio, material muito utilizados na construção dos aviões que eram usados pelos americanos na guerra; o Níquel, utilizado na Casa da Moeda para a fabricação do dinheiro de metal, etc.
125 Normalmente essas campanhas eram feitas através das escolas públicas e privadas, que se encarregavam de promover campanhas civilistas, recolhendo materiais recicláveis, tais como: Alumínio, Bronze, Metal Amarelo, Cobre, Chumbo e Borracha. Participei de uma dessas campanhas quando estava estudando no Colégio dos Irmãos Maristas de Joaçaba, ocasião em que fui premiado como um dos maiores colaboradores em quantidade e peso. Meu prêmio? Um jogo de cadernos, lápis e canetas, finamente elaborados.
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Todo esse material era recolhido por mim e depositado nos fundos da minha residência, na Rua Getúlio Vargas. Depois de selecionado, e muitas vezes purificados; que, como o Estanho, que era extraído das placas internas das baterias de veículos automotores da seguinte forma: Desmontada a bateria, batia as placas contra algumas pedras para extrair resíduos que não me interessava e colocava o restante em lata vazias de goiabada previamente preparadas sobre o fogo e esperava o metal derreter, despejava-os em pequenos recipientes, geralmente latas vazias de conserva e de marmelada, para depois oferecê-lo aos compradores. Esses materiais eram transportados em um carrinho de quatro rodas, construídos por mim, que servia de transporte ao recolher o material e quando procurava entrar em contato com os compradores disponíveis na cidade. Em caso de ser pequeno o volume da mercadoria (estanho, por exemplo), como era o caso do chumbo proveniente das baterias, por serem muito pesados, eles eram acomodados sobre o assoalho do pequeno veículo e arrastado através de uma corda que era passada em volta dos meus ombros e auxiliados pelo meu irmão mais novo, Heitor.
Tanto a atividade de engraxate, como o de comerciante de materiais reciclados pouco duraram, pois, além de ter que estudar, havia outras obrigações que eram impostas pelos meus pais.
Como já revelado no início deste livro, mudei-me com minha família para Cornélio Procópio em meados do ano de 1947, logo após o fim do grande conflito. Com apenas 13 (treze) anos, minhas necessidades pessoais tinham aumentado naturalmente, e assim, juntamente com meu irmão Heitor, aventurei-me no comércio de frutas produzidas nas proximidades da cidade. Logo no início, deu para notar, foi necessário comercializar com grandes volumes de frutas, principalmente, laranjas, para que me proporcionasse melhor benefício financeiro.
Para isso, foram necessárias várias providências:
I - A primeira, foi a falta de ―capital‖ que logo foi resolvida junto aos próprios produtores que me consignaram suas mercadorias, tão entusiasmados que ficaram em obter lucros que estava fora dos seus alcances pela falta de empreendedores locais e aceitaram receber os seus pagamentos após a venda da safra no mercado. Até então, essa produção de frutos era aleatória e em cada temporada tudo se perdia por falta de alguém que as transportasse ao mercado consumidor. Essa possibilidade que lhes era oferecida, apesar de partir de alguém tão jovem, não oferecia quase nenhum risco aos produtores, pois antes, a produção se perdia.
II - A segunda, o meio de transportar a safra colhida, que também foi resolvida com uma boa conversa com um dono de um pequeno caminhão que costumava ser colocado à disposição da cidade para realização de pequenos fretes. Com a oferta de uma bonificação extra que só se daria com a comercialização do produto transportado, o motorista, esperançoso em obter maiores lucros entusiasmou-se e cumpriu sua tarefa em todas as oportunidades, inclusive tornou-se o meu melhor apanhador dos frutos e,
III - A terceira, foi a própria falta de dinheiro para a aquisição de ―bens de capital‖, materiais necessários ao próprio sistema comercial adotado, coisa mais difícil de realizar, mas que foi sanada depois com uma boa conversa com meu pai que nessa
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altura já era um comerciante respeitado e com bom crédito na cidade. Com o crédito garantido, as pequenas compras que fizemos, foram adquiridas sem qualquer dificuldade. Inclusive para a aquisição de um BODE que nos serviu de animal de tração de uma pequena carroça que transportava os frutos oferecidos à venda na cidade126. Isso durou apenas uma safra.
Ainda na cidade de Cornélio Procópio, também fui vendedor de doces com tabuleiro e tudo. Com as dificuldades financeiras provocada pelo insucesso comercial do meu pai, minha mãe, entusiasmada e disposta em colocar à mostra suas habilidades de cozinheira e doceira que havia herdado da sua família italiana. Seus doces logo obtiveram sucesso na cidade. As encomendas aumentaram quando resolvemos vender seus produtos colocando-os em tabuleiros de pinho muito brancos e higiênicos revestidos com uma toalha de linho branco toda bordada por minha mãe.
Essa atividade comercial não tomava todo o meu tempo. Além de estudar, paralelamente, aventurava-me em auxiliar um jornalista local na tiragem e distribuição do seu jornal semanal, ―O KCT‖ como consta em outra parte deste livro.
Tudo isso cessou quando nos mudamos para Londrina. Depois de migrar por vários empregos que meu pai insistentemente me arrumava, a minha perspectiva comercial mudou, pois passei a conhecer o pessoal que fazia parte do setor jornalístico da cidade. Essa era uma paixão que me dominava há algum tempo e não podia deixar de supri-la sob pena de sentir-me frustrado precocemente. Realmente, era um campo que me satisfazia plenamente, apesar de quase nunca extrair algum dinheiro para a minha sobrevivência. Aliás, essa era uma preocupação que eu quase não sentia, pois apesar das dificuldades financeiras do meu pai, ele nunca deixou faltar recursos em casa e as minhas necessidades vitais eram supridas com o pouco que eu conseguia.
Mas, meus pais viam nessa atividade jornalística, pouco futuro e insistiam que eu fosse trabalhar com um primo, Pedro Domingos Fontana127 que possuía uma pequena torrefação de café. Minha função enquanto lá estive, era de ensacar café moído em saquinhos de ½ e 1 quilo. Prestei esse serviço até aparecer outro também arranjado por meu pai, quando fui trabalhar na Farmácia Minerva, como auxiliar de serviços gerais. Nesse emprego, me foi permitido evoluir a ponto de ser promovido a manipulador de determinados produtos básicos, normalmente a confecção de xaropes que serviam de base a tussígenos e demais produtos similares. Mais tarde, fui prestar serviços à firma dos Irmãos Fuganti, que possuía um complexo comercial de grande envergadura. Fui destacado para seção de loucas e ferragens. O que não durou muito, pois numa entrega de um aparelho de jantar adquirido por um cliente, ao acessar uma escadaria molhada pela recente chuva, acidentei-me escorregando, esfacelando todo o produto que havia sido acondicionado em um saco branco que servira de embalagem para farinha de trigo.
Entre uma função e outra, minhas atividades jornalísticas continuavam, ora prestando serviços a vários órgãos de imprensa, ora servindo de ―foca‖. Expressão usada nos meios jornalísticos para indicar pessoa nova na atividade.
126 Essa, foi uma pequena aventura que ficou viva e ficou gravada na memória por toda a vida. Ver em outra parte deste livro.
127 Pedro Domingos Fontana foi mais tarde o distribuidor exclusivo dos produtos “Sadia” em Londrina.
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Só voltei ao comércio mais tarde em fins de 1958, em razão da minha exoneração do IBGE (Instituto de Geografia e Estatística) 128.
Logo depois, aproveitando uma estrutura comercial do meu pai, a Tapeçaria São Judas Tadeu, que funcionava no inicio da Rua Quintino Bocaiúva em Londrina, auxiliei-o no funcionamento da nova empresa, ―Decorações Bertin‖ que se instalou na Rua Hugo Cabral com uma loja, cuja empresa passou a ser comercialmente denominada de Bertin Indústria e Comércio S.A129. A intenção, era criar uma empresa, onde, além de trabalharmos no ramo de decorações em geral, também iríamos fabricar móveis estofados, que era o que mais sabíamos fazer.
Ora, meu pai tinha sido criado seguindo os ensinamentos do meu avô, que também, nos idos tempos da primeira década do século 20, nada mais era que um ―Talabarteiro‖, tapeceiro de alto coturno. Sua principal especialidade era a confecção de cabriolés, pequenas charretes confortáveis e artísticas, cujas características principais eram a primorosa confecção das tapeçarias internas com cortinas e seus assentos forrados em finíssimo veludo ou couro e confeccionados em ―capitonê‖, sistema de confecção manual que costumava formar na superfície do estofamento dos assentos e encosto desenhos geométricos à semelhança de colméias de abelha130.
Instalamos a fábrica inicialmente em um enorme barracão cedido pelo meu cunhado Remo Veronesi casado com minha irmã mais velha Irene Terezinha (Tere).
Ao retornar de Paranavaí, após a minha auto exoneração do IBGE, às vésperas do Natal, reuni-me com toda a família, inclusive meu cunhado, para deliberarmos o que fazer e como desenvolvermos a empresa que havíamos idealizado em conjunto. Um dos grandes incentivadores dessa iniciativa, como já afirmei, era meu cunhado Remo Veronesi, que entusiasmado, ofereceu-nos o prédio da propriedade da sua construtora que era utilizado como depósito de materiais de construção, mas que naquele momento podia ser dispensado. Depois de entrarmos num acordo que ficou sendo verbal, aceitamos a oferta e imediatamente iniciamos a adequação do barracão a fim de iniciarmos a montagem da fábrica de estofados. Entusiasmados, todos os meus irmãos, pai, mãe e cunhado nos colocamos no ―batente‖, tentando adequar o imenso depósito em algo que mais se aproximasse de um adequado ambiente industrial e comercial. Foi com entusiasmo que o fizemos.
Perto de podermos aproveitá-lo, com a conclusão do piso e pinturas, não chegamos a utilizá-lo, pois, com o rápido desenvolvimento da Construtora Veronesi, a realidade exigiu dos seus sócios; meu cunhado, seu irmão Rômulo e seu pai Arturo, que não nos permitisse continuar com a reforma do prédio, pois necessitavam com urgência da utilização de novos espaços para depósitos de materiais do ramo. Naturalmente, após um acordo que satisfez ambas as partes, fomos indenizados e com aquele recurso financeiro que chegou a boa hora, readequamos um velho barracão que
128 Atividade essa comentada em outra parte deste livro.
129 A empresa tinha como inscrição na Junta comercial do Paraná o n° 29.660 e foi, após sua criação, registrada em 30/12/1961. CGC= 78.598.323/0001-16.
130 Na minha viagem realizada no mês de fevereiro/março/2005, à Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em São Borja, tive a felicidade de visitar as antigas instalações da oficina e tapeçaria onde meu avô, meu pai e tios mantiveram por longos anos suas atividades profissionais. Elas se encontram perfeitamente conservadas conforme mostram as fotos..
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alugamos situado nos fundos de um salão comercial na Rua Minas Gerais, mais ao centro da cidade.
Nesse novo local, pudemos iniciar a atividade industrial da nossa empresa. Em pouco tempo, adquirimos a maquinaria indispensável, contratamos os empregados, adquirimos a matéria prima e iniciamos a fabricação de móveis estofados que continuaram suprindo as necessidades da loja ainda na Rua Hugo Cabral.
Naturalmente, nos meses que antecederam a montagem da fábrica, cada um dos meus irmãos, seguindo as suas vocações, dedicaram-se a pesquisar o mercado, as tendências da moda, os materiais necessários para a fabricação e satisfação dos nossos cliente.
Quanto a mim, aproveitando o convite do Delegado da Receita Federal que naquela época havia sido transferido para Curitiba, fui passar uma temporada na capital, onde aproveitei algumas ligações comerciais e estagiei numa fábrica de móveis estofados, tendo tirado grande proveito no aprendizado.
Novamente em Londrina, concluímos a montagem da fábrica e, durante uma viagem que meu pai realizou ao Rio Grande do Sul, em visita aos seus pais e parentes, aproveitamos a oportunidade e nós, os irmãos Heitor Cesar, Antonio Carlos, Bruno Flavio, Paulo Oscar e eu, integrantes da sociedade, consultada nossa mãe Elisena e com seu aval, resolvemos locar um salão comercial melhor localizado no centro da cidade de Londrina. Acertado tudo com o proprietário do salão comercial, mudamo-nos para essa ampla instalação localizada em local excepcionalmente movimentado comercialmente. Isso nos garantiu sucesso por muitos anos. A Decorações Bertin Indústria e Comércio S.A, com a sua existência ainda recente, em pouco, tempo mudou-se para a Rua Sergipe n° 721, em um vasto salão que inicialmente, apesar de nos parecer muito grande, logo se mostrou pequeno para atender as nossas crescentes necessidades.
Com o funcionamento da loja nesse novo local, ampliamos a fabricação de móveis estofados que a clientela exigente avidamente solicitava. Passamos a fabricá-los com a melhor qualidade, tomando como modelo a sofisticada arte da movelaria italiana. Sem concorrência, logo estávamos nos esforçando para darmos conta das encomendas, tantas que eram.
Antes, ainda na Rua Hugo Cabral, havíamos adquirido o primeiro veículo Kombi, produto de um escambo entre a Decorações Bertin e um comerciante revendedor de móveis de Ibiporã, cidade vizinha de Londrina. Pagamos o veículo fornecendo-lhe móveis estofados e sofás-camas, que tiveram ampla aceitação no mercado. Esse comerciante, lembro-me do seu entusiasmo, foi um dos primeiros a adquirir Sofás Cama, primeiro produto da nossa linha de produção e que estava recentemente entrando no mercado. Foi um sucesso. Nossos modelos eram exclusivos e jamais se repetiam e com isso a aceitação do produto aumentava cada vez mais.
Naturalmente, nossa linha de produção não se limitava apenas ao Sofá Cama. Com meu pai e meus três irmãos mais velhos, não tínhamos dificuldades em criarmos móveis de linhas modernas ou clássicas que logo agradavam a clientela que só crescia. Mantínhamos uma sessão de desenhos que procurava sempre atualizar a
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produção e manter nossos clientes satisfeitos. Paralelamente, enquanto eu e meus irmãos cuidávamos da fábrica de estofados, meu pai e meu irmão Heitor, procuravam desenvolver a parte comercial e principalmente a loja que havia adotado a linha de artigos de primeiríssima qualidade artesanal de estofados finos, muitos trabalhados em ―capitonê‖ e cortinas, que mais pareciam obras de arte. Foi um sucesso por muito tempo. O nome da empresa tornou-se conhecida em todo o norte do Paraná e assim a empresa cresceu.
Quando se escreve memórias, é comum dar ―um branco‖. Ai, se deixa de incluir as lembranças de acontecimentos importantes e que não poderiam deixar de estar presentes nesse tipo de comunicação. Explico: Com o tempo, fui descobrindo que os membros da minha família, mulher e filhos não detinham conhecimento de fatos passados, principalmente naqueles em que eles não participaram pessoalmente e ou, simplesmente, por falta de diálogo durante o relacionamento do dia a dia com os membros da família. Fiquei convencido que nesta minha biografia deveria não só expor os principais acontecimentos que me envolveram, mas, também, todo e qualquer detalhe aparentemente mínimo. Já que este é um livro que esta sendo feito para não se publicado, não vejo inconveniente algum em enchê-lo de ―lingüiça‖.
Mais um motivo que me convenceu a colocar detalhes nesta minha biografia foi quando navegando pela internet, no ORKUT, deparei-me com a participação de um sobrinho-neto, neto de um irmão, Bruno Flavio, que dizia o seguinte: ―Sou Bertin também e sou neto do Bruno Bertin e acho que o nome da minha bisavó era Elisena‖. E ele estava certo com um senão: não era somente ele que nada sabia sobre a sua família. Ora, todos precisam urgentemente de informações, pois no passo que vai indo, dentro de mais uma ou duas gerações, todos, quando se aperceberem será tarde demais. Sentir-se-ão ―parias‖, por não conhecerem suas próprias origens.
Sabem como é; cada um com seus problemas acumulados durante o dia, quando reunidos em casa, acabam desprezando a vida particular uns dos outros e, assim, desconhecemos o que ocorre nas atividades pessoais de cada um. A coisa fica ainda mais nebulosa com os netos, sobrinhos e parentes afins. Convenci-me que não nos comunicamos. Os nossos parentes não se comunicam.
Então, resolvi prestar atenção nos detalhes que estão embutidos no nosso dia a dia. Assim, por exemplo, durante o desenvolvimento de uma das raras conversas que aconteceram durante a reforma de um antigo quarto de empregada transformado em um simpático e acolhedor ambiente que serviria de dormitório alternativo, um dos diversos operários que participou da reforma, Pedro Silveira, exímio colocador de papel de parede e acabamentos afins, comentou com minha mulher o seu antigo relacionamento profissional e de amizade comigo. Lembrou-nos que eu lhe havia prestado um ―grande favor‖ e que por isso, prestava-me seus serviços com muita satisfação131.
Pois bem, em seus comentários, revelou que tudo o que sabia sobre a profissão tinha apreendido quando trabalhava na empresa Decorações Bertin e que foi sob a minha orientação que havia adquirido os conhecimentos que estava aplicando no momento. Com efeito, Pedrinho, como habituávamos o tratávamos, quando foi
131 (explicarei o fato noutra parte deste livro)
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contratado por mim, nada sabia sobre as nossas especialidades profissionais e, somente nos vinte e três anos (23) trabalhados na Decorações Bertin é que se aperfeiçoou, tornando-se um exímio e inteligente trabalhador.
Por ter me dedicado à atividade industrial e comercial por tanto tempo, onde a aplicação dos materiais utilizados requeria a quase perfeição e amplo conhecimento teórico e prático, ainda costumo dar meus palpites, pois a final, foram mais de 40 anos de dedicação. Mas, por óbvio, achava que minha atividade nesse setor não merecia comentário junto aos meus familiares, razão pela qual, percebi que, por falta de conhecimento, as pessoas com quem mantenho relacionamento, não compreendiam minhas criticas e intervenções nos afazeres dos diversos profissionais que prestavam serviços para mim. Falha minha, pois isso costuma ocorrer quando falta dialogo entre as pessoas.
Desfazendo a falsa impressão que muitos têm, terei que explicar aqui a minha posição com detalhes e quais eram as variadas atividades da minha Empresa. Inicialmente, o leitor já deve ter informações suficientes sobre as minhas atividades e percebido a origem do empreendimento que passo a descrever agora com mais detalhes:
Meu avô Julio Emíllio Bertin tinha como atividade profissional uma ocupação que hoje não mais existe, Talabarteiro132, embora ainda conste do CBO133. Na verdade, essa profissão, lá pelos idos de 1906, reunia uma série de atividades que hoje se dividiram em Seleiro; Tapeceiro; Ferreiro; Construtor de carroças (Tilburis); Decorador, Gerente de atividade industrial do setor, etc. Meu pai, na sua juventude, até concluir o ensino fundamental em colégio único disponível em São Borja, adotou os afazeres da profissão e, anos depois, após seu casamento, já em Joaçaba, depois de perambular entre uma e outra atividade, sempre comercial, acabou voltando à antiga atividade e instalou-se com comércio que, de uma forma ou de outra, sempre envolvia sua tradicional ocupação.
Em Londrina, Cesar de Oliveira Bertin instalou-se com uma Tapeçaria que levou o nome de Tapeçaria São Judas Tadeu134. Antes, aproveitando o espaço de uma garagem na residência alugada da Rua Pará, e depois do insucesso do empreendimento comercial na cidade de Cornélio Procópio-PR135 e em Londrina mesmo, com um estabelecimento chamado Bar Brasserie, este, muito bem localizado, mas com uma concorrência muito forte nas vizinhanças, meu pai instalou uma pequena oficina de tapeçaria, onde, além de fabricar estofados e colchões de mola, reformava móveis estofados e afins, na tentativa de sobreviver e dar sustento à família.
Nessa época, estava eu com 14 para 15 anos, e por isso, dedicava meu tempo em estudar e realizar pequenos serviços na Tapeçaria e, com isso, ia apreendendo uma profissão, que mais tarde foi muito útil, como verá em outra parte desta biografia.
132 Talabarteiro - empregador (Selas – É isso que aparece na CBO - Classificação Brasileira de Ocupações do MTr.
133 CBO. Código Brasileiro de Ocupações, publicado e mantido pelo Ministério do Trabalho, com o objetivo de regulamentar as atividades profissionais em todo o território brasileiro.
134 Ele era devoto do Santo protetor das causas perdidas.
135 Estou contado essa passagem da minha vida em outra parte deste livro.
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Não fui muito bem na minha tentativa de refazer o então primeiro ano ginasial que eu havia interrompido por duas vezes; a primeira por nosso deslocamento de Joaçaba para o Norte do Paraná quando nos fixamos na cidade de Cornélio Procópio e depois com a nossa mudança para a cidade de Londrina em 1948.
Entre as minhas naturais preocupações para um jovem da minha idade, passei a me dedicar ao comércio do meu pai. No começo, com muitas dificuldades, pois, com as preocupações do meu pai em conseguir o sustento da família que teimava em crescer, ele apenas tolerava a minha presença136 junto aos seus afazeres. Mostrava-se ele muito auto-suficiente e por isso tinha dificuldade em aceitar ajuda nas suas atividades, de mim e mesmo dos filhos. De qualquer maneira, os anos foram se passando e nesse período, tentei exercer várias atividades, desde empregado na Casas Fuganti como entregador de compras, emprego que consegui por interferência do meu pai, passando por auxiliar de farmácia, onde apreendi manipular bases137 para a fabricação de medicamentos simples, tais como xaropes e linimentos; ensacador de pó de café em uma moagem e empacotamento de café em pó de propriedade do primo, Domingos Fontana, onde minha função era simplesmente ensacar manualmente café em pó para sua comercialização. Fui também ―foca de jornal‖, trabalhando em diversos Jornais e rádios locais, etc. Por conseqüência, e paralelamente, também me relacionei com o pessoal da imprensa londrinense, período que se encontra mencionado em outra parte deste livro.
Após dois ou três anos (1949/50) de estarmos residindo em Londrina, meu pai adquiriu um imóvel residencial na Avenida Rio de Janeiro, onde fixamos residência. Imóvel financiado pela Caixa Econômica Federal.
Nessa propriedade, havia nos fundos do terreno uma vasta construção em madeira, constituída de uma garagem e um barracão muito bem construído. Como até então, nunca tivéramos veículo automotor138, a garagem e o barracão passaram a fazer parte do novo estabelecimento comercial da família. Ali foi montada uma moderna oficina de tapeçaria e colchoaria e de fábrica de móveis (especificamente para fabricar armações para a montagem de móveis estofados). No prédio destinado à garagem, foi montada a marcenaria constituída de diversas ferramentas próprias para desenvolver a oficina: Serra Fita, Serra Circular, Desengrossadeira, Desempenadeira, Lixadeira, Tupia, Prensa e um sem numero de ferramentas afins.
Na parte contigua mais acima do barracão, num amplo espaço, foi montada a tapeçaria e colchoaria, equipada de apropriadas maquinas de costura, bancadas para os encarregados da tapeçaria, estantes para os tecidos, couros e sintéticos, provadores, além de um espaço que servia de recepção e escritório.
Como a atividade se desenvolveu a ponto de absorver todo o tempo do meu pai e o nosso, eu e meus irmãos pudemos nos dedicar com mais cuidado nessa atividade até então exclusiva do provedor oficial da família. Enquanto meus irmãos mais novos procuravam auxiliar na oficina, aproveitei a oportunidade e fui me aperfeiçoar na atividade. Primeiramente, matriculei-me no SENAI para freqüentar um curso de tornearia, marcenaria e ferraria. Lá, também, tive oportunidade de conhecer técnicas
136 Seu comportamento nada tinha de pessoal, pois nos tratava a todos por igual.
137 Xaropes feito de açúcar cristal.
138 Meu pai nunca apreendeu a dirigir automóvel e por isso não se preocupava com isso.
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de administração e, ora vejam só, até conhecimentos sobre eletricidade. Procurando ampliar os conhecimentos que adquiri do meu pai, fui trabalhar em uma grande fábrica de estofados que se instalara em Curitiba. Fiquei lá mais ou menos seis meses e, quando nada mais tinha que apreender139, voltei para Londrina. Em outra parte deste livro, explicarei essa etapa com mais detalhes.
Logo que o bar e lanchonete Brasserie foi passada pra frente a outro proprietário, livrando-se de mais uma tentativa frustrada, meu pai se estabeleceu na Rua Benjamin Constant com uma casa comercial, uma tapeçaria que levou o nome do seu santo favorito, São Judas Tadeu. O comércio prosperou, mas, com algumas dificuldades, pois era de pequeno porte e as bocas para alimentar já eram muitas. Isso ocorreu algum tempo antes da aquisição da residência da Avenida Rio de Janeiro.
Nessa altura, após minha volta para Londrina, e ainda sem rendimentos próprios, procurei, nas horas em que me eram permitidas, fazer algum trabalho de reportagem e fotografia para os jornais locais, tarefas que me proporcionavam algum ganho financeiro e muita satisfação.
Não podia esperar que as coisas acontecessem e por isso prestei Concurso Publico Federal para concorrer a uma vaga de Agente de Estatística do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), que se apresentava como uma grande oportunidade de conseguir um emprego garantido e bem remunerado. Com a minha classificação, deixei de trabalhar com meu pai e fui prestar serviço ao governo federal, preenchendo uma das vagas de Agente Estatístico em Londrina e posteriormente em Paranavaí.
Não demorou muito e meu serviço como funcionário publica federal, lotado em Londrina, fui requisitado para que assumisse uma vaga aberta na cidade de Paranavaí140. Daí, ao exonerar-me do IBGE, voltei para Londrina, onde já havíamos combinado consolidar nossa idéia na fundação de uma empresa que aproveitasse nossa potencialidade comercial. Esse foi o inicio da firma Decorações Bertin Ltda. em 1958, dez anos após nossa chegada a Londrina.
Com a minha volta à antiga profissão, iniciamos a execução do projeto que é a seguir.
Depois de frustrado parte do plano de instalação da empresa, locamos um espaço comercial na Rua Hugo Cabral, para iniciarmos, pelo menos, o setor de comercialização dos artigos próprios da atividade. Nessa altura, com o auxilio inestimável do nosso pai, eu e meus irmãos, principalmente, já havíamos adquirido experiência com o nosso ramo de negócio, a loja fabrica começou a operar com relativo sucesso.
139 Comecei como montador de estofados e concluí como gerente da sessão onde trabalhava.
140 Essa passagem se encontra em outra parte deste livro.
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Fachada da Loja no final da Rua Hugo Cabral, onde aparecem em primeiro plano, alguns funcionários e eu e, logo atrás, Bruno e Heitor..
O ponto comercial não era dos melhores, por isso, enquanto procurávamos um novo local para instalar a fábrica de estofados que fazia parte dos nossos planos, ficamos de ―antenas ligadas‖ em um novo e almejado ponto comercial, procuramos nos concentrar no nosso empreendimento, sempre nos dirigindo à fabricação e comercialização de produtos de primeira linha e de qualidade.
Entretanto, tivemos algumas dificuldades que nos atrasou um pouco na tentativa de encontrarmos e prepararmos o novo local para a instalação da fábrica de móveis estofados, mas, não demorou muito e, locamos um barracão nos fundo de um terreno que tinha como frente um vasto salão comercial que já era ocupado por uma empresa atacadista de tecidos de nome Cunha Rego. Ela era dirigida por um dos sócios da empresa, Ayrton Cunha Rego, do qual privei de duradoura amizade até seu falecimento no longínquo Recife.
Instalada a fábrica em tempo recorde, pois tínhamos a maioria dos equipamentos e ferramentas, assim como já possuíamos grande parte dos profissionais para equipá-la. Começamos a produzir móveis em quantidade e qualidade que bastavam para suprir as nossas necessidades e assim atendermos nossos já numerosos clientes. Coube-me gerenciá-la. Meu pai e meu irmão Heitor se encarregaram de gerir a parte comercial da empresa.
Gostaria de deixar aqui bem claro que, apesar da minha dedicação ao empreendimento e à instalação da empresa Decorações Bertin, nesse período,
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nunca me desliguei totalmente das atividades como repórter, fotógrafo e colunista que desde a minha chegada a Londrina jamais deixei. Mesmo porque, essa minha militância era feita em horários que em nada conflitavam com o horário comercial. A oportunidade que o jornal KCT na cidade de Cornélio Procópio me proporcionou, fez-me eterno admirador pelos profissionais do jornalismo, coisa que mantenho até hoje. O mesmo aconteceu durante meu curto período como funcionário público federal. Mas, meu afastamento das lides jornalísticas só aconteceu anos mais tarde, com a minha mudança para Maringá, quando da criação da nossa primeira filial comercial envolvendo a empresa Bertin.
Pois bem, a fábrica de moveis estofados, onde depositávamos nossas melhores expectativas, se desenvolveu rapidamente e logo tínhamos que nos desdobrar em manter o volume de produção à altura das necessidades. Para isso, procuramos nos aperfeiçoar e a criar novos modelos de móveis estofados, que supriam a grande procura de novidades. Adotamos como fonte de informações, revistas do ramo, principalmente italianas, que é onde eram encontradas as melhores idéias sobre tapeçarias e os mais revolucionários modelos de móveis estofados e de madeira. Paralelamente, visitamos as indústrias nossas fornecedoras localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis, Espírito Santo, Blumenau, Brusque, Gaspar, Itajaí, etc.
Procuramos conhecer as mais diversas técnicas de fabricação, de estruturas de aço próprias para a fabricação de molejos com os quais os móveis estofados eram providos necessariamente. O preparo dos mais diversos materiais, tais como sisal, algodão, aniagem e até espumas, naquela época, a maioria, de procedência italiana ou americana. Os produtos italianos eram os nossos preferidos dado a sua melhor qualidade.
Nossos produtos eram de construção sofisticada e para isso, passávamos horas a fio procurando a melhor forma de executarmos os modelos que criávamos, todos com idéias tiradas das melhores revistas especializadas da atividade. Encarreguei-me pessoalmente desses detalhes, juntamente com meu irmão mais moço, Antonio Carlos (Kiko) a tal ponto que, em pouco tempo, não tínhamos mais nenhuma dificuldade em construir os novos modelos de móveis, não só na sua robustez, mas também na sua beleza.
Nossa fábrica, muito bem equipada, possuía ótimos funcionários e por isso a produção logo se superou e ganhou a preferência dos compradores. Desde a estrutura dos móveis, que eram feitas com os melhores materiais; madeira de pinho escolhido da melhor qualidade141, até a aplicação dos materiais necessários – molas de aço, aniagem, sisal, algodão, espuma e finalmente tecido ou couro para o acabamento dos moveis -, era com cuidado extremo que dávamos o acabamento para no fim colocá-los para comercialização.
Com os aperfeiçoamentos ocorridos durante a produção, passamos inclusive a produzirmos o molejo, adquirindo o fio de aço para a fabricação das molas e materiais necessários. Inclusive, vernizes para acabamento da madeira aparente que, normalmente, fazia parte dos móveis que fabricávamos. Para a técnica
141 Quem nos fornecia o pinho era a Madeireira Phillip de Maringá. O Sr. Carlos Rodolfo Phillip nos permitia escolher as melhores taboas, sem nós, e devolvermos as recusadas com nós, nos mesmos vagões que as transportava de Maringá a Londrina.
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sofisticada, que é comum se verificar nos móveis antigos, modelos dos séculos 15 a 19, usávamos de pátinas, folhas de ouro e tinta à base de ouro para o acabamento dos apetrechos que requeriam tratamento especial. O envernizamento era feito com o lixamento perfeito da madeira, e lhe eram aplicados estrato de nogueira, mordentes e vernizes aperfeiçoados por nós. Aperfeiçoamos a técnica de confecção142 e de tapeçaria, a ponto de, sem baixarmos a qualidade, conseguirmos aumentar a quantidade de produtos de alta qualidade, que eram consumidos com avidez pelo público comprador.
Isso durou até a introdução no comercio nacional dos moveis de linha de produção, lá pelos meados da década de 60. Com as novas técnicas de fabricação, podia-se fabricar móveis com materiais menos nobres com a mesma beleza com que eram fabricados com materiais de alta qualidade e durabilidade com a utilização de mão de obra cara e sofisticada. A mesma beleza, mas não com a mesma qualidade. Para se ter uma idéia; os móveis fabricados por nós, na década de 60 ainda resistiam ao uso na década de 1980, enquanto os moveis fabricados com as técnicas mais modernas tem um prazo muito limitado de uso, não durando mais que alguns anos. E isso se muito bem conservados.
No transcurso de tudo isso, logo logo, o estabelecimento da Rua Hugo Cabral ficou pequeno e não mais suportou o numero de pessoal e volume de negócios que até então eram necessários para o funcionamento e desenvolvimento do nosso prospero comercio.
Entusiasmados, na primeira oportunidade que se nos apresentou e mesmo na ausência do nosso pai que havia viajado para o Rio Grande do Sul para visitar seus pais e parentes, localizamos um excelente ponto comercial na melhor área comercial de Londrina, Rua Sergipe 721, bem em frente da novíssima Estação Rodoviárias e ao lado das mais importantes casas comerciais da cidade e, um tanto quanto temerosos e com o aval da nossa mãe, firmam-se contrato de locação do salão por cinco anos, sem reajuste de alugueis. Foi ―uma pechincha‖ 143.
O proprietário, Yervan Boyadjan, um libanês excelente, tanto como ser humano como comerciante, ao perceber que não tínhamos qualquer experiência no trato com locações, tudo fez para que no contrato constassem todas as cláusulas necessárias e que fossem aprovadas pelo nosso pai quando estivesse de volta da sua viagem. Bons tempos aqueles em que se acreditava apenas na ―palavra‖ e no caráter das pessoas.
Minha mãe se encarregou de convencer nosso pai em assinar o contrato de locação na forma que estava. Foi um bom negocio realizado. Esse imóvel ficou a nossa disposição até a dissolução das Decorações Bertin, por 39 anos, de 1960 a 1999.
142 Burles, capitonê, pespontados, etc.
143 vantagem; valor mais baixo a ser pago por algo; mercadoria cujo valor é mais baixo do que se espera.
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A empresa se desenvolveu e se consolidou e, prosperou, a ponto de haver necessidade de abrirmos outros pontos de venda. O primeiro instalou-se em Maringá em Setembro de 1967.
Foi assim: Já fazia algum tempo que havíamos decidido que, para desenvolver nosso comércio, teríamos de expandir, não só a fabrica como também a parte do comércio a varejo. O atacado foi uma atividade passageira, pois a procura dos nossos produtos se dava na área do varejo e, por mais que produzíssemos, mal davam para suprir a essa clientela.
Enquanto nós, os irmãos, cuidávamos da fabricação de móveis estofados e comercialização respectiva, meu pai se dedicava em atender nossa clientela, ávida em dotar suas residências e escritórios com as mais sofisticadas tapeçarias e cortinas que ele, com toda a sua arte, sabia produzir. A secção de cortinas prosperou rapidamente e, logo essa parte do nosso comércio, adquiriu fama pela qualidade das tapeçarias que eram colocadas à disposição de todos. Embora o que predominava nossa produção não fosse a desse departamento, ficamos mais conhecidos por essa particularidade, tal era a qualidade e beleza que nossos artigos caiam no gosto da clientela. Mãos à palmatória: meu pai, nessa atividade foi insuperável.
Já fazia algum tempo que discutíamos a necessidade de expandirmos nossos negócios e a solução apontou-se como óbvia. Certo dia, meu pai perguntou-me se eu estava disposto a ir até Maringá para visitar nossa clientela. Combinamos a viagem para o dia seguinte e para lá nos deslocamos, utilizando para tal, do único veículo da empresa, a Kombi que havíamos adquirido daquele comerciante de móveis de Ibiporã.
Depois de fazermos o trajeto entre Londrina e Maringá, passando por Apucarana em pouco mais de uma hora, chegamos a Maringá trafegando pela Avenida Colombo até a confluência com a Avenida São Paulo. Adentramos por ela até o cruzamento da Avenida Brasil e estacionamos na esquina da Loja Genko. Do mesmo lado se encontrava o amplo estabelecimento comercial dos Irmãos Fuganti e para lá nos dirigimos para procurarmos o seu Diretor Julio Alberto de Oliveira Fuganti144, nosso parente, meu primo. Fomos procurar por ele à procura de informações e discutirmos sobre a possibilidade de abrirmos uma filial das Decorações Bertin na cidade. Atendeu-nos com alegria e satisfação como todo parente deve receber os seus. Depois de demorados esclarecimentos, saímos dali informado de que na esquina da Rua Santos Dumont com a Rua Piratininga havia um salão desocupado que pertencia a um comerciante, descendente de árabes católicos e que residia em Ivatuba. Após almoçarmos, despedimo-nos de ―Julinho‖ e rumamos para Ivatuba à procura de Munir Manoel, como nos havia informado nosso primo.
Já deu para perceber que a proclamada visita à clientela ficaria para depois.
Chegamos a Ivatuba, depois de enfrentarmos uma estrada em terreno arenoso não pavimentado, mas, bem conservado, que se desdobrava ao até o Distrito vizinho. Chegamos lá com a tarde bastante avançada, mas com o sol ainda brilhando, e encontramos facilmente com Munir Manoel, após nos informarmos sobre ele com
144 Oliveira, porque, sua avó era irmã da minha que tinha o sobrenome em questão.
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transeuntes logo à entrada da cidade. Encontramo-lo baixando as portas do seu estabelecimento comercial, pois já eram mais de 18 horas. Cumprimentá-lo, nos identificando e lhe comunicamos da nossa intenção, o que logo o apressou em nos atender. Terminou sua tarefa de cerrar as portas da loja, convidou-nos até a sua residência que ficava a poucos passos e nos instalamos na ampla varanda da sua ampla e confortável casa de madeira.
Após aceitarmos sua oferta para saborearmos um cafezinho à moda árabe e, enquanto solvíamos a deliciosa bebida, tratamos de expor nossa intenção em locarmos seu salão comercial de Maringá. Pessoa de fino trato, não nos foi difícil combinarmos com detalhes o nosso contato e, já com o compromisso de nos encontrar com seu contador de Maringá, onde deveríamos assinar o contrato de locação com tudo combinado.
Feito isso, empreendemos a viagem de volta, pois já se fazia tarde e voltamos a Maringá no dia seguinte, certos de que havíamos realizado bons negócios. Assinado o contrato e no mesmo dia contratamos o escritório de contabilidade que nos acompanharia até o encerramento das nossas atividades em 1997. Enquanto o processo de instalação era feito pelo escritório, tratamos logo de por mãos à obra, a fim de apressarmos a instalação da nova loja e, ao mesmo tempo em que eu deveria providenciar a mudança da minha família para Maringá.
Logo, percebi que minha mudança definitiva só seria possível quando a instalação da sucursal das Decorações Bertin estivesse pronta e em funcionamento.
Foi uma verdadeira maratona: A empresa possuía apenas um veículo, o que de inicio nos obrigou a adquirir um novo para ficar à disposição da Matriz em Londrina. Uma vez solucionado esse detalhe, mas que nos retirou boa parte dos recursos financeiros para a nova casa, comecei auxiliado pelo funcionário mais antigo e de confiança, Boris Stafief, que me auxiliava no transporte dos materiais iniciais necessários para a instalação da loja. Na medida do possível, aproveitamos balcões, estantes e prateleiras disponíveis e as transportei a Maringá, sempre à noite. Por serem as noites mais frescas e de menor movimento nas estradas. Tinha ainda uma vantagem, com o transporte das mercadorias à noite, sobrava-nos a parte do dia que era dedicado à prestação de serviços comuns do comercio. Boris permaneceu comigo em Maringá por longos anos, facilitando-me na minha tarefa.
Aqui, gostaria de fazer uma paradinha e falar um pouco sobre esse funcionário e também, amigo.
Eu conheci Boris num baile promovido pelo Clube Alemão (AREL). Embora nem ele nem eu tivéssemos afinidade com os alemães, tanto ele como eu lá nos encontramos por ocasião de um concurso de valsas vienenses promovido pelos aficionados desse gênero maravilhoso, a Valsa Vienense. Naquela noite de sábado, depois de ter estado no Londrina Country Clube, saí à procura de um local onde pudesse me divertir. Estava só, como costumava ser. Embora tivesse a minha turma, alias duas, uma de amigos que eu conhecia nas minhas lides profissionais; comerciários, ―focas‖ 145 de jornais e rádios de Londrina e Rolândia e duas, de
145 : Focas”: expressão utilizada entre os profissionais do jornalismo que significa - no jargão jornalístico, profissional iniciante, principiante.
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amigos nisseis, quase todos haviam sido meus colegas de segundo grau, no Colégio Estadual Vicente Rijo.
Pois bem, O Clube Alemão ficava próximo do Country e eu já sabia que iria haver o concurso de danças. Como eu gostava de valsas, fui lá, na tentativa de assistir o concurso e acabei me envolvendo nele. Eu já conhecia Boris de vista e por isso acabei me sentando à mesa em que ele estava com sua noiva e mais alguns ocupantes. Após as apresentações de praxe, fui apresentado também a uma garota filha do casal de alemães que compunha a mesa.
Anunciado o concurso, e por insistência dos presentes e a de Boris, acabei me inscrevendo e participando do concurso, tendo como parceira a citada garota. Terminado o concurso que revelou como vencedor o casal composto por Boris e sua noiva, ao final do baile, convidei-o para que fizesse parte da nossa equipe de trabalho. Ele aceitou e trabalhou conosco até se aposentar por tempo de serviço, trinta e cinco anos depois. Direi mais sobre ele em outra parte deste livro.
A nova instalação de Maringá prosperou rapidamente e logo começamos a transferir mercadorias que seriam comercializadas a varejo. Boris continuou a fazer as viagens necessárias para o abastecimento da loja e eu durante os dois últimos meses, agosto e setembro de 1967, com o estabelecimento quase pronto para funcionar, comecei a entrar em contato com a imprensa para iniciarmos a necessária publicidade e ao mesmo tempo, inscrevi Decorações Bertin na ACIM, Associação Comercial, como novo membro, iniciando assim um relacionamento que mais tarde me conduziu à presidência daquele órgão.
Funcionamos na Rua Piratininga, esquina com a Rua Santos Dumont, perto de dois anos e logo senti a necessidade de procurar um novo local, pois onde estava a loja, apesar de nos ter dada a oportunidade inicial, era um local de pouco movimento de pessoas, que não nos satisfazia plenamente.
O nome da empresa já se fazia notar nos meios da mídia maringaense, pois os dois jornais locais em atividade naquela época veiculavam nossa propaganda, assim como as rádios, principalmente com a Rádio Cultura que eu já vinha mantendo relacionamento desde a época da sua instalação definitiva na Avenida Herval com a Av. XV de Novembro, na qual eu estive presente.
Sempre acreditei que a propaganda era a alma do negócio, e por isso, procurava manter ligações com muitos profissionais de imprensa e também com outros comerciantes que se mostravam simpáticos às minha idéia sobre a publicidade. Foi assim que conquistei a amizade com inúmeros comerciantes que me levaram a manter estreito contato com a Associação Comercial de Maringá, onde mais tarde fui eleito seu presidente. Nessa ocasião, conheci um comerciante árabe Libanês que se transformou em um grande amigo, Mohamed Kassen.
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Kassen Mohamad Assaf
Kassen Mohamad Assaf e sua esposa Ruchdie Said (Judite)
Nesse ínterim, a empresa foi adquirindo solidez e tradição e, por isso, ela suportou a crise que ocorreu na década de 70, quando fomos obrigados a repensar a forma de fazermos comércio. Essa nova era do comercio, em minha opinião, estendeu-se até o final da década de 90 e foi o período em que as coisas foram melhores para todos.
Criamos outras empresas do Grupo em Maringá, Decorações Bertin (estabelecimento misto de decorações); ―O Tapetão‖ (comércio de revestimento de pisos e tapetes); em Umuarama, estabelecimento semelhante ao de Maringá, e com o desenvolvimento comercial rápido chegamos a fornecer nossos produtos para todo o Norte do Paraná, Paraguai, sul do Mato Grosso e sudoeste do Estado de São Paulo.
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No período áureo da minha empresa146, julguei necessário reforçar o quadro diretivo da casa de Maringá e assim, passou a integrar a estrutura, meu sócio e irmão Bruno que veio reforçar e aliviar o intenso trabalho que eu havia desenvolvido até então.
Paralelamente, associei-me com a empresa ―Empro‖ de um amigo meu o Engenheiro Oberon Diter - Fui associado à essa empresa de construções, cujo proprietário original era José Meireles, secundado pelo Professor e engenheiro Oberon Diter. Entrei no negócio a convite dos dois, pois eu era proprietário de uma área de terras, ao lado da Marmoraria Marin, constituída por uma área de bom tamanho, mais ou menos três mil metros quadrados, área esta que supriu à minha quota parte do empreendimento. Essa área permitiu que a empresa reforçasse seu estoque de imóveis colocados à venda com a construção de cinco casas residenciais. Foi-me acenado com uma sociedade, onde eu participaria dos lucros do empreendimento e receberia uma propriedade na Avenida Brasil n° 584, que foi transferida e escriturada em meu nome imediatamente e onde fixei minha residência.
Com isso e mais a garantia da presença do Engenheiro Oberon Diter que dava ao negócio segurança, iniciamos imediatamente a construção dos imóveis. O terreno, uma vez escriturado à sociedade, foi dividido em seis partes, sendo que um, foi vendido para que se obtivéssemos parte do capital inicial do empreendimento, pois a recém sociedade não possuía caixa para iniciar, a não ser o aval de Meireles que possuía vasta área de terras na região leste de São Paulo, na área serrana, em Registro.
Mais tarde, com o andamento das construções, necessitou-se de mais recursos financeiros e, entraram na sociedade mais duas pessoas que ofereceram certas vantagens que nos pareceu a solução perfeita para a conclusão das obras. Com ―carta branca‖, Meireles dirigiu a negociação que resultou no prosseguimento da iniciativa e, assim, o empreendimento foi concluído.
Paralelamente, a EMPRO incorporou uma área de terras nas proximidades do Parque Exposição que veio a ser o Jardim da Glória. Meireles não era um empresário muito esperto e acabou perdendo sua participação, nesse empreendimento, envolvendo-nos, Oberon e a mim em negócios que nos levaram a bancarrota.
Mas, a minha empresa, Decorações Bertin, ia de ―vento em popa‖. Tanto em Londrina como em Maringá, estávamos obtendo grande sucesso no crescimento e desenvolvimento de uma atividade que não tinha concorrência perceptível. Nesse ínterim, a empresa foi adquirindo solidez e tradição e, por isso, ela suportou a nova era do comercio até o final da década de 90.
Criamos outras empresas do Grupo em Maringá, Decorações Bertin (estabelecimento misto de decorações); ―O Tapetão‖ (comércio de revestimento de pisos e tapetes); em Umuarama, estabelecimento semelhante ao de Maringá, e com o desenvolvimento comercial rápido chegamos a fornecer nossos produtos para todo
146 Foi Bruno Flávio que me socorreu. E, entusiasmado, chegou a Maringá rapidamente, com a família toda. Com a presença dele, foi-me possível dedicar boa parte do meu tempo ao SIVAMAR que havia sido criado por mim há algum tempo.
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o Norte do Paraná, Paraguai, sul do Mato grosso e sudoeste do Estado de São Paulo.
Introduzo aqui mais um capítulo referente à minha participação profissional da área do comércio. Espero que o leitor compreenda que não tenho a sorte e o privilegio de ser escritor, mesmo porque, meu conhecimento da língua e dos segredos necessários a uma boa composição literária, é sofrível. Perdoem-me por isso.
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E SIVAMAR
Tão logo me estabeleci com a empresa Decorações Bertin em Maringá, procurei manter contato com as entidades sociais e profissionais existentes na cidade. Não esperei ser convidado, procurei me informar sobre todas e logo me associei à (ACIM) Associação Comercial e Industrial e Agrícola de Maringá passando a freqüentá-la com assiduidade, sem qualquer objetivo pré-fixado, a não ser por necessitar juntar-me aos colegas empresários comerciantes da cidade. Seria o ―espírito de grupo‖ necessário para que se obtenha força nas reivindicações da categoria.
Nessa altura, eu já tinha conquistado inúmeros amigos comerciantes e industriais da cidade, entre os quais; Antonio Barbara, Divanir Braz Palma, José Pacheco dos Santos, Kassem e outros e contando com suas vontades, com seus apoios e com o tempo, entrosado, acabei por me candidatar à Presidência, sendo eleito e assumindo esse importante cargo por dois anos, de 1974/75. Fui seu 11° presidente a contar da data de fundação da ACIM: 12 de abril de 1953. Minha proposta para ser eleito, estabelecia como plataforma eleitoral, aumentar-lhe sua representatividade e seu quadro social que, a meu ver, era muito pequeno, assim como ampliar e aperfeiçoar o (SEPROC) Sistema de Proteção ao Crédito do comércio da cidade que, nessa altura, prestava excelentes serviços aos empresários, mas que necessitava urgente sua ampliação.
Contando com um eficiente secretário, Dr. Herbert Maya, um esperto advogado, Antonio Sergio Gabriel, Zenaide (encarregada do SPC) e demais funcionários, dediquei-me à tarefa. Iniciei uma campanha com o objetivo de tornar a finalidade e os serviços da associação ainda mais conhecida, conseguimos conquistar a simpatia dos empresários, aumentando assim o seu quadro social e ao mesmo tempo em que adquirimos maior número de linhas telefônicas para suprirmos o sistema de proteção ao crédito que funciona com perfeição até hoje.
Graças ao empenho dos demais membros da entidade, não tive grandes dificuldades em administrá-la. Fui premiado pela presença de grandes advogados, entre os quais, destaco o agora Procurador Geral da Justiça do Trabalho, Doutor Nacif Algure Neto, filho de um grande amigo meu e que era tratado por todos nós de ―Zé Mineiro‖.
No mesmo ano da minha posse (1974), prossegui no processo de criação do sindicato patronal do comércio varejista para Maringá iniciado em dezembro de 1973.
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Isso foi possível graças ao interesse demonstrado pelo presidente da Federação do Comercio Varejista do Estado do Paraná Dr. João Kracik Neto que encarregou o então gerente do SENAC de Maringá, Sr. José Cardoso147 de me procurar e fazer com que eu me interessasse na criação de uma entidade sindical que reunisse em seus quadros o comércio varejista da região.
Luiz Julio Bertin e João Kracik Neto, Presidente da Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná. Foto da ocasião em que fui eleito Vice Presidente da Fevarejista. 1976.
Alegou Dr. Kracik que só seria possível a criação e instalação do sindicato patronal se a ACIM desse o seu apoio, pois seria quase impossível que, sem esse apoio, as autoridades Federais do Ministério do Trabalho aceitassem o registro de um sindicato patronal, posto que, com o regime austero da Ditadura Militar, só pessoas e entidades insuspeitas poderiam indicar e patrocinar esse tipo de associação sindical. Argumentou que tinha informações seguras que aquele era o momento propício, pois, sabia que eu tinha o espírito público necessário para tal empreendimento, ainda mais sendo presidente de tão poderosa entidade148.
Nunca fui vaidoso, mas a argumentação me cativou e por isso aceitei a incumbência de imediato, somado ao fato de que as empresas comerciais de Maringá estavam, naquela época, sujeitas a obedecerem às Convenções e Dissídios Coletivos de Trabalho realizados em Curitiba pela Federação do Comércio Varejista e Federação
147 Caiu em terra fértil, pois no ano anterior jê me preocupava em criar um sindicato que representasse a categoria do comércio varejista de Maringá.
148 Embora já fosse filiado ao MDB, nunca confundi política partidária com a minha vontade em criar o futuro sindicato Sivamar. Assim, se alguém ficou surpreso com a tendência de centro esquerda que eu possuía, foi coisa da sua própria cabeça. Kracik não parecia se importar com isso, pelo menos nunca revelou.
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dos Empregados do Comércio do Estado do Paraná e o sindicato local, Sincomar, representante dos empregados no comércio de Maringá e região.
Ora, isso contrariava e dificultava seriamente os interesses do comércio varejista da cidade, pois, as exigências e os termos das reivindicações dos operários eram feitos nos moldes e com os parâmetros da capital do Estado em detrimento dos interesses da cidade e da região. Era, realmente, necessário que se fizesse alguma coisa para corrigir a situação.
Entrosado e absorvido pelos problemas da Associação Comercial, não podia perder muito tempo na nova tarefa e coloquei mãos à obra. Em pouco tempo, com a ajuda da Fevarejista e de seu preposto, a nova entidade logo estava preparada para ser registrada no Ministério do Trabalho, inicialmente como Associação dos Lojistas do Comércio e do Comercio Varejista de Gêneros Alimentícios, de Maquinismos, Ferragens e Tintas, de Materiais Elétricos e Eletrodomésticos de Maringá em 1974 e, só mais tarde, em 1976 como Sindicato Patronal, adotando os nomes representativos originados pela associação e adotando a sigla de SIVAMAR.
Ao findar o biênio 1974/75, como presidente da Associação Comercial e3 Empresarial de Maringá, além de dedicar-me com mais atenção ao gerenciamento da minha empresa, aumentei a minha dedicação para a criação e consolidação do novo Sindicato.
Em pouco tempo, consegui a montagem de uma estrutura adequada, com equipamentos modernos, contratando funcionários e advogados. Convoquei as primeiras assembléias e reuniões para discutirmos os inúmeros problemas existentes que iam se acumulando e que vinham penalizando o comercio regional e, principalmente, o maringaense. Na ausência de um órgão representativo legal que deveria tratar os problemas específicos da categoria econômica, os empresários logo compreenderam o alcance da iniciativa, além daqueles 150 iniciais, cujas empresas já haviam aderido ao novo sindicato.
Naquele tempo, todos os problemas eram resolvidos com a interferência do Ministério do Trabalho, gostássemos ou não. Um dos mais polêmicos dispositivos que fazia parte do sistema sindical era a Contribuição Sindical, um imposto que tem o nome de contribuição, muito polêmico e discutido; herança da ditadura Vargas. Mas, era com essa contribuição com que tínhamos de contar para suportar as despesas da entidade, nem sempre compreendida pela categoria econômica varejista. Juntamente com o trabalho de convencimento que se tornava necessário e com o auxilio do Ministério, tivemos que organizar o departamento de arrecadação, sem o qual seria impossível nossa sobrevivência. A Fevarejista, comandada por uma diretoria dinâmica e competente, nos deu base para que pudéssemos sobreviver no primeiro ano de instalação, emprestando-nos quantia substancial.
Com numerário suficiente que nos foi cedido pela Federação Varejista, montei o Sindicato no andar superior do Edifício Saulo Virmond, que se localizava na Avenida Herval 606, primeiro andar. Adquiri todos os móveis e equipamentos necessários, inclusive telefones, que naquela época eram de custo elevado149 e, iniciei as
149 Pagava-se em dólares.
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atividades já com uma boa equipe de funcionários. Tendo José Cardoso como secretário provisório e experiente, a entidade prosperou rapidamente, atuando nas áreas certas e suprindo as deficiências ocasionais.
Foi uma fase épica e, para demonstrar isso, transcrevo um relato da minha participação no Sivamar que pode parecer repetitivo, mas, contendo maiores detalhes:
No recém-criado SIVAMAR, depois de vencer as principais dificuldades: divulgação; trabalho de convencimento junto aos comerciantes varejistas; convocação para a criação da entidade; realização da primeira assembléia, com a participação das 150 empresas que aderiram à idéia; eleição da primeira diretoria (provisória); instalação da sede localizada em prédio alugado (Avenida Herval 606, andar superior); contratação de funcionários; aquisição de equipamentos, iniciei a atividade com um bom respaldo técnico e de pessoal, e que, daí para frente tudo iria se transformar em rotina.
Transcorrido os quase dois anos de funcionamento como associação (assim era a regra por exigência da Lei), e vencido o meu tempo como Presidente da Associação Comercial e Industrial de Maringá, tratei de tornar possível o efetivo funcionamento do SIVAMAR.
Tivemos todo o apoio da FECOMERCIO, comandada pelo eminente João Kracik Neto, que jamais se negou em nos apoiar, mesmo quando solicitei um empréstimo vultoso e que serviu à aquisição dos equipamentos e aos primeiros numerários para o pagamento dos serviços essenciais, tais como: primeiras despesas e a compra do material de escritório e, até salários. A partir daí, nunca em sua história, pelo que eu me lembre, o sindicato teve dificuldades financeiras ou econômicas até o meu afastamento e posse de um novo presidente e nova diretoria que passou a conduzir os destinos do Sivamar, 23 anos depois.
É de justiça fazer constar aqui a intensa participação de José Cardoso150. Além de ser o encarregado pelo presidente João Kracik Neto para procurar um comerciante interessado na criação do futuro sindicato - o que acabou recaindo sobre a minha pessoa - , teve o encargo de manter os primeiros contatos com os comerciantes locais e convencê-los a participar da entidade. Eficiente, Cardoso contra argumentava decididamente com os empresários que eram por ele procurados, quando esses afirmavam que já existia a ACIM e por isso não havia necessidade de nova associação que representasse o segmento comercial. Vencida essa barreira e depois de algum tempo, o trabalho ficou pronto e foi decidido o prosseguimento da consolidação da idéia. O que realmente aconteceu. Aos leitores que estiverem interessados na história do Sindicato Sivamar, poderão procurar, na internet, um extenso trabalho redacional que elaborei, baseado nos livros ―diário‖ e demais documentos da entidade. Nesses livros, revelo detalhes particulares que os tornam interessantes, não só como leitura, mas, também como fonte histórica.
Eu e a Lei
150 - Ele era, na época, o diretor do SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial-entidade comandada pela Fevarejista) em Maringá.
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Quem nunca se envolveu com a Lei? Não fui exceção. Assim, resumidamente, irei relatando alguns fatos que me vem à memória e que tornou minha vida menos monótona.
1949, voltava do colégio Professor Vicente Rijo e já estava quase chegando a casa, na residência da Avenida Rio de Janeiro, quando me deparei com um bicicleta encostada no balaústre da cerca da casa que antecedia a minha. Era perto do meio dia. Passei por ela e, apenas gravei na memória a cena. Já em casa, almocei e me dirigi à sala de visitas, ligando a vitrola e colocando um disco long-play. Acomodei-me no sofá para ouvir a musica escolhida. Isso eu fazia todos os dias, escolhendo sempre alguma gravação orquestrada, óperas ou escolhia um dos meus cantores preferidos; Enrico Caruso, Mario Lanza, Beniamino Gigli, Tito Skypa, Carlos Gardel, Vicente Celestino e Francisco Alves. Das vozes femininas, minhas preferências recaiam em Maria Calas, Edit Piaf, Ima Sumak, Ângela Maria, Emilinha Borba e outras.
Passado algum tempo, dei uma saída à rua e, deparei-me novamente com aquela bicicleta. Como fazia já, algumas horas que alguém a havia abandonado, inocentemente, resolvi dar umas voltas com ela. Rodei algumas quadras e retornei à minha casa com a intenção de repô-la no mesmo lugar que a encontrei. Nem me preocupei com um grupo de pessoas que se encontravam na esquina. Ali chegando, com a intenção de encostar a magrela na cerca onde eu a encontrara, fui agarrado por um dos adultos, recebendo voz de prisão, acusado de ter furtado o veículo.
Embora eu fosse ainda menor de idade, fui levado à cadeia da Rua Sergipe e trancafiado sozinho em uma cela, à espera do Delegado Nabor, que não tardou a chegar. Reconheceu-me logo, pois nesse tempo eu militava nas lides da imprensa londrinense , como ―Foca‖ de Jornal. Esclarecida a situação, saí livre sem maiores conseqüências, mas com aquele sentimento de revolta que sentimos quando somos agredidos injustamente. Naturalmente, essa ocorrência permaneceu em segredo e por isso logo esquecida.
Noutro acontecimento, por pouco não me envolvi, novamente com os homens da Lei. Livrei-me do episódio, graças à intervenção do meu pai, não sem antes levar uma reprimenda. Atrevidamente, fiz uma aposta com um barbeiro que fazia ponto no Hotel Londrina, bem perto da minha casa. Tratava-se do seguinte: Esse profissional estava oferecendo a todos um anel de ouro com uma pedra que ele afirmava ser preciosa, um diamante parcialmente lapidado. Com a irresponsabilidade de um garoto, provoquei-lhe afirmando que aquela pedra não era de diamante. Estava disposto de aceitar aposta para prová-lo. Era. Perdi a aposta, cujo objeto era um rádio a pilha que eu possuía. Para paga-lo precisava ir até a minha casa, fui, mas não voltei.
Dias mais tarde, meu pai deve ter sido procurado pelo barbeiro e ouvido toda a história. Depois de tomar conhecimento de tudo, obrigou-me a levar o rádio e ainda apresentar minhas desculpas. Fui até a barbearia, e, envergonhado, paguei a aposta. Serviu de lição, pois nunca mais fiz aposta com ninguém. Nem mesmo faço apostas lotéricas ainda hoje.
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Aos sábados e domingos, meu caminho, invariavelmente, ao sair de casa era seguindo a Avenida Rio de Janeiro até o Bar do Seu João, onde meus amigos da imprensa se reuniam. Nesse Bar, também se reunia a ―fina flor da malandragem‖. Mas era aquela malandragem dos jogadores de bilhar e snook, que eu também curtia a ponto de passar horas e horas, atravessando a noite.
Pois bem, numa dessas ocasiões, ao transitar pela calçada da Avenida Rio de Janeiro, procurando atingir o Bar Elite, uma pessoa aproximou-se de mim e me passou rapidamente um objeto que eu identifiquei como uma arma dentro do seu coldre. Ao me passar o revolver, já o fez, enfiando-o no meu bolso interno do casaco. Feito isso, desceu rapidamente a rua e dobrou a esquina da Rua Sergipe, desaparecendo, para nunca mais tornar a vê-lo. Nesses poucos minutos, percebi o motivo de toda aquela inusitada confusão; era uma ―batida policial‖ que estava a procura de pessoas que haviam se metido numa confusão logo acima da Avenida Paraná. Fiquei preocupado e por isso, desci a rua, entrando na Rua Sergipe e, rumei para a Delegacia de Polícia que ficava alguns quarteirões mais à frente.
La chegando, fui logo entrando, pois, em razão das minhas atividades como repórter era conhecido por todos, sem que fosse incomodado e nem perguntado da minha visita. Entretanto, um dilema surgiu na minha cabeça; deveria denunciar a arma que estava comigo? Qual a explicação que deveria dar? Sem resposta, calei-me e fiquei com a arma. Por muito tempo fiquei preocupado com a posse da arma, mas, como não fui procurado pelo ―dono‖ da arma, acabei vendendo-a a um policial, meu amigo.
Muitos anos se passaram. Em Maringá, como presidente do Sivamar, fui acusado publicamente por um comerciante, de me haver apossado de um cheque de baixo valor, de sua emissão. Esse cheque, com ele fora feito um pagamento de Contribuição Sindical da sua empresa, que, normalmente, deveria ser depositado na conta bancária do sindicato. Mas não o foi. O tesoureiro me ressarciu com esse cheque por conta de um ressarcimento de despesas que eu havia feito para a entidade e pago do meu bolso. Assim ele foi parar na minha conta pessoal, ocasionando todo esse constrangimento. Eu conhecia o emitente do cheque151 e fiquei preocupado com a forma que agia, pois, procurou diretamente os jornais locais, denunciando-me.
Isso me obrigou a processá-lo por injuria e calunia. Passado algum tempo, foi marcada uma primeira audiência, onde foi feito um acordo amigável, com a desistência no prosseguimento da Ação, onde esse comerciante reconheceu que errou e, da minha parte com a retirada da Ação em Juízo. Menos mal!
Nas lutas do dia a dia, estamos sujeitos a certos acontecimentos que são inevitáveis. Tal aconteceu com uma nova aventura jurídica, só que, dessa vez, não foi possível conciliação. Sindicalista dedicado em defesa dos seus representados, presidente do Sincomar, sindicato dos empregados no comercio de Maringá, nas suas persistentes investidas verbais, acabou por me injuriar, fazendo por veicular suas verbologias na imprensa local: O Diário do Norte do Paraná e O Jornal de
151 Era um comerciante árabe conhecido na cidade, que não participava pessoalmente de qualquer atividade, tímido, na verdade. Fiquei realmente surpreso, mas em pouco tempo deu para perceber que havia mais alguém interessado em me injuriar, preparando terreno para uma futura eleição da entidade. Era o primeiro sinal de oposição que mais tarde se formou e veio a concorrer nas eleições sindicais.
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Maringá. Não fosse a repercussão que ampliou ―n‖ vezes esse acontecimento, poderia ser esquecido, mas, a irresponsabilidade dos seus proprietários permitiu que um pequeno incidente se transformasse em matéria sensacionalista.
Como presidente de uma entidade que precisava ser respeitada a todo o custo, não podia deixar de depositar o caso na justiça para que houvesse ressarcimento e a honra recuperada. E, esclarecimentos necessários para que nenhuma duvida pairasse sobre o assunto.
Isso aconteceu durante o desenrolar de conversações sobre uma Convenção Coletiva entre os sindicatos patronal e profissional. Tudo estava se tornando demasiadamente cansativo pela demora das negociações. O presidente operário era conhecido pela sua impaciência e irreverência. Estava sendo muito difícil nosso relacionamento, agravado pelo interesse que a imprensa local vinha dando ao assunto. Naturalmente, por detrás de tudo, vários interesses estavam em jogo:
Entidades patronais defendendo orientações de grupos políticos, profissionais da imprensa comprometidos com pessoas ou facções sócio-políticas e os próprios empresários representados pelo Sivamar, mas, não associados à entidade e, necessariamente, os profissionais representados pelo Sincomar.
Muitos preferiam ficar de fora de tudo e criticar. Não se associavam às entidades, e não compareciam às Assembléias, foro próprio e onde se discutiam assuntos da categoria e se estabeleciam os parâmetros das negociações coletivas de trabalho.
Sempre adotei um princípio indiscutível com base na democracia. Logo na primeira Assembléia patronal em que se analisava e discutia os termos do rol de reivindicações, um dos itens que sempre constava dos editais de convocação era a formação de uma comissão de empresários encabeçado por um membro presidente, que tinham como função, única e exclusivamente, manter contato com o presidente do órgão profissional. Nesse caso, com a comissão dos comerciários e também presidente do Sincomar. Diferentemente, a assembléia do seu sindicato nunca constituída uma comissão. O presidente preferia ser assessorados pelos seus advogados e funcionários.
Assim, todas as vezes que se chegava a um impasse nas conversações, a coisa emperrava. Ficava-se dias e as vezes, meses, ―atolados‖ nos argumentos de ambas as partes. Para os que ficavam de fora, esses contavam, como único meio de informação, a imprensa local. De nada adiantava os comunicados originários dos sindicatos envolvidos. Como meio de aumentar suas tiragens e vendas, os órgãos de divulgação veiculavam opiniões que defendiam vários interesses e que nem sempre eram os que interessavam às categorias econômicas e profissionais.
Esse pessoal profissional, jornalistas e repórteres, insistentemente procuravam extrair informações dos dirigentes sindicais e mais especificamente dos seus presidentes. Pois bem, nessa ocasião em que os ânimos estavam esquentados, dois dos maiores jornais locais, divulgaram pronunciamento do presidente operário, em cujas páginas fora veiculado palavreado injurioso utilizado pelo presidente do Sincomar, contra a minha pessoa. Chamada em primeira página com ramificações
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nas páginas internas dos dois jornais. Naturalmente, na imprensa falada e televisada a matéria foi divulgada com base na veiculação da imprensa escrita.
A partir daí, convoquei assembléia específica, onde pedi o meu afastamento das conversações que se encontravam paralisadas, com a finalidade de não prejudicar o andamento do instrumento coletivo e a sua finalização. Felizmente, com o meu afastamento, as conversações prosseguiram e logo se chegou a bom termo. Devo emitir minha opinião sobre isso: O presidente operário, depois desses fatos, deve ter se sentido acabrunhado, pois logo, logo, a Convenção Coletiva foi por mim assinada, assim como pelo presidente adverso.
Naturalmente, as coisas não ficaram por aí. Acionei meu advogado particular, Doutor Paulo Roberto de Souza, e instrui-o para que acionasse em juízo o Presidente da entidade adversa, numa Ação de Indenização por Danos Morais que se arrastou por mais de 14 anos, com o recebimento de valores indenizatórios ordenados em Ação de Execução152.
Doutor Paulo Roberto de Souza
152 14 anos! Incrível. É esse o tempo que a Justiça de Maringá levou para que um simples procedimento jurisdicional chegasse ao final. Em outro local, estarei prestando conta dos valores recebido e o que fiz com eles.
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Como advogado, acabei me envolvendo em outro acontecimento, que me levou a sofrer um dos Erros Judiciários praticados pela Justiça brasileira, erros esses que se deve debitar aos maus Magistrados e funcionários da Justiça, que compõem nosso judiciário nacional. Infelizmente, erro desse tipo, em particular, é um dos muitos que ocorrem com inúmeros cidadãos por esse Brasil afora. E não existe punição para esses maus funcionários que têm a missão de proteger o cidadão, administrando a justiça equitativamente.
Eis a história: Em tempos idos, aceitei representar uma Massa Falida de Salvador, Bahia, como meu cliente. Minha missão era tentar recuperar parte do prejuízo que sofrera meu cliente, provocado por empresa em funcionamento na região de Maringá. Localizada e com as informações conseguidas, obtive do magistrado da comarca próxima, ordem de penhora, que me possibilitou apreender bens suficientes que garantiam ao meu cliente recuperar boa parte do prejuízo. Obtida a autorização, restou-me recolhe-los do local onde se encontravam e transportar esses bens para um depósito e aguardar os acontecimentos. Por ter sido apreendido um volume muito grande de bens, esses foram carregados e transportados durante a madrugada para um depósito pré ajustado para que fossem armazenados, aguardando decisão da Justiça. Terminada a tarefa, restava aos oficiais da justiça encarregados da ordem de penhora, em nomear um ―Fiel Depositário‖.
E quem estava disponível nessa hora da madrugada? Além dos oficiais e alguns homens que foram contratados para carregar e descarregar aqueles bens e mais dois motoristas que dirigiam os caminhões que os transportaram, restava o Advogado, que era eu. Ante a insistência dos oficiais da justiça e a impossibilidade de encontrar alguém, naquela hora da madrugada, que servisse para desempenhar esse importante mister. Restou-me a incumbência. Mesmo porque, como Advogado, tinha o dever de representar e proteger o meu cliente.
Passa ano, vem ano, esses bens foram solicitados pela justiça de São Paulo, Capital, cujo foro atraia para si, em nova Ação de Falência, esses mesmos bens em que eu era o ―Fiel Depositário‖. Com a transferência desses bens, autorizados pelo juízo prevento, solicitei minha exoneração como ―Fiel Depositário‖, pedido esse que foi atendido incontinente pelo magistrado local. Uma vez livre dessa obrigação, ocasião em que prestei contas à justiça, exonerado legalmente, me afastei do problema.
Já haviam se passado sete anos desses fatos quando fui colhido de surpresa, com uma ordem de prisão conta mim, advinda do juízo de uma das varas de Maringá, que, por sua vez cumpria a solicitação de Precatória da vara responsável de São Paulo, onde eram exigidos os bens e que fossem apresentados à justiça imediatamente. Cegamente, o juiz deprecado, mesmo com as informações existentes em seu cartório que me exonerava daquela responsabilidade, expediu a ordem de prisão. Após ter ocorrido o dano, o Juiz deprecado, através de um irmão, procurou-me com um pedido informal de desculpas, coisa que não aceitei com certeza.
Como o cumprimento judicial por parte dos oficiais de justiça ocorreu na tarde de uma sexta feira, sendo o Juiz Deprecante de São Paulo, tive que esperar dois dias
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preso, até favorável Mandado de Segurança que me libertou do inconveniente. Naturalmente, não deixei por menos; mandando instaurar processo judicial contra do Estado de São Paulo, por esse erro judicial estúpido e inconseqüente. Meus fundamentos para a minha defesa não prevaleceram em primeiro grau. Recorri, e ainda hoje, no momento em que escrevo estas linhas, não tenho uma decisão da justiça brasileira. Devo estar sendo punido por ter alcançado setenta e sete anos de idade. Certamente, qualquer indenização que porventura acontecer, deverá beneficiar no futuro os meus herdeiros. E isso, se meu pedido de indenização for considerado procedente pelas instâncias superiores.
Entretanto, como de maus funcionários a Justiça brasileira anda cheia, vou retomar o rumo que me havia proposto, fazendo constar os capítulos prometidos com os títulos específicos de cada fase da minha história pessoal, com um alerta: Podem esperar os leitores que, nesses capítulos que se seguem haverá, com certeza, alguns trechos repetitivos153:
Avenida XV de Novembro
Esse foi o local onde nasci. Avenida XV de Novembro de Joaçaba era e é uma das três mais importantes da cidade. Meus pais, pequenos comerciantes, eram proprietários de um estabelecimento que à época era conhecido por ―Armazém Bertin‖. Foi a primeira casa comercial e a primeira tentativa de tornar-se verdadeiramente ―dono do seu nariz‖. Foi aí onde tudo começou.
―Armazém Bertin‖ 154
Não tenho nenhuma informação dessa época, a não ser, do que se pode extrair das primeiras fotos internas e externas que são estampadas neste livro. Da parte interna do Armazém, nada, mas, pode-se ter uma idéia da parte interna da residência que ficava ligada à casa comercial, onde aparecem meu pai e minha mãe numa foto
153 - Como este livro não esta sendo escrito para comercialização, mas apenas para informar meus descendentes e possíveis interessados, não tenho a preocupação de me tornar cansativo.
154 - Meu pai é o segundo que aparece na foto, tendo a seu lado o pintor do letreiro com o “Z” invertido..
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tirada em 1930 e noutras que foram tiradas na parte externa, onde, além dos meus pais, aparecem minha irmã Tere, eu, Heitor, etc..
Depois, o ―CAFÉ‖ do seu Cesar, bastante movimentado, que aparece logo abaixo. Um bar típico da região, onde eram comercializados produtos, tais como: cafezinho, sanduíches, sorvetes e doces deliciosos confeccionados por minha mãe e muito apreciados pela clientela. Montado em um amplo salão, era constituído de um amplo balcão, geladeira e prateleiras, meia dúzia de mesas de pinho e cadeiras com assentos de palhinha trançada e quatro mesas de ―Snook‖, mais conhecidas como mesas de ―Bilhar‖, um jogo com oito bolas numeradas de um a oito, bola branca e três vermelhas e, obrigatoriamente, um potente rádio, em torno do qual, os freqüentadores e os políticos locais se reuniam para ouvir as notícias transmitidas pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro através e, principalmente o ―Repórter Esso‖, com a voz potente e audível de Eron Domingues, repórter que marcou época no seu tempo.
Meu pai, ex-militar e tendo nascido na terra do Presidente Getúlio Vargas, com forte tendência política, atraia para o estabelecimento inúmeros políticos da cidade e da região (era a ―boca maldita‖ da época?).
―Café Elite‖
Era uma construção mista de alvenaria e madeira, predominante na maioria da cidade, com três pavimentos; o primeiro pavimento, que não aparece na foto, era uma espécie de porão servido por uma larga e extensa escadaria de madeira com acesso externo pelo lado direito, ligando o segundo pavimento que servia de residência, também ligado a uma escadaria interna ao pavimento superior, andar ao nível da avenida, onde se localizava o estabelecimento comercial. A Avenida XV de Novembro fora construída elevada, em razão de a cidade estar localizada às margens do Rio do Peixe, volumoso rio que à época das cheias, não raras vezes,
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suas águas atingiam níveis elevados em vários metros, atingindo as partes mais altas da cidade e, conseqüentemente, todos os imóveis próximos.
À frente do Bar, no outro lado da Avenida, localizava-se o prédio de madeira da prefeitura. No lado esquerdo, uma enorme construção que servia de hotel (Hotel Andretta, o maior da cidade), também construído de madeira de pinho originário da região. No lado direito do bar, paralelo e rente à construção, passava um canal que servia de esgotamento de águas originárias das fartas e inesgotáveis vertentes, verdadeiras minas d águas, proveniente da montanha a oeste, do outro lado da cidade. Servia esse canal, também, para o esgotamento dos dejetos da comunidade, pois, os dutos coletores em grande parte eram canalizados a ele.
Tudo isso desaguava no Rio do Tigre, afluente em forma de Y, contra corrente do Rio do Peixe e dali, rio abaixo, poluindo tudo! Preocupação ecológica? Nenhuma! Os rios do Tigre e do Peixe, na década de 30/40 já eram poluídos. Avistava-se da avenida XV o rio que passava perto. Os olhos abrangiam o outro lado, Herval do Oeste e, uma das principais indústrias da região, o frigorífico Pagnonccelli, que jogava todos os seus rejeitos industriais nas águas próximas do rio, provocando uma volumosa poluição que não passava despercebida, atraindo uma nuvem negra de esvoaçantes urubus. Lembro-me que, no início da década de 40, por ocasião de uma grande cheia em que rio subiu desproporcionalmente, assim como em inúmeras outras oportunidades, a principal preocupação da minha mãe era a de nos alertar sobre a ―imundície‖ das águas do Rio do Tigre e do Rio do Peixe.
Nessa época, já estávamos morando no outro lado da Avenida XV de Novembro na casa recém construída. O fundo do terreno da nova residência tinha como limite, a leste, o Rio do Tigre. Éramos proibidos de nos banhar em suas águas.
Residência construída pelo meu pai na Av. XV de Novembro.
Dessa residência, período em que meu pai foi funcionário das Casas Bonatto, mudamo-nos para a Rua Getúlio Vargas, onde meu pai adquiriu, juntamente com
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Celeste Braganhollo, um novo negócio, Bar Líder, um estabelecimento comercial de maior porte, um bar muito bem localizado e de grande movimento comercial, do qual, infelizmente, não consegui qualquer fotografia.
Posteriormente, mudamo-nos para o apartamento localizado no segundo pavimento do ―Bazar da Cidade‖ que relato com detalhes em outra parte deste livro.
Bazar da Cidade155.
COLÉGIO MARISTA
A população da cidade era pequena, basicamente católica, constituída na sua maioria de descendentes dos primeiros imigrantes europeus, originários do Rio Grande do Sul, assim como de brasileiros trazidos pela estrada de ferro São Paulo - Santa Maria-RS. Essa população consolidada precisava e desejava uma educação mais aprimorada para seus filhos, já não tolerava a carência do ensino ginasial no município, que se destacava econômica e industrialmente. Com essa intenção, a liderança com o apoio da população, do vigário da Paróquia, Frei João Evangelista da Ordem dos Franciscanos Menores, OFM, procuraram tornar essa necessidade uma realidade, buscando auxílio junto aos Irmãos Maristas que em 1938 haviam iniciado suas atividades educacionais em Caçador, Ginásio Aurora, o primeiro educandário dirigido por Irmãos Maristas no Estado de Santa Catarina.
Meu pai integrou-se à essa comissão de cidadãos interessados para manter contatos com os Superiores Maristas em Porto Alegre. Em 1939, o trabalho da Comissão logrou êxito e o desafio foi aceito, tendo sido adquirido, naquele mesmo ano, um vasto terreno um tanto afastado do centro urbano, o que obrigaria a maioria dos alunos fazerem o trajeto a pé (naquela época, rara era a família que possuía veículo movido a motor). Com tudo arranjado, em 1941, chegou à cidade Irmão João
155 Esse prédio se conserva até hoje.
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Inácio para dirigir a construção do colégio marista, contando para tal, com a colaboração de numerosos cidadãos interessados, entre os quais, o meu pai (com recursos financeiros) e que seriam beneficiados com a iniciativa, garantindo vagas para seus filhos.
O educandário situou-se à margem direita do Rio do Peixe e recebeu o nome de Ginásio "Frei Rogério", em homenagem ao missionário franciscano, pioneiro na região. Junto ao educandário, funcionava o Juvenato "Escola Apostólica Santa Terezinha", que entrou em funcionamento em 1942, com vinte meninos, sendo o primeiro Juvenato marista catarinense, e que, em 1946, em vista de vários empecilhos, encerrou suas atividades, sendo somente reaberto dez anos depois. Integrei-me por pouco tempo nesse Juvenato, quando fui aluno semi-interno.
Apesar da segunda guerra mundial não dar amostra de um fim próximo, pois ela persistia, recrudescendo em certos momentos, com muita festa, a festiva solenidade de inauguração do Ginásio Frei Rogério ocorreu em 11 de abril de 1943, contando, na época, com 90 alunos masculinos divididos entre a 1ª série ginasial e o curso preparatório, sendo que o ano escolar se encerrou com o significativo número de 171 alunos, desses, 32 eram internos e semi-internos e 30 aspirantes à vida Marista. Mais tarde fui um dos seus alunos freqüentando o primeiro ano ginasial.
Nesse início, apesar da precariedade das instalações, do ambiente com muito barulho e à míngua de água potável, mesmo tendo uma corrente de água próxima de um rio, o Rio Leão (nunca descobri do porque não se podia beber das águas fartas do rio), em virtude da vasta construção, o Ginásio Frei Rogério destacou-se desde logo pelo estudo sério e valorizado, com aulas que se desenrolavam nos turnos matutinos e vespertinos, sendo que, muitos dos meus colegas chegavam a fazer refeições no colégio (como no meu caso, semi-interno) para não perderem os preparativos das aulas da tarde e assim cumprirem a jornada integral. A educação religiosa e artística, coral vocal, destaque nas atividades católicas e presença obrigatória nas missas dominicais e de festas da igreja matriz de Joaçaba, e a formação esportiva, também foram marcas de destaque de sua história educacional.
Em 16 de janeiro de 1944, a portaria do MEC n. º 00016 autorizou o seu funcionamento oficialmente, fato que ocorreu no mesmo ano em que o município trocou seu nome para Joaçaba. Também nesse ano, o serviço militar se instalou
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com o Tiro de Guerra, funcionando junto ao Ginásio e ali permanecendo até 1947.
MINHA INFÂNCIA
Logo após o meu nascimento, no intervalo do encerramento das atividades do Armazém Bertin, meu pai mudou sua atividade comercial, no que cabe aqui um esclarecimento: Na verdade, meu avô era de profissão tapeceiro e, conseqüentemente, meu pai também. Suas ocupações na cidade de São Borja era a tapeçaria, tão necessária em uma época em que o veículo de transporte pessoal era a carruagem ou a charrete puxadas por cavalos, necessitando por isso, que o interior de tais veículos, fosse revestido por tapeçarias, geralmente com a aplicação de couros ou tecidos. O trabalho do tapeceiro era necessário e muito valorizado. Naquele hiato, antes de adquirir o Café Elite, é que ele se voltou à essa atividade, como meio subsidiário de amealhar recursos que garantiram a manutenção da família e evitando também, desgastar a poupança que mantinha.
Mas, com a venda do ―CAFÉ ELITE‖ - o que implicou na entrega do prédio - a família obrigou-se a mudar para o outro lado da Avenida XV, em um sobrado, do mesmo estilo do anterior, no que dispenso nova descrição. Só que, desta vez, num imóvel próprio, a nossa nova residência, dava fundos para o afluente Rio do Tigre, que, como eu já destaquei, deságua no Rio do Peixe.
Entretanto, a família precisava sobreviver. Sem ocupação, sem nenhum negócio à vista e uma pequena poupança, meu pai, provisoriamente, foi prestar serviços à empresa comercial, Loja Bonatto, de propriedade do Orestes Bonatto, antigo sócio de Atílio Fontana e dos irmãos Fuganti156. Atividade: Caixeiro ou como queiram, um dos balconistas da loja. Embora seu salário dependesse da produção, isso não era suficiente. Ora, o ―Seu Cezar‖, como era conhecido, era também amigo do dono, pois era cunhado do Atílio Fontana, que por sua vez era irmão da sua esposa, minha mãe. Isso lhe proporcionava certas regalias que os outros empregados não tinham. Mesmo assim, era o melhor funcionário da empresa, pois nunca faltou ao serviço no tempo em que ali trabalhou como ótimo vendedor, além de ser de extrema confiança do dono.
Trabalhou assim durante algum tempo, aguardando a oportunidade para voltar ser ―dono do seu nariz‖, isto é, montar um novo negócio próprio. Não demorou muito e surgiu a oportunidade tão almejada, logo agarrada.
Numa das esquinas da principal artéria de Joaçaba, na Rua Presidente Getúlio Vargas, existia um bar intitulado Bar Líder, instalado em uma ampla construção de madeira, como sempre com um dos pavimentos, o primeiro, abaixo do nível da avenida e o segundo ao nível da calçada. Nesse pavimento estava instalado o estabelecimento comercial; um bar completamente equipado e com amplas instalações nos fundos, que serviu de residência para a família pelo tempo que permanecemos ali, até que meu pai, com um pequeno ―pé de meia‖ realizado, instalou um comércio que iria sustentar a família por mais algum tempo. O bar Líder, como era conhecido, era constituído de um balcão misto, composto de uma sorveteria embutida, onde meus pais fabricavam o melhor sorvete da região; um espaço para servir o cafezinho; bebidas, doces e salgados, confeccionados pela
156 Esse foi talvez o único emprego que o meu pai teve na sua vida.
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minha mãe e muito apreciados pela clientela, com amplos espaços, dotados de portas e fechos especiais, que serviam para depositar e gelar as bebidas apreciadas, refrigerante, a cerveja, o vinho e o chope.
Sobre o balcão, ampla bomboniere, com suas repartições transparentes em cristal bisotado, repletas de balas e bombons importados, atraiam os olhares gulosos dos adultos e crianças, que não se afastavam enquanto não eram presenteadas com as guloseimas. Um depósito envidraçado, para a exposição e venda dos salgadinhos que eram delicadamente confeccionados pela minha mãe. No mesmo salão, que, como já afirmei, era enorme, existiam perto de doze mesinhas com suas respectivas cadeiras dotadas com assento em palha trançadas manualmente, onde os numerosos clientes se acomodavam. Havia também três mesas de Bilhar ou Snook157. Havia também duas mesas menores de carambola, sem caçapas, com três bolas maiores e pesadas com as quais se jogava repicando umas nas outras. Essas mesas, geralmente estavam sempre ocupadas pelos clientes habituais.
Entrementes, dessa nova residência, a numero quatro da minha existência, lembro-me de diversos fatos: O primeiro é a recordação da presença de novo membro agregado à família, uma menina pouco mais velha do que eu, trazida por meu pai, de uma viagem política que realizamos a oeste de Joaçaba, na direção do antigo território do Guaporé e da fronteira da Argentina. O roteiro incluiu Chapecó, Concórdia, Dois Irmãos, Xaxim e Xanxerê, etc. Acompanhei-o nessa viagem pela região. Lembro-me um pouco das reuniões políticas que meu pai freqüentava com seus correligionários, todos do Partido Social Demográfico (PSD), onde eram tratados os mais diversos assuntos políticos e sociais, mas lembro-me muito claramente quando fui visitar um ―cartão postal‖ que era considerado importante atração turística da região e que consistia em um pinheiro de grande porte158 (mais ou menos, um metro de diâmetro) que brotava de uma fenda no topo de uma grande e monumental rocha, naturalmente partida ao meio e que se sobressaia imponente, dada a sua altura.
Antes do nosso retorno a Joaçaba, eu e meu pai, visitamos uma choupana típica da região, onde morava uma família de indígenas, pais e irmãos de Adiversina, menina de mais ou menos dez anos de idade, com uma dúzia de irmãos, vivendo na mais absoluta miséria. Entre os habitantes nativos da região, a miséria predominava. Ao nos despedirmos da família, essa criatura acompanhou-nos. Eu não sabia dessa resolução tomada por meus pais, mas, creio que isso devia ter sido discutido com antecedência e tenho certeza, conhecendo o espírito cristão dos meus pais, só se decidiram em acolher Adiversina, não só para livrá-la daquele ambiente adverso, mas, também par auxiliar sua família, que, aparentemente, não poderia continuar suportando, tratando e alimentando tantos dependentes.
Mas, devemos nos colocar na época em que ocorreu esse fato: Era costume esse tipo de adoção, que auxiliava na solução social da região e ao mesmo tempo, dotava as famílias que tinham condições econômicas e que podiam suportar esse encargo de mais uma pessoa, mas que, iria auxiliar nos afazeres da dona de casa.
157 - Aquele jogo com bolas confeccionadas em osso ou marfim, numeradas, mais uma branca e três vermelhas, com que se jogava. Três bolas vermelhas e sete bolas coloridas e numeradas de dois a oito. A dois de cor amarela, a três de cor verde, a quatro de cor marrom, a cinco de cor azul, a seis de cor rosa e a oito de cor preta.
158 Pinus Araucária ou mais conhecido como pinheiro do Paraná.
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Adiversina era uma criança, oriunda da região de Concórdia, descendente dos nativos que habitavam a região, identificados como Kaingags. Ela foi ―adotada‖ com a idade aproximada de dez anos por meus pais, para que auxiliasse minha mãe nos serviços domésticos. Sua disposição para o trabalho doméstico era tão admirável que minha mãe suportava as inúmeras tarefas do lar e ainda tirava tempo para auxiliar as obras comunitárias e meu pai em seus negócios.
Já, no Norte do Paraná, em Londrina, anos mais tarde, ―Diva‖, como era tratada carinhosamente pelos membros da minha família, acabou sendo verdadeiramente adotada de direito e de fato e só se desligou da minha família como uma verdadeira irmã, para casar-se com um pacato profissional mecânico, perito em motores diesel. Teve vários filhos e seu marido veio a falecer em virtude de um lamentável acidente provocado com um trator agrícola, cujo reparo estava sob seus cuidados. Adeus Otacílio! Adiversina, ―Diva‖, como era tratada por todos nós e por seus amigos, no momento em que escrevo, continua morando em Londrina, cercada dos filhos e netos e, nunca se esqueceu de visitar minha mãe, enquanto viva.
Da minha infância, do nascimento até 1940, poucas lembranças consegui resgatar. Antes disso, apenas lembro-me da dedicação, do cuidado e da atenção com que minha mãe nos tratava enquanto meu pai, como provedor da turma, tratava da sobrevivência da família, dos negócios e da política.
Lembro-me das histórias que ouvia, principalmente, as histórias carregadas de crendices e superstições, característica acentuada do povo local. Nos morros que nos cercavam, vistos das janelas da minha nova residência, nas noites quentes e sem vento, era comum avistarmos inúmeros pontos luminosos crepitando como fogueiras, brilhando intensamente com suas chamas esverdeadas (fogo fátuo159). Disso eu me lembro muito bem. Os adultos nos explicavam o fenômeno como ―boitatá‖, criando com isso um clima tenso, rico e cheio de fantasias e expectativas.
Meu Estado de Santa Catarina é conhecido como o mais supersticioso160: Histórias de Boitatá, Negrinho do Pastoreio e de Lobisomens eram uma constante na minha infância e isso me levou a ser protagonista da seguinte aventura:
Na extensa escada da residência conjugada com o Bar Elite, à direita, a meio caminho, havia um gradil que servia de iluminação e ventilação para o primeiro pavimento, um porão que servia de adega, despensa e depósito. Em certa ocasião,
159 - Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim), também chamado de Fogo tolo ou, no interior do Brasil, Fogo corredor ou João-galafoice, é uma luz azulada que pode ser avistada em cemitérios, pântanos, brejos, etc. É a inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente. É um fenômeno que ocorre quando um corpo orgânico começa a entrar em putrefação e emite gás fósfina (PH3) . Os fogos-fátuos são produtos da combustão da fosfina gerados pela decomposição de substâncias orgânicas, ou a fosforescência natural dos sais de cálcio presentes nos ossos enterrados. Muitos que avistam o fenômeno tendem a evacuar o local rapidamente, o que, devido ao deslocamento do ar, faz com que o fogo fátuo mova-se na mesma direção da pessoa. Tal fato leva muitos a acreditar que o fenômeno se trata de um evento sobrenatural, tais como espíritos, fantasmas, dentre outros. Onde aparece o fogo-fátuo, há folclore e histórias de criaturas como espíritos e fantasmas culpadas por esse fenômeno. É conhecido também como Boitatá, cobra gigantesca que se desloca em perseguição aos caçadores.
160 Sabe como o dicionário Houaiss define as palavras "superstição" e "crendice"? Como a "crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação racional entre os fatos e as supostas causas a eles associados". Ou seja, é acreditar em fatos ou relações sobrenaturais, fantásticas ou extraordinárias e que também não encontram apoio nas religiões ou no pensamento religioso.
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já com meus seis anos de idade e em meio aos preparativos para a minha primeira comunhão (coisa levada muito a sério), descendo essa escada, vislumbrei através da treliça de madeira que servia como grade, uma figura fantasmagórica, branca, que acreditei eu, naquela ocasião, fosse um fantasma ou um lobisomem. Muito assustado, rezando um ―Santo Anjo‖ e com o coração na boca, disparei escada acima, escondendo-me em meu quarto. Não disse nada a ninguém sobre esse fato. Nem para minha mãe! Felizmente, para o meu sossego, em poucos meses, mudamo-nos para uma nova residência do outro lado da Avenida, pois, após esse fato, nunca mais freqüentaria a dita escada.
Os Cinemas.
Existiam dois cinemas na cidade, o Cine Progresso, na Avenida XV de Novembro e o Cine Andretta, na Rua Getúlio Vargas. No primeiro, foi quando comecei apreciar a ficção na forma do Seriados de Buck Rogers, Flash Gordon161, O Sombra, O Besouro Verde e outros. Quando não tinha recursos financeiros para pagar o ingresso, sentava-me por sobre um muro a frente do cinema e lá ficava a tocar flauta doce, cujo instrumento musical me havia sido presenteado por ocasião do Natal. A única musica que eu conseguia tocar, sofrivelmente, era uma musica mexicana que ouvira no cinema. Lembro-me ainda que o dinheiro com que eu pagava os ingressos, nem sempre era a moeda corrente. Havia, eventualmente, os selos de correio que eram recebidos como moeda, e a isso se juntavam ao que meus pais mantinham em seus estoques. Não raro, eu buscava na correspondência recebida, possíveis selos não inutilizados pelos carimbos, quando que esses escapavam dos rigorosos funcionários do Correio Brasileiro. Parte daquela moeda de prata que
161 Flash Gordon é o segundo herói espacial das histórias em quadrinhos (o primeiro foi Buck Rogers), criado por Alex Raymond em 7 de Janeiro de 1934.
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recebi do meu padrinho da minha primeira comunhão foi parar nesse cinema.
O Cine Andretta, foi palco de fatos narrados em outro local deste livro, quando escrevo sobre a atividade de engraxate.
As três pontes: do Rio do Peixe, do Rio do Tigre e a do Pedrotti.
A Ponte sobre o Rio do Peixe, Emilio Baumgart, foi a primeira ponte de concreto protendido, em balanços sucessivos, construída no mundo. Seu vão central media, num só arco, 68 metros. Continuava nos dois lados em mais 50 e poucos metros, medindo na sua extensão 118,43 metros. Sua altura era de 90 metros. Ela ligava as cidades de Herval do Oeste – Joaçaba, construída em 1930. Extraordinária, tinha certos detalhes que não me escapavam mesmo nos idos anos da década de 1940. Quando eu a atravessava, levado pela ousadia dos meus coleguinhas, o fazia andando por sobre uma das vigas de sustentação, um parapeito, com largura suficiente para me dar segurança ao percorrê-la. Se era perigoso? Claro que era, mas fazia com que o meu coração batesse mais rápido, tal a quantidade de adrenalina produzida. E isso era delicioso. Outro detalhe sobre essa prodigiosa ponte era a sua flexibilidade. Mesmo com o meu peso reduzido de criança, minha brincadeira predileta era me colocar bem no meio e ficar pulando para que ela balançasse, tal a sua aparente fragilidade. Lembro-me também que em 1939 ou 40, por ocasião da grande enchente do rio, ela foi parcialmente encoberta pelas águas, tal a proporção da enchente. Essa ponte foi destruída durante outra enchente em 1983, criminosamente enfraquecida por uma construção clandestina de quatro andares que abalou suas fundações.
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Em construção. 1930. Engenharia avançada.
A ponte Emilio Baumgart sobre o Rio do Peixe em Joaçaba na época da sua inauguração.
Sobre o Rio do Tigre, outra ponte, mais modesta, permitia acesso ao istmo de terra formado pelos dois rios centrais da cidade. Era por ela que eu transitava diariamente para ir estudar no Grupo Escolar Roberto Trampowiski, bem à frente da futura Catedral Santa Terezinha162. Toda de madeira, tosca e reforçada, possuía um vão de mais ou menos 30 metros, sob a qual, ainda passavam as águas cristalinas da corrente. Nas suas margens, cercada de luxuriante vegetação e constituídas de areia e cascalho, esvoaçavam milhares de borboletas multicoloridas, dando ao local certo movimento tremulante e apaziguador. Não raro, visitava essas praias acolhedoras, deliciando-me da bucólica paisagem.
No lado oposto do ponto desta ponte, a oeste da cidade, existia outra ponte, de madeira, que permitia a passagem para o Morro do Pedrotti, cujo morro, fora construído em seu topo o primeiro aeroporto da cidade, a quatrocentos metros de altura e, também, servia de acesso à estrada que se dirige às cidades vizinhas, Concórdia, Chapecó, etc., e daí, até à fronteira da Argentina. Do lado esquerdo da ponte, antes de se cruzá-la, existia uma padaria pertencente a uma família de alemães, onde minha mãe me mandava comprar pães e eventualmente, doces e, ao seu lado, um estabelecimento comercial que colocava à venda, bananas. Lembro-me que me divertia tentando encontrar entre as bananas que formavam os cachos, bananas ―Filipe‖, quando as encontrava, e que me era explicado pelo vendeiro, quase sempre pouco ocupado.
Em outras ocasiões, mais tarde, nas minhas escapadas não autorizadas, me incorporava em bando, com outros garotos da minha idade e me dirigia, após transpor essa ponte, às encostas do morro, para surrupiarmos frutos das rocas lá
162 No meu tempo de criança, essa igreja ainda estava sendo construída.
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existentes. Na época, de melancias, e para fugir da vigilância não muito atenta do dono da roca, rolava algumas, morro abaixo, que iam cair no rio, numa tentativa de fugir do fragrante. Mais a baixo, já no rio, elas eram recolhidas pelos companheiros de traquinagem, mais abaixo, perto da ponte. Essa corrente d'água passa por debaixo da ponte e seguia seu curso por sobre o leito rochoso que mais parecia um tapete sobre os seixos roliços, até alcançar a ponte do Rio do Tigre e, após, o Rio do Peixe. Nessa parte do rio, as águas não eram tão poluídas. Terminada a molecagem e com a barriga cheia, voltávamos para casa. Hoje, infelizmente, suas águas estão totalmente poluídas.
Colégio Marista
Era o ano de 1946. Meus pais decidiram matricular-me no Colégio Marista, pois eu estava para concluir último ano do ensino primário, que, naquela época era realizado em cinco anos. No ano de 1946, passei a estudar com os Irmãos Maristas. Meus pais, não sem grandes sacrifícios, mandaram confeccionar o uniforme obrigatório do colégio. Era um uniforme vistoso da cor azul escura com botões dourados e vinha acompanhado de polainas e quepe tipo oficial do Exército Brasileiro. Bolsa de couro repleta de materiais didáticos obrigatórios e exigidos pelos Irmãos Maristas. Muitas recomendações, pois os Irmãos eram exigentes e, lá fui eu. Apresentei-me no horário exigido, sete horas e trinta minutos.
Não era fácil, pois a distancia da minha casa até o colégio era mais ou menos de três a quatro quilômetros. E isso era percorrido a pé. No verão, tudo bem, mas no inverno e com a obrigação de acordar às cinco horas, o sacrifício era grande para mim e minha mãe, que geralmente, em razão de ter que cuidar dos meus irmãos, se recolhia muito tarde da noite. Após acordar, fazia a primeira refeição do dia, que era constituída de café e leite com pão feito por minha mãe, acompanhado de geléias, manteiga e queijo. Naturalmente, levava comigo um lanche preparado por minha mãe. Isso nos primeiros meses, pois, para a comodidade e conveniência da família, mais tarde, meu regime de matricula, que inicialmente era estudar apenas na parte da manha, transformou-se em regime de semi-internato, que compreendia em permanecer no colégio o dia inteiro, aproveitando assim o ensino intensivo que era oferecido aos alunos que tinham dificuldade de fazer o trajeto de casa ao colégio em mais de que uma vez ao dia. A alimentação, nesse caso era feita no próprio refeitório do colégio e, não raras vezes pernoitava no colégio, no dormitório coletivo no último andar, junto com os demais alunos internos.
Eu apreciava muito essa situação, pois podia participar melhor das vantagens do ensino especializado que era proporcionado aos que tinham a sorte e privilégio de participar da excelente oportunidade de ensino. Ao chegarmos, era obrigação de todos participar da formação no pátio da escola, para cantar os hinos obrigatórios, do Brasil, da Bandeira e do Colégio e ainda ouvir as instruções do dia. Ainda me lembro do hino dos Marista: ―Por Champangnat saudemos a memória do nosso ilustre e querido benfeitor...‖. Após a cerimônia cívica, ouvíamos uma preleção e avisos dos mais variados, que nos orientavam no decorrer do dia e das nossas atividades.
Em formação, turma por5 turma, dirigíamo-nos às salas de aula, onde passávamos a maior parte do tempo, mas havia também atividades que eram realizadas fora da
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sala de aula; as aulas de ciência, que abrangiam diversas matérias e, quando estudávamos os minerais que se encontravam incrustados nas rochas que constituíam a encosta que começava tão logo terminava o pátio do colégio ou, estudando botânica, aproveitando a rica e variada flora das cercanias ou a fauna que se abrigava nos terrenos do próprio educandário.
Em determinadas épocas do ano, era comum, os Maristas proporcionarem incursões nas matas que circundavam o lado oeste das terras da própria instituição, ocasião em que, grupos formados por alunos de cada classe e, com seus Irmãos monitores e professores, penetrávamos na densa vegetação lá existente e, passávamos o dia excursionando, estudando a fauna e a flora, e, ao mesmo tempo preparando nossas próprias refeições e lanches que nos davam forca para progredir na jornada. Ao retornarmos, chegávamos alegres, mas, extremamente cansados. Nesses dias, todos pernoitavam no espaçoso dormitório do colégio.
Recordo-me desse dormitório: Localizavam-se no andar superior onde existiam dezenas de camas, todas rigorosamente arrumadas pelos próprios alunos internos. Com cobertas brancas travesseiros macios de pena e cobertores na cor cinza. Na entrada do dormitório, no alto da escadaria de acesso, existia um esqueleto humano masculino, que, segundo os Irmãos, serviam para nos lembrar da transitoriedade do ser humano e a inutilidade dos bens materiais. Esse esqueleto era objeto de brincadeira quando novos alunos eram admitidos. Geralmente, colocávamos um cigarro aceso na sua boca, o que, no escuro provocava calafrios nos incautos.
Todos participavam intensamente das atividades da escola, pois o ensino Marista era rico em modalidades. E, rigoroso! A postura era corrigida com insistência durante as aulas (consistia em cruzarmos os braços nas costas abraçando o encosto da cadeira de forma que, nossa coluna vertebral permanecesse reta). As carteiras escolares eram em madeira de pinho selecionado muito claro, quase branco, para que qualquer nódoa aparecesse e assim pudesse ser limpa com uma lixa, que éramos obrigados a manter entre nossos pertences escolares, com essa finalidade, lixar as manchas que nos mesmos fazíamos. Aulas de música que eram dadas pelo Irmão Evaristo, exímio violinista; aulas de ciências com demonstrações ao vivo do conhecimento admitido da época; aulas de arte, onde todos podiam demonstrar suas habilidades próprias.
Mas, o retorno à casa, sempre foi mais bem apreciado por mim, pois, no verão, quando o sol se punha mais tarde, sobrava luz e tempo para que eu percorrer parte do trajeto por um caminho um tanto singular: Era um caminho pela copa das arvores e que margeava o Rio do Peixe. Esse caminho era construído pelos meninos da redondeza por entre as frondosas copas das arvores e, percorria pelo menos quinhentos metros. Quando cansava, podia deitar-me ou sentar—me, pois havia espaço apropriado em todo o trajeto. Era muito divertido e muito apreciado pelos meus colegas, alunos do colégio ou garotos da vizinhança. E, é claro, quando gazeávamos as aulas, era por ali que nós podíamos ser encontrados.
Sempre sobrava tempo para pescar às margens do rio. Caniços estrategicamente escondidos na beira do Rio do Peixe, sempre à disposição, permitia-me tentar pescar nas suas águas. O máximo que consigo me lembrar, é a pesca de um tipo de peixe chamado ―cará‖, abundante, mas que tinha uma característica muito particular;
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Em seu estomago era encontrado uma espécie de carrapato, o que me impedia de levá-los para casa, pois quando os levava, minha mãe os rejeitava.
O trajeto até o Colégio Marista compreendia de; um quilometro dentro da cidade e mais ou menos três até o colégio. A temperatura em época do inverno, normalmente, era de aproximadamente zero grau e o percurso era feito por sobre parte do solo de macadame (espécie de solo preparado com piçarra e compactado) e parte de terra. Nas manhãs mais frias o solo congelava centímetros abaixo da superfície, elevando uma fina camada de terra com formação de gelo semelhante a colunas que, ao pisar, os sapatos afundavam, deixando a sua marca aprofundada. Esse fenômeno me divertia e tornava a minha caminhada menos monótona. No trajeto, os meus olhos encontravam a paisagem que variava, pois, o terreno era irregular tanto quanto o cenário. O caminho margeava o Rio do Peixe em quase todo o trajeto fora da cidade. A estrada era emoldurada à minha esquerda, com a encosta do morro próximo e à direita com uma ladeira que chegava até o rio. Poucas eram as preocupações com o trafego de veículos, pois os poucos que passavam eram constituídos de charretes e carroças de quatro rodas, comuns na região, por isso a longa caminhada tornava-se um lazer e pouco cansativa.
E, é claro, como filho homem, pois minha irmã Irene Terezinha era ano e meio mais velha do que eu, obrigatoriamente, acompanhava-a, minha mãe e ela, todos os domingos à missa, de manhã, bem cedo, a fim de cumprirmos a obrigação dominical. Naquela época, a Igreja Matriz era localizada a pouco menos de seiscentos metros a oeste, na encosta de um morro próximo, dominando a paisagem sobre a cidade, numa vista panorâmica na direção leste onde se vislumbrava quase toda a cidade. A construção, toda em madeira de lei, pinho farto na região, era de estilo arquitetônico típico, em corpo único e torre central, cujo campanário acabava numa cruz de ferro apontada para o céu.
Era assim que se via Joaçaba nos meus sossegados tempos de criança.
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Minha mãe Elisena acreditava que, se orientasse seus filhos no caminho da honradez e dentro dos princípios cristãos, a família sobreviveria sem maiores dificuldades. Essa era a sua parte dentre outras no contexto familiar. Com certeza absoluta, ela acertou nesse seu entendimento. Eu era o primogênito masculino que, segundo a tradição, teria que ser o espelho, cujo reflexo, serviria de exemplo aos demais membros da família. Entretanto, ela se esmerava nos seus cuidados quando se tratava da minha irmã mais velha que nascera em 14 de abril de 1932, sem se esquecer dos demais filhos. Portanto, ano e meio mais velha do que eu. Era assim que, obrigatoriamente, acompanhava-as nos seus passeios pela cidade.
Na minha preparação para a comunhão que se realizava nessa igreja, sempre aos domingos à tarde, lembro-me prazerosamente, dávamos uma escapadinha eu e meus colegas de catequese, para brincarmos numa enorme figueira branca que se inclinava para o vazio, incrustada na encosta íngreme do morro, com seus inúmeros e pendentes cipós de onde, agarrados, pendurados, balançávamos e desafiávamos a lei da gravidade, numa ousada manobra, avançando no vazio tão alto que tínhamos a impressão de alcançarmos o telhado da igreja logo abaixo. Essa figueira tinha um diâmetro que permitia um oco com aparência de caverna entre as suas imensas raízes, criando no seu interior espaço suficiente para abrigar várias pessoas. E era ali que nos reuníamos para deliberar as próximas brincadeiras.
A essa altura, além da minha irmã mais velha, a família foi acrescida de mais três membros: Heitor Cezar, com idade de quatro anos; Antonio Carlos com dois e Maria Laurentina, recém nascida. Minha mãe, não sei como fazia, desdobrava-se para dar conta das tarefas da casa. Nunca vi sair da sua boca qualquer tipo de reclamação.
Após a terrível notícia da guerra na Europa em 1939, 1940 foi o ano da minha primeira comunhão! Mas, também o ano em que ocorreram inúmeros acontecimentos que fizeram com que muitas lembranças permanecessem em minha memória. O meu ingresso na vida escolar no Grupo Escolar Roberto Tranpowski, no outro lado do Rio do Tigre, foi muito significativo, pois foi nessa escola pública que realizei os primeiros cinco anos de estudo, o primário, como era conhecido, onde comecei a tomar consciência do que acontecia ao meu redor.
Lembro-me da figura marcante do diretor da escola cujo nome não me acode, mas que respondia pelo nome de Diretor Roberto (o mesmo nome da escola); da merenda servida no recreio da tarde, que normalmente consistia numa rica sopa tipo canja com arroz, verduras e carne de galinha confeccionada em grandes panelas de alumínio polido e servida em canecas com marca graduada de mil cc³, também de alumínio e fazia parte do programa alimentar do governo getulista, muito apreciada, mesmo por aqueles que vinham bem alimentados de casa.
Lembro-me, também, da obrigação de nos reunirmos no pátio interno da escola, formados em batalhões, com seus respectivos professores à frente, antes do início dos estudos do dia, para cantarmos em conjunto, os hinos da bandeira e do hino nacional brasileiro, cujas musicas eram transmitidas através do sistema de alto-falantes da escola; estávamos já no início do segundo ano da segunda grande guerra mundial e não raro, apesar de não ser comum para a idade, certos fatos me chamavam a atenção e me marcaram indelevelmente: A agitação do meu pai e as
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notícias trazidas pelo éter, tendo como veículo a Rádio Mairing Veiga ou Rádio Nacional do Rio de Janeiro através da voz dos apresentadores e locutores da rádio e Erom Domingues que nos davam as notícias da guerra, relatando fatos estarrecedores através do programa noticioso ―Repórter Esso‖. Noticiário marcante, em razão da forma com que era apresentado: com uma música como se fosse um chamado e a voz clara e possante de Erom.
O outro fato digno das minhas lembranças foi uma grande cheia que provocou a elevação das águas do Rio do Peixe, sendo que suas águas atingiram níveis ―record‖ com as águas atingindo a parte superior da ponte em arco com seus nove metros de altura; a que ligava Joaçaba a Herval D Oeste163. Essa enchente, naturalmente, atingiu também o Rio do Tigre (para mim, motivo de grande alegria, pois a residência dava fundos para o afluente principal que cortava o cento da cidade e, nessa ocasião, juntamente com meu irmão Heitor, fabricáramos um pequeno barco aproveitando um caixote de madeira e navegamos nas águas poluídas que invadiam nosso quintal).
Outro acontecimento notável foi um pequeno acidente provocado pela minha curiosidade de procurar saber como a pólvora pegava fogo, o que resultou em queimaduras doloridas em uma das mãos, diligentemente atendido pela minha mãe, que só foram suportáveis porque passei dois dias com a mão dentro d água e, é claro, o grande acontecimento; minha primeira comunhão.
Os preparativos164 da minha Primeira Comunhão foram intensos por parte dos meus pais. Para a minha família católica o acontecimento era de imensa importância, tanto para mim, como para a família toda, assim como para a comunidade em geral. Como era tradicional, meus pais convidaram para que fosse meu padrinho de primeira comunhão, um parente, primo Odilon Fuganti, filho de uma tia a quem eu prezava muito, Tia Maria (Fuganti), com parentesco ligado à família Fontana. Antecedendo a data, o primo Odilon, cumprindo seriamente o rito tradicional, fez-nos uma visita, ocasião em que me presenteou com uma moeda de prata de muito valor, pois me permitiu gastá-la junto com meu irmão Heitor, satisfazendo-nos inteiramente. A roupa, encomendada no melhor alfaiate da cidade foi provada e aprovada. Consistia em uma camisa e gravata borboleta, calça curta e paletó da melhor casimira inglesa, meias soquetes brancas e sapato novo de cromo alemão (naquela época, quase tudo era importado e, para qualquer fatiota fora dos padrões nacionais, era confeccionada com tecidos importados).
No dia do evento, num domingo ensolarado, rumamos todos para a igreja. Sinos tocando, a Banda Municipal da cidade ensaiando os primeiros acordes, autoridades chegando e o recinto da igreja sendo tomado aos poucos e aguardando o momento do grande acontecimento religioso e social da cidade. Ao lado, uma quermesse da igreja para arrecadar fundos para as obras sociais e reparos para conservação do prédio da igreja e a construção da nova Matriz que seria erguida no istmo, às margens do Rio do Tigre. Barracas armadas vendendo e servindo alimentos e bugigangas, barraca de víspora, roda fortuna, e tudo o mais. Isso dava ao acontecimento, conotação de festa. Sim, pois somados à cerimônia, comungantes,
163 Enchente do Rio do Peixe, que ocorreu nos meados do ano de 1939.
164 Quem ministrou as aulas de catequese foi Frei Edgar Loers. Ele ostentava o estilo bonachão, gorducho, cabelo de lado, fumava charuto, dirigia um Jeep. Era exigente e autoritário, apreciador e incentivador das artes, porém atencioso e solicito.
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uma dezena de outras crianças, algumas filhos das famílias mais proeminentes da cidade, o que motivava a intensa movimentação da população mais simples e de proeminentes e ricos proprietários, políticos e homens públicos, etc. Naturalmente, a cerimônia, como acontecimento anual, devia ser realizada pelo Bispo da Paróquia, naquela época sediado em Campos Novos. Por isso, a presença maciça da população e das autoridades municipais, também com os chefes políticos locais da UDN, PTB e PSD, ao qual meu pai era filiado.
Minha primeira comunhão em 1940.
Tradicionalmente, a Primeira Comunhão, marca o início de uma nova etapa na vida de todos os católicos. Isso acontecia com todos ao completarem sete anos de vida. Tendo completado sete anos de idade, teria que cumprir essa obrigação religiosa. Feito isso, ingressei em nova fase da minha vida. Adquiri caxumba, doença que superei enquanto eu e meus amiguinhos vizinhos, também com a doença, brincávamos em um monte de areia destinada a construções, depositado no terreno da prefeitura municipal, contíguo à minha residência. Lembro-me da minha mãe convocando-nos para casa e para que tomássemos os devidos cuidados, preocupada que estava com a nossa saúde. Também, nesse período, volta ao comércio no novo endereço da Avenida Getúlio Vargas onde, meu pai, comerciante nato, já havia adquirido o novo negócio, Bar Líder, um bar já em funcionamento, com residência nos fundos, como mencionei noutra parte deste livro.
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O CIRCO
Aos fundos desse prédio que nos acolhia, havia um terreno vazio onde as companhias circenses costumavam utilizar. Já com mais idade e com mais discernimento, comecei a me interessar com os acontecimentos extra lar. As notícias sobre a guerra sempre noticiada com destaque pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, através da voz inconfundível de Erom Domingues, marcaram indelevelmente essa fase da minha infância, pois, lembro-me, ao ouvir a inconfundível chamada do Repórter Esso, corria para colocar-me a par das últimas notícias.
Mas, com mais liberdade de locomoção, acompanhei outro evento marcante da minha infância, a instalação de um Circo no espaço mencionado, que, como já disse, ficava contíguo à divisa do imóvel que eu residia.
A magia que as companhias circenses criavam naquela época na mente das pessoas, adultos e crianças, fazia com que a ocorrência do evento tomasse o ar de festa. O corso que se formara, anunciado através dos altos falantes e com a voz potente do gerente do circo que, com sotaque estrangeiro anunciava o desfile dos componentes do circo, com seus palhaços, trapezistas e fenômenos anunciados, a presença no desfile de animais enjaulados: leões, tigres, macacos gorilas e chipanzés; os elefantes, camelos, girafas, zebras e demais animais exóticos que faziam parte do acervo do circo, atraia grande parte de curiosos saídos de suas residências e acotovelados às portas das lojas e escritórios para assistir o desfile animado pela empoleirada orquestra com suas músicas típicas e sonoras: Ta-ra-ra-ta, ta-ra-ra-ta, ta-ra-ta-ta-ta-ta ...! A alegria tomava conta da cidade. Como a cidade era pequena, a passagem do circo em Joaçaba era rápida e etérea, deixando atrás de si aquele ar mágico de encantamento próprio dos sonhos dos contos de fada. Logo, outro acontecimento tomava conta da minha infância, e, assim era...
Bazar da Cidade
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Bazar da Cidade com a residência na parte superior. Esta foto foi tirada por mim, por ocasião de uma visita que fiz a Joaçaba em 2005.
Em 2005, por ocasião de uma viagem de pesquisa, fotografei esse prédio em que meu pai instalou o ―Bazar da Cidade‖. Encontrei-o perfeitamente conservado, inclusive nas suas divisões internas. No apartamento superior nada mudou e, a escada externa que lhe dava acesso pelos fundos, ainda permanece funcional. Tanto as janelas como as portas permanecem inalteradas. Foi minha última residência em Joaçaba, pois daí mudamo-nos para o Norte do Paraná em 1947.
Clube 10 de Maio- Foto da cópia original de 1947165
Clube 10 de Maio atual
165 Para ser construído o novo prédio da Associação, esse casarão foi removido inteiro, sobre roletes de madeira, recuando cerca de trinta metros do local, permitindo assim que pudesse ser utilizado enquanto ao novo prédio estivesse sendo construído. Terminada a nova construção, ele foi desmontado e a madeira vendida, reduzindo assim o custo da empreitada.
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Desfile realizado no dia 7 de setembro de 1947, passando à frente do Hotel Andretta.
A segunda grande guerra continuava acontecendo. O Bar Líder localizado na Rua Getúlio Vargas foi vendido. De repente, mudamo-nos para um sobrado de alvenaria logo â frente do Bar Líder166. Era meu pai realizando seu sonho. Foi instalada uma loja na parte térrea do prédio. Logo depois, minha família mudou-se para o pavimento superior que contava com um amplo apartamento. Confortavelmente instalada, a família prosperou.
O estabelecimento comercial era constituído por uma bem montada e variada loja, onde se encontrava de tudo um pouco. Tecidos, tais como casimiras, sedas, linhos e tecidos dos mais variados, todos importados. Perfumes franceses, vidrilhos e lantejoulas para a confecção das roupas femininas da época, Chapéus femininos e masculinos. Ferramentas alemãs e suíças e artigos dos mais variados, para o deleite do meu orgulhoso pai e da sua clientela feminina, que logo se formou.
Durou pouco, pois no ano seguinte, ocorreu um sinistro que deve ter impressionado meus pais. Um grande prédio de madeira, onde funcionava um hotel, logo â frente, incendiou-se. Lembro-me o esforço dos meus pais para salvarem do enorme calor as janelas do nosso apartamento, que eram muito bem construídas, mas em madeira pintada com tinta a óleo. Conseguiram. Mas, e a parte de baixo, onde se localizavam as vitrines? Embora protegidas por um painel de madeira, toda a mercadoria que lá se encontrava exposta ficou danificada. Vitrinas espaçosas, com
166 Veja foto do prédio que acolheu o Bazar e a Família Bertin em 1946.
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objetos de grande preço, os melhores, que atraiam os olhares dos passantes e visitantes que iam admirar a exposição. Tudo se perdeu. Isso desanimou meus pais, e foi o que os levou a pensar em um meio mais original de manter a família, que estava se tornando cada vez mais numerosa.
Foi o que bastou. Instado por outro comerciante desanimado com a crise que vinha avassalando o comercio brasileiro e principalmente de Joaçaba, em virtude da guerra, ficou decidido que seria formada uma sociedade comercial que deveria se instalar na cidade de Cornélio Procópio, localizada no Norte do Paraná. Cornélio Procópio foi investigada pelo senhor Luiz Andretta, futuro sócio do meu pai. Naquela época, o Norte do Paraná havia se tornado conhecido em todo o Brasil, como um novo ―El Dourado‖, pois se sabia que uma Companhia inglesa, constituída por capital inglês e por ingleses, havia se instalado na região do Norte do Paraná, para constituírem um grande empreendimento de colonização. Para tanto, esse grupo de investidores recebeu do governo paranaense da época, quinhentos mil hectares de terras férteis, que deveriam ser colonizadas e vendidas a quem lá se dispusesse habitar e trabalhar na região. Isso colaborou decisivamente para encorajar meus pais a se aventurarem com toda a família. Esses fatos mereceram título próprio nesta biografia e estão relatados noutra parte do livro.
Engraxar Sapatos
Nesse mesmo quarteirão onde ocorreu o incêndio, mas antes dele, à frente e logo acima da avenida uns cinqüenta metros, funcionava o cinema Cartegianni onde, lembro-me, na tentativa de auxiliar a renda da família e suprir minhas necessidades financeiras, fazia ponto com uma engraxataria feita em madeira, uma caixa alta com uma cadeira confortável e suportes para os pés calcados dos clientes. Foi ali que, como engraxate, trabalhava nos dias em que ocorriam sessões cinematográficas, engraxando sapatos dos passantes e freqüentadores das seções cinematográficas. Nos demais dias da semana, quando não me era permitido trabalhar como engraxate na porta do cinema, à busca de clientes, procurava serviço nos hotéis da cidade melhorando a minha renda. Essa renda extra me proporcionava uma liberdade não muito comum às crianças da época, e que mais tarde, com o passar do tempo, foi-me muito útil, em razão da autonomia marcante em mim. Mas, essa receita não era utilizada apenas por mim e sim também, além das minhas necessidades, destinava-se a auxiliar a manutenção da família e a compra de roupas para meu irmão mais novo Heitor.
Ficou na minha memória a aquisição de dois pulôveres de lã (um para mim e outro para o Heitor) adquiridos de uma tricoteira que morava lá pelos lados da futura Catedral e por cujo caminho, nessa ocasião, acompanhado por minha irmã mais velha, Tere, quando passávamos por uma frondosa arvore produtora de nozes pecam, na tentativa de colher seus frutos, feri-me na altura da cocha com uma pedra afiada que foi arremetida para o alto, por mim. O sinal desse corte permanece até hoje em meu corpo.
A casa da tia Maria Fontana
Não poderia deixar de lembrar as minhas visitas à minha tia Maria Fontana (Dinda), que ficava no inicio da avenida XV de Novembro, quase esquina da Avenida Getúlio
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Vargas, onde morava. Lembro-me; era uma casa rebuscada (167), confeccionada em madeira de pinho da região, toda envernizada, em um estilo colonial próprio das residências dos ricos da cidade. Suas cumeeiras que se projetavam do telhado de telhas de barro goivas, clarabóias que se inseriam no corpo do telhado com suas janelas envidraçadas e embutidas, destinadas a fornecerem iluminação aos sótãos e seus cômodos lá existentes, geralmente dormitórios e que davam à construção um estilo próprio, gótico e marcante. Muitos cômodos, grandes espaços, a começar pela sala onde eram recebidas as visitas, entre as quais eu tinha a honra de ser recebido, pela tia Maria e onde me deliciava com seus biscoitos, sempre a espera dos visitantes.
Nessa sala, ricamente mobiliada com seus sofás no estilo Luiz XV, revestidos de veludo vermelho que, trabalhados em "capitonê‖ 168 davam ao ambiente maior luxo; armários confeccionados com a madeira nobre da imbuia e envidraçados com lâminas de cristais bisotado, que mostravam o interior, onde se viam depositadas peças de louças importadas, geralmente chinesa e ricos cristais da Boêmia. Mesinha console no estilo, com toalhinha de crochê sobre elas, confeccionadas pela própria Dinda. E a cristaleira? Objeto da minha cobiça, pois era dali que após oferecer, tia Maria retirava os biscoitos de polvilho da sua confecção e que tanto me deliciavam quando os provava.
Dividindo o mesmo espaço, ao centro, ficava o piano de cauda com suas teclas alvas de marfim e à esquerda, a sala de jantar composta de ampla mesa para oito lugares, com suas cadeiras em madeira entalhada e trabalhada ricamente e assentos estofados com veludo vermelho, confeccionados, também em capitonê. No centro, dividindo o ambiente, ampla porta interna que servia de acesso ao corredor central. Corredor esse que se estendia até a porta da copa e da cozinha, mas que servia para a distribuição dos demais cômodos da casa, composta de vários dormitórios, espaço para o escritório, assim como a biblioteca e a sala de música. Estas, também ricamente mobiliada e decorada. Meus primos, seus filhos; João, Pedro e Leonor tinham mais ou menos a minha idade, mas, estudavam em São Paulo e por isso eu tinha muito pouco contato com eles. Em razão disso eles muito pouco influenciaram minha infância.
O Rio do Tigre e a Catedral.
Embora já tenha explorado esse assunto, gostaria voltar a me dedicar a ele, pois, foi marcante na minha infância. Esse afluente do Rio do Peixe, enriquecido por sua vez, de águas originárias dos pequenos afluentes existentes nas fartas vertentes que nascem a oeste, nas encostas da cidade, em forma de um semicírculo, dão origem, inicialmente, a um pequeno curso que vai engrossando aos poucos e canalizado para o leito escavado na rocha, na direção a leste, até o encontro das suas águas com as do Rio do Peixe. Era um rio de águas límpidas e cristalinas que iam se poluindo à medida que penetram na área urbana em direção à corrente principal.
Partindo da Avenida Getúlio Vargas, transpondo esse rio, uma ponte, que liga á parte mais densamente povoada no outro lado, em direção leste, possibilitando
167 Veja foto do fotografo Paixão.
168 [Do fr. capitonné.] - Estofamento capitonê. Estofamento ou móvel estofado com tecido, couro, plástico, ou outro material preso de espaço a espaço (em geral com botões) formando losangos fofos.
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acesso a um braço de terra, formando por uma espécie de istmo, parcamente povoado à época. Ultrapassa-se essa corrente d‘água pela ponte que dá continuidade à Rua Getúlio Vargas, onde mais adiante, logo à direita, a pouco menos de duzentos metros, foi construída a nova Igreja Matriz católica, em estilo clássico normando.
A bela Igreja dedicada a Santa Terezinha.
A catedral cuja conclusão se deu após a migração da minha família para o Norte do Paraná e Frei Bruno, hoje é considerado Santo, Monge que já idoso, abrigou-se na paróquia e acabou se revelando grande benemérito da cidade, vindo a ser venerado, praticamente como santo, com festa que se tornou tradicional e atração turística de Joaçaba.
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Pois bem, esse rio, com suas margens ricas em matéria orgânica, corre sobre um leito formado de pequenos bancos de pedregulhos, terra e areia férteis, onde verdadeiros enxames de borboleta das mais variadas cores pululavam, esvoaçando e colorindo a paisagem com suas dançantes acrobacias combinadas, mais parecendo movimentos ondulantes, maravilhando-me (e aos passantes, que as observavam por sobre o parapeito da pequena ponte).
Nos meus retornos para casa, ‗a tarde, depois de dispensados das aulas do primário do Grupo Escolar Roberto Tranpowski, não raro, desviava-me do rumo de casa para contornar o parapeito da ponte e descer por entre a vegetação ribeirinha até a margem do rio, com o objetivo de deleitar-me com a variedade de cores em movimento oferecidos pelos enxames de borboletas multicoloridas, que por sua vez esbanjavam graça e beleza ao esvoaçarem, abrindo caminho, à cada avanço que fazíamos através mata ciliar, rica em vegetação rasteira a começar das margens, aumentando de altura e densidade, à medida que avançava vegetação adentro. Grandes árvores típicas da região, com pinheiros169 entremeando as outras espécies. Foi nesse local e portando um estilingue170, obrigatório a todos os ―moleques‖ da cidade, que ocorreu a minha primeira tentativa de abater um pássaro da fauna abundante no local. Fracassei! Graças a Deus. Nunca mais tentei, à exceção de muitos anos mais tarde, que reportarei mais à frente.
Como disse, na nova fase iniciada com a idade de sete anos, o desenvolvimento da grande guerra (1939-45), a primeira comunhão, inicio dos meus estudos no primeiro ano primário, com a relativa liberdade adquirida, comecei a ampliar os meus horizontes com andanças pela redondeza. Minhas caminhadas ocorriam quando me sentia solto, desobedecendo aos alertas da minha mãe.
Para dirigir-me ao Grupo Escolar onde eu estudava, bastava atravessar a ponte sobre o Rio Tigre e não raramente, também acompanhava minha irmã Tere para levar serviços de costura até o outro lado do Rio, onde existia uma senhora que era costureira e, não raro, minha mãe a utilizava para encomendar serviços de costura mais sofisticada, pois as demais eram feitas em casa. Isso ficava nas proximidades da enorme construção do que seria mais tarde a nova igreja católica, a futura igreja matriz, a catedral hoje existente, que não cheguei a vê-la construída, a não ser sessenta anos depois.
Minha Vida na Política
Meu pai era uma das lideranças regionais na região oeste de Santa Catarina e costumava estar presente às visitas dos políticos que visitavam Joaçaba e adjacências. Nas suas andanças, que abrangiam visitas mais a oeste, era costume acompanhá-los. Lembro-me de lhe ter feito companhia e ter visitado as regiões de Chapecó, Concórdia, Xaxim, Xanxerê e Dois Irmãos até a fronteira da Argentina, sempre acompanhando políticos do PSD procedentes de Florianópolis e Porto Alegre. Era costume formarmos caravanas nos fins de semana para excursionarmos a oeste do Estado divulgando a ideologia partidária e mantendo contato com os
169 Araucária.
170 Constituído de uma forquilha em forma de “Y”, duas tiras estreitas de elástico unidas por um pedaço de couro, onde se alojava uma pequena pedra roliça que era arremessada com força suficiente, o que a tornava uma arma eficiente e certeira que os meninos da época se utilizavam para caçar pequenos animais.
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políticos locais a fim de prestar-lhes apoio e prestígio. Também, acompanhava meu pai nas suas atividades partidárias, principalmente por ocasião das visitas dos políticos do seu Partido, mas, nunca participei dos comícios que eram comuns na cidade.
Comício em Joaçaba, onde se vê meu pai e minha mãe. Na fileira, no centro da foto, da esquerda para a direita, meu pai é o segundo. Seguindo na mesma linha, vê-se minha mãe ao centro das cinco mulheres que se destacam e que reconheço apenas as duas à direita da minha mãe, as primas: Alda Braganholo e Dalva Fuganti.
Em Cornélio Procópio, meu pai jamais participou de qualquer atividade político-partidária, pois ele havia decidido que não mais participaria ativamente de qualquer movimento político. Mesmo porque, estando no poder Eurico Gaspar Dutra, que havia vencido na disputa das urnas os seus adversários Eduardo Gomes, candidato da UDN, e Yedo Fiúza, do PCB, considerava-se com o dever cumprido, pois o PDS estava no poder, após seu partido ter se coligado com o PTB do ―Pai dos Pobres‖, como era conhecido Getúlio Vargas. Candidatos à presidência da República em 1950: Getúlio Vargas (PTB + PSDA, PSP), João Fernandes Campos Café Filho, Christiano Machado (PSD + PST), Eduardo Gomes (UDN + PL, PRP) e João Mangabeira (PSB)
Isso durou até meados de 1947, mas, após ter ocorrido a nossa mudança para Londrina, a ―comichão‖ voltou mais uma vez e, como tinha adquirido um estabelecimento conhecido como ―Bar Brasserie‖, onde grande parte dos políticos londrinenses costumava se reunir, logo formou novas amizades entre estes. Entretanto, os negócios não iam bem e os encargos com a família deveriam estar pesando, pois em pouco tempo, desfez-se do Bar Brasserie e voltou adotar sua antiga profissão, o de Tapeceiro, assim como reduziu suas atividades políticas.
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A elite oposicionista e a mídia dominante iniciaram uma campanha difamatória contra o governo Dutra e, pressentindo a volta do ―Pai dos Pobres‖, também contra Getulio.
Embora meu pai fosse filiado ao PSD, o comportamento da oposição mexeu com seus brios e alertou-o do risco que sua ideologia corria. E era preciso substituir o Presidente Dutra e isso por alguém capaz de eletrizar as massas, manejá-las, disciplinando-as como... ―como um Pai‖. Quem? Essa resposta estava muito clara na cabeça do meu pai. Assim, influenciado pela sua política, subi pela primeira vez num palanque político em 1950, por ocasião da candidatura de Getúlio Vargas que estava retornando à vida pública após quarto anos do seu afastamento da ditadura.
Nessa ocasião, embora eu ainda não pudesse votar, pois estava com 16 anos, acompanhava meu pai, que, embora continuasse afastado, sempre foi um entusiasta da política. Sempre do PSD (Partido Social Democrata), partido que vez por outra fazia oposição ao Getúlio. Só que dessa vez, não. O PSD havia formado uma aliança política com o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), cuja coligação tinha por objetivo enfrentar a UDN (União Democrática Nacional) que lançara como candidato Juarez Távora, general reformado do Exercito Brasileiro.
Isso foi em Londrina e o local do grande comício foi na praça que mais tarde abrigou moderna estação rodoviária, hoje desativada. Lá estava eu com meu pai que havia sido convidado pelos políticos locais para freqüentar o palanque armado e de onde o grande político ―Pai dos Pobres‖, Getúlio Dorneles Vargas iria discursar.
Nesse memorável comício ele iria fazer seu tão esperado pronunciamento logo após os oradores inscritos. Grande orador, logo ganhou a atenção do grande público171 que se distribuía praça afora em direção à Estação Ferroviária e ruas laterais. Com grande expectativa, Getúlio começou com o seu típico ―Trabalhadores do meu Brasiiiiilll...‖ prosseguindo seu longo discurso, cativando e arrancando constantes e repetidos aplausos. Getúlio foi eleito presidente do Brasil com esmagadora maioria.
171 Segundo a imprensa da época, havia na praça mais de quinze mil pessoas. O maior comício até então.
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Getúlio Dornelles Vargas - Foto Oficial do Presidente.
A partir daí, passei a ficar mais atento às questões políticas, pois além de me cativarem, estava começando minhas incursões na imprensa londrinense, ampliando meu círculo de pessoas amigas e conhecidas. À época, conheci e mantive contato com os demais políticos, autoridades, jornalistas e repórteres atuantes da cidade. Deles falarei mais tarde, quando relatarei minhas incursões na imprensa londrinense.
Voltando à política, passei a freqüentar os locais onde os políticos se reuniam. Devido ao conhecimento do meu pai, mantive contato com militantes do PSD e PTB. Com a minha lide de repórter, passei mais tarde, manter relacionamento com o PRP (Partido de Representação Popular – Partido Integralista Brasileiro).
No PTB de Londrina, privei da amizade de notáveis homens públicos, tais como o Deputado Federal Sebastião Vieira Lins, presidente do partido e numa única ocasião, do Presidente Getúlio Vargas e Gregório Fortunato.
No PSD, Deputado Nelson Maculam que veio a ser Ministro da Agricultura. Nelson Maculan foi suplente de Abilon de Souza Neves, tanto no Senado, como na substituição do PTB nas eleições (em que o vitorioso foi Ney Braga), porque Abilon, mineiro como era, desejava prestigiar um nome do Norte do Paraná, "e Maculan ocupava, temporariamente, a presidência da Sociedade Rural de Londrina.
No PRP, privei da amizade e companhia do então presidente do partido Ivan Luz e do admirável deputado Edgar Távora, ambos intelectuais e teóricos do Partido Integralista Brasileiro.
No PR (Partido Republicano). Fui porta vós de uma proposta que visava uma aliança política entre o Partido Integralista (PRP) e o Partido Republicano, por ocasião da
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candidatura a prefeito de Ivan Luz ao Deputado Amaury Silva, Presidente do Partido. Amaury, chegou a ser Ministro do Trabalho no governo de João Goulart em 1963.
Na UDN, apenas mantive contatos esporádicos e pouco relacionamento com Hugo Cabral, Milton Ribeiro de Menezes e Hosquen de Novais, sendo que os três foram excelentes prefeitos de Londrina. Conheci Adriano José Valente172 quando participava do governo de Milton Ribeiro de Menezes (1951/55), como Secretário Geral e foi o homem chave daquele governo, pois organizou a prefeitura, o que permitiu que o Prefeito fizesse uma ótima administração.
Adriano chegou a ser cogitado como candidato à Prefeito de Londrina. Entretanto com a derrota do seu Partido, para o PSD em que foi eleito Antonio Fernandes Sobrinho, mudou-se para Maringá, a convite de Milton Ribeiro de Menezes, aonde veio organizar o cartório do Segundo Ofício, que naquela época pertencia ao Prefeito. Hoje o cartório pertence ao filho daquele proeminente político, Gabriel Menezes. Apenas como registro deste livro, terminada a gestão de Antônio Fernandes Sobrinho, em sua segunda participação política, por justiça, Milton Ribeiro de Menezes foi reeleito.
Ainda, como repórter, desta vez, como ―FOCA‖ da Folha de Londrina, mantive contato com o militante comunista e advogado Flávio Ribeiro, presidente do PCB, com o qual mantive relativa amizade, o que me proporcionou a oportunidade de freqüentar, a seu convite, algumas reuniões clandestina do Partido Comunista Brasileiro, cuja agremiação se encontrava proscrita por ordem de Getúlio Vargas. Em certa ocasião fui convidado para estar presente, com a máquina fotográfica, por ocasião da visita de Luiz Carlos Prestes a Londrina. Com o local lotado, secretamente, ele se reuniu à tarde com seus seguidores, na sala de projeção do antigo cinema Camingnotto, localizado na Rua Quintino Bocaiúva. Esse cinema era de propriedade de Augusto Camingnotto de origem italiana e provável simpatizante comunista, dada a sua origem italiana, onde o fascismo prevalecia. Os negativos das fotos, naturalmente, foram entregues ao Dr. Flavio Ribeiro para que fizessem parte dos registros do PCB.
Em razão desses contatos, vejam só, acabei simpatizando com as propostas dos integralistas da cidade e formei com eles novas amizades políticas. Participei da campanha eleitoral em que esse proeminente homem público, Dr. Ivan Luz foi candidato a prefeito, infelizmente derrotado, mas com excelente votação, o que lhe proporcionou uma vantagem política, pois nas próximas eleições veio a ser eleito Deputado Federal por Londrina. Na mesma época, o também advogado Edgar Távora foi eleito Deputado Estadual. Ambos foram políticos éticos e trabalhadores. Dr. Ivan Luz, findo o mandato, permaneceu em Brasília a convite do então Presidente do Congresso Nacional para que chefiasse a Secretária Geral. Nunca mais voltou à Londrina. Diferentemente, Edgar Távora, com o fim do seu mandato, estabeleceu-se em Curitiba com seu escritório de advocacia.
Confesso que cheguei, por momentos, pensar em candidatar-me à Câmara de Vereadores, mas como não era membro do nenhum partido desisti por achar que não teria nenhuma chance. Fiz bem.
172 Mostrei esse trecho a Adriano Valente que o aprovou integralmente, assim como as demais menções que faço sobre o seu envolvimento na política Londrinense.
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Mas, continuei interessado nos acontecimentos políticos, tanto nacionais como regionais. Em 1951, véspera do grande dia, viajei para o Rio de Janeiro no desejo de assistir a posse de Getúlio Vargas que se daria em 31.01.1951. Para tanto, aceitei convite de um vizinho amigo advogado e fiscal da receita federal, Dr. Afonso Gomes Magioli, chefe da fiscalização regional com sede em Londrina. No Rio, hospedei-me no recém-inaugurado Miramar Pálace Hotel, localizado entre o Posto 5 e 6, em Copacabana. Acabado o dinheiro, transferi-me, a convite do meu amigo Aroldo, sobrinho do Dr. Afonso, para a residência do Almirante Pena Boto localizado no Jardim Alá, bairro de Ipanema. Explico: Aroldo, além de parente do Dr. Afonso, era também parente do Almirante. O Almirante, todos sabem, era assíduo militante do Partido Integralista Brasileiro. Senti-me em casa, pois em razão das amizades que eu mantinha em Londrina, fui muito bem recebido em sua casa.
A posse de Getúlio e do seu vice, João Café Filho, estava marcada para as 15 horas, primeiramente no Palácio Guanabara, sede do Congresso Nacional, onde o presidente do Congresso confirmaria os resultados da eleição, declarando-os eleitos. Logo em seguida, Getulio e Café Filho seriam transportados pelo carro oficial ao Palácio do Catete, onde seria realizada a cerimônia de transmissão de posse173.
Enquanto no cenário internacional os EEUU anunciavam o prosseguimento das experiências atômicas no Oceano Pacífico, depois de detonarem duas bombas atômicas de vinte magatons na cabeça dos japoneses,. Nagasaki e Hiroshima, matando mais de cento e cinqüenta mil pessoas, com conseqüência terríveis, lá estava eu, no Rio de Janeiro cumprindo minha determinação em assistir a tão esperada posse de Getulio. Nesse dia, logo cedo, tomei um bonde que passava em frente do Miramar Palace Hotel. Esse bonde fazia a linha da Avenida Atlântica, pela orla marítima e passava pelos bairros do Botafogo e Flamengo rumo ao centro da cidade.
Ao chegar, constatei que era impossível chegar ao Palácio pelos seus jardins, como ma havia ensinado pelo Deputado Sebastião Vieira Lins, quando esse me fez o convite. Sabia que havia duas alternativas, teria que atingir a Rua do Catete através da Rua Ferreira Viana, ou dar a volta pelo outro lado174. Mas, a Rua do Catete e suas imediações estavam interrompidas para o trânsito de veículos e pessoas. Vigilância rigorosa me impediu que eu chegasse até o Palácio do Catete, que mesmo frustrado, permaneci na redondeza tentando de todas as formas me aproximar, tendo sido impedido em todas as minhas tentativas. No dia seguinte, agora com o trânsito liberado, voltei à Rua do Catete e fui ao Palácio para tentar justificar-me ao londrinense Deputado Vieira Lins, a minha falta.
Embora já conhecesse o negro Gregório Fortunato em outras ocasiões, notadamente no comício realizado em Londrina, fui novamente apresentado a ele pelo Deputado Sebastião. Gregório era amigo e guarda costa pessoal de Getúlio175.
173 A história que antecede a posse de Getúlio nos mostra os acontecimentos para que tal acontecesse. É que a oposição, comandada pelo jornalista Carlos Lacerda, havia entrado com recursos jurídicos junto ao Tribunal Federal, contestando a legitimidade e legalidade do candidato Getúlio Vargas, tese que foi derrotada
174 Naquela época, o bonde passava somente pela Avenida Atlantica e, ainda não havia o aterro do Flamengo. Assim, desembarcava-se praticamente à frente dos jardins do palácio à esquerda e à direita, a baia do Botafogo.
175 Essa figura pode ser estudada com detalhes, se o leitor procurar saber das circunstancias que levaram o Presidente Vargas ao suicídio em agosto de 1954.
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Frustrado por ter perdido a cerimônia de posse de Getúlio, tratei de voltar a Londrina e retomar minhas atividades como repórter, desta vez, no Jornal ―O Combate‖ de propriedade do Jornalista Marinósio Trigueiros Filho. Baiano, criado no Rio antigo, freqüentador dos meios artísticos e musicais da Lapa radicados em Londrina, cuja esposa também baiana, cozinhava admiravelmente. Foi com ela que apreendi vários pratos baianos e de utilizar-me do azeite dendê que fazia as delícias dos seus convidados.
Marinósio era uma espécie de consultor público e também temido pela elite de Londrina em razão da sua condição de jornalista crítico. De excelente visão do mundo, jornalista e emérito compositor. Na realidade, foi dele aquela marchinha carnavalesca vencedora do carnaval carioca, ―Cachaça‖. Ele era constantemente assediado por pessoas comuns e pelas autoridades da cidade para ouvirem suas colocações e ponderações. Foi um ótimo amigo.
Como esta declaração deverá causar polêmica, com respeito à marchinha carnavalesca, transcrevo aqui os versos originais que originalmente fora gravada em disco de vinil no Uruguai mais ou menos em 1949/50176, durante uma turnê de um grupo de saltimbancos do qual Marinósio fazia parte.
1° Verso:
―Você pensa que cachaça é água,
Cachaça não é água não,
Cachaça vem do alambique e
Água fica no Purão177.
2° Verso:
Rapaz toma cuidado,
Por causa dela não beba assim,
Olha que é breve a vida e
Ela é tão perdida que quer ver seu fim‖.
A bem da verdade, o registro dessa autoria no Brasil deverá apontar como autores os cantores Mirabeau, Colé e Carmem Costa, mas, presenciei o início dessa polêmica que ocorreu durante uma das nossas cervejadas dentro do Bar Elite do ―Seu João‖, na Avenida Rio de Janeiro em Londrina.
Lembro-me bem que, surpreso, Marinósio, ao tomar conhecimento do sucesso do lançamento da sua música carnavalesca no carnaval do Rio de Janeiro, indignado, viajou imediatamente para lá e, quando voltou nos explicou que fora feita uma oferta que não pode recusar e após negociação, vendeu seus direitos autorais ao grupo acima citado. Entretanto, renegociada a autoria da Cachaça, ficou constituído o registro da música, tendo como seus autores o mesmo Mirabeau Pinheiro e excluídos na segunda negociação Cole e Carmem Costa, que foram substituídos
176 - Na história desta música consta que ela foi gravada e lançada no carnaval carioca em 1953.
177 (Purão é uma espécie de pote de barro destinado ao deposito de água fresca)
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pelos compositores L. de Castro e H.Lobato. Assim deve ser o mundo mágico da música.
Logo depois, participei de um concurso público concorrendo a uma vaga oferecida pelo IBGE (Instituto de Geografia e Estatística). Dada à urgência do Governo fui aprovado e em seguida nomeado ―Agente de Estatística classe ―D‖,‖ com lotação na Agência do Instituto em Londrina (22/03/1956). Em razão do escasso quadro funcional, fui transferido para a Agência de Paranavaí, onde assumi imediatamente. Lá, encontrei como chefe da Agência, Rondon Toledo Goulart, que disfarçadamente professava a ideologia comunista. Ano e meio depois, desliguei-me do IBGE, frustrado, pois levantamento regional autorizado com o objetivo de detectar os problemas da região foram parcialmente manipulado, mudando significativamente as informações colhidas com grandes dificuldades e altos custos.
Inconformado, montei um extenso relatório e o entreguei pessoalmente ao Presidente Jânio Quadros, denunciando aquele e outros fatos graves que ocorreram durante a minha estada em Paranavaí. Coloquei esse dossiê no correio, ao mesmo tempo em que comunicava o meu desligamento irrevogável do (IBGE) Instituto e, com auxílio do Senador Atílio Fontana (meu tio, irmão da minha mãe), que estava reunido em Florianópolis com o Presidente, por ocasião da reunião de governadores convocada pelo Presidente da República, entreguei nas mãos do Presidente Jânio Quadros, relatório detalhado com as minhas razões. Após, fiz questão de esquecer o assunto.
Ano mais tarde, ao tentar saber qual providência fora tomada em virtude das denúncias, soube que tudo ainda se encontrava na gaveta do Diretor Regional do Paraná, em Curitiba. Nada foi feito para corrigir as distorções das informações que acabaram de fazer parte de uma coleção impressa pelo IBGE sobre produção agrícola - sob um título que não me recordo mas que se tratava de levantamento previsional da região do noroeste do Paraná - e também quanto à necessária investigação.
Minhas atividades sócio-políticas em Paranavaí, naquele período, se restringiram em manter amizade com Benedito Pinto Dias (vulgo - Jorginho da Boa) 178. Na mesma ocasião exerci a atividade de cronista social no jornal ―O Noroeste‖ de Euclides Bogonni. Da mesma forma, continuei minha antiga colaboração com a Folha de Londrina, mantendo uma coluna sobre assuntos estatísticos, cujos artigos, eram remetidos diariamente a Londrina, por avião.
Em razão do meu desligamento do IBGE, retornei a Londrina e lá, juntamente com meus pais e irmãos fundamos a primeira empresa do grupo ―Bertin‖, Decorações Bertin Indústria e Comércio S.A. Nove anos mais tarde, transferi-me para Maringá por decisão do conselho da família, que decidiu ampliar os negócios dado o resultado alcançado em Londrina.
Uma vez instalada a segunda empresa do grupo ―Bertin‖, com o nome de Decorações Bertin Ltda., em Maringá, comecei a manter contato com o Dr. Adriano José Valente eleito prefeito da cidade em 1968 para a gestão 69/72, facilitado pela minha antiga amizade que teve origem em Londrina. A convite do Dr. Adriano, a
178 Era conhecido por esse apelido, pois era agente da BOA Transportes aéreos.
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partir de 1969, participei como membro de diversas comissões de licitação, dentre as quais, as que autorizaram a desapropriação da área que permitiu a criação e instalação da UEM e que permitiram o inicio das primeiras construções das edificações da recém criada (seis de novembro de mil, novecentos e sessenta e nove) UEM (Fundação Universidade Estadual de Maringá, pelo então Governador Paulo Pimentel179).
Participei da licitação em que a IPACIMA, uma indústria de pré-fabricados, foi a vencedora fornecendo as primeiras edificações que tornou possível a urgente instalação da universidade; participei da criação do Parque de Exposição que na época levou o nome do então governador Haroldo Leon Peres; da inauguração em 1970 do SENAI (Serviço Nacional da Indústria ligada à Confederação Nacional das Indústrias; da construção do prédio do Quarto Batalhão da Polícia Militar; do Quartel do Corpo de Bombeiros e seus equipamentos; participei da instalação da CODEMAR (Companhia de Desenvolvimento de Maringá) dirigidas inicialmente pelo Marco Antonio Loureiro Correia e Manoel Ribeiro, tendo participado de seu Conselho, chegando a ser seu presidente por longo período.
Estive presente no planejamento e execução das mais notáveis obras executadas pelo exemplar prefeito: Além das obras acima citadas, a criação do ETEPLAN (Escritório Técnico de Planejamento), por muitos, considerado muito arrojado para a época, dirigido pelo excelente arquiteto Dr. Fernando Queiroga, do qual me tornei amigo, assim como de sua equipe; o planejamento e execução do Parque do Ingá; a execução de grande parte do sistema de água potável que, ao final do seu mandato deixou a cidade com mais de 75% (setenta e cinco por cento) da população da cidade com água tratada que viabilizou o funcionamento da rede de esgotos, etc.
Uma coisa ainda não foi dita ou escrita: A galeria dos prefeitos composta de quadros a óleo que são verdadeiras obras de arte fora criada pelo Prefeito Adriano. Deixo aqui registrado esse fato, pois dele participei pessoalmente, como comerciante especializado em decorações (Decorações Bertin Ltda.), onde eram oferecidas aos clientes numerosas obras de arte, entre as quais, telas a óleo, pintadas pelos mais renomados pintores brasileiros e alguns estrangeiros radicados no Brasil. Eu mantinha contato com diversas galerias de arte de São Paulo e Rio de Janeiro, que me forneciam suas telas ao mesmo tempo em que aceitavam encomendas.
A Galeria Nossa Senhora de Copacabana, entre todas, me fornecia suas obras primas. Ficava na avenida do mesmo nome, n° 80, em Copacabana. Seus proprietários eram marido e mulher, Alexandre Heller e sua esposa, ambos festejados pintores do Rio e muito conhecidos nos meios artísticos nacionais e internacionais. Convidei-os para visitarem o Norte do Paraná, pois já tinha percebido o potencial da região, ávida para adquirir objetos raros e de difícil aquisição dada a distância e dificuldade de transporte à época.
O casal Heller fez sua visita a Maringá no ano de 1971, em uma possante limusine UDSON e, com ele, vieram dezenas de telas pintadas a óleo de diversos pintores famosos. Entre os que assinavam as telas estavam Manabu Mabe, Sansão Pereira, Gastão Formentti, etc. Entre os principais clientes por nós visitados, figurou o
179 A assinatura do decreto de criação da UEM pelo Governador Paulo Pimentel, ocorreu em reunião festiva conjunta dos Rotarys Clubes Maringá e Maringá Leste (no qual eu era membro fundador), ocorrida no Maringá Bandeirante Hotel.
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Prefeito Adriano José Valente que adquiriu algumas obras para a sua residência e que lá se encontram até hoje.
Foi nessa ocasião que o Prefeito Adriano criou a Galeria dos Prefeitos, composta de retratos confeccionados a óleo por pintores de renome nacional. Lembro-me que o comerciante e pintor Alexandre Heller ofereceu-se em consultar alguns pintores de São Paulo e Rio de Janeiro para que o desejo do então Prefeito fosse realizado. No ano seguinte, lá estava a encomenda com as fotos dos prefeitos anteriores e inclusive a sua, colocadas, destacadamente, à entrada do Gabinete.
Participei da campanha para a eleição de Gabriel Sampaio, eleito Deputado Estadual no mesmo ano em que Dr. Adriano José Valente foi eleito prefeito.
Em plena ―Revolução‖ instalada pelo golpe militar, 1969, senti necessidade de não me furtar ao momento histórico, filiei-me ao MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e mais tarde, após sua transformação, ao PMDB, onde militei e cheguei a fazer parte do Diretório do Partido. Participei como membro do Comitê do Partido que organizou e orientou a campanha vitoriosa na primeira eleição do Dr. Said Felício Ferreira, como Prefeito de Maringá.
Minha filiação ao PMDB.
Fui nomeado Secretário Extraordinário, encarregado de fazer projetar e construir a CEAMAR (Centrais de Abastecimento de Maringá), órgão que preencheria o vácuo deixado pela ausência da CEASA (Centrais de Abastecimento do Paraná S.A.) 180. Após a conclusão do projeto, a pedido do Dr. Said, iniciei contato com os possíveis empresários que estivessem interessados no financiamento e execução das obras para que o Poder Público Municipal providenciasse a devida licitação. Concluído o meu trabalho, pedi exoneração do cargo, liberando o prefeito para que desse prosseguimento ao seu projeto.
Enquanto minha atividade comercial tinha seqüência, fui eleito Presidente da ACIM naquela época denominada ―Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Maringá‖ mais tarde adotando o nome atual de (ACIM - Associação Comercial e Empresarial de Maringá). Durante a minha administração (1974/75) desse importante órgão representativo do empresariado maringaense, ocupei-me da criação do futuro sindicato do comércio varejista na cidade, atual SIVAMAR, cuja história estará sendo detalhada resumidamente em outra parte deste livro181.
180 Dr. Said, logo que foi eleito, encontrou certa indisposição da parte do Governador para com seus projetos. O que foi acertado mais tarde e, a Ceasa foi construída e logo entrou em funcionamento.
181 Elaborei a historia do Sivamar em uma série de livros que estão publicados na internet em meu blog.
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A separação da primeira esposa permitiu-me repensar minha vida política e social, pois, a minha segunda esposa era militante da ―esquerda‖, o que causou uma reviravolta nos rumos que eu havia tomado. Há que se entender que, até então, meu envolvimento com a sociedade era puramente social e empresarial. Meu círculo de amizade e conhecimento se limitava à classe média e alta. Meu comprometimento político não envolvia partidos políticos ou mesmo políticos do centro, direita ou esquerda, mas, sabia que estava sendo constantemente vigiado no meu comportamento. A Elite maringaense se sentiu enganada182 quando minha ligação política ficou mais clara. Mas, aí, já era tarde. A minha entronização como maringaense já havia ocorrido, com a participação social, ao integrar o Rotary Club Maringá Leste, não só como um dos seus membros, mas, como seu fundador e colaborador, sendo eleito Presidente e ou diretor dos diversos departamentos ―Avenidas‖. Como empresário destacado, com a minha eleição como Presidente da ACIM e como fundador e presidente do primeiro Sindicato patronal urbano da cidade, o Sivamar, Além do mais, como membro de partido político destacado, o PMDB, estava consolidado como cidadão maringaense.
Estava cansado do liberalismo existente implantado pela direita brasileira. Na minha atividade sindical patronal, sentia claramente os rumos adotados pelos representados e associados que eram inocentes úteis ou omissos, ou totalmente voltados à selvagem economia de mercado e que acabou se consolidando no neoliberalismo hoje existente, que renega as formas socialdemocratas, protegendo o crescimento econômico dos mais ricos a ponto de declarar que ―se os magnatas estagnarem em suas riquezas e os pobres enriquecerem, o Estado estará fracassando no seu empenho de bem governar‖. O neoliberalismo chega a negar sua origem em razão da crise estrutural e histórica do capitalismo, na qual tem origem. Para exemplificar, transcrevo aqui texto183 que expõe o dano que o neoliberalismo está causando; são quatro teses sobre o neoliberalismo como projeto político, a saber:
1) ―que ele não garante equânimes condições objetivas para o exercício da liberdade de todos os indivíduos nas sociedades em que se implanta, sendo um projeto político excludente que favorece a realização ampla da liberdade da minoria de uma dada sociedade em detrimento do exercício objetivo da liberdade da maioria (3);
2) que é uma concepção de mundo imoral em que usar e descartar pessoas em função de vantagens privadas torna-se, no limite, o lema principal;
3) que propaga uma ilusão, pois é impossível historicamente atingir os fins que propõe com os meios que preconiza, uma vez que estabelece um modelo formal de concorrência ideal impossível de ser realizado;
4) que é um modelo econômico incapaz de enfrentar a crise do trabalho no sistema de produção de mercadorias da atual economia globalizada‖.
182 Soube disso muitos anos mais tarde por um comerciante aposentado. Ele me disse que muitos me consideravam um traidor da categoria, por ser petista.
183 Revista Filosofazer. Passo fundo, Ano 6, N.11, 1997/2, p. 83-103 - www.milenio.com.br/mance/quatro.htm
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Entretanto defender essas teses não era do meu feitio, pois, o meu interesse naquele momento, estava voltado para a criação e instalação de um sindicato patronal voltado à defesa do comércio varejista de Maringá, que se ressentia por ter que cumprir as Convenções Coletivas de Trabalho realizadas em Curitiba e que não tinham nada a haver com a nossa realidade. Assim, dediquei-me de corpo e alma ao projeto, do qual falarei em outra parte deste livro.
Nada de política partidária. Assim, por algum tempo fiquei afastado de qualquer militância partidária, pois esta poderia interferir na consolidação do projeto sindical que tratei de concretizar o mais rapidamente possível, conforme o leitor poderá ler em capítulo detalhado em outra parte deste livro.
Após 25 anos como presidente do SIVAMAR disputei as últimas eleições que se realizaram em 1996. Derrotado, voltei às minhas atividades partidárias, desta feita na militância do PT (Partido dos Trabalhadores). Entretanto, por considerar que filiar-me ao PT exigiria de mim muita responsabilidade, somente filiei-me ao partido em 2003.
Participei ativamente, juntamente com minha esposa Maria Lucia Ferreira Gomes, da campanha eleitoral que elegeu prefeito do município José Cláudio Pereira Neto e dele me tornei amigo, assim como a João Ivo Caleffi, seu vice. Em dois de janeiro de 2001, com muita honra incorporei-me ao governo de ―Zé Cláudio‖ (era como todos nós militantes o tratávamos, assim como todos, fossem amigos ou inimigos), ao ser nomeado por ele como Diretor Administrativo, Contábil e Financeiro do SAOP (Serviço Autárquico de Obras e Pavimentação) órgão autárquico do município. Lá permaneci até a sua morte prematura.
Em outubro de 2003, após sanear o órgão que encontramos totalmente sucatado, constituídos no equipamento rodante de máquinas leves e pesadas, que, ao assumirmos, encontravam-se inoperantes em mais de 90%. Não havia equipamento novo: nem máquinas, nem móveis (cadeiras, estantes, etc.), nem material de expediente, assim como ausência quase completa de computadores, a não ser algum equipamento jurássico de informática, também sucatados. Rede e internet, nem se fala. Entretanto, o pessoal que lá encontramos, salvo raríssima exceção, era competente e por isso não tivemos dificuldades em recuperar e administrar aquela autarquia.
Nesse meio tempo, veio à morte prematura do nosso querido Zé Cláudio. Com a conseqüente posse do Vice Prefeito João Ivo Caleffi, em outubro de 2003, foi-me dada a incumbência de dirigir a Diretoria de Compras e Licitações no Paço Municipal e acumulando, fui nomeado diretor financeiro da URBAMAR. No Paço Municipal, a situação encontrada por mim no SAOP não se repetiu, pois esse setor estava perfeitamente aparelhado em cumprir com sua finalidade, principalmente com o pessoal que lá encontrei. As falcatruas praticadas pelo prefeito anterior não atingiam esse setor.
Neste ano de 2004 (novamente com minha esposa), participei ativamente da campanha para a reeleição de João Ivo Caleffi, infelizmente derrotado pelas forças neoliberais. Espero que o povo tenha alguma oportunidade real. Nesse ano, com o resultado negativo obtido e com o desligamento político do nosso candidato
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derrotado, resolvi me afastar da militância partidária e suspendendo minhas atividades como empresário e advogado. Aposentei-me após completar meus 74 anos.
Acidentes e Incidentes.
Recordo-me de um acidente grave184, foi quando cai com o joelho esquerdo sobre uma taboa de madeira que se encontrava cheia de pregos, provocando-me um ferimento doloroso, perfurante e profundo. Minha mãe, como sempre atenciosa e experiente, providenciou os curativos que lhe foram receitados pelo único médico da cidade e que se resumia em lavar muito bem o ferimento e passar sobre ele uma pomada que era amplamente conhecida, Pomada Minâncora185. Depois de algum sofrimento, logo o ferimento foi curado sem maiores conseqüências. Tenho essa cicatriz até hoje.
Eu era um admirador de pessoas que conseguiam andar de bicicleta. Quando eu tinha mais ou menos 7 anos, lembro-me que costumava sentar-me no meio fio da calçada para beneficiar-me do calor do sol, principalmente no inverno em que a temperatura baixava em torno de 0° graus e ia se amainando no decorrer da manhã, mas permanecia frio por algum tempo. Aldo Poçagno era o meu concorrente nas lides de engraxate, mas era meu amigo e tinha uma bicicleta. Certa manhã emprestou-me a sua e imediatamente acomodei-me sobre ela, depois de ter alguma dificuldade em montar-lhe, pois era muito alta para mim e tentei sair pedalando. Com algum sucesso, segui por alguns metros em linha curva e voltei-me na direção ao meio fio que não consegui evitar, indo bater com força contra ele. Resultado: fui projetado por cima do guidão e estatelei-me sobre a grama da calçada. Muito mais que a queda, foi o orgulho ferido. Sem agradecer o empréstimo, abandonei Aldo e sua bicicleta e corri para casa que ficava a poucos metros dali. Naturalmente, esse também nunca comentei com ninguém esse incidente.
Nos fundos do terreno do prédio que nos servia de residência e onde meu pai tinha a sua loja ―Bazar da Cidade‖, havia alguma vegetação com poucas arvores frutíferas e uma pequena horta onde minha mãe plantava pequena quantidade de cheiros verdes e folhas comestíveis. Mais ou menos no centro do terreno, logo após o poço que nos abastecia de água levemente salobra, havia uma goiabeira em cujos galhos eu praticava as minhas acrobacias à maneira de Tarzan. Numa dessas peripécias, balançando-me nos seus galhos, tentei saltar de um galho para outro, mas ao tentar segura-lo, minhas mãos não suportaram o peso do meu corpo e se soltaram com a força da gravidade fazendo a sua parte. Esborrachei-me com minhas costas voltadas para o chão que se encontrava a mais de um metro logo abaixo. Perdi completamente a respiração e por alguns segundos pensei que ia morrer. Recuperei-me e me levantei rumando para a escada externa do apartamento em que morávamos no segundo pavimento e dirigi-me à minha cama, onde descansei por alguns minutos sob os olhares atentos da minha mãe que nada me perguntou e eu nada disse.
184 1942.
185 Pomada Minâncora (composta por um agente secativo Óxido de Zinco, um agente anticéptico Cloreto de Benzalcônio, uma substância analgésica Cânfora e um emoliente Óleo Mineral) que tem sua essência até hoje preservada. Reduz a inflamação cutânea, pois envolve e protege a sua pele do ataque de agentes externos e do ressecamento excessivo. Devido a sua poderosa ação anticéptica ajuda no tratamento e previne as infecções que atacam a pele.
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Era costume certa rivalidade entre alguns grupos de garotos que se organizavam em ―quadrilhas‖ e se entretinham em praticar ―guerra‖, utilizando-nos de bodoques (fundas ou estilingues) que nós mesmos fabricávamos. Para tanto, preparávamo-nos para essas escaramuças com pequenas pelotas de barro endurecido que produzíamos misturando argila com água e deixando-as secar ao sol. Isso nos fornecia excelente munição e muito segura, pois ao atingir o alvo, que geralmente era o nosso desafeto pertencente à outra turma; essa pelota se esfarelava sem causar danos de monta no adversário. Numa dessas ocasiões, um desses projéteis disparado por meu irmão Heitor, atingiu a testa de um garoto adversário que em seguida perdeu os sentidos. Alertados pelos outros garotos, fugimos em desabalada carreira e nos escondemos em nossas casas. Por algum tempo ficamos observando ansiosos para ver qual a conseqüência do acidente, mas ao avistarmos o garoto atingido se dirigir chorando à sua casa, fiquei aliviado nas minhas preocupações.
Como sempre, fui tirar alguns dias de férias escolares na casa da minha tia Vitória em Bom Retiro. Em outra parte deste livro, vocês poderão ter uma idéia de como era essa tia. Como é próprio da idade, estava eu com meus primos e primas procurando o que fazer, quando Antenor (filho do tio Cândido Panis) apareceu montado num petiço um tanto quanto xucro. Convidou-nos a todos para montá-lo, ao que aceitamos com grande entusiasmo. Um a um, fomos experimentando a montaria até chegar a minha vez. - Antes, quero afirmar que já possuía certa prática em montar animais, pois, nos vastos terrenos das propriedades dos meus tios e tias, sempre se encontravam diversos tipos de animais que serviam de montaria, tais como: Eqüinos, ovinos, caprinos, etc. –
Pois bem, montei-o com certa desenvoltura fazendo a montaria se movimentar com certa velocidade. Mas, ao tentar pará-la, puxando as rédeas, um tanto quanto violento, esta parou como que empacada, o que me projetou por sobre o seu pescoço, provocando a minha queda logo à sua frente. Conseqüência: Ao estatelar-me no chão à frente do animal, caído de costas, mais uma vez, perdi o fôlego, sendo atendido pelos meus preocupados acompanhantes. Naturalmente, como é próprio nesses acontecimentos, nada dissemos à nossa tia Vitória, mantendo o acontecimento na maior cumplicidade e no mais absoluto sigilo.
Em outra ocasião, fui convidado pelo meu primo Antenor, para dar uma volta num cavalo pampa, de cor marrom e branca, bom de montaria, segundo ele. Aceitei, montando na garupa e lá rumamos à Pitoca186, local distante da cidade, mais ou menos uma légua. Suportei a viajem na ida e na volta, mas, por vários dias, sem poder montar, pois minhas nádegas ficaram inflamadas, tantas foram as esfregações sofridas nessa pequena aventura.
O que vou relatar, considero-o como acidente, dado os fatos que passarei a narrar: Com mais ou menos 10 anos de idade, fui colocado interno no seminário de Luzerna mantido pelos Frades Franciscanos que administravam um convento para a formação de futuros padres. Nos primeiros meses, cheguei a me acostumar com a vida franciscana que levávamos, mas com o passar do tempo isso começou a me deixar marcas, de forma que, não mais me sentia entusiasmado. Com certeza,
186 Pitoca era o nome conhecido do local onde o meu tio Cândido criava seus garanhões (cavalos) que eram fornecidos ao Exército Brasileiro.
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carente e desanimado, entrei em ―parafuso‖, coisa que naquela época não se levava em consideração.
Os Frades Franciscanos possuem uma propriedade em Luzerna, extensa, que começava com o enorme prédio onde se localizava o seminário, convento propriamente dito e que se estendia a outras dependências, até um enorme celeiro onde eram armazenados os cereais que eram colhidos na propriedade. Ajudávamos em tudo, pois o estabelecimento não possuía empregado nem para as tarefas domésticas que eram realizadas pelos próprios padres e os alunos mais capacitados. Entretanto, o restante dos internos fazia os serviços considerados mais leves, tais como: Lavar os intermináveis assoalhos, limpeza do enorme pátio que cercava o edifício principal, ajudar na colheita dos cereais e principalmente do milho, que, com o qual, alimentavam os inúmeros animais que serviam como tração e alimentação, etc.
As tarefas eram realizadas em pequenas turmas que se encarregavam e se desincumbiam satisfatoriamente, sempre observadas por uma pessoa mais velha, geralmente um frade. O estresse era a tônica normal, pois sem a presença dos nossos pais, logo começávamos sentir essa falta e, conseqüentemente, o nervosismo se instalava em todos os candidatos ao celibato. Todos os alunos possuíam o seu hobby. Eu, da minha parte, possuía um pequeno canivete, com o qual, nas raras horas ociosas, procurava esculpir pequenos pedaços de madeira dando-lhe formatos dos mais variados.
Numa dessas ocasiões, quando estava absorto com meus pensamentos sem rumo, acercou-se de mim, um dos meus coleguinhas ainda desconhecido, que logo começou a provocar-me por razões que eu não entendi e ao mesmo tempo, tentava me desequilibrar do banco onde me assentara. Ato contínuo, virei-me, e ao mesmo tempo levando o braço que segurava o canivete na sua direção, chegando a lhe riscar o abdômen, provocando-lhe um corte, mais que um risco extenso, mas, felizmente, superficial. Isso foi a gota d‘água. No dia seguinte, meu pai foi convocado com a finalidade de relatar-lhe o ocorrido e retirar-me do Seminário. Foi uma expulsão que não me deixou marca, pois nunca me senti culpado pelo incidente. Nunca fui criticado pelo acontecimento, nem por meus pais e nem por ninguém conhecido ou desconhecido, nem mesmo pelas demais crianças minhas amigas e ou parentes.
Em Londrina, certa ocasião, estava voltando para casa tarde da noite de bicicleta. Tinha saído do cinema, quando ocorreu um apagão que deixou a cidade às escuras por algumas horas, o que era comum naqueles tempos, pois apenas duas pequenas usinas de força forneciam energia para a cidade - A usina de Apucaraninha e a usina Três Marcos.
Pois bem, para dirigir-me à minha casa que ficava na Avenida Rio de Janeiro que era de chão sem revestimento, optei pela Avenida Minas Gerais, que naquela época era calçada com paralelepípedos. Quase sem visualizar à frente, ao me aproximar do Hotel Londrina, já perto da minha casa e trafegando muito lentamente pelo centro da via, com o céu nublado e estando escuro como breu e nada se via, choquei-me com algo, fui parado bruscamente, estatelando-me no chão. Havia abalroado uma pessoa por traz entre as pernas. Levantei-me rapidamente e logo recebi uma
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bofetada desse alguém que eu havia abalroado. Sem mesmo ter vislumbrado a pessoa que me agrediu, tateei até encontrar o meu veiculo e me dirigi para casa que já estava perto, mas, desta vez, desmontado, onde curti a minha frustração. Levei o bofetão sem ter visto quem era o agressor. Nunca soube quem era o atropelado.
Quem não teve um desafeto na vida, alguma vez? Pois bem, eu tinha. Para fazer o caminho, ida e volta, da minha casa até o Colégio Estadual Professor Vicente Rijo, para encurtá-lo eu me utilizei de um atalho da linha férrea, em lugar ermo, ao lado da estação ferroviária. Certa ocasião, após provocação feita por esse ―inimigo‖, durante o recreio e ficado aquela sensação de algo não concluído, findo as aulas, cada um procurou refazer o caminho de casa. Dirigi-me de volta utilizando-me do mesmo percurso costumeiro, quando, ao procurar ultrapassar os vagões que normalmente bloqueavam o meu caminho, ao descer pelo outro lado, fui obstado pelo meu adverso, um garoto da minha idade que procurou me provocar barrando-me. Obstado por ele e seus colegas, inferiorizado em números, optei por agredir-lhe com o que tinha nas mãos, uma bolsa escolar carregada de livros e cadernos, atingindo-o no rosto. Apressadamente, procurei me afastar do local sem que nenhum me impedisse, tendo chegado à minha casa sem maiores dificuldades.
Na primeira vez que me envolvi em acidente de veículo automotor foi quando arranjei um ―bico187‖ com um viajante distribuidor de doces de nome Ademar. Tornei-me seu auxiliar. Ele possuía um caminhão tipo furgão de marca ‗International‖, ano 45/46, câmbio seco, com o qual transportava mercadoria composta de doces dos mais variados. Aqueles doces que todos conhecemos: De abóbora, batata, goiabada, bolachas de mel recobertas com açúcar ou com chocolate, etc.. Esses doces vinham embalados em pequenas caixas de papelão, entre papeis manteiga, contendo algumas dúzias. No caso, o estoque estava no fim. Após algumas horas na estrada, debaixo de forte chuva, procedentes de Alvorada do Sul, conseguimos chegar a Bela Vista do Paraíso, cidade próxima a Londrina. Ademar, tomado de forte gripe, após ter ingerido um copo de leite com uma dose de Conhaque de Alcatrão São João da Barra188, recolheu-se ao dormitório do hotel, para descansar algumas horas a fim de esperar que a chuva passasse para prosseguirmos viagem até o nosso destino final, Londrina. Passada algumas horas, tomado de febre intensa, foi proibido de sair da cama pelo médico que o atendeu. Pernoitamos na cidade.
Dia seguinte, logo cedo, o gerente, do hotel que tinha o mesmo nome da cidade, procurou-me na portaria e solicitou-me que fosse até o quarto e falasse com Ademar, pois ele queria me transmitir um recado. Na conversa, tomei conhecimento da sua maior preocupação: O caminhão teria que estar em Londrina na tarde daquele dia e deveria ser entregue na garagem de um posto de gasolina na Rua Quintino Bocaiúva. Sem a alta médica, não podia sequer dirigir. Ao que me perguntou ―você sabe dirigir?‖ e eu, sem coragem de lhe confessar a minha ignorância na matéria, disse-lhe que sabia, mas que nunca tinha dirigido um caminhão. Passei a próxima hora recebendo orientação de como dirigir um veículo, de câmbio seco, que eu jamais havia sonhado em dirigir. Depois de vários conselhos e cuidados, julguei-me preparado de levar o veículo até Londrina. Despedi-me, sempre aconselhado pelo viajante: ―Olha que o câmbio é duro; olhe que a direção é pesada; conte o tempo para mudar marcha; pise na embreagem com vigor; limpe o
187 Trabalho temporário.
188 Segundo ele, era “tiro e queda”.
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pé para que ele não escorregue; cuidado com a estrada, ela é perigosa; escorregadia‖..., e entre outros tantos conselhos, lá fui eu.
A minha primeira dificuldade após pisar no botão de arranque e fazer o motor funcionar, depois, foi dar marcha à ré. Vencida essa dificuldade, saí da área do estacionamento, desci a Avenida principal e tomei a estrada rumo a Londrina. Para não correr risco, fiz o trajeto de pouco mais de 40 quilômetros em algumas horas, sempre tomando o cuidado de manter o câmbio em primeira marcha, pois após algumas tentativas de troca no câmbio e não as conseguindo, resolvi permanecer com a primeira marcha.
Depois de vencer o trajeto escorregadio dado à quantidade de lama que teimava manter a estrada com muito barro, apesar de não ter chovido desde o dia anterior, cheguei ao meu destino a salvo e entreguei o caminhão ao representante da empresa de Londrina, sem mais danos, apesar do motor do veiculo estar fervendo a ponto de estourar. Ao receber o veículo, pensei ter ouvido um suspiro de alívio e nenhum comentário.
Noutra ocasião, estava eu em viagem de serviço pelo IBGE e fazia o trajeto entre Terra Rica e Paranavaí. O dia estava muito seco e com temperatura acima de 35° e os ―areões‖ 189 muito extensos se formavam em quantidade, principalmente nas baixadas e curvas da estrada, quando as rodas do meu veículo cortaram um ―facão‖ muito comuns nas estradas arenosas, jogando-me fora da estrada e fazendo-me encostar no barranco sem maiores conseqüências. Com alguma dificuldade, dei marcha à ré e retomei a estrada, rumo ao meu destino. Era uma caminhoneta de marca Chevrolet Brasil, ano 47/48, aquelas pintadas de verde. Cheguei a Paranavaí sem maiores conseqüências. Mas, o mais inusitado foi que me utilizei do álcool como combustível do veículo. Ocorre que naqueles dias havia chovido muito e os veículos de transporte estavam impedidos de abastecer com óleo diesel e gasolina os postos da cidade. Por sugestão de viajantes mais experientes, adquiri alguma quantidade de álcool comum, adicionando-o à gasolina ainda existente no tanque do meu veículo. Atingi Paranavaí, meu destino, sem nenhuma dificuldade.
Fui motoqueiro boa parte da minha vida e apreciador das mais variadas marcas das motos do mercado. Tirei minha primeira carta de motoqueiro incluída na Carteira Nacional de Habilitação em 1958, mas a data em que fui autorizado a pilotar somente motocicletas, definitivamente, foi em 1963. A carta tinha o número de 4.412, expedida pelo Departamento de Serviços de Trânsito do Estado do Paraná.
Mas, a minha primeira experiência com moto foi uma Lambreta italiana do tipo Standard, logo em seguida à instalação da minha empresa ―Decorações Bertin Ltda.‖ em Londrina e foi com ela que tive o meu primeiro acidente sem gravidade. Descia a Rua Benjamim Constante quando, ao cruzar a Rua Quintino Bocaiúva, passei sobre um pequeno monte de areia que algum veículo havia deixado ao passar por ali. Senti a moto escorregar deixando-me sentado no meio da rua, sem mais conseqüências. Restou, apenas a frustração de estar ali sentado sem saber o
189 Esses areões eram comuns nessas estradas de terras arenosas. São formados em certos trechos onde apenas a areia predomina e se estendem às vezes por dezenas de metros, Com a passagem dos veículos mais pesados, se formam trilhos únicos com sulcos profundos e uma parte central mais alta que se conhecia por “facões”.
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que fazer, observando o veiculo desgovernado que parou sobre a praça ali existente.
Já instalado com minha firma ―Decorações Bertin‖ em Maringá, adquiri um veículo Dodge cor azul, 0 km. Foi o primeiro que chegou na cidade, disse-me o gerente da Concessionária. Tive dois acidentes com esse automóvel. O primeiro acidente aconteceu na esquina da onde se localiza o Ginásio de Esportes do Maringá Clube. Estava levando meu filho Juliano para a escola, quando, ao cruzar a esquina, recebi uma forte pancada na traseira do lado direito, batida essa provocada por um veículo que avançou sem respeitar a preferencial. Os danos, felizmente apenas materiais, foram de grande monta, pois todo o rodado traseiro foi afetado, juntamente com o cardam e câmbio. A lataria nesse lado foi totalmente danificada, tendo, inclusive o capô do porta mala de ser substituído. Estava no Seguro.
Em outra ocasião, voltando de Londrina com a família, tarde da noite, ao cruzar a Av. Brasil, esquina com a Av. São Paulo, fui novamente acidentado com o mesmo Dodge azul no mesmo lado e (pode parecer apenas uma justificativa) por um veículo que furou o sinal vermelho e atingiu-me na parte traseira na altura da roda direita, provocando os mesmos danos do acidente anterior, o que me impediu de iniciar uma perseguição ao infrator que não parou e acelerou, fugindo do local. Tanto no primeiro acidente como nesse, ninguém fico ferido,
Muitos anos mais tarde, em Maringá, adquiri uma moto Honda, 125 cilindradas, de cor amarela. Aparelhei-a com uma garupeira tipo ―polícia rodoviária‖ e com ela transportava-me para cima e para baixo. Em certa ocasião, dentre as muitas viagens que realizei com ela, na metade do trajeto a Londrina, pouco antes da cidade de Apucarana, a moto, sem nenhum motivo aparente, começou a se desequilibrar jogando-me ao chão no meio da faixa asfáltica e por pouco, muito pouco, veículos que estavam atrás de mim não me atropelaram. Estava a mais de 100 quilômetros por hora. Como eu estava muito bem protegido com roupas de couro e botas resistentes, sofri pouco dano. Entretanto, após examinar a vestimenta, notei que estava seriamente danificada, a ponto de, ao chegar à Londrina, me vi obrigado a adquirir calça e camisa novas. Rumei para a cidade logo à frente e procurei a agência representante da Onda em Apucarana. Após examinarem com detalhe todos os componentes que poderiam ter causado o acidente, o diagnóstico foi: ―nada foi encontrado‖. Segui viagem com aquilo na cabeça e até hoje, não encontrei uma explicação razoável. Entretanto, na primeira oportunidade, fiz uma visita ao meu médico, que me examinou e nada encontrou.
Tendo perdido a confiança na moto Honda, vendi-a e adquiri uma moto MZ, 250 cilindradas, de procedência alemã, de cor azul. Agora, com uma moto de maior capacidade, aventurei-me ainda mais na estrada e com ela fiz algumas viagens também para Florianópolis e Curitiba sem maiores conseqüências. Mas a essa altura eu já tinha perdido o entusiasmo com o veículo e passei a utilizá-lo apenas na cidade.
Em outra ocasião, transitando com a MZ pela Avenida Cerro Azul, Maringá, após ter ultrapassado a Praça Todos os Santos, fui fechado por uma Kombi que era dirigida por uma Irmã de Caridade. Lembro-me como se fosse hoje: Estava com uma velocidade aproximada de 70 quilômetros por hora, quando avistei, antes do
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cruzamento, à minha direita, uma Kombi que se encaminhou atravessando a Avenida Cerro Azul, cortando-me a passagem, e inevitavelmente o meu caminho. Olhando diretamente para a motorista, identifiquei-a pelas suas vestimentas como freira e encaminhei-me na sua direção, colhendo o veículo, exatamente na porta do motorista. Foi minha última visão, pois fui arremessado por cima do veiculo e estatelei-me sobre a grama do canteiro central, totalmente desacordado. Acordei com um cidadão com feições de oriental tentando reanimar-me e garantindo-me que o SIAT do Corpo de Bombeiros já estava chegando. Realmente chegou e fui imediatamente transportado com toda aquela conhecida eficiência dos soldados do fogo. Ficou apenas no susto.
Houve uma segunda vez, ainda com a moto MZ, desta vez trafegando na Avenida Cerro Azul na altura da praça central da Zona 2. Em velocidade incompatível, derrapei ao tentar contornar a praça e, novamente estatelei-me sobre a calçada, desta vez com apenas alguns arranhões.
Um dos piores acidentes em que me envolvi foi quando fui atropelado por uma moto esportiva em plena Avenida XV de Novembro, esquina com a Rua Vereador Basílio Sautchuk. Colhido na perna direita que ficou para traz quando tentei fugir do acidente. Ao perceber com o canto do olho direito a proximidade da moto que se aproximava velozmente e com grande ruído, não consegui recolher minha perna que foi quebrada na altura do tornozelo. Muito consciente, já no chão, examinei-me e, após ter constatado a gravidade do ferimento, retirei meu aparelho celular que se encontrava preso na cintura e comuniquei o acontecimento à minha esposa e em seguida ao corpo de bombeiros. Naturalmente, nessa altura estava cercado de curiosos que se encontravam, ansiosos e sem reação. Como ninguém se mexia, eu mesmo providenciei o socorro que não demorou a chegar. Com a mesma eficiência de sempre, logo fui transportado ao hospital pelos soldados paramédicos. Fui operado por uma competente equipe médica da Santa Casa de Misericórdia de Maringá, comandado pelo experiente ortopedista Airto Manzotti. Logo, estava pronto para outra. Gesso no sistema ―Sarmiento‖ aconselhado pelo Dr. Flavio Genta de Londrina.
E para provar que as coisas só acontecem para quem está vivo, no final da campanha do segundo turno em que foi eleito o nosso querido amigo José Cláudio Pereira Neto190, na campanha para prefeito do ano 2.000, achava-me em visita aos comerciantes da Avenida Cerro Azul, entrando nos estabelecimentos comerciais, dirigi-me a uma sorveteria com o objetivo de tomar um sorvete para refrescar-me. Após tomá-lo, dirigi-me ao sanitário e ao tentar retornar ao salão, tropecei numa escada que dava acesso ao salão, quebrando uma parede de vidro com a cabeça e apoiando o braço esquerdo no chão. Com a pancada, a parede da frente se partiu na parte de baixo que saltou fora, permitindo que a parte de cima descesse como uma guilhotina sobre o meu braço, quase separando um enorme naco de carne que se abriu como as folhas de um livro, mas, permanecendo ligado ao braço.
A gravidade do acidente era visível, pois a proprietária e sua filha ao dirigirem seus olhares para o meu braço, ficaram apavoradas a ponto de ficarem paralisadas. Chamei-lhes a atenção e solicitei-lhes para que me trouxessem uma toalha de mesa semelhante às que cobriam as mesas do estabelecimento. Imediatamente fui
190 Zé Cláudio, como nós, seus amigos o tratávamos.
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atendido. Procurei recolocar o imenso ―bife‖ que pendia do meu braço e comprimi a toalha sobre o ferimento e esperei socorro médico que, novamente foi feito pelos soldados do fogo da SIAT.
Fui transportado à Santa Casa onde imediatamente uma equipe médica tomou conta de mim, com a participação da cirurgiã plástica Doutora Jaqueline que costurou o meu braço com 42 pontos de forma que pude, após algum descanso de alguns dias, com o braço esquerdo enfaixado, voltar à campanha política em que Zé Cláudio foi eleito como prefeito de Maringá, com a expressiva contagem de votos: 107.320.
Alguns acidentes ―sui generis‖: Apanhei de sombrinha, de uma garota que eu pretendia namorar, mas que fui obstado pela sua violenta reação ao me agredir com uma sombrinha, sua eterna companheira, fizesse sol ou chuva. Saí com algumas marcas inflamadas nos braços. Insisti algumas vezes mais, mas, logo desisti.
Meus Estudos.
Cursos primários, secundários e Universidade onde fiz o curso de Direito.
Meus certificados e diplomas e os atestados de freqüência nas Conferencia do comercio.
Comecei meus estudos no jardim da infância do Colégio das Irmãs no outro lado do Rio do Peixe, Herval D‘Oeste e dele só me lembro de uma das professoras, Irmã Firmina, que, embora bastante idosa, no momento em que escrevo estas linhas, ainda hoje vive e é a principal responsável pelo Asilo dos Velhinhos de Maringá, localizados na vila Operária, próximo ao antigo aeroporto. Eventualmente, me encontro com ela e a tenho visto saudável, pela cidade, quando então tenho a satisfação de cumprimentá-la.
Mais tarde, iniciei meu curso regular primário no Grupo Escolar Estadual Roberto Tranpowisk. Cursei o primeiro ano ginasial, sem concluí-lo, no Colégio Frei Rogério de Joaçaba em 1945 e parte de 1946, quando nos mudamos para Cornélio Procópio.
Em 1947, conclui o quinto ano primário que eu fui obrigado a refazer em razão de um acontecimento que eu até hoje não consegui entender. Só sei que meu pai voltou do Grupo Escolar Professor Lourenço Filho com o meu registro que me obrigou a freqüentar a Escola Complementar anexa ao estabelecimento. Concluí esse curso em 13 de dezembro de 1947, conforme documento expedido pelo seu diretor Mazarotti, com uma nota média sofrível de 5.9.
Com a minha mudança para Londrina, nesse mesmo ano, matriculei-me no primeiro ano ginasial do Colégio Estadual Vicente Rijo, período intolerável da minha vida, pois em virtude das dificuldades financeiras que meus pais estavam passando, tive que começar a trabalhar.
Abandonei meus estudos aproveitando-me do stress que me acometeu naquele período e comecei meu primeiro emprego nos Irmão Fuganti, como faxineiro, arrumador e entregador, cujo serviço não durou muito, com o que, fui trabalhar em
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uma das farmácias da Rede Minerva, em serviços gerais e aprendiz de manipulador de remédios homeopáticos.
Continuei minha vida profissional de comerciante que assumi em 1958 após minha exoneração como funcionário público do IBGE (Instituto de Geografia e Estatística) do Governo Federal.
Após ter ficado trinta e cinco anos sem freqüentar qualquer estabelecimento escolar, resolvi, com a aproximação da minha aposentadoria como comerciante, voltar a estudar.
Preocupado com a minha situação de quase analfabeto, resolvi voltar a estudar. Fiz mais, teria que concluir meus estudos de segundo grau e tentar a realização do curso de direito que, felizmente concluí anos mais tarde.
Em 1985 concluí meus estudos através do sistema Supletivo, cujos exames aconteceram no Colégio Estadual Doutor Gastão Vidigal. Recebi meu certificado em 07 de março de 1985. Nesse mesmo ano, com uma Declaração na qual era atestada a conclusão do segundo grau, na mão, realizei o vestibular visando a realização do curso de Direito, classificando-me em um dos primeiros lugares da UEM (Fundação Universidade Estadual de Maringá). Matriculei-me nesse mesmo ano e, assim iniciei o curso de direito e sem qualquer tropeço concluí-lo em 1990. Recebi meu diploma de Bacharel em 24 de agosto de 1991.
MEUS ROMANCES
Minhas primeiras incursões no mundo do sexo começaram cedo, ocorreram por volta de 1944, com mais ou menos 10 anos de idade, por ocasião das férias escolares. Era costume ir passá-las em Bom Retiro (Luzerna), pequeno localidade perto de Joaçaba, onde moravam meus parentes. Previamente combinado, minha tias Dosolina, Ina, Maria e Vitória costumavam me hospedar em uma de suas casas.
Ate então, minhas preocupações se limitavam às coisas comuns de crianças da minha idade, tais como: Encontrar-me com meus colegas e amiguinhos, participar das diversas brincadeiras que armávamos (―guerras‖) que costumava ser procurar atingimos os nossos ―adversários‖ armados de bodoques com pelotas de barro que fabricávamos com a terra dos nossos quintais; organizar caçadas armados com estilingues (espécie de bodoque ou funda), nos arredores da cidade cercada de mata nativa e onde abundava todos os tipos de pequenos animais de pelo, aves e répteis, nativos da região; ou, ainda, freqüentarmos os riachos que cercavam a cidade, rasos e cristalinos, onde nos banhávamos. Pululando existiam neles as mais variadas espécies peixes (carás, lambaris, bagres e cascudos, etc.) e, com suas margens cascalhadas, onde, miríades de esvoaçantes borboletas coloridas bailavam.
Nessas oportunidades, reunimo-nos com nossos amiguinhos e amiguinhas e procurávamos o que fazer nas diversas casas que nos eram colocadas a nossa disposição pelos habitantes locais. Em uma delas, especialmente, havia um fazendeiro criador de cavalos que se destinavam ao comercio da região e diziam, criava-os para vendê-los ao Exercito Brasileiro. Era época propicia à reprodução
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desses corcéis selecionados pelo criador. Para apreciar, procurávamos esconder-nos atrás dos diversos obstáculos do local, que era provido de inúmeros esconderijos constituídos de pequenos tufos de vegetação ou de coisas amontoadas das mais diversas. Muito bem protegidos, procurávamos acompanhar com grande interesse a copula provocada entre os diversos reprodutores a fim de criar eqüinos dos mais diversos que se destinavam como já disse à comercialização.
Quem já teve a oportunidade, sabe o que a visão da copula entre animais eqüinos proporciona. A violência do ato sexual entre os animais de maior porte, o tamanho do membro do macho penetrando a fêmea, a sofreguidão do vai e vem com o conseqüente e fatal gozo, aguçavam nossos inocentes sentidos sexuais, que, precocemente, meninos e meninas, a imitação e reprodução do ato sexual dos animais, também procuravam imitá-los na prática sem a conseqüência dos mesmos atos.
Particularmente, naquela época, nenhuma garota atraiu-me, nem por sua sexualidade, beleza e simpatia.
Mais tarde, já em Cornélio Procópio, 1947, apaixonei-me perdidamente, por uma graciosa garota chamada Carmem, vizinhas da minha residência, filha do chefe da Coletoria Estadual, agencia local. Tinha uma marca na testa, semelhante a uma lagartixa que aumentava sua graciosidade. Esse romance mais platônico que recíproco pouco durou, pois no ano seguinte, ocorreu a transferência da minha família para Londrina.
Meu primeiro beijo, verdadeiramente sensual foi quando namorei uma garota loira de cabelos longamente cacheados, pouco mais velha do que eu. Nosso primeiro encontro ocorreu numa brincadeira dançante no Grêmio Literário e Recreativo Londrinense, promovido pelo grêmio estudantil do Colégio Estadual, onde estudávamos. Terminou cedo como costumavam terminar, 22 horas. Apaixonados, não esperamos o fim da festa. Mesmo sem saber seu nome, coisa que me foi sonegado até o fim do romance, já abrigados sob a cobertura vegetal do portão principal da sua residência, no escurinho, aconteceu com ansiedade o meu totalmente consciente primeiro e verdadeiro e apaixonado beijo, longo, demorado, com língua e tudo (imaginem naquela época). Em certo momento, concluído o sugado beijo, saltou-lhe a dentadura, por inteiro, caindo por sorte, na sua mão! A garota, mais que rapidamente, desapareceu na escuridão do corredor lateral da sua residência. Acabou o encantamento, nunca mais a vi, mas, uma vizinha, minha amiga, revelou-me que a garota beijoqueira contumaz, chamava-se Laura.
Esse acontecimento consolidou uma amizade que eu já vinha curtindo e que continua até hoje. Leonor, a vizinha, era filha mais velha do Senhor Archimedes e dona Maria, pais de varia filhas. Não namorei nenhuma delas, mas mantive uma longa amizade com todas, assiduamente, até fins da década de 60 e, esporadicamente, após o meu casamento, ocorrido em fins 1961.
Vale registrar mais um fato: Quando do lançamento as Apolo I que levou o primeiro homem (Neyl Amstrong) à lua, transmitida pela rede mundial de televisão, estando acomodado na varanda em companhia do ―Seu Archimedes‖ e sua família, ouvi esse
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comentário da sua boca, ―isso é propaganda dos americanos, tudo simulado, para nos enganar‖. Enquanto falava, recusava-se a olhar para o aparelho de televisão.
Era meu costume freqüentar aos domingos a matinê dos cinemas. Ia lá paquerar as garotas. Assim, conheci uma garota que me atraiu a atenção, dado a sua beleza e graciosidade um tanto quanto rude. Sempre portava uma sombrinha fortemente enrolada, que tão logo tentei afagar seus braços, no escurinho, fui agredido com a dita cuja. Não desisti. Não desta vez. Tentei continuar insistindo nas próximas vezes, coisa que só ocorria nos domingos. Depois de algumas sombrinhadas e com o orgulho ferido, desisti. Meus amigos, mais tarde, contaram-me que já estavam contando com a atitude da garota, coisa que acontecia, sempre, com todos os seus pretendentes. Tomara que tenha permanecido a sua vida inteira!
Também no Colégio Estadual conheci outra garota, chamava-se Akemi, filha de família japonesa. Tornara-me amigo de vários nisseis que estudavam comigo. Formávamos um grupo coeso e restrito com mais ou menos seis ou sete nisseis homens e mulheres. Entre ela, uma grande amiga, Margot Saito, de tradicional família japonesa de Londrina e que tinha como matriarca uma pessoa querida e maravilhosa, ―Obassam Saito‖ como era conhecida, sempre risonha e feliz e muito simpática. Baixa e muito obesa, a ponto de ter dificuldade de se locomover e tinha dois filhos: Margot e Mario Saito, talvez os maiores e melhores amigos. Entre eles Akemi, que veio a ser minha namorada por longo tempo. Sua Mãe, Helena, olhava-me desconfiada, mas era-me muito simpática e educada, pois nunca externou sua preocupação em me ter como seu possível genro. Estive realmente apaixonado. Namorei-a por mais de cinco anos.
Tendo sido nomeado Agente de Estatística, após concurso público do IBGE (Instituto de Geografia e Estatística) em 1956, fui removido para a Agencia de Paranavaí, que necessitava urgente ser reforçada com mais funcionários, dado a abertura de uma nova frente agrícola e pecuária.
Nesse período, perdidamente apaixonado por Akemi enquanto exercia minhas novas funções de funcionário publico, enfrentava o problema de cultivar esse meu novo amor. Depois de algum tempo em Londrina, realizando plano previamente elaborado, Akemi acabou por fixar residência com sua mãe na capital de São Paulo. Era um dilema sério. Como fazer? O salário era razoável, mas o horário de funcionamento da agencia do IBGE era rigoroso nos tempo do Presidente Jânio Quadros; 09:00 as 11:00 e 13:00 as 17:00 horas de segunda a sexta feira. Era um problema difícil de resolver, pois nunca poderia faltar com a minha responsabilidade de funcionário.
Em razão da minha atividade de Agente de Estatística, que, na maioria das vezes se resumia em visitar as cidades vizinha da jurisdição de Paranavaí, a fim de levantar o censo agrícola, conheci um piloto de um avião Cesna, monomotor, que tinha como sede o aeroporto da cidade. Chamava-se Rigo. Tornei-me seu amigo e de sua mulher Neuza. Casal simpático e sociável. Gostavam de promover recepções na sua residência, que eram freqüentadas por diversos amigos. Pois bem, com essa amizade, foi resolvido o problema de transporte nos finais de semana para Londrina no começo e mais tarde para São Paulo. Todo fim de tarde, nas sextas feiras, Rigo tinha um compromisso de levar um dos seus clientes para Londrina e sua mulher
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Neuza para Rolândia, onde moravam seus pais e retornar a Paranavaí todo manha de segunda feira, de forma que, podia contar com essa carona nos fins de semana e ir namorar Akemi em Londrina e depois em São Paulo e retornar a Paranavaí na segunda feira cedo, antes das 9:00 horas da segunda feira.
Os horários dos aviões, naquela época, em Londrina, facilitaram-me o transporte até São Paulo. É claro que o valor dos bilhetes aéreos não me permitia visitar minha namorada todos os fins de semana, mas, vejam que facilidade!
Ocorre que, eu era assíduo colunista da Folha de Londrina, produzindo uma coluna sobre estatística, onde desenvolvia diversos assuntos de interesse econômico, principalmente, noticias sobre a produção da região de Paranavaí e o seu desenvolvimento, que despertava amplo interesse dos leitores, na sua maioria agricultores e comerciantes de produtos agrícolas. Já cultivava ampla amizade com os diretores da Folha de Londrina, principalmente com João Milanês e mais tarde Nilson e João Rimolli, ambos os redatores e mais tarde com Valmor Macarini, Rafael Lamastra, Pedro Vergara Correia, Kiko e outros saudosos jornalista do primoroso corpo de jornalismo daquele matutino. Em razão desse conhecimento e de ter sido fotografo free lance com vários trabalhos fornecidos à Folha, fui beneficiado com as facilidades da minha posição, contando com a gratuidade fornecida ao jornal pelas companhias aéreas que faziam do aeroporto de Londrina, o segundo aeroporto mais movimentado do Brasil.
Após ter encerrado o expediente da Agencia, transportado pelo avião Cesna de Rigo, chegava a Londrina lá pelas 18:00 horas de sexta feira, com tempo de tomar um dos aviões da Vasp (Scandias) ou da Real (Convair) ou mesmo o Douglas ASJ, DC3 da Sadia que fazia o trajeto Joaçaba/São Paulo com escala em Londrina, (transportando produtos frigorificados em Concórdia, S. Catarina). Os aviões da Sadia pertenciam ao empresário Atílio Fontana, irmão da minha mãe e cujo filho Omar, comandava a Cia aérea.
Eu chegava à capital de São Paulo lá pelas 19:30-20:00 horas e de táxi, do aeroporto Santos Dumont à casa da minha namorada, no Jardim América, às 20:30 horas. Já era esperado. Akemi, baixa e de corpo bem formado, olhos rasgados, esperava-me vestida com seu melhor vestido e melhor maquiagem, destacando sempre uma pequena pinta ao lado do seu olho esquerdo, que era o colírio dos meus olhos e o balsamo do meu coração. Sempre considerei esses momentos os melhores da minha vida.
Na segunda feira, os horários dos aviões também me favoreciam: Saia do aeroporto de Congonhas às 06:00 horas e chegava a Paranavaí bem a tempo de abrir a Agencia, rigorosamente as 09:00 horas.
O romance acabou em virtude das dificuldades futuras e óbvias da distancia e dos transportes. Sofri muito quando do nosso rompimento, o que ocorreu em São Paulo às vésperas do Ano Novo e em meio a Corrida de São Silvestre. Lembro-me de ter andado as tontas pelo centro de São Paulo, enquanto aguardava a corrida. As cartas, mesmo numerosas não conseguiram salvar o romance. Dela, restou o seu rosto gracioso com sua ―pinta‖ e um ―feitiço‖: Todas as vezes que consultássemos o
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relógio e os ponteiros estivessem separados nas suas maiores distancias (exemplo: 12:00 horas e trinta minutos), nos lembraríamos um do outro. Dá certo até hoje!
Com a renúncia de Jânio Quadros, mas não por isso, também renunciei, exonerando-me do funcionalismo publico e voltei para Londrina a fim de realizar um sonho que era dar inicio a uma sociedade da família Bertin, que deu inicio a Decorações Bertin (1958/59).
Voltando para Londrina, reatei minhas antigas amizades e comecei a namorar uma garota filha de família mineira, Cybele, magra, linda, morena cor de jambo, cabelos compridos e normalista. Namorei sério, apaixonado, com admissão da sua família e fortemente vigiada pelos irmãos e seu cunhado de quem me tornei amigo.
Foi um namoro pacífico, apaixonado, até quando me foi cobrado uma definição: Sua família queria casamento, pois o romance, segundo diziam, estava ameaçado a virgindade da garota. Não estava preparado. Acabou o namoro, não sem um pouco de sofrimento.
Minhas aventuras amorosas
Entremeadas, varias aventuras aconteceram: Para os homens, freqüentar a Zona do Meretrício em Londrina era mais do que uma simples visita, era uma obrigação social. Londrina, nas décadas de 50 e 60, possuía a maior concentração de profissionais do sexo localizada do Brasil. Eram mais de três mil mulheres (e alguns homens) oriundas de diversos Estados brasileiros e principalmente de mulheres oriundas dos países vizinhos; Argentina, Paraguai, Uruguai, etc.. Era um verdadeiro, enorme e lucrativo comercio do sexo.
A Zona, como era conhecida com suas numerosas e belas mulheres, localizava-se onde hoje se encontra a Estação Rodoviária de Londrina e suas imediações. Um bairro construído com casas com taboas de peroba, madeira farta no Norte do Paraná. Algumas, de porte tipo ―pensão‖ construídas com um salão de medidas adequadas e diversos quartos divididos por um comprido corredor de metro e vinte de largura. Outras eram construções comuns com varanda, sala, banheiro e três dormitórios e que abrigavam algumas profissionais, sendo que, o que ultrapassava sua capacidade, homens e mulheres eram hospedados nos diversos estabelecimentos hospedeiros, numerosos em Londrina, conhecidos como Pensões.
Mas, havia também algumas construções bem maiores, onde se localizavam as ―boites‖ que fez a fama de Londrina. Era a ―Casa da Jô‖, ―Casa da Esperança‖, ―Casa da Diana‖, etc. Construções elevadas em mais ou menos meio a um metro de altura, possuíam escadas de madeira com uma lamina de ferro horizontal fixada em um caixote de madeira e que servia para limpar os pés dos inúmeros visitantes que chegavam de todas as partes do mundo, com os sapatos cheios do barro vermelho da região. Uma, na entrada principal e outra que permitia o acesso pelos fundos, ligando ao pátio, onde as profissionais se reuniam após o banho para tomar sol e fazer a maquilagem. Era nessas ocasiões que os conhecidos ―gigolôs‖ apareciam para conferir as ―férias‖ da noite passada e assim levar as suas partes da exploração sexual. O acesso ao bairro da ―zona‖, nos dias de chuva (e chovia quase todos os
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dias o ano inteiro), era feito com as famosas charretes do inicio da colonização do Norte do Paraná. Maringá também as conheceu.
Outra aventura sexual que permaneceu na minha memória foi o curto relacionamento com uma garota que comumente encontrava no prédio do Correio de Londrina. No começo, pensei que era funcionaria, mas, com o tempo, ante a minha insistência em conhecê-la melhor e a sua invariável resistência em mostrar-me sua residência, acabei desistindo do relacionamento. Mais tarde, fiquei sabendo que era de uma família muito pobre e que seus pais tinham enormes dificuldades para a sobrevivência da família. Lamentei.
Outro curto relacionamento aconteceu com minha vizinha Edna. Uma garota fogosa. Cabelos curtos, corpo esbelto e um rosto que parecia um anjo decaído. Sensual ao extremo. Minha residência era separada da dela por uma cerca feita de taboas de madeira. Nosso ponto de encontro era ao lado do barracão existente nos fundos da minha residência, onde meu pai, inicialmente, trabalhava na sua Tapeçaria, depois eu e meus irmãos. Dei um jeito de despregar uma das largas taboas que permanecia fixa com um pequeno e imperceptível gancho feito por mim. Comunicava-nos das nossas janelas, por cima da divisa, e quando o desejo apertava, nessas ocasiões, ela ultrapassava o vão da cerca, auxiliada por mim e então, passávamos horas namorando, deitados em uma espécie de ―jirau‖ montado sobre algumas madeiras ali depositadas. Relacionamento que cessou quando me mudei para Paranavaí.
Já em Paranavaí, nas festas promovidas pelo casal Rigo-Neusa, conheci Neide, outra garota enfeitiçada e atraente. Esse relacionamento durou pouco, pois logo retornei a Londrina, após a minha curta experiência como funcionário público.
Ainda em Paranavaí, exercendo a minha tendência ao jornalismo, fui encarregado pelo Euclides José Bogonni, proprietário do jornal ―O Noroeste‖ em manter a coluna social do jornal. Após algum tempo, não tardou que novos relacionamentos com a sociedade de Paranavaí. Foi ai que conheci uma nova garota, loira de cabelos esvoaçantes, a ponto de merecer destaque na Coluna Social escrita por mim. Irmã de autoridade da cidade. Esse relacionamento complicou-se logo após nossos primeiros encontros, em que fui logo aconselhado por amigos na minha desistência. O que fiz imediatamente. Mais tarde, já em Londrina, encontramo-nos em um novo e breve contato. Nunca mais a vi.
Em outra ocasião, se me recordo bem, em uma festa de encerramento do ano fiscal da empresa de estofados em que trabalhei, conheci uma garota estudante e comerciante de Curitiba, relacionamento que durou certo tempo, mas que feneceu em virtude do distanciamento físico.
Esse não era namoro, nesse não houve nenhum tipo de ligação, talvez ―narcisista‖ por parte da autora, apenas, admiração que me sensibilizou. Como diretor financeiro e administrador do SAOP (Autarquia de Serviços Públicos) de Maringá, encontrei, certa manhã, sobre a minha mesa de trabalho poesia em forma de acróstico com o seguinte título: O JEITO BERTIN DE SER. Seguiam diversos versos que, ao se ler
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verticalmente as letras iniciais de cada linha, ela formavam as palavras; LEÃO, TRIGRE, COBRA, ÁGUIA, ASSIM, É, O, BERTIN, como seguem191:‖
Levando a vida de maneira séria
Ele sempre age; nunca espera
Às vezes dói sua atitude sincera
O que mais admiro nele, é que é mesmo uma fera.
Tem uma saúde de Tigrão
Insegurança com ele não tem não
Gente nossa, vive com o pé no chão
Ressalva-se que tem bom coração
E se preciso for, ele sempre oferece uma mão.
Com a perspicácia de uma serpente
Observa tudo cautelosamente
Bom seria se ele vivesse eternamente
Reviverá no meu coração para sempre
Almejo sua audácia, que ela nunca se ausente.
Árvore de sabedoria, rio de sinceridade
Guia de inteligência, palavra de veracidade
Uma pessoa crítica, rara personalidade
Insistente no que quer, vence tudo com facilidade
Afinal, discordar dele, só quem é fera de verdade.
As palavras são poucas para falar
Suas qualidades e seu jeito de brilhar
Só queria esse grande homem homenagear
Inspiro-me na sua transparência quando quero protestar
Minhas forças se recarregam, pois a verdade não deve se calar.
É difícil ser transparente, mas ele mostra que é possível.
O que não vale para ele é ser medroso e previsível.
Bertin, como é bom ter te conhecido
Eu creio que você deveria ser infinito
Revivendo a cada milênio para nunca ser esquecido
Talento como o teu é sempre percebido
Imagino o mundo sem você; não teria valor
Não é exagero, pois Bertin é sinônimo de EXPLENDOR!‖
MEUS CASAMENTOS
1959 - Aconteceu numa das reuniões dançantes do Grêmio Literário e Recreativo Londrinense que conheci minha primeira esposa Sonia (Hiroye Matoba). Foi amor a primeira vista. Esbelta, delicada e graciosa, atraiu-me fatalmente. Foi difícil a
191 - “Ipsis Literis e Ipsis verbis”
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aproximação, mas meus amigos nisseis muito colaboraram. Na ACEL (Associação Cultural e Esportiva de Londrina), clube da colônia japonesa, foi onde pude cultivar o romance com meu novo amor. E foi recíproco. Perdidamente apaixonados, depois de alguns meses, ante as dificuldades apresentadas pela resistência da família ao nosso namoro, resolvemos que Hiroye (eu a tratava pelo nome japonês) deveria se afastar dos seus pais e parentes e se mudar para a casa de uns amigos em Santa Cruz do Rio Pardo, Estado de São Paulo e que ficava a algumas horas de viagem de Londrina.
Tudo combinado e com a cumplicidade dos meus amigos nisseis e dos amigos de Santa Cruz do Rio Pardo, como um segredo bem guardado, chegou o dia combinado em que eu a transportei, me utilizando do único veiculo (Kombi) da minha empresa recém formada (Decorações Bertin). Viagem perigosa, pois o trajeto foi feito sobre terra encharcada, com muito barro, pelas chuvas incessantes que caiam. Não havia asfalto. De Londrina a Santa Cruz do Rio Pardo, passando por Ourinhos-SP, caminho feito à noite, não fez esmorecer nossa aventura.
Enfrentei só a viagem de volta na mesma noite, chegando a Londrina na madrugada do dia seguinte que recaiu num domingo. Naturalmente, todos ficaram preocupados pelo inusitado acontecimento, mas, a ausência da garota só foi pressentida pela sua família no dia seguinte, quando eu já me encontrava na cidade. Aguardei o desenrolar dos fatos, procurando acompanhar a movimentação, que logo se fez notar naquela manhã. Quem primeiro me procurou, foi Shigueu, seu irmão mais velho. Procurando aparentar calma, iniciou o diálogo cuidadosamente, pois não tinha certeza se o sumiço da irmã se devia à minha pessoa. Não fiz segredo, expus-lhe de imediato todos os fatos e aguardei sua reação. Calmamente, despediu-se dizendo que iria colocar os fatos a seus pais e depois voltaria.
Aguardei impaciente seu retorno e quando o fez simplesmente me convidou para que eu lhes fizesse uma visita formal, ocasião em que deveríamos esclarecer tudo. Enquanto isso, comuniquei tudo aos meus pais, recebendo o apoio deles, com uma pequena reprimenda. Na tarde daquele domingo, as coisas começaram a tomar seus devidos lugares, após o diálogo que mantive com a família de Hiroye. Naturalmente, por precaução, procurei não dar a localização da garota. As coisas evoluíram rapidamente, mas deu para perceber desde o início que seus parentes não consideraram o ―rapto‖ como belicoso, pois não houve nenhuma denuncia e a policia não foi envolvida.
Meus amigos, conhecendo toda a movimentação, pois eu os mantinha informados, procuravam, cada um à sua maneira, colaborar e acalmar toda a situação, pois tivemos o apoio de todos os nossos amigos nisseis e japoneses do nosso restrito circulo de amizade. Hiroye permaneceu em Santa Cruz até vésperas do nosso casamento e isso só nos sabíamos e nossos amigos confiavam. Seu vestido de noiva foi um presente da família que a acolheu em Santa Cruz e seu transporte até a Catedral de Londrina foi realizado com a colaboração dos amigos.
E não é todo o casal que tem padrinhos importantes! Em outra parte deste livro, eu conto uma história dos meus relacionamentos com políticos. Que eram muitos. Aos pouco, no decorrer do tempo, fui convidando-os para o meu casamento e alguns aceitaram. Assim, meu casamento com Hiroye foi realizado com pompa. Antes de
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decidir definitivamente quais seriam meus padrinhos, gostaria de destacar alguns fatos interessantes: Eu havia planejado convidar Ney Aminthas de Barros Braga, Governador do Paraná na época. Meu relacionamento com ele não chegava a ser de intensa amizade, mas, era suficiente para me deixar à vontade para convidá-lo como meu padrinho. Convidei-o pessoalmente em duas oportunidades em que ele esteve em Londrina. Não aceitou em virtude de compromissos políticos que recairiam exatamente no dia do compromisso. Outra pessoa foi encarregada de representá-lo. Insisti em outra oportunidade cumprindo meu mister de repórter, refis me convite, desta vez em Curitiba, aproveitando uma reunião de políticos do Paraná convidados por ele. Sua agenda não lhe permitiu, mas, no dia do casamento ele não se esqueceu e mandou um telegrama, cuja cópia se encontra estampado logo abaixo.
Frustrado, passei para outra opção que tinha sido reservada por ocasião da reunião dos governadores promovida por Jânio Quadros em Florianópolis, já citada por mim em outra parte desta biografia. Meu convite se dirigiu ao meu tio Attilio Fontana, detentor de uma cadeira no Senado da República. Isso acomodou a situação e supriu a necessidade política do momento. Fiz o convite ao meu tio aproveitando a entrega de um documento confeccionado por mim, onde denunciava alguns fatos que estavam ocorrendo na Agência do Instituto de Geografia e Estatística de Paranavaí. Esse documento foi entregue por mim ao Presidente da República Jânio da Silva Quadros, com a interseção do Senador Attilio Fontana. Durante as apresentações, após a entrega desses documentos ao Presidente, meu tio comentou na sua presença o convite que eu lhe havia feito sobre o casamento, ocasião em que, apenas por obrigação social, convidei-o também e nos despedimos.
Vocês sabem como um homem público anda sempre ocupado, não é? Pois bem, dias depois recebi um recado do Fontana, no qual ele dizia que compromissos
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inadiáveis e uma viajem à Europa o estava impedindo de comparecer na cerimônia do meu casamento. Para finalizar, ele mandou representá-lo, seu genro Vitor192 e sua filha Odila Fontana. Foi um acontecimento social importante na sociedade londrinense.
Mas, surpreso, no dia do casamento recebi um telegrama do Presidente da República Jânio Quadros, agradecendo o convite que eu lhe havia feito, por ocasião da reunião de Florianópolis. Para os incrédulos, estampo aqui, cópia do documento:
O casamento durou vinte anos com três filhos, Juliano, Felipe e Daniela. Feneceu por tédio e desinteresse de ambos. Não sem o sofrimento dos filhos. Nossa separação fatalmente ocorreu primeiro de corpos, depois de fato, com a decisão definitiva. Mais tarde o divorcio.
192 O casal Victor Furlan e Odila Fontana são os pais de Luiz Furlan (neto de Attilio Fontana) que ocupou o cargo de Ministro da Indústria e Comércio do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República.
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E, vejam que coincidência incrível193. Logo em seguida, conheci a minha segunda esposa, Maria Lucia. Encontrava-me em Salvador, Bahia, hospedado no Meridien Palace Hotel, onde se realizava um congresso nacional das Associações Comerciais. Havia combinado com o ―Doutor‖ Herbert Maya194, secretario executivo da ACIM (Associação Comercial e Industrial de Maringá onde, recentemente, havia sido eleito) de nos encontrar-nos no local do Congresso que se realizaria nesse hotel. Na manha do dia marcado, 11 de setembro, encontrava-me à sua espera no saguão um pouco distante dos elevadores, quando o avistei saindo de um deles, acompanhado de uma mulher com um lenço cobrindo a cabeça. Mesmo com seu rosto parcialmente coberto, inexplicavelmente, ela me atraiu a atenção. Quando chegaram perto, após termos trocado cumprimentos, iniciamos um dialogo que disfarçadamente eu procurava encerrar rapidamente, não sem antes ter combinado com o Doutor onde seria o nosso próximo encontro. Enquanto falávamos, a minha atenção se fixava na acompanhante do Dr. Herbert. Não havia a timidez comum dos primeiros encontros. Tive a certeza que o interesse que me tinha despertado havia sido recíproco. Apaixonei-me instantaneamente.
Os dias que se seguiram. Embora atento aos acontecimentos do Congresso, tratei de cultivar um namoro que considerava promissor. Separado da minha primeira mulher, sem nenhum empecilho pela frente, dediquei-me no desdobramento desse novo conhecimento. Surgiu na ocasião, um concorrente que veio disputar a minha preferência e tentar tornar meus esforços infrutíferos. Chamava-se Rafael o jovem mineiro. Mais jovem do que eu, simpático e atraente, logo vi que tinha maiores e melhores chances em conquistá-la. Mas, creio que Maria Lucia sentiu que eu oferecia melhores perspectivas de segurança para que o romance desse certo. Apaixonamo-nos definitivamente. Encerrado o Congresso, retornamos todos, a Maringá, onde reassumi minhas funções de comerciante e de presidente da Associação. Maria Lucia, que residia em Maringá, não me saia do pensamento.
O Sindicato que eu presidia precisava de uma secretária executiva e Maria Lucia preenchia os requisitos necessários para tal. Havia concluído seus estudos no Colégio Marista e possuía a experiência necessária para o cargo. Além disso, iria substituir com vantagem outro funcionário que havia iniciado na função e que, em razão de suas ocupações profissionais, não estava podendo prestar seus serviços integralmente. Já exercendo o cargo, além de ter se saído muito bem como secretária, tal fato resolveu em definitivo o distanciamento existente, nos aproximando definitivamente. Nosso relacionamento consolidou-se e acabamos contraindo matrimonio, que dura até hoje com nossos três filhos Mário Cezar, Julio Cesar e Tainã.
Meus estudos. Cursos que freqüentei195.
Comecei meus estudos no jardim da infância do Colégio das Irmãs no outro lado do Rio do Peixe, Herval D‘Oeste e deles só me lembro de uma das professoras, Irmã Firmina, que embora bastante idosa, encontrei-a em Maringá, e é a principal responsável pelo asilo dos velhinhos localizados na vila Operária, próximo ao antigo
193 “Até as pedras se encontram”
194 Doutor Herbert era idoso e só podia viajar acompanhado de uma atendente conhecedora de enfermagem.
195 Consultem me currículo no final deste livro.
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aeroporto de Maringá. Eventualmente a tenho visto saudável, pela cidade, quando então tenho a satisfação de cumprimentá-la.
Mais tarde, iniciei meu curso regular primário no Grupo Escolar Estadual Roberto Tranpowisk.
Cursei o primeiro ano ginasial, sem concluí-lo, no Colégio Frei Rogério196 de Joaçaba em 1946 e parte de 1947, quando nos mudamos para Cornélio Procópio.
Em 1947, já em Cornélio, conclui o quinto ano primário que eu fui obrigado a refazer em razão de um acontecimento que eu até hoje não consegui entender. Só sei que meu pai197 voltou do Grupo Escolar Professor Lourenço Filho com o meu registro que me obrigou freqüentar a Escola Complementar anexo ao estabelecimento. Concluí esse curso em 13 de dezembro de 1947, conforme documento expedido pelo seu diretor Mazarotti, com uma nota como média sofrível de 5.9.
Com a minha mudança para Londrina, nesse mesmo ano, matriculei-me no primeiro ano ginasial do Colégio Estadual Vicente Rijo, período intolerável da minha vida, pois em virtude das naturais dificuldades financeiras que meus pais estavam passando, tive que começar a trabalhar em emprego remunerado.
Abandonei meus estudos aproveitando-me do stress que me acometeu naquele período e comecei meu primeiro emprego na empresa dos Irmãos Fuganti198, como faxineiro, arrumador e entregador, cujo serviço não durou, com o que fui trabalhar em uma das farmácias da Rede Minerva199, como serviços gerais e aprendiz de manipulador de remédios homeopáticos.
Continuei minha vida profissional de comerciante que assumi em 1958 após minha exoneração (a meu pedido) como funcionário público do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do Governo Federal.
Após ter ficado trinta e cinco anos sem freqüentar qualquer estabelecimento escolar, resolvi com a aproximação da minha aposentadoria como comerciante, voltar a estudar.
Preocupado com a minha situação de quase analfabeto, resolvi voltar a estudar. Fiz mais, teria que concluir meus estudos de segundo grau e tentar a realização do curso de direito que, felizmente concluí anos mais tarde após dedicação quase exclusiva nos cinco anos de duração do curso.
Em 1985 concluí meus estudos do segundo grau através do sistema Supletivo, cujos exames aconteceram no Colégio Estadual Doutor Gastão Vidigal, recebendo meu certificado de conclusão em 07 de março de 1985. Nesse mesmo ano, com uma declaração de atestado de conclusão do segundo grau na mão, realizei o vestibular,
196 Lembro-me dos Irmãos Aurélio Ortigara e Irmão Evaristo.(Irmão Evaristo era professor, principalmente de Arte e Música e era um violinista habilidoso.
197 Meu pai sempre nunca se esquecia das suas obrigações.
198 E, claro, tudo arranjado pelo meu pai, que conseguia tudo com os Fuganti.
199 Só que dessa vez foi eu que consegui esse emprego.
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visando a realização do curso de direito, classificando-me em um dos primeiros lugares da UEM (Fundação Universidade Estadual de Maringá). Matriculei-me nesse mesmo ano e, assim iniciei o curso de direito e sem qualquer tropeço concluindo-o em 1990. Recebi meu diploma de Bacharel no início de 1991.
Advocacia
O curso de direito na UEM me proporcionou algumas facetas ―sui generis‖ - Eu era uma pessoa conhecida na comunidade: Havia sido presidente da Associação Comercial da cidade, presidia o Sindicato do Comércio de Maringá – SIVAMAR -, participava assiduamente nos movimentos sociais, culturais e políticos da cidade. Constantemente, minhas atividades ou os meus serviços eram estampados nos principais veículos de divulgação da cidade. Em razão disso, era muito conhecido, inclusive pelos professores da UEM. Quando comecei a freqüentar o curso regular da área do Direito, percebia que as pessoas que me rodeavam, se comportavam diferentemente comigo. Também os professores. Com essa ―facilidade‖, era aceito no círculo de alunos e de professores com um tratamento diferenciado facilmente perceptível. Entre os meus colegas o sentimento de respeito era visível200 e entre os meus professores, por mais proeminentes que fossem, existia uma aceitação tácita como igual201.
Com a aposentadoria às portas, pois a soma dos anos exigidos pela legislação estava para se completar, trinta e cinco anos de serviços, comecei a pensar seriamente o que poderia ser feito para continuar ativo e trabalhando, pois já me havia afastado das lides comerciais. Aos pouco, para ter mais liberdade como dirigente sindical, afastei-me da minha empresa, porquanto meu irmão Bruno Flávio continuava à frente do negócio, permitindo-me me afastar do comércio ativo e dedicar-me na entidade que criara, o Sivamar, mesmo considerando que de um momento para outro eu poderia ser afastado por uma chapa concorrente numa nova eleição, como de fato aconteceria anos mais tarde. E não pensem que esperava me perpetuar no poder. No decorrer do tempo, aos pouco, começaram a aparecer pretendentes sérios, componentes da categoria, que agora, sob novo prisma, viam com outros olhos a importância do sindicato no concerto da cidade.
A atividade exercida na entidade sindical requeria a todo o momento conhecimentos jurídicos, pois quase tudo girava em torno da organização sindical, do direito sindical e trabalhista. Nessa altura, onze anos haviam se passado. Com a aposentadoria, era chegado o momento de me habilitar em algo que me permitisse continuar na área sindical, que era o que mais eu sabia fazer, quando muito; freqüentar o curso de direito. Isso me permitiria obter mais conhecimentos numa área que eu já conhecia como autodidata.
Em 1983, solicitei à secretária do Sindicato, Marília de Matos202 que me auxiliasse em suas horas vagas, para juntar toda a papelada necessária à aposentadoria. Muito eficiente, em pouco tempo, toda a documentação foi preparada para ser apresentada ao instituto de aposentadoria. Uma vez aposentado, procurei concluir no ano seguinte, o segundo grau e, antes de terminar o ano, lá estava eu fazendo o
200 Dispensaram-me do tradicional Trote.
201 Eu era constantemente convidado para a sala do cafezinho pelos professores.
202 Que saudades que eu tenho dela.
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vestibular para concorrer a uma vaga no curso de Direito da Universidade Estadual de Maringá. Não posso esconder o sucesso da minha classificação, que me fez ser agraciados com as melhores notas do curso de direito. Matriculei-me e comecei freqüentar o curso no ano seguinte. Em 1990 concluí meus estudos e recebi em 91 meu diploma de bacharel em direito.
Durante o curso, não me permiti descanso. Nesse período, sábados, domingos e feriados deixaram de existir, pois me dedique inteiramente ao estudo. Juntamente, alguns colegas se juntaram a mim e, passamos a formar um grupo de estudos que não nos deu nenhuma trégua enquanto o curso prosseguia. Surgiu um vínculo de amizade que continua mesmo depois de concluir o curso. Abaixo, algumas fotos:
Da esquerda para a direita: Nilson Ceresini, Manoel Ronaldo Leite Junior, meus colegas e amigos e eu por ocasião bacharelado em direito, por ocasião da colação de grau na UEM – 1991.
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Lisley Maria Messias da Silva, minha colega de turma e depois Advogada do Sivamar.
Tempo memorável quando recebi dos meus mestres o conhecimento que aspirava. Assim, foram meus professores eminentes e saudosos juristas, entre os quais, tento cultivar uma amizade que considero entre as melhores que já tive. Não vou nominá-los, pois não caberia aqui essa veiculação. Entretanto, não posso deixar de elogiá-los por suas dedicações e empenho.
Meu primeiro trabalho jurídico foi defender numa Ação Trabalhista, o Programa Paraná-Europa, na qual obtive total sucesso. Outras se seguiram. Continuei advogando diuturnamente até 2000, quando fui conduzido ao serviço público por meu amigo e prefeito José Cláudio Pereira Neto e, esporadicamente até 2007, quando decidi afastar-me definitivamente das lutas diárias203.
Caso “Bonnie and Clyde” 204.
Como presidente do Sivamar, meu relacionamento aumentou significativamente. E junto com esse relacionamento, surgiram pessoas interessadas em se utilizarem dos serviços que eram oferecidos pelo sindicato e pela minha disponibilidade na ânsia de ajudar. Mas, sobre essas pessoas, um casal de comerciantes, não consigo evitar de expor toda uma história, como numa espécie de ―pena‖ que aplico aos personagens, à falta de oportunidade de uma Ação jurídica que deixei de ajuizar, meio apropriado no caso. E para tornar um pouco mais atrativo esse registro, resolvi, a fim de proteger a verdadeira identidade dos meliantes, adotar em especial, um famoso casal de bandidos, aos quais darei nome de: ―Bonnie e Clyde‖. E, assim, pessoas e comerciantes em especial engrossaram meu círculo de amizades. Merecem registro as pessoas desse casal de comerciantes em particular, que, por motivos óbvios, deixarei de declinarei seus nomes, forçado a isso, como será fácil
203 - Consultem meu “Curriculum Vitae” no final deste livro.
204 - Refere-se à comerciante tradicional na cidade, juntamente com sua esposa. Adotei um figura fictícia desses personagens reais, objetivando preservá-los, sem que, entretanto, o merecessem. Os personagens em questão dominaram a história do banditismo do cinema norte americano da década de 1960. Eles eram uma dupla de criminosos, bandidos assaltantes de bancos, cujos nomes eram: Bonnie Parker e Clyde Barrow.
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perceber no registro que faço. Irei nominá-los ficticiamente, destacando-os dentre os que sempre mereceram a minha fé e confiança.
Pois bem, esse casal, depois de consolidar uma amizade por longa data, conquistando confiança, certa manhã me procurou no Sivamar para solicitar que os ajudasse a superar sérias dificuldades com que estavam passando. Depois de me colocarem a par do problema, deixaram claro que precisavam contar com minha boa disponibilidade financeira e os ajudasse. Depois de discutirmos o assunto, propus levar o assunto à minha esposa Maria Lúcia, pois a idéia desenvolvida resumiu-se em criar uma empresa comercial de gêneros alimentícios.
Já devem ter percebido que ―Bonnie and Clyde‖ haviam perdido as condições de comerciantes e necessitavam, não só de ajuda financeira, mas, também, ―limpar seus nomes‖ para retornarem ao comércio. ―Bonnie e Clyde‖, eram um hábeis comerciantes de gêneros alimentícios. Assim, julguei que poderia ajudá-lo a retornar aos seus negócios e também atende-los como amigos. Sua esposa ―Clyde‖, por sua vez, havia conquistado sólida amizade com minha esposa Maria Lucia e, assim, foi com prazer que resolvemos ajudá-los. Como ―Bonnie‖ que estava tendo dificuldades com seu crédito pessoal suspenso, decidimos em conjunto, criarmos uma empresa comercial de pequeno porte. Para resolvermos essa questão e como ―Bonnie‖ estava impedido de iniciar qualquer novo negócio, pela Junta Comercial, minha esposa Maria Lucia e ―Clyde‖, apareceriam no contrato social como sócias. E assim foi feito. Sucesso total.
Já com um ano de funcionamento, o negócio prosperava acima das previsões mais otimistas, quando, fim de ano, fui tirar minhas férias com a família. Vinte dias depois, já com o novo ano iniciando, voltei às minhas atividades e imediatamente procurei entrar em contato com meus ―amigos‖. Qual não foi minha surpresa ao entrar no mercado! Suas prateleiras estavam quase vazias e o recinto completamente vazio de clientes. Estranhando o fato, e ante o meu espanto, ―Bonnie‖ não soube explicar o que estava ocorrendo. Imediatamente, assumi o negócio e solicitei aos ―amigos‖ e ―sócios‖ que fossem tirar umas férias, enquanto se procederia a uma investigação que identificaria as causas de tamanho desastre.
Como o leitor facilmente adivinhou o casal ―Bonnie and Clyde‖, aplicou o ―golpe‖ e estava desviando parte da mercadoria que se destinava a abastecer as prateleiras, o que impedia o fluxo normal das vendas. Tinha até montado um plano para dar o desfalque no negócio, que funcionava da seguinte maneira: Boa parte da mercadoria que era adquirida para reposição de estoque era desviada para a própria residência e outra parte para a residência de uma ―feiticeira‖ 205 que o aconselhara. Ela havia afirmado ao casal que, embora o comércio fosse próspero, em breve tempo tudo seria apenas um sonho, pois quando eu voltasse a Maringá, o negócio seria dissolvido e eles ―Bonnie e Clyde‖ seriam afastados do mercado.
Não reagiram quando os expulsei do estabelecimento. Assumi a direção do negócio, mas, apenas para liquidá-lo e pagar, procurando ―tapar os buracos‖ e liquidando todas as dívidas que foram feitas durante a minha ausência. Na medida do possível, negociei os débitos trabalhistas, dispensando os empregados, procurei os
205 O casal tinha como conselheira essa mulher que era conhecida na cidade, como “feiticeira”.
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fornecedores para paga-los ou negociar os resíduos das dívidas. Infelizmente, nem todos entraram em acordo, não sendo possível afastar das medidas judiciais, minha esposa,206 desse desastre financeiro. Esse caso me abalou profundamente e à minha família, não só pelo desastre financeiro mas, principalmente, pelo abalo na fé que sempre dediquei aos seres humanos. Fiquei verdadeiramente frustrado, em virtude de considerá-lo amigos, jamais me passando pela cabeça que tal pudesse acontecer.
Sivamar.
Farei constar aqui, também, de como iniciei minha participação na incompreendida questão sindical, pois à época sob comento, a participação em sindicato só era compreendida muitos no meio empresarial como coisa de ―operário‖ ou de ―comunistas‖. Registro essa particularidade, para que o leitor possa se inserir no contexto e assim entender de como foi difícil essa situação nada simpática em que me inseri207, mas da qual jamais me arrependi.
Cheguei a Maringá em fins de 1967, originário de Londrina, onde, juntamente com meus pais e meus irmãos, participava da empresa Bertin Indústria e Comercio208 (nome fantasia ―Decorações Bertin‖), tendo como objetivo instalar um estabelecimento comercial filial ligado à empresa.
Assim, como em Londrina, desde logo, procurei manter contato com as entidades existentes na cidade. Informei-me sobre todas e logo associei minha empresa à Associação Comercial de Maringá209, passando a freqüentá-la com assiduidade, militando e, com o tempo, acabei me candidatando à Presidência após ter sido derrotado em um ―bate chapa‖ na eleição do ano anterior. Persisti, e na segunda tentativa, sem chapa concorrente, fui eleito, assumindo esse importante cargo por dois anos; 1974 e 1975, dedicando-me intensamente nessa tarefa. Tinha pra mim que o quadro social da entidade era pequeno e o Serviço de Proteção ao Crédito necessitava urgente ser dinamizado e usei isso como bandeira: O aumento do quadro social ampliar e aperfeiçoar o sistema de proteção ao crédito que tanto benefício traria para o comércio da cidade: Eram as minha propostas.
Contando com um eficiente quadro de diretores e um zeloso secretário, o saudoso Dr. Herbert Maya, Zenaide210 e dois ótimos advogados, Antonio Sérgio Gabriel211 (Toninho) e, mais tarde, Nassif Algure Neto212, dediquei-me à tarefa. Iniciei uma campanha com o objetivo de tornar a associação mais conhecida e assim conquistar simpatia, aumentando seu quadro social, ao mesmo tempo em que a Associação adquiriu maior número de linhas telefônicas para suprir o SEPROC (sistema de proteção ao crédito um tanto deficiente para a época, pois era carente de recursos,
206 Para constituir juridicamente essa empresa, minha esposa, juntamente com “Clyde” se tornaram sócias da empresa.
207 A começar pelos pioneiros da ACIM desde o início, as eleições que se seguiram, passaram a predominar o “espírito de corpo” e, foram raras as disputas eleitorais, permanecendo a segura participação de candidatos que não conflitasse com os membros mais antigos. Assim também ocorreu no Sivamar, apesar de me preocupar que houvesse sempre um candidato opositor.
208 Permaneci na empresa, desde a sua fundação em 1958, até o seu encerramento nos anos de 1999.
209 Nome com que surgiu e como se acha na Ata de Fundação ocorrida em doze de abril de mil novecentos e cinqüenta e três.
210 Responsável pelo Serviço de Proteção ao Crédito.
211 Toninho era um advogado entusiasta e competente, que logo foi requisitado para o dept. Jurídico da COAMO de Campo de Mourão. Hoje ele é um dos diretores Superintendente. Com a sua saída, foi admitido Dr. Nacif, que continuou mesmo depois que deixei de exercer a presidência.
212 Anos mais tarde Dr. Nacif passou a compor os quadros da Justiça do Trabalho, como Juiz, do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, hoje, Juiz Corregedor Regional.
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material e humano, contando com uma única funcionária (Zenaide) que se dedicava incansavelmente nesse serviço imprescindível à sobrevivência e representatividade da entidade. Hoje, um serviço que serve como modelo e funciona com perfeição.
Uma entidade representativa tinha que ser também uma entidade que protegesse, no mínimo a pessoa jurídica dos seus filiados. Com essa filosofia que me acompanhou em toda a minha gestão e com o apoio dos membros da diretoria, todas as empresas que estivessem passando por algumas dificuldades funcionais e ou financeiras, quando solicitassem auxilio à entidade, receberiam toda a atenção. Foi o caso, por exemplo, da Imam/Imapsa, empresa com mais de 240 funcionários e de propriedade de José Pacheco Filho213, com o auxílio desinteressado de ex-presidentes e diretores da ACIM, consegui evitar que o empreendimento entrasse em processo falimentar.
Outro trabalho realizado que considero importante, também, daquela época, foi atender o pedido do Magnífico Reitor Rodolfo Purpur e do Prefeito da cidade, Dr. João Paulino Vieira Filho, para que colocasse a força da associação e liderasse uma caravana formada por representantes das diversas entidades organizadas da comunidade, junto ao governo Estadual, Jaime Canet Junior, Governador do Estado do Paraná. Essa caravana teve como objetivo principal, conseguir auxilio financeiro do governo para a Universidade Estadual de Maringá, pois esta se encontrava com graves dificuldades financeiras e corria o risco de tornar inviável o seu funcionamento. Obtivemos relativo sucesso, pois o governador atendeu parcialmente o pedido dessa Comissão, permitindo que a UEM saísse da sua crise.
Registro fotográfico por ocasião da visita da comissão da ACIM, Na foto da esquerda para a direita: Presidente Luiz Júlio Bertin (cigarro na mão), Deputado Estadual Luiz
213 Pacheco era uma figura importante para mim, pois, com seu espírito público, sempre interessado nos problemas da cidade e dos amigos, volta e meia, lá estava ele participando dos eventos da comunidade. Fundador do Centro Patriótico Tiradentes ao qual também passei a pertencer. O CPT foi criado no dia 17 de maio de 1987 em uma solenidade em que eu estava presente. Desde que surgiu, nas antigas instalações do Instituto de Educação Estadual de Maringá, sob a tutela do empresário José Pacheco dos Santos, o Centro busca atentar questões referentes à cidadania e identidade nacional.
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Gabriel Sampaio, (Vereador Nhô Juca) Antonio Mario Manicardi, Comerciante Ayrton Leite da Cunha Rego, Edmundo Queiroz Albuquerque (na ponta), Sr, X, Empresário Joaquim Duarte Moleirinho, Comerciante Yoshiaki Oshiro, Médico Sebastião Rodrigues Pimentel (representante da Maçonaria local), Magnífico Reitor Professor Rodolfo Purpur, Deputado Jorge Sato, Deputado Túlio Vargas e Jayme Canet Junior, Governador do Estado do Paraná.
Nos primeiros meses da minha posse, iniciei o processo de criação do Sindicato Patronal do comércio varejista para Maringá. Mas, antes, quero esclarecer, a bem da verdade, que no ano anterior, mais precisamente, no dia 04 de dezembro de 1973, a meu comando. um grupo de comerciantes de Maringá já havia se reunido e fundado uma associação profissional que acabou se transformando no Sivamar em 1976. Essa iniciativa consolidou-se mais tarde, graças ao esforço despendido pelo presidente da Federação do Comercio Varejista do Estado do Paraná, João Kracic Neto214. Logo que assumiu a Fevarejista, ele recomendou ao então gerente do SENAC215 de Maringá, José Cardoso216 para me procurar e fazer com que eu me dedicasse na criação e consolidação de uma entidade sindical patronal urbana, que reunisse em seus quadros o comércio varejista de Maringá e da região, aproveitando a iniciativa que daqueles comerciantes.
Sivamar foi entidade patronal urbana pioneira, pois ainda não havia na cidade nenhuma entidade sindical apropriada, nem mesmo para representar o comércio existente. Aceitei a incumbência com entusiasmo, pois o comércio de Maringá, carente de proteção legal, estava sujeito a obedecer as Convenções e Dissídios Coletivos de Trabalho que eram elaborados na capital do Estado, Curitiba, orientados pela Federação do Comércio Varejista do Estado do Paraná, que se utilizava dos parâmetros e critérios da capital do Estado. Embora demonstrasse boa vontade, sempre surgia algo que contrariava os específicos interesses dos empresários da cidade e da região.
Além do mais, naquela época, apesar da tímida iniciativa inicial, os empresários de Maringá ainda não haviam se decidido pela união tão necessária e assim possuírem a força imprescindível para defenderem seus próprios interesses empresariais.
Lembro-me da imensa dificuldade que tive em aumentar o número de associados da ACIM, apesar do esforço da diretoria da época, que contava com importantes nomes do empresariado da cidade; Antonio de Paula Souza Bárbara217, Divanir Braz Palma218, Harry Moura Soares219 e outros tantos abnegados), das campanhas efetivadas e o aperfeiçoamento do serviço de proteção ao crédito (SPC) ou SEPROC, como era conhecido.
Entrosado e absorvido pelos problemas da Associação Comercial, não podia perder muito tempo na nova tarefa e desde logo me coloquei à disposição, iniciando
214 Eu ainda não o conhecia, mas, a partir dessa data, passamos a nos corresponder quase que diariamente, de tal forma que, era com a naturalidade de velhos conhecidos que isso acontecia.
215 SENAC, juntamente com o SESC, pertencente ao sistema “S” da área do comércio, mantido pelo sistema confederativo sindical que se completa com o SENAI, SESI e demais que se seguiram posteriormente.
216 Cardoso era o Diretor do SENAC em Maringá.
217 Empresário comercial e industrial de peso, chegando a ser eleito Deputado Estadual e Federal pelo Paraná.
218 Outro empresário de importantes empreendimentos comerciais e industriais, transformando-se em político com destaque Municipal e Estadual.
219 Comerciante pioneiro na área de tintas e vernizes, mineiro de boa cepa.
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imediatamente o empreendimento. Em pouco tempo, com a ajuda da Federação Varejista do Estado do Paraná e de seu preposto José Cardoso, a nova entidade estava pronta a ser registrada; inicialmente como Associação dos Lojistas do Comércio e do Comercio Varejista de Gêneros Alimentícios, de Maquinismos, Ferragens e Tintas, de Materiais Elétricos e Eletrodomésticos de Maringá, para se transformar mais tarde220 em Sindicato cujo nome adotado manteve a mesma nomenclatura com que fora criado, no ano de 1975221.
Ao findar o biênio 1974/75, ainda como presidente da Associação Comercial e sem descuidar-me dela, passei a me dedicar ao gerenciamento da minha empresa222 e à consolidação do novo Sindicato. Para me auxiliar, assumindo a Gerência da minha empresa, meu irmão Bruno César, que residia em Londrina, transferiu-se para Maringá com a sua família, permitindo-me assim dedicação quase que exclusiva à consolidação do sindicato.
É justo reconhecer os esforços dos diretores da Fevarejista e a dedicação do Sr. José Cardoso, a quem presto as minhas homenagens. Mas, tão logo foi criada a Associação Patronal223 no formato exigido pela legislação, com a preciosa ajuda dos diretores da recém entidade e colaboração financeira da Federação de Curitiba e de alguns associados abnegados, logo inauguramos a sede da Associação, no andar superior de um prédio alugado de propriedade do médico Saulo Vermont e senhora Nadir Porto Vermont, endereço esse localizado na Avenida Herval, 606, 1º andar, próximo à Avenida Brasil. Suficientemente espaçoso e com os recursos adquiridos, contratei os primeiros funcionários para assim instalar o mobiliário e equipamentos necessários. Comecei a trabalhar com o auxilio e dedicação dos diretores e funcionários.
Integraram a primeira diretoria os Empresários do Comércio Varejista de Maringá, senhores Shiniti Ueta, Luiz Yoshiaki Oshiro, Mario Martinuci, Antonio Carlos Kagueyama, Harry Moura Soares, Luiz Bursi, Conrrado Mommenson, Humberto Bortolossi, alem de mim. Respectivamente, representado suas empresas: Cine Foto Som Ueta; Organtel; Martinuci Ltda.; Apolo Confecções; Supermercados Bursi; Mercantil Catarinense; Cofebral e Decorações Bertin.
Os primeiros funcionários foram o próprio José Cardoso, que dividia seus serviços ao sindicato e ao SENAC, Maria Lucia Ferreira Gomes, Maria Clara Pires da Silva Matias etc...
Foi uma luta de mais de 25 anos, período em que me dediquei com afinco e amor. Antes da existência do Sivamar, não havia nenhuma orientação profissional, nenhuma orientação técnica ou das leis trabalhistas dirigidas especificamente ao Comercio Varejista de Maringá e Região.
 A entidade veio preencher esse hiato existente no comércio de Maringá. Desde o seu início, fiz o sindicato patrocinar diversos e variados cursos: de
220 1976.
221 As entidades sindicais eram atreladas ao Ministério do Trabalho, por exigência Constitucional e pela CLT, que controlava e regulamentava o Sistema Confederativo brasileiro.
222 Decorações Bertin.
223 Primeiro Órgão sindical urbano de Maringá. Já existia um sindicato patronal com sede na cidade, mas rural.
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Motivação, Taquigrafia224, Cipa, Organização geral, curso sobre impostos em geral, escrituração fiscal, diversos cursos para empresários e empregados, marketing empresarial, recursos humanos, segurança, etc., tanto para os proprietários como para os seus funcionários. Para tanto, contratamos professores capacitados nas mais diversas especializações a fim de preenchermos essas necessidades. Notórios são os professores Webster Osório Meira Costa (curso de motivação), professor Elizier Monteiro de Carvalho (curso de taquigrafia), e outros tantos.
SIVAMAR, sigla como ficou conhecido, marcou época, pois assumiu com marcante atividade as suas funções como representante legal das categorias econômicas que representava. Desde o seu início, durante mais de duas décadas, ocupou as páginas principais dos veículos da imprensa maringaense, tal o interesse que despertava na população, pois, não eram só trabalhados assuntos específicos, mas também, atividades políticas, culturais e sociais.
Os eventos promovidos pelo Sivamar despertavam os interesses das autoridades locais, estaduais e até nacionais. Como exemplo, cito a realização do (III SECOPAR) III Encontro do Comercio Varejista do Estado do Paraná, ao qual, acorreram tantas autoridades, que ao se nominarem as personalidades para ocuparem a mesa principal, com 16 lugares, percebemos que na platéia, havia mais autoridades que não puderam participar, tais como o Presidente do Banco Central do Brasil, Secretário da Fazenda Nacional225, etc.
Hoje, após todos esses anos de dedicação à comunidade (causa pública?), creio que poderei retirar de tudo isso, parte de um pensamento de Fernando Pessoa que diz:
“ De tudo ficaram 3 coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar...”
Sim, é assim mesmo!
O Sindicato nasceu oficialmente no dia 26 de junho de 1974 como Associação. Seu registro no Ministério do Trabalho foi aceito como: Associação dos Lojistas do Comércio e do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios, de Maquinismos, Ferragens e Tintas e de Materiais Elétricos e Eletrodomésticos de Maringá. O reconhecimento pelo Ministério do Trabalho ocorreu dois anos depois, no dia 02 de setembro de 1976, apenas retirando do nome a palavra Associação e colocando em seu lugar a palavra Sindicato, na data da emissão da Carta Sindical, documento que legitimava a atividade sindical antes da nova constituição de 1988.
Creio ter acertado na escolha de construir a história do sindicato226, mandando digitalizar os Livros Diários em que foram registrados os fatos ocorridos dia a dia pela secretária em exercício e isso, sem que ela sofresse qualquer interferência nas
224 Esse curso de taquigrafia foi solicitado pelo governo e formou dezenas de profissionais que, todos absolvidos pelos novos Estados criados na época.
225 Durante os comentários que serão feitos ao pé das paginas que se seguirem, irei detalhando os acontecimentos que marcaram época.
226 Ver História do Sivamar da minha autoria, disponibilizada na Internet, no Windows Live.
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suas manifestações redacionais. Jamais, interferi nos dados lançados, desde o seu primeiro momento. Em algumas ocasiões, fiz questão de me pronunciar, mas, só quando fosse para encerrar cada exercício de trabalho, o que só ocorria no último dia de expediente do mês de dezembro de cada ano.
Nos livros, que relatam a história do Sivamar, adotei o registro de comentários no Rodapé de cada página, à medida que os lançamentos se seguiram e, quando necessário, seguiram-se esclarecimentos, comentários e registros que deverão servir, aos poucos, para completar o trabalho literário, quando então, considerarei encerrada essa minha tarefa de historiador e literato. Para os interessados, esses livros estarão disponibilizados na internet ou no Sivamar.
MINHAS VIAGENS
Voltando à minha biografia, lembro-me de pequenas viagens que realizei no meu tempo de criança: Joaçaba está separada de Luzerna por meia dúzia de quilômetros e é ligada por uma estreita estrada de rodagem que percorre o Rio do Peixe pela margem contra corrente, permitindo, a quem se dirige à Luzerna, permanecer à esquerda do rio. Do outro lado desse rio, encontra-se a estrada de ferro, a mesma que foi construída pelos americanos no início do século 20. Seus trilhos seguem à direita, contra corrente, até Luzerna e adiante até Ibicaré, no Estado de São Paulo. Na direção sul, a ferrovia termina em Santa Maria, RS.
Era meu costume nos idos de 1940/45, percorrer a estrada a pé, para vencer a distancia até Luzerna em mais ou menos hora e meia. Essa estrada era toda revestida de macadame227. Isso me permitia, sem pressa, ir apreciando a paisagem que se desenrolava à minha esquerda, emoldurada pelo morro, recoberto pela escassa vegetação do que restou da mata empobrecida pela exploração dos empreiteiros americanos228 no início do século 20. Do lado direito, o Rio do Peixe, com sua corrente apressada e ainda piscosa. De vez em quando, saía da cidade, rumo a Luzerna, passando pela ponte em arco229 que transpunha o Rio do Peixe fazendo ligação com Herval D‘Oeste e, do outro lado e seguia pelo leito ferroviário, sob as vistas do colégio Cristo Rei, rumo ao meu destino, Bom Retiro.
Nessas oportunidades, caminhando sobre os dormentes, fazia o trajeto a pé utilizando-me como caminho o leito da estrada de ferro. Para isso, atravessava a ponte em arco (o que por si só já era uma aventura) e me dirigia à Estação de Herval Velho230. Apesar de encontrar menos obstáculos no trajeto, tinha que me manter entre os trilhos e caminhar sobre os dormentes, o que tornava o passeio ritmado, moroso, tedioso e cansativo. Fazia o trajeto em mais ou menos duas horas, sempre tomando o cuidado de me afastar quando passava uma rara composição de trem. Quando chegava cansado à Estação de Bom Retiro (Luzerna), para alcançar o meu destino, tinha que atravessar o Rio do Peixe me utilizando da balsa para a travessia que permitia o acesso à cidade. Minhas andanças eram quase sempre acompanhadas pelo meu irmão mais moço Heitor que, se bem lembro, gostava da
227 - Macadame – expressão que se utiliza em Santa Catarina, para identificar o tipo de piso.
228 - Os construtores da estrada de ferro detinham a concessão que lhes permitia explorar ambas as margens do Rio do Peixe, numa extensão de 15 quilômetros de cada lado. Com isso, as florestas dotadas de madeiras de lei foram todas exploradas, não sobrando sequer uma árvore da vegetação original.
229 - Era uma ponte em arco com seu vão de 120 metros, mais as cabeceiras, construída no inicio do século 20 com os recursos de engenharia dos mais modernos. Foi a primeira ponte no gênero construída na América do Sul. Uma grande enchente a destruiu.
230 - Como era conhecido à época. Herval Velho. Joaçaba é do outro lado do Rio.
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aventura. Durou pouco a vontade de fazer esse trajeto, mesmo porque, minha disposição de enfrentar esses caminhos, principalmente o da ferrovia, feneceu, pelos sustos que levávamos durante o trajeto, em razão de ruídos de dentro da mata lateral que me pareciam estranhos e não identificados Coisa de criança.
Em outro capítulo deste livro me refiro a mais uma viagem que realizei em companhia do meu pai, por ocasião de uma viagem com objetivos políticos, mas que se tornou, também, muito útil, pois foi nessa viagem que ―adquirimos‖ mais uma irmã, a Adiversina231 (Diva), que logo se integrou e passou a fazer parte da família, quando foi adotada legalmente.
E, é claro, a grande viagem que me levou à aventura sem retorno, por ocasião da mudança com toda a família para o Norte do Paraná, a terra prometida. Viagem esta, relatada logo no começo desta autobiografia.
Outra viagem descrita noutra parte, se refere à minha participação como ajudante de vendedor de doces de nome Ademar, que possuía um caminhão "International‖ importado, tipo furgão, cuja aventura se encontra narrada naquele trecho.
Não deixaria de relatar aqui, uma das mais memoráveis viagens que realizei, pois se refere à aventura realizada por meu pai e que se destinava a salvar o que restou da sua sociedade com Atílio Andretta, responsável pela nossa mudança para o Norte do Paraná. Como já descrito em outra parte deste livro, após o fracasso comercial do negocio em sociedade de Cornélio Procópio, e a nossa mudança para Londrina, onde nos estabelecemos, meu Pai, com o pouco que lhe restou do malfadado negócio de Cornélio, resolveu tentar uma última cartada: Arquitetou viajar, internando-se para o interior, rumo a mais nova cidade que estava surgindo logo após Mandaguari, Maringá.
Estávamos em 1947, plena safra do feijão. As notícias eram propícias lá pelas bandas de São Paulo; o preço dos cereais prometia ser bom e o que mais estava em falta era o feijão. Entusiasmado e ao mesmo tempo desesperado, meu pai resolveu aventurar-se rumo a Maringá, onde, segundo apurou a safra de feijão que estava começando prometia ser muito boa. Em razão da farta produção, o preço era bom. Em São Paulo, o preço corrente era superior e, se a aquisição do produto, assim como o seu transporte fosse rápido, a margem de lucro seria compensadora.
Com a urgência que a decisão requeria, tudo combinado, depois de informado das condições do tempo e de que tipo de veiculo que deveria fretar para realizar sua aventura, meu pai juntou suas economias e, tendo-me como companhia, rumou para Maringá debaixo de intensa chuva, o que era normal naqueles tempos. Ele e o motorista, na cabine e eu na carroceria vazia protegido por uma grossa lona encerada. Demoramos a noite inteira para fazermos o trajeto de que nos separava de Maringá.
Chegamos à cidade no alvorecer do dia seguinte, seguindo o leito natural da estrada, Avenida Colombo e, à esquerda, seguimos pela Avenida Tuiutí, para alcançarmos a Avenida Brasil recentemente aberta pelo Cia. Melhoramentos. Descemos por ela, e, na altura da vila Operária, frente ao espaço destinado à
231 Era uma descendente dos Índios Kaigangs da região de Xanxerê, SC. Todos nós a chamávamos de DIVA.
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construção da Igreja São José, encalhamos. Com auxilio de um trator, oportunamente no local, desencalhamos o FNM e descemos a Avenida, alcançando uma padaria recentemente instalada na parte mais baixa da cidade: ―Padaria Arco Íris‖, onde tomamos a refeição matinal, constituída de pão fresco e café preto. Leite não havia.
Refeitos do cansaço da noite mal dormida, pois passamos a noite na estrada, foi-nos informado que o cereal (feijão) que meu pai queria adquirir só poderia ser conseguido na ―Fazenda Brasileira‖232, distante 80 ou 90 quilômetros mais para o interior, rumo noroeste.
Com apenas algumas horas de descanso, rumamos imediatamente para lá, aproveitando a estiagem que nos era proporcionada. Meu pai estava deveras preocupado, pois as notícias do mercado dos cereais, oriundas de São Paulo, não eram nada promissoras: O preço dos cereais estava tomando características descendentes, despencando, ante a previsão de uma boa safra em todas as regiões produtoras do Brasil.
Sem muitos percalços, chegamos à Fazenda Brasileira e nos hospedamos no único hotel da cidade, enquanto o motorista e meu pai procuravam os maquinistas, cerealistas ou produtores que possuíam feijão nas suas tulhas que, devido às notícias negativas, se recusavam a vender, na esperança que a situação logo se resolvesse, com o mercado mais promissor. Dois ou três dias depois, sem alternativa, sujeitou-se às exigências locais, acabou adquirindo a carga completa do veículo.
Restava a volta urgente e rumar para São Paulo, onde a carga foi vendida com prejuízo. Na realidade, meu pai não conseguiu vender o feijão antes de uma semana, período em que o preço no mercado de cereais desabou. Não era o seu ramo de negócio. Depois dessa dramática aventura, ele jamais deixou a sua vocação empresarial. Decepcionado, seu humor mudou nitidamente, mas não deixou que isso lhe ―torcesse o braço‖. Seu retorno a Londrina obrigou-o a resolver com urgência sua situação financeira.
Viagem com LULA
Luiz Inácio Lula da Silva estava em campanha política na região do Norte do Paraná. Isso em 1989. Terminado o comício programado em Maringá, encarreguei-me de transportá-lo a Londrina, como havia sido combinado com a direção do PT local, sob proposta da minha esposa Maria Lucia. Eu possuía um automóvel Landau ano 1977 em boa forma que eu havia adquirido de segunda mão. Espaçoso, confortável e, principalmente seguro, lá fui eu, orgulhoso de prestar esse serviço ao futuro Presidente.
Lula, acompanhado de três assessores, tendo-me como motorista, iniciamos a viagem lá pelas 19,30 horas com a previsão de chegarmos a Londrina para que ele participasse da grande concentração que o esperava. Durante o trajeto, ―conversa vai, conversa vem‖, Lula se interessou pelo carro, perguntando detalhes sobre ele.
232 Era como se conhecia o município de Paranavaí.
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Depois de algumas explicações da minha parte, comentou, dizendo que, ainda ele teria um carro como aquele. Respondi-lhe que, quando fosse eleito presidente, poderia ter quantos quisesse, pois o governo brasileiro os teria em quantidade233.
Nesse meio tempo, Lula deve ter se lembrado que estava em campanha política, pois pouco antes de Apucarana, pediu-me para fazer uma parada em um posto de gasolina à margem direita da estrada, para saborearmos um cafezinho. Enquanto tomávamos a bebida, notei algumas pessoas que nos observavam silenciosas, e nenhuma delas se acercou para uma conversa, como acontece normalmente com políticos em campanha. Comentei esse fato a Lula, dizendo que embora curiosos, ninguém se aproximou. Ao que me respondeu: ―Pode deixar, que eles se fartarão de me ver depois que for eleito‖. Palavras proféticas? Não para aquele período eleitoral.
Chegamos no horário a Londrina a tempo dele não ser a causa de atraso do Comício. O PT de Lula fazia aliança com (PT / PSB / PC do B). Disputava as eleições presidenciais com uma série de outros candidatos: Fernando Collor de Mello (PRN / PSC), Leonel de Moura Brizola (PDT), Mário Covas Junior (PSDB), Paulo Salim Maluf (PDS), Guilherme Afif Domingos (PL /PDC), Ulysses Guimarães (PMDB), Roberto Freire (PCB), Aureliano Chaves (PFL), Ronaldo Caiado (PSD), Affonso Camargo (PTB), Enéas Carneiro (Prona), José Alcides Marronzinho de Oliveira (PSP), Paulo Gontijo, Zamir José Teixeira, Lívia Maria (PN), Eudes Mattar (PLP), Fernando Gabeira (PV), Celso Brant (PMN), Antônio Pedreira (PPB) e Manuel Horta (PDC do B). Nunca, antes, tantos brasileiros concorreram ao honroso cargo. Infelizmente, embora tenha ido ao segundo turno, Lula perdeu as eleições para Fernando Collor de Mello, com a ajuda da grande Mídia comprometida com as elites corruptas.
Viagem ao Rio Grande do Sul.
Recentemente realizei uma viagem, acompanhado por meu filho Julio César, a Santa Catarina e ao Rio Grande do Sul, com o objetivo de conhecer os parentes remanescentes e seus sucessores e, possivelmente, colecionar fotos e documentos. Foi em fins de fevereiro de 2005. Utilizei-me de uma Parati, ano 93, da Wolkswagen, veículo que adquiri em razão de ter recebido parte de um valor que foi depositado equivocadamente por um dos Réus em uma Ação de Indenização por Danos Moraes que ganhei na Justiça de Maringá e cujas informações estão sendo disponibilizadas em outro capítulo deste livro.
Eu precisava aumentar e melhorar as informações que eu tinha sobre a minha família. Tudo o que havia eram detalhes incompletos, retalhos de informações adquiridos com os meus familiares, tias, primos e irmãos, principalmente. Nem uma única vez, por mais que force a memória, não me lembro de qualquer conversa sobre história dos meus familiares, exceto, quando ouvia do meu pai, por ocasião dos seus retornos das viagens que fazia algum fato que era destacado durante as nossas refeições, ocasião em que descrevia suas experiências e contatos. Mas, a conversa era dirigida só para minha mãe. Devemos nos colocar no contexto de uma
233 Estava me lembrando que no governo ditatorial de Figueiredo havia presenciado pessoalmente a entrega a ele de um Landau movido a álcool, o primeiro fabricado no Brasil. Presente da fábrica Ford à Presidência da Republica. Isso ocorreu à frente do Ministério do Trabalho em Brasília em 1981, ocasião em que eu estava participando de um encontro de sindicalistas brasileiros.
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época em que crianças não participavam dos diálogos e trocas de informações entre adultos.
Mas, espalhados pela casa dos meus pais, ainda restavam inúmeros pontos onde eu podia me informar. Nas paredes, inúmeras pinturas se destacavam. Eram obras que meus pais haviam produzido durante e enquanto vivos. Também, em uma grande caixa quadrada de folha de flandres se podiam encontrar inúmeros documentos e fotografias que supriam em parte minhas necessidades e me davam esperanças de encontrar mais informações. Entretanto, após o falecimento da minha mãe, esse depósito foi desfalcado pelo acesso dos meus irmãos nesse acervo, obrigando-me, inclusive a visitar minha prima Clélia em São Paulo, pois, muita coisa estava com ela, por iniciativa do meu pai e da minha irmã Maria. Com ela, obtive muitas informações que estariam perdidas não fosse assim. Demais informações, ficaram por conta da minha insistência em consegui-las de diversas fontes. Como as viagens que fiz.
Realizei uma segunda viagem em 2007, desta vez me utilizando de um automóvel, Landau da Ford, ano 1973.
Tirei esta foto de Julio Cesar e a Parati, a meio caminho de São Borja, tomando um ar devido ao forte calor que enfrentamos durante a minha primeira viagem. Com esse Landau 1973, realizei uma segunda viajem a São Borja. O mesmo que transportou Lula.
Assim, aos poucos, fui colecionando as informações que estou inserindo nesta biografia. Nessa viagem que realizei em 2007, obtive muitas informações da Família Bertin, mas não as julguei suficientes. Assim, planejei a realização de uma viagem a Europa, objetivando visitar especificamente Vêneto, norte da Itália, Thiene, Sarcedo, Forni di Valdastico e San Pietro di Valdastico, no vale Ástico e, no norte da França; Saint Omer e Tilques. No Veneto, procurei informações sobre a família da minha mãe, os Fontana e na França, informações sobre a família do meu pai, os Bertin.
Eu sabia que o inverno nessas regiões era rigoroso; faz muito frio por lá, mas, raramente acompanhado de mau tempo, tempestades e nevascas intensas. Escolhi
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viajar em fins do nosso Outono de 2008, para aproveitar conhecer a Europa no Inverno. Apesar do frio, é a época em que se aproveita melhor o passeio e as melhores paisagens num clima que, apesar de frio, é muito saudável. Enganei-me, nesse ano o clima foi muito rigoroso no período em que lá estive. Tão rigoroso que, em determinados dias, Poe exemplo, fiquei impedido de sair de Roma onde me hospedava se3ndo o meu ponto de encontro e partida para o resto da Europa. Utilizei-me sempre do transporte ferroviário e visitei dezenas de cidades italianas e, também, em dias que me permitiram o deslocamento, de trem, fiz uma incursão no vale do Veneto, ocasião em que obtive importantes informações sobre a minha família Fontana.
Assim, estando em Veneza numa manhã muito fria e de muito vento234, decidi que já era suficiente minha demora nessa maravilhosa cidade.
Último dia em Veneza. Esta foto foi tirada sobre a ponte Scalzi que separa a estação ferroviária do meu hotel.
Na realidade eu estava planejando tomar o trem e ir para Paris passar o fim de ano por lá. Tinha tudo planejado, chegaria a Paris na véspera do ano novo, dirigir-me-ia de taxi diretamente da estação ferroviária até a Torre Eifil, procuraria nas imediações um daqueles Cafés famosos, adquiriria uma garrafa do melhor champanhe Frances, aguardaria o anuncio oficial para rumar até a parte de baixo da Torre, onde pretendia festejar. Assim, eu teria a melhor lembrança da minha viagem. Permaneceria por lá até uma melhora do tempo e rumaria ao norte da França, visitando Saint Omer e Tilques, onde esperava encontrar notícias dos Bertin.
Infelizmente, devido ao mau tempo que reinava em todo o norte da Europa, fui impedido de realizar essa vontade. Mesmo os aviões estavam impedidos de voarem naqueles dias. Assim, tomei um trem e rumei para cidade de Thiene, na província de Vicenza, onde esperava me hospedar e começar minha pesquisa biográfica sobre a família da minha mãe, Fontana. Os trens na Europa são velozes. Cheguei ainda com a luz do dia na ferroviária dessa pequena e simpática cidade. Rumei a pé para o
234 - Estava hospedado próximo à Estação Ferroviária. Veja foto tirada por mim no dia dessa decisão.
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centro da cidade que fica perto. Sem pressa, dei um passeio pela cidade e visitei alguns prédios medievais no centro da cidade, enquanto pensava em um plano que aproveitaria o resto do dia. Havia nevado fortemente na noite anterior e o meu caminhar era sobre uma camada muito branca de neve.
Sobre a neve de Thiene.
Biquiere di vino rosso para esquentar o sol.
Mais familiarizado, encontrei um simpático bar ao lado do único Albergue da cidade. Enquanto um ―biquiere de vino rosso‖ e o fraco sol renovavam minhas forças, informei-me sobre a localidade de Sarcedo, onde esperava iniciar minhas pesquisas. Era perto. Na pequena rodoviária, protegido pelo interior calafetado do único bar, fui informado pela proprietária que a localidade de Sarcedo ficava distante uns quatro quilômetros. Entre um cálice de vinho e outro, fui acompanhado por um senhor que se aproximou curioso e, depois de informado, alegou ser amigo do prefeito, oferecendo-se para me acompanhar na viagem.
Adquiri dois bilhetes ao preço de 1,20 euros cada e ofereci um ao meu novo relacionamento que, sorvendo a bebida, rapidamente se afastou, dirigindo-se ao local de embarque. Ante um comportamento suspeito, desconfiado, resolvi permanecer no interior do bar, pois, para surpresa minha o meu novo amigo havia tomado o ônibus sem me esperar. Achei que o cara era maluco, ou simplesmente me deu o ―golpe do bilhete‖. Sem dar muita importância ao assunto, tomei o próximo carro e rumei para aquela localidade, não sem antes combinar com o motorista o ponto onde eu queria descer. Já era noite, mas não era mais que 17:00 horas quando minha condução deixou-me por engano quilometro e meio longe do centro do vilarejo235. Frustrado, mas, sem pressa, desci e logo avistei ao lado da via, bem à minha frente, um daqueles simpáticos barzinhos que proliferam por lá. De aspecto acolhedor, rumei para ele.
Minha imagem me denunciava. Ante os olhares curiosos dos freqüentadores e do atencioso casal sorridente, pronunciei decididamente: Um ―biquiere de vino rosso, per favore‖. Escolhi uma mesinha localizada em local onde pudesse observar todo o ambiente. Apreciei o delicioso liquido, sorvendo-o aos poucos e sem pressa, enquanto examinava o locar e seus freqüentadores, percebendo que ao mesmo tempo, eu estava sendo objeto de intensa curiosidade. Passado esse momento, examinado e familiarizado, procurei me informar com a atendente sobre uma pessoa para a qual eu teria que transmitir um recado verbal, Guerino Zanatta. Seu olhar se iluminou. Essa pessoa era conhecida por todos, mas sua residência era no centro da
235 - Era a Via Bassano Del Grappa, estrada que atravessa a cidade de ponta a ponta.
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cidade. Terminei minha bebida, agradeci, me despedindo de todos e saí para enfrentar o clima áspero do lado de fora, seguindo a pé para o local indicado pela estrada mal iluminada.
Apesar do frio, não me utilizei de taxi, encaminhando-me pela estrada e, evitando pisar sobre o gelo brilhante congelado236, não tardei chegar ao Centro da cidade. E, numa esquina, ao passar perto de uma farmácia, aproveitei para adquirir alguns comprimidos antigripais e ao sair, encontrei uma senhora, com a qual procurei me informar. Formulei a pergunta com o meu péssimo italiano, misturado de português, me fiz entender quando citei o nome da pessoa que procurava. Enquanto seu rosto se iluminava demonstrando ter entendido o que eu queria, coincidentemente, estacionou um automóvel modelo esporte, bem perto de nós. Imediatamente, fui apresentado ao condutor que, após me ouvir, se propôs conduzir-me ao meu destino. Poucos minutos depois, lá estava. Toquei a campainha e, Guerino Zanatta foi quem me atendeu.
Apresentei-me, esclarecendo que lhe trazia um abraço de um primo seu que residia e trabalhava na Sadia em Concórdia, sendo cordialmente e imediatamente convidado a entrar na sua residência, ocasião em que fui apresentado a todos o membros da família. Entre eles, uma senhora que se expressava muito bem na língua portuguesa, pois trabalhara oito anos para os Fontana da Sadia, como ela se referia. Zanatta declarou-se um entusiasta de Attilo Fontana, logo que entendeu que eu era sobrinho dele. A todo o momento, revelava que Attilio Fontana possuía um conglomerado de mais de trinta empresas no Brasil, com mais de trinta e cinco mil pessoas ligadas à empresa. Nos dias que permaneci na região, ele não de cansava a proclamar a todo instante que Attilo Fontana deveria servir de exemplo a todos os habitantes do Vêneto, por ter sido um vitorioso.
Já se fazia tarde e eu ainda não estava hospedado adequadamente. Zanatta propôs me levar a Thiene, pois somente lá é que haveria possibilidade de encontrar um hotel. Em poucos minutos, chegamos à única hospedaria da cidade, onde me instalei, não sem antes combinarmos que iríamos visitar Fornio e San Pietro de Valdastico, localidades de onde partiram os meus avós maternos para o Brasil em 1888, enfrentando corajosamente a maior aventura das suas vidas.
236 - Cuidado necessário, pois a neve caída na noite anterior havia sofrido a ação do sol do dia, adquirindo um aspecto de vidro polido. Informado, evitava pisar sobre essa camada para não escorregar.
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Dia seguinte, na hora combinada, Zanatta apanhou-me no hotel e rumamos ao nosso destino. O caminho lhe era familiar e a viagem prosseguiu velozmente por uma estrada pavimentada com perfeição e muito movimentada, rumo ao Vale. Chegamos numa bifurcação, deixamos a estrada principal entrando à direita como se vê na foto abaixo.
Seguimos por essa estrada à direita e seguimos à procura de Fornio e San Pietro de Valdastico. Essas localidades estão próximas uma das outras, todas localizadas nas encostas do vale, pela direita, rumo ao norte e logo encontramos as placas indicativas. A primeira de San Pietro, como se vê na foto abaixo.
Essa foto foi tirada lá pelas 14h30min. Tinha parado de nevar na noite do dia anterior e a estrada, assim como todo o vale mostrava a neve muito branca e duradoura apesar do sol. Trafegávamos em uma espécie de penumbra devido a sombra projetada das montanhas à nossa volta. Zanatta, durante o trajeto, ia me contando o que sabia da região, com riqueza de detalhes, pois era nascido em Sarcedo. Não tardou, e avistamos a primeira localidade que antecedia nosso primeiro objetivo, Fornio D´Valdastico.
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Depois de atravessarmos a corrente, do outro lado do Vale, passamos pela comunidade Sette Cat, seguimos, passando por Cerati, Bosso e Righele237, para, finalmente chegarmos a San Pietro. Passamos pela Prefeitura e paramos do lado de fora para consultarmos um grade mapa fixado na parede do lado de fora. Depois nos dirigimos à Piazza Roma, onde se localiza a igreja onde meus avós se casaram.
No trajeto, à esquerda da estrada, encontramos uma capela que homenageava as 22 famílias do Vêneto italiano que haviam emigrado para o Brasil, entre os quais estavam meus Avós Fontana. Emocionado, solicitei ao meu acompanhante que estacionasse à margem para fotografá-la: E, ai está.
237 - As encostas do Vale abrigam dezenas de pequenas comunidades, as quais, contam com um numero de habitantes reduzidos, em torno de 800 a 1000 moradores. O crescimento demográfico é quase zero.
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Capela homenageando os emigrantes de 1888.
Na seqüência, atingimos as primeiras edificações, destacando-se a prefeitura, esse prédio à direita,
e logo à frente a Igreja da Paróquia onde meu bisavô Fontana havia se casado em Janeiro de 1888.
Fiquei impressionado com o estado de conservação da Igreja, pois, sua aparência era como nova.
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Procuramos o Pároco local, Don Pompeo, que nos atendeu com muita simpatia. Logo que o informei sobre o meu propósito, incontinente, localizou em um pesado armário de carvalho, um livro onde facilmente localizou a página cujo registro de casamento fora gravado. Permitiu-me que a fotografasse e procurou traduzi-la para o português que pouco conhecia.
Este é o registro original do casamento dos meus avós maternos que fotografei por ocasião da minha pesquisa em San Pietro de Valdático238.
238 - A igreja paroquial de San Pietro Valdastico foi reconstruída depois da guerra. O distrito se estende ao longo de ambos os lados do vale dell’astico até o limite da área do Asiago. Nesta região os recursos naturais são limitados à agricultura com a modesta produção de batatas e forragens. Também ocorrem pequenas e médias empresas e indústrias transformadoras, em particular no setor artesanal de madeira, móveis e material de embalagem.
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Esta é a Igreja onde meu avô Fontana foi batizado em 1865. Paróquia de Santa Maria de Madalena.
Foi toda restaurada interna e externamente, pois fora seriamente danificada durante os primeiros anos da segunda grande guerra. Durante a reforma, no subsolo, foi descoberto um tesouro composto de ostensório, cálices e objetos religiosos em ouro, prata e pedras preciosas. Essas preciosidades se encontram protegidas nos subterrâneos da Igreja, que mantém sistemas antifurto e eletrônicos modernos, mantidos pelo governo do município e pelos paroquianos. Nos poucos momentos que tive oportunidade de observar tal tesouro, tentei fotografar, mas nada ficou gravado, devido ao sistema de proteção.
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Eu no interior da Igreja de Santa Maria de Madalena, onde meu avô Fontana foi batizado em 1865.
De volta dessa viagem à Europa, aguarde alguns meses e tentei realizar uma terceira viagem ao sul, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No entanto, em virtude do mau tempo, encurtei o trajeto e alcancei apenas Joaçaba e Luzerna, onde realizei algumas visitas aos meus parentes e procurei complementar alguns documentos que faltavam. Adotei um roteiro de viagem que passou por Foz do Iguaçu, onde pernoitei no Hotel Panorama, a convite da minha prima Celita, proprietária da hospedaria. Nessa ocasião, procurei esclarecer um detalhe que me pareceu que ela poderia esclarecer. É sobre a viagem dos meus avós paternos em 1865 ao Brasil, pois, segundo sua versão, concluíram a imigração aportando Montevidéu e só posteriormente Porto Alegre.
Abaixo, simplesmente a título de informação e curiosidade, coloco vários personagens da família ao longo da história. Espero que, com o tempo e disponibilidade dos parentes, teremos a final, as informações que necessitamos.
Algumas pessoas notáveis d a família Bertin:
• Claude Bertin - (d. 1705), escultor francês,
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Suicídio de Cleópatra por Claude Bertin, antes de 1697 ( Museu do Louvre )
Claude Bertin (morreu em 1705) foi um Escultor Francês, que era parte de extraordinários escultores que forneciam esculturas de Versalhes. Seus monumentais vasos em mármore, o tipo de vaso Borghese , com ricos contornos de frutas, de HERA ou frisos de cenas mitológicas, executadas entre 1687 e 1705, que ainda adornam os terraços de Versalhes.
Theodore-Pierre Bertin (nasceu em dois de Novembro 1751 em Provins ( Seine-et-Marne ) e faleceu em 25 de Janeiro de 1819 em Paris ). Acadêmico francês, mais conhecido para a introdução de um sistema de taquigrafia para escrever a língua francesa - é autor de obras fifty-odd sobre diversos temas, mas principalmente é lembrado como o responsável pela adaptação Samuel Taylor, adaptada para a língua francesa e introdução de taquigrafia moderna para a França . Foi para Londres para funcionar como um tradutor. Ele estudou ―Taylor‖ taquigrafia durante seu tempo na Grã-Bretanha e regressou a Paris em 1791, traduzindo o livro de Taylor, um ensaio destinado a estabelecer normas para um sistema universal de Stenografia, ou de curta-mão, e publicou-o em 1792 sob o título‖ Système universel et complet de Stenographie ou Manière abrégée d ' écrire aplicável à tous les idiomes‖. Em 1795, a Convenção Nacional Francesa deu-lhe uma subvenção anual de continuar este trabalho. Seu livro entrou em uma segunda edição em 1795, um terço em 1796 e um quarto em 1803.
Continuou a trabalhar para o Governo, mas foi dispensado oportunamente. Sob a restauração desse governo, ele estabeleceu um serviço Stenografia para o Parlamento francês e trabalhou numa postagem do Governo na Administração de Licenças de Negócios (Régie des droits réunis). Em 1817, ele se tornou stenógrafo para o diário conservador, Le Moniteur universel .
Apesar do sucesso inicial o sistema de Bertin não foi especialmente rápido, mas ele teve a vantagem de ser altamente legível. Cada som tinha um símbolo muito distinto, aplicou o sistema de Taylor, adicionados alguns símbolos sinais e mais para vogais finais. Além disso, como Talyor, Bertin eliminava todas as vogais que não estavam nem no início nem no final de uma palavra. Isso causava alguma ambigüidade, solucionada oportunamente. Composto de 16 cartas de base, acrescido de iniciais e finais, a invenção de Bertin foi a primeira que poderia ser escrita sem nunca levantar a caneta. Ele também empregava abreviaturas e iniciais para economizar tempo
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com palavras comuns. Seu método, em última análise, foi melhorado substancialmente por Hippolyte Prévost e mais tarde por Albert Delaunay.
Marie-Jeanne Rose Bertin (1747-1813)
Rose Bertin
―As grifes ainda não haviam sido inventadas naquele final de século XVIII e início do XIX. Pouquíssimos artigos carregavam a etiqueta de seus fornecedores, como os bonés Pattin. Foi só em 1860 que as marcas passaram a assinar o interior das roupas de suas clientes, notadamente com Charles Worth durante do 2º Império. Adivinhava-se a grife pela qualidade, pelos apetrechos ricos e pela modelagem.
Mas duas figuras destacaram-se como primeiros modistas renomados em caráter pré-global. Rose Bertin, a 'ministra da moda' de Maria Antonieta, e Hyppolite Leroy, o mais poderoso estilista da Era Napoleônica. Praticando preços exorbitantes e com afiada noção de auto-marketing, eles ultrapassaram fronteiras chegando até Portugal, onde vestiram mulheres da corte de D. Maria e D. Carlota.
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Modelo de Rose Bertin
Ser a primeira estilista da História não é pouca coisa. Marie-Jeanne Rose Bertin conheceu uma fama jamais antes alcançada por outro modista ao se tornar a preferida pelos looks da rainha Maria Antonieta. Sua loja, Le Grand Mogol, foi fundada em 1770 e rapidamente caiu no gosto das nobres francesas. O endereço escolhido também denotava sua visão de antecipadora de tendências: a Rue Saint-Honoré, hoje Meca das grandes grifes parisienses.
A rainha tinha um exército de costureiras a seu serviço em Versalhes, mas nenhuma sabia traduzir suas expectativas tão bem quanto Rose. Duas vezes por semana, elas se encontravam para discutir e concretizar seus delírios fashion, que logo seriam copiados pela aristocracia. O auge de seu reinado? Os famosos pufes, complicadas estruturas capilares que recriavam fatos históricos ou paisagens populares.
As vendedoras de Rose Bertin circulavam na Europa levando bonequinhas com a efígie de sua cliente mais famosa, Maria Antonieta. Foi assim que ela caiu nas graças de D. Maria I, que lhe encomendou o enxoval de casamento de sua filha com um príncipe espanhol.
Chamada 'Ministra da Moda' por seus inimigos, Rose foi responsável por manter a França como epicentro da indústria de luxo no fim do Antigo Regime. E cobrava (muito) caro por isso, é evidente.
Depois de um período de auto-exílio durante a Revolução Francesa, ela retorna a Paris em 1795, chegando até mesmo a fornecer roupas para Josephine de Beauharnais. Mas sua silhueta larga e portentosa ficaram over para a nova ordem, de retorno à simplicidade clássica. Ela guardou suas agulhas e transferiu seus
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negócios aos sobrinhos, morrendo em 1813 em sua propriedade de Epinay sur Seine‖239.
Jacques Bertin
Nasceu em 1918 em Maisons-Laffitte . Cartógrafo. Quando ele tinha 10, ele recebeu o primeiro prêmio da cartografia na escola primária. Ele nunca teve problemas com desenho e prosseguidos interesses incluindo arquitetura, o ensino de desenho e cartografia. [1] Finalmente, ele acabou up estudando Geografia e cartografia na Universidade de Paris .
Ele se tornou fundador e Diretor do laboratório cartográficas da École pratique des hautes études (EPHE) em 1954 e diretor da educação em 1957. Em 1967 tornou-se professor da Sorbonne, [2] e em 1974 tornou diretor de educação e diretor do laboratório geográficas da École des hautes études en sciences sociales (EHESS), que faz parte do the études École pratique des hautes (EPHE, VIe seção). [ 3 ] Mais tarde na década de setenta tornou-se chefe da investigação, o Centro Nacional de la recherche scientifique (CNRS). Jacques Bertin é um cartógrafo conhecido por seu livro Semiologie Graphique (Semiology de gráficos), editada em 1967. Este trabalho monumental, com base na sua experiência como um cartógrafo e geógrafo, representa a intenção primeira e mais ampla de fornecer uma base teórica a visualização de informações .
Jacques Bertin - (n. 1946), jornalista francês, cantor e compositor ainda em evidencia;
Annie Bertin - atriz francesa;
Pierre Bertin (1891-1984), ator francês de cinema e de teatro, apareceu no filme "Les Tontons flingueurs.
Théodore-Pierre Bertin nasceu em dois de novembro de1751 em Provins (Seine-et-Marne) e faleceu em 25 janeiro de 1819 em Paris, é o autor de cinqüenta obras inéditas sobre vários assuntos, mas é principalmente lembrado como o responsável pela adaptação do método (Taquigrafia) Samuel Taylor para o idioma francês e introduzindo-o com modernas modificações para a França. Um ensaio destinado a estabelecer um padrão para um sistema universal de estenografia. Sob a Restauração, ele estabeleceu um serviço de estenografia para o Parlamento francês e assumiu um cargo no governo, a administração de licenças comerciais (Régie des Droits réunis). Em 1791, ele havia se tornado estenógrafo para o jornal conservador Le Moniteur Universel.
Louis François Bertin (1766-1841), jornalista francês;
239 - Apanhado histórico do meu parente Élio Bertin, natural de Irai/RS, Agente Federal Aposentado. Dirigente da ASSOFEDERAL/MS. Tem como princípios básicos de trabalho, o empreendedorismo e o espírito visionário.
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Retrato de Louis-François Bertin por Jean Auguste Dominique Ingres .
Louis-François Bertin , também conhecido como Bertin l ' Aîné (Bertin o velho). (Nasceu em Setembro de 1766 e faleceu em Dezembro de 1841). Foi um jornalista Frances. Ele tinha um irmão mais novo - Louis-François Bertin de Vaux (1771-1842), dois filhos - Edouard François (1797-1871) e Louis-Marie François (1801-1854) e uma filha - Louise Bertin.
Nascido em Paris (seu pai era um antigo Secretário Étienne François, Duque de Choiseul. Começou sua carreira jornalística escrevendo para o Jornal français e outros, durante a revolução francesa . Após golpe de Brumário de Napoleão Bonaparte, fundou o jornal conservador com o qual o nome da sua família foi conectado principalmente, o Jornal des Débats. Em seu quadro de colaboradores figuraram: Joseph Fiévée , Julien Louis Geoffroy , Jean François Joseph Dussault , François-René de Chateaubriand , Charles-Marie-Dorimond de Féletz , Jean François Boissonade de Fontarabie , Conrad malte-Brun , François Benoît Hoffmann e Charles Nodier. O Jornal em breve se tornou uma grande autoridade político-social e literatura. A Bertin é creditada a invenção de um encarte, the feuilleton, um complemento da secção política de um jornal, geralmente impresso com tipos menores, que levada uma secção de rumores, moda, críticas, epigramas e charadas, promovendo a cultura literária.
Suspeitas de tendências de reais pelo consulado francês , ele foi preso em 1800 e exilado em 1801. Bertin retornou para Paris em 1805, após a proclamação do Império e retomou a gestão do papel, o título do qual havia foi alterado por ordem de Napoleão a do Jornal de l'Empire . Ele teve de apresentar uma rigorosa censura, e a em 1811 a conduta, juntamente com os lucros, foi tomada a cargo inteiramente pelo Governo.
Restauração e monarquia de Julho.
Em 1814 ele recuperou a posse do título antigo e continuou seu apoio à causa real durante as cem dias , aderir Louis XVIII na Holanda do Sul , onde ele editados o Moniteur universel como Moniteur removem Gent .
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Volta com a plena restauração de Bourbon , Bertin dirigida a Moniteur até 1823, quando o Jornal des Débats tornou-se o órgão reconhecido do liberal -oposição constitucional depois que ele tinha chegado a criticar absolutismo (um caminho semelhante à tomada por François-René de Chateaubriand "). Apoio da Bertin foi, no entanto, dada a monarquia de Julho após 1830. Ele morreu em Paris, 1841.
Jean Auguste Dominique Ingres ' retrato de Bertin (1832), primeiro apresentavam em 1833 Salon de Paris , é hoje um dos trabalhos mais famosos pelo pintor.
Saint Bertin – Santo Frances.
De todas as informações sobre a origem da família Bertin, creio que esta é a mais antiga, o que me faz crer que somos representantes de uma das famílias mais antigas da França, como faço registrar aqui apresentando Saint Bertin, extraído do livro ―Vidas dos Saints‖ de autoria de Omer Englebert, escritor Frances. Nele encontrei registro onde consta a ―Memória e o perfil de Saint Bertin‖, educado na abadia de Luxeuil, conhecida por suas aplicações estritas às regras de Saint Columban, uma regra conhecida por sua austeridade. Embora não tão muito novo, Bertin foi convidado para entrar nessa fraternidade pelos monges da abadia; quando concluiu sua preparação, fez exame ―do capuz‖ e foi aceito definitivamente na Ordem. Em 639, Bertin e outros dois monges, Mommelinus e Ebertram foram designados para a região de Saint Omer, para evangelizar os povos da região de Pas de Calais, uma região, cujos habitantes, eram conhecidos por suas idolatrias e imoralidades.
Os evangelistas não tiveram muito sucesso nos seus misteres, mas construíram um monastério em honra de Saint Mommolin. Bertin serviu como seu primeiro ―abade‖, pelo restante dos seus 60 anos de sua vida. Formou monges e construiu outros monastérios na França e na Inglaterra e viajou constantemente para ensinar e evangelizar. Seu ministério serviu como um exemplo aos locais, e trouxe muitos à fé católica. 22 de seus monges foram canonizados pela Igreja Católica. Durante uma vida que durou quase um século, Bertin foi conhecido por todos por sua severidade e austeridade. Em sua morte, o monastério foi a ele dedicado.
Nasceu no inicio do século VII em Constance, França e morreu de causas naturais no fim desse mesmo século. Foi canonizado e é hoje venerado como um dos santos da Igreja Católica.
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Louis Emile Bertin.
Louis Emile Bertin é outro notável da família - Poucos homens podem reivindicar ser o autor de uma frota dos navios de guerra. Louis tem a distinção de ser talvez o único construtor naval na história por ter criado duas frotas inteiras. O mais curioso; a primeira dessas pertenceu a um país do Oriente. Em 1885, a marinha japonesa imperial persuadiu os militares ligados ao governo da Marinha francesa, para que permitissem Bertin a transformar-se em diretor da construção naval do Império Japonês por um período de quatro anos, sob as ordens do Imperador de Meiji. Bertin, então, viu nisso uma oportunidade extraordinária para ter uma frota inteira assinada com seu nome.
Bertin, como engenheiro naval havia projetado navios de guerra que se mantinham flutuando com extraordinária estabilidade mesmo após ter sofrido graves danos em seu casco.
A escolha de Emile Bertin é compreensível, ele era certamente um homem a ser destacado. Por sua vez, o governo francês viu nisso uma oportunidade que não podia perder, pois sairia fortalecido dos vários interesses internacionais que o envolviam com a Grã Bretanha e a Alemanha. Isso possibilitaria aumentar sua influencia com o Japão que, recentemente entrara num processo de rápida industrialização. Naquela época as tensões Anglo/francesas eram muito elevadas.
Bertin embarcou para o Japão com a família em 1885, retornado a França em 1890. Durante esse tempo, projetou e construiu sete navios de guerra principais e vinte e dois barcos torpedeiros, que deram forma ao núcleo da Marinha Imperial Japonesa; estes navios derrotariam mais tarde a frota chinesa na batalha de o Rio de Yalu em 1895, e ajudaram a dizimar a frota Russa na batalha 1905 de Tsushima. Quanto para a Bertin, em 1886 transformou-se em diretor de construção naval da Marinha Francesa, onde por sua vez, colocou seu selo sobre uma nova frota composta de 30
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navios. A França realmente ajudou a construir a primeira frota moderna e de larga escala da Marinha Imperial Japonesa, sob a direção do engenheiro naval Louis-Émile Bertin.
Algumas dessas informações vêm do diário da filha de Bertin, Anna, que tinha apenas 16 anos quando partiram para a Terra do Sol Nascente. A viagem ocorreu a bordo do navio Djemnah, e o seu relato nos diz que em sua primeira noite em Tokyo, o hotel em que se hospedaram sofreu um incêndio queimando tudo até a chão. A família, rapidamente, teve que apreender que no verão, Tokyo é insuportável e seus habitantes, assim como os parisienses, procuravam o campo para fugir da caniça. A esposa Anne de Bertin Françoise vem a falecer de um ataque de febre tifoide. Anna ela mesma, perde tragicamente um menino, seu filho, que a acompanhara.
A presença de Bertin transforma a vida social e política em Tóquio e sua casa se transforma em um centro de referencia para a comunidade imigrante que passa a freqüentar sua casa, transformando-a em uma espécie de embaixada onde os europeus e os nobres orientais se dirigiam para se protegerem ou para conquistarem prestígio. A família desenvolve, também, profundos laços e passa a amar o país que não tardará a deixar. Dedet, um escritor francês, é meticuloso em descrever as intrigas políticas que ocorriam em torno de Bertin. Como o diretor da construção naval, Bertin era shokumin (しょくみん), uma espécie de conselheiro do Imperador, e como tal, passou a integrar as comitivas do soberano.
Jean Bertin
Aerotrain - França (1965)
O Aerotrain foi uma série de hovercrafts ferroviários desenvolvidos pelo engenheiro Jean Bertin. O governo francês financiou o projeto de 1965 até 1977, quando o Aerotrain foi abandonado em favor do TGV. Mas, pelas fotos, pode-se ver que funcionou por algum tempo, consumindo verba substancial que auxiliou na pesquisa e desenvolvimento do sistema ferroviário Frances.
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Aerotrain Nº 01, alcançou os 345 km/h em 1º de novembro de 1967
Protótipo nº 2 do Aerotrain alcançou 422 km/h em 22 de janeiro de 1969.
Este foi na realidade um protótipo fora de linha, mas, que deu início ao projeto do Aerotrain.
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“Curriculum Vitae” de Luiz Julio Bertin
Residência: Rua Vereador Basílio Sautchuk, 56, Cep: 87013-190, Maringá, Paraná.
Fones: 3301-8142 e Cel> 9972-6316
E-mails: luizjuliobertin@hotmail.com e Luizjuliobertin@gmail.com.
Nasci em nove de janeiro de 1934240. Minha cidade natal tinha então o nome de Cruzeiro do Sul (hoje, Joaçaba). Santa Catarina.
ATIVIDADES PROFISSIONAIS
Funcionário Publico Federal do IBGE (1956/58) – Instituto de Geografia e Estatística lotado em Londrina e Paranavaí;
Fundador e Sócio nº. 65 da ANPI – Associação Norte Paranaense de Imprensa – Londrina (1955);
Repórter Fotográfico da ―Folha de Londrina‖ (1948/53) enquanto propriedade do Comendador Rocha Loures, depois, de João Milanês (1954);
Repórter do Jornal ―O Combate‖ de Marinósio Trigueiros Filho, Londrina;
Repórter do Jornal ―O Repórter‖ de Renato Fiúza Melito, Londrina;
Repórter e Cronista Social do Jornal ―O Noroeste‖ de Paranavaí, de Euclides José Bogonni (1957/58);
Colunista enquanto em Paranavaí, Coluna sobre Estatística no Jornal ―Folha de Londrina‖ (1957/58);
Radialista da Radio Londrina de Raul Dalcol – 1950/52, Londrina;
Radialista da Radio Tabajara de Raul Zanoni – 1952/53, Londrina;
Comerciante: Sócio Fundador (1958/97) do Grupo de Empresas Bertin Indústria e Comercio S/A – Londrina;
Sócio Fundador da Empresa Decorações Bertin Ltda. (1967/97) Maringá;
Sócio Fundador da Empresa Decorações Bertin Indústria e Comercio Ltda. Londrina, Maringá e Umuarama;
Sócio Fundador da Empresa ―O Tapetão Ltda.‖ (1972), Maringá;
Sócio Fundador da Empresa H.M.B. Modas Jovens Ltda. (1974) Maringá;
Sócio Proprietário da Empresa ―EMPRO‖ Construções Civis Ltda. (1980) Maringá;
Advogado da BALFAR de Antonio Paula de Souza Bárbara, Maringá (1991/1999);
Membro do Conselho Fiscal da Balfar S/A (1992);
240 Ano em que surgiu a Carta Magna de 1934, reformando profundamente a organização da República velha, realizando mudanças progressistas, inovadoras, mas durou pouco, pois em 1937 uma constituição já pronta, foi outorgada por Getúlio Dorneles Vargas que o transformou em ditador e o Estado "revolucionário", em Ditadura. Nesse ano, a Copa do Mundo foi a primeira na qual os países tiveram que se classificar na disputa das Eliminatórias para poder participar. O Mundial de 1934 teve interesses políticos em jogo: o regime fascista subjugava a Itália e o ditador Benito Mussolini planejou transformar o evento numa espécie de propaganda pró-regime. A influência indiscutível de Mussolini se impôs em diversos aspectos, como por exemplo, a escolha pré-determinada de árbitros "suspeitos" nas partidas da anfitriã Itália. Mas foi também em janeiro desse ano que Adolf Hitler, discursando, entre tantas frases de efeito, pronunciou uma que é utilizada até hoje na política brasileira com a maior eficiência: “Quanto maior a mentira mais pessoas acreditarão nela”.
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Advogado do Instituto Bhering Froes Eco Global de Cascavel com sede em Cascavel (1996/98);
Advogado do Sindicato dos Médicos de Maringá (1995);
Advogado do SINECOM (Sindicato dos Frentistas de Maringá) 1991 – (Orientou e organizou este sindicato, desde a sua fundação).
PARTICIPAÇÕES:
Movimento Familiar Cristão de Londrina – 1961/65;
Fundador (e participante de 1969 a 1985) do Rotary Clube Maringá Leste em 11 de maio de 1969;
Presidente do Rotary Clube Maringá Leste (1972);
Presidente da Avenida de Serviços Internacionais do Rotary Clube Maringá Leste;
Presidente e participante de diversos Serviços do Rotary;
Representante da Governadoria do Distrito 463 do Rotary Internacional (1973);
Membro e Presidente do Conselho da Companhia de Desenvolvimento de Maringá – CODEMAR – Gestão Marco Antonio Loureiro Correia – Gestão Prefeito Adriano Valente (1971/73);
Presidente da Associação Comercial e Industrial de Maringá – ACIM (gestão 1974/75);
Membro da Comissão de Construção da Catedral de Maringá (1970) – Gestão de Sua Eminência o Bispo e Arcebispo Dom Jaime Luís Coelho;
Membro representante em diversas Comissões de Licitações da Municipalidade, sempre representando a ACIM e o SIVAMAR (Gestão Adriano José Valente e João Paulino Vieira Filho);
Fundador e Presidente da Associação Profissional dos Lojistas do Comercio e do Comercio Varejista de Gêneros Alimentício, de Maquinismos Ferragens e Tintas de Maringá – Gestão 1973 e 74/76;
Fundador e Presidente do Sindicato dos Lojistas do Comercio e do Comercio Varejista de Gêneros Alimentício, de Maquinismos Ferragens e Tintas de Maringá – Gestão 1973 e 1974/1997;
Vice Presidente da Federação do Comercio Varejista do Estado do Paraná de 1978 a 1984;
Membro do Conselho da Federação do Comercio Varejista do Estado do Paraná – 1978/84;
Diretor do Centro do Comercio Varejista do Estado do Paraná (1978/81);
Diretor e Membro do Conselho do SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Estado do Paraná (1978/...;
Diretor e Membro do Conselho do SESC – Serviço Social do Comercio do Estado do Paraná – 12/01/78 a 14/01/1981 -;
Juiz Classista da Justiça do Trabalho – Vogal representante dos Empregadores – da 1ª. Junta de Conciliação e Julgamento de Maringá e reconduzido241.
241 - Primeiro vogal patronal da Justiça Trabalhista de Maringá – Antes da indicação, uma das batalhas que enfrentou foi através de luta incessante para a criação e instalação da Justiça do Trabalho em Maringá. Assim, depois de conseguir reunir os sindicatos da cidade e com o apoio decisivo do Presidente do TRT do Paraná, Dr. Alcides Nunes Guimarães, a primeira Junta (Vara) do Trabalho foi instalada, autorizada pela Lei de Criação: 6.563, de 19 de setembro de 1978. Data de Instalação: 24 de novembro de 1978.
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Membro representante em diversas Comissões de Licitações da Municipalidade, pelo Sindicato dos Lojistas do Comercio e do Comercio Varejista de Gêneros Alimentício, de Maquinismos Ferragens e Tintas de Maringá (particularmente na gestão de Adriano José Valente);
Membro de 1969 a 2004 do clube social Maringá Clube e diretor por diversas vezes;
Coordenador e incentivador da criação da Associação Profissional dos Cabeleireiros de Maringá (1980);
Coordenador e incentivador da criação da Associação Profissional dos Tapeceiros de Maringá (1982);
Coordenador e incentivador da criação da Associação Profissional das Indústrias de Maringá (hoje Simatec)242;
Patrocinador, coordenador e incentivador da criação do Sindicato do Comercio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Maringá – Gestão Said Jacob243;
Participou orientando e auxiliando a formação do Sindicato dos Contabilistas de Maringá,
Participou, como representante da Federação do Comercio Varejista do Estado do Paraná na conquista dos terrenos para a construção do prédio do SENAC de Maringá e da ampliação do SESC de Maringá com área da piscina, na Gestão de João Paulino Vieira Filho, então Prefeito de Maringá;
Foi um dos incentivadores junto a Presidência da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, para a criação e construção do prédio para a oficina Diesel do SESI – Serviço Social da Indústria – em Maringá, tendo como idealizador Divanir Braz Palma quando Delegado na região de Maringá da Federação das Indústrias do Estado do Paraná;
Como Presidente da ACIM, em 1974, coordenou uma Comissão da Comunidade, para conseguir recursos financeiros (com sucesso) junto ao Governador Jaime Canet Junior, para a UEM (Universidade Estadual de Maringá), na gestão de Rodolfo Purpur;
Como Presidente do Rotary Clube Maringá Leste, coordenou em 1978 a XXI Conferencia do Distrito 463 do Rotary Clube Internacional, em Maringá;
Participou de diversas Conferencia do Rotary, enquanto membro;
Participou de diversas comissões organizadoras das festividades de aniversario de Maringá, a convite dos diversos Prefeitos;
Participou de comissão organizadora da EXPOINGA;
Membro do MDB e PMDB e membro da Executiva do partido em Maringá;
Participou como coordenador da campanha para eleição do prefeito de Maringá, Said Felício Ferreira;
Foi Secretario Extraordinário do Município e presidente da comissão para a construção da CEAMAR - Central de Abastecimento de Maringá, na primeira gestão do prefeito Said Felício Ferreira (Mais tarde a Ceasa a substituiu);
Membro do Corpo de Jurados do Tribunal do Júri da Comarca de Maringá.
Participou do grupo que fundou o Instituto Bhering Froes Eco Global de Cascavel.
Filhado ao PT (Partido dos Trabalhadores de Maringá) desde 16 de fevereiro de 2003.
242 As primeiras reuniões foram feitas na sede do Sivamar, sob o comando do seu primeiro presidente Agenor Maia.
243 Nessa gestão e com o incentivo do Presidente da Fevarejista, João Kracik Neto, o Sivamar patrocinou financeiramente esse segundo sindicato patronal de Maringá.
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TROFÉUS:
Agraciado com o Troféu Joubert de Carvalho, em 1977 como ‖Sindicalista do Ano‖;
Agraciado em 1980 com o ―Grau de Cavalheiro‖ pelo Centro Cultural Brasileiro de Pesquisas e Estudos Sociais, com sede em Londrina, pelos relevantes serviços prestados à comunidade Paranaense;
Agraciado com placa de prata do Rotary Clube Maringá-Leste pelos dez anos de serviços prestados a comunidade;
Agraciado com placa de prata do Rotary Clube Maringá-Leste pelos quinze anos de serviços prestados a comunidade;
Agraciado com diversos troféus pelo Sivamar diversas vezes.
ATIVIDADES MAIS RECENTES: Ano 2001/2010.
Aposentou-se como Comerciante em 1984;
Membro do Conselho da ACIM – Associação Industrial e Comercial de Maringá,
Formou-se em Bacharel em Direito em 24 de Agosto de 1991 e começou sua atividade como advogado militante desde essa data. 1991;
Membro militante do PT (Partido dos Trabalhadores de Maringá) e filiado ao Partido em 2003.
Diretor Administrativo, Financeiro e Contábil do SAOP – Serviço Autárquico de Obras e Pavimentação – 2001 a 2003. Autarquia do Município de Maringá, no Governo Popular de Maringá de José Cláudio Pereira Neto – Gestão do PT,
Diretor Financeiro da Empresa de Economia Mista do Município de Maringá, URBAMAR –2003 a 2004, gestão PT;
Diretor administrativo do DCL (Diretoria de Compras e Licitações da Prefeitura de Maringá, 2003 a 2004, gestão do PT). Partido dos Trabalhadores;
Após sua exoneração da Prefeitura Municipal, passou à função de Administrador do New Fashion Shopping Atacadista de Confecções de Maringá, em 2004 (para organizar quadro operativo) da empresa;
Da data de 1991 a 2008, procurou exercer a advocacia, quando então decidiu encerrar as atividades normais passando a produzir e escrever sua autobiografia (Concluída) e a História do Sivamar. (Em andamento).
Maringá, Março de 2010.
Simultaneamente continuei advogando até me afastar definitivamente dos afazeres cotidianos, para me dedicar a pesquisar a história das minha duas famílias; Fontana e Bertin. Elaborando minha biografia e iniciando um trabalho detalhado e cansativo, escrevendo a história do Sivamar abrangendo o período da minha presidência. Nesse trabalho, a exemplo da autobiografia, procurei veicular apenas fatos que se encontram documentados nos livros e documentos do Sindicato. À exceção dos comentários ao pé das páginas, onde procuro, sem me afastar da verdade, esclarecer situações ocorridas. Neste caso, naturalmente, me reservo ao direito de transgredir a minha promessa de somente dizer a verdade, nada mais que
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a verdade, apenas para dar cor e movimento ao trabalho que, sem isso, a leitura do que escrevi seria intolerável.
Seguem diversas fotos da minha família, amigos e demais pessoas que tiveram significado na minha vida.
Nas fotos abaixo, pela ordem: 1 - Juliano, Bertin e Julinho; 2 – Julinho; 3 – Adriane; 4 – Eu e Nathan; 5 – Daflon; 6 - Nathany Rafaelly; 7 - Marco e Leandro; 8 – Anete e eu; 9 - Lucia, Sofia, Carolina; 10 - Antônio Carlos Kagueyama; 11 – Remo, minha mãe e o Papa Paulo II; 12 - Juiz Alcides Nunes Guimarães, eu e à direita, Juiz Luiz Guimarães Falcão.
Foto 1 - Juliano, meu filho do primeiro casamento, eu e Julinho um dos meus netos.
Foto 2 - Julinho, meu neto, filho do Juliano.
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Foto 3 - Adriane, minha neta, filha do Juliano.
Foto 4 - Bisavô Bertin e meu bisneto Nathan, filho de Daiane.
Foto 5 - Meu neto Daflon.
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Foto 6 - Nathany Rafaelly Bertin – minha bisneta, filha de Daiane.
Foto 7 - Meus dois netos Marco e Leandro, filhos de Daniela (filha).
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Foto 8 – Sofia. Filha do Mario Cesar.
Foto 9 - Minha neta Daiane, filha do meu filho Felipe.
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10 - Visita ao Papa. Meu cunhado Remo Veronese, minha mãe Elisena, Papa João Paulo II e Irene Teresinha (Tere), minha irmã mais velha.
Foto 11 - do encontro casual em março de 2010 com Anete Strictar, comerciante e integrante da diretoria do Sivamar, minha amiga e colaboradora incansável.
Foto 12 - Comerciante Antônio Carlos Kagueyama, meu amigo.
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13 – Isabella, filha do Juliano.